Um caso para harmonia
Mundial da ORC Brindisi-IT
Da revista Seahorse, com tradução de Manolo Bunge

13 Jun 2010
Analisar o desempenho das Regras de Rating é o esporte favorito dos que velejam sob algum tipo de handicap, projetistas e usuários da escora. Ter a chance de estudar e examinar os resultados de barcos velejados por muito boas equipes num Campeonato Mundial é uma ocasião de pérolas para a especulação dessa turma. O Mundial da ORC de Brindisi, Itália, juntou perto de 80 barcos e as condições reinantes foram estáveis o suficiente como para tentar tirar algumas conclusões...

Alessandro Nazareth – Vallicelli Design & ITC Chairman
Fazendo um quadro comparativo das relações paramétricas dos 12 primeiros colocados na Classe A, algumas tendências interessantes podem ser observadas. Os barcos mais pesados, como o First 45 (Foto 1), Comet 45 (foto 2) e o IMX 45 (Foto 3), têm menor área vélica de contravento comparada ao deslocamento e á área molhada do casco. Por causa disso, tiveram desempenho melhor nos dias de vento nos barla-sota. O Comet 45 (3º) e o First 45 (7º) tiveram um bom resultado finais devido aos seus resultados na regata percurso longo.

Por outro lado, os ganhadores GS42 (Foto 4) e GS56 tiveram vantagem não pela forma quadrada do casco tipificada pela IMS, mas por que saíram do estaleiro como barcos de regata, com melhor concentração de peso e inércia.

Os barcos com maior área vélica em relação ao deslocamento como o Cookson 50 (Foto 5) e o Felci 50 são muito leves também se comparadas ás áreas molhadas de cada um, são mais estreitos no plano d’agua, e andavam bem na onda curta. O Felci 50 era recém lançado na água, não tiveram tempo de testar o barco e preparar-lo e terminaram 13º. Também porque a regata longa não favoreceu aos barcos maiores. É interessante notar que o único barco de quilha móvel, o Cookson 50, terminou em 5º, com bom desempenho nas regatas barla-sota. As críticas e crenças que dizem que a ORC Internacional é desfavorável aos barcos de lastro móvel não tem mérito: se pudesse descartar a regata longa, ruim que teve, esse barco poderia ter ganhado o Mundial.

......

Outra comparação interessante é entre o GS42 Meliti vs. GS42 Man, mesmo casco com quilhas diferentes:


Foto 4 - GS 42 R credito credito YachtWorld

Meliti tem um a quilha em T, estabilidade incrementada, área vélica maior e deslocamento menor enquanto Man tem uma quilha solida de chumbo. A diferença é claramente visível no Certificado. No entanto, os dois barcos salvaram seu tempo em quase todas as regatas contra os outros barcos similares. A mensagem que nos deixam é muito sugestiva para otimização na ORC: faça seu barco andar mais rápido!

Maurizio Cossutti – projetista do ganhador em Classe B, M37 “Low Noise”
Tinha vários e diferentes desenhos na Classe B e fiquei inicialmente preocupado quando colocaram os 34-37 pés junto com os 40. Mas o VPP teve um desempenho bom o suficiente como para deixar as regatas bem equilibradas. Como nota geral, quase todos os barcos eram desenhos de produção, mais ou menos modificados para regata, e alguns – como o M37, Foto 6 - provaram ser competitivos tanto na ORC como na IRC. Isso é bom para que os proprietários possam competir com seus barcos sem a necessidade de modificar ou trocar-lo de tempo em tempo. Modelos mais antigos, como o First 40,7 e o GS40 continuam sendo competitivos; as diferenças de performance entre barcos do mesmo tipo confirmam a importância de boa preparação e boa tripulação.

A diferença de desempenho dos GS42 Meliti (quilha T) e Man (quilha solida) contra o gêmeo Bohemian Express (quilha de chumbo e madeira) pode ser atribuída á um trabalho mais refinado das tripulações dos dois primeiros, mas o beneficio de maior estabilidade no contravento foi visível... A regra também abriu as portas para desenvolvimento das velas mestra com tope quadrados e assimétricos com paus mais compridos que o “J”.

Uma das melhores performances foi a do Cookson 50, com sua quilha rebatível, que a pesar de ter um GPH bem alto se demonstrou muito competitivo. Créditos aos criadores da regra por fazer um ótimo trabalho com esses projetos “laterais”. Por outro lado, um antigo desenho feito para quebrar a regra, como o GS65, com tripulação dirigida por Vasco Vascotto, mostrou-se fraco nas regatas com vento forte, desempenhando bem só na ultima regata barla-sota de vento fraco.

Nem tudo foi perfeito: ORC Internacional é um uma ferramenta muito sofisticada e, em minha opinião, precisa de mais atenção no controle de estabilidade e bordas livres. Também, regatas de percurso longo são parte essencial de um Campeonato de Oceano, mas seu peso foi muito alto, e campeonato sem descarte foi desafortunado.

Um comentário final: hoje em dia temos dois sistemas de medição de ratings muito bons: ORC e IRC, os dois com pontos favoráveis e desfarováveis, mais os dois capazes de medir barcos diferentes bastante equanimente. É hora de juntar as duas regras, como foi feito nos 60’s e 70’s, quando RORC e CCA colaboraram para criar uma regra de ratings universal. Em minha opinião, ISAF, sendo o “pai” dos velejadores, deveria tomar esse argumento em consideração e unir os velejadores de oceano sob uma mesma bandeira.

Por Manolo Bunge
Medidor ORC, Skipper profissional e velejador da Classe Star
Artigo extraído de revista “Seahorse”, de Setembro 2009. Tradução livre e parcial do inglês ao português.

 

Foto 1 - First 45 credito Rolex Cup

 


Foto 2 - Comet 45 credito Rolex Cup

 


Foto 3 - IMX 45 credito Sailing Networks

 


Foto 5 - Cookson 50 credito Cooksonboats

 


Foto 5b - Cookson 50 credito Rolex Cup

 


Foto 6 - Low Noise M37 credito Marine Yacht Building


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