17 Jun 2010 Recolhido o ferro, saímos daquele abrigo, armamos velas para um través que se prenunciava sustentável ao longo de toda a noite, sem esquecer de preparar o contra-burro que nos ajudaria a conter inesperados “jibes”, marcamos um único waypoint – rumo direto ao canal de acesso a Paranaguá. Navegação com ventos constantes do quadrante Sudoeste-Sul, confirmaram o acerto de nossa decisão e nos permitiram cumprir as 93 milhas em cravadas 12 horas, com picos de aceleração registrando 10,3nós. Às 9 hs já estávamos apoitados na Cotinga, subsede do Iate Clube Paranaguá (ICP) gentilmente recebidos pelo senhor Pedro. O escaler do ICP nos reservava facilidade de acesso à sede principal e de lá nossos pés nos levavam para buscar suprimentos, visitas à Capitania dos Portos e alguns passeios por esta cidade que contempla farto casario colonial português. Da Comodoria e funcionários do ICP obtivemos todo o apoio, suporte e atenção culminando com um churrasco de confraternização que também nos reservou uma notícia não esperada. O passeio através do canal do Varadouro que encanta a todos que por lá logram êxito poder percorrê-lo deixava de ser possível fundamentalmente por acertada cautela e preservação do alto nível em que se desenvolviam todas as etapas deste memorável Crucero. É de se registrar aqui um agradecimento e reconhecimento muito especial a Marinha Brasileira, dirigindo-o especialmente ao Comandante Rios e todo o seu “staff”. Acompanhados do comandante Oscar Nieto e Dagmar Spessatto, veleiro Lampejo, procuramos a Capitania dos Portos para registrar a passagem do Crucero de La Amistad e sondar sobre a possibilidade de avançarmos através do canal do Varadouro. Num primeiro instante parecia-nos que o pessoal da recepção não nos daria ouvidos. Ultrapassada esta desconfiança, que ao final se mostrara sem fundamentos, todos os que nos ouviram não mediram esforços e percebia-se com clareza meridiana que ascendíamos na escala hierárquica. Alguns minutos mais e chegávamos ao Comandante 02, Capitão José Carlos, que nos ouviu atentamente e ao tomar conhecimento de que em Rio Grande a nossa Marinha dera integral apoio, não deixou por menos, desferiu inúmeros telefonemas surpreendendo-nos porque afinal estavam naquele gabinete, velejadores recém aportados, em trajes típicos, bermuda, camiseta e barba por fazer, a solicitar sua atenção e préstimos desta gloriosa Força que complementa a Armada Brasileira. Até o almoço ele o atrasou para nos atender e ao final já indicando que nossa pretensão poderia ser contemplado, convidou-nos a retornar no dia seguinte para uma entrevista com o Capitão do Portos, Comandante Rios, o 01. Lá estávamos às 11hs do dia seguinte e recepcionados pelo Comandante Rios, que se mostrou um estusiasta da vela, alongamos conversa por aproximadas duas horas. Estava assegurado que obteríamos todo o apoio dentro dos limites da sua jurisdição. Agradecemos, nos despedimos e também aqui merece ser registrado um especial agradecimento ao Comandante Rios e todo o seu “staff”, a nossa Marinha é realmente parceira de quem em águas busca com responsabilidade viver no “marzão” com que Deus nos brindou. Incansáveis todos os Comandantes José Carlos, Molinaro, e os demais oficiais responsáveis pela cartografia, meteorologia, disponibilizando-nos todas as informações e o mais importante de tudo, até um Flex estava preparado para nos acompanhar nas águas sob supervisão daquela Capitania. O Comandante José Carlos conseguira ainda mais, um agente federal da Polícia Ambiental encarregado de patrulhar aquela importante reserva da fauna e flora da mata Atlântica, acompanharia a embarcação oficial e nos subsidiaria através do rádio indicando rota segura e batimetria. Tudo acertado licença, autorização e integral apoio da nossa Marinha, mas o nível da maré cheia, estofo previsto para 120cm não assegurava um passeio tranquilo a uma expedição composta de 31 veleiros, muitas deles com calado de 180cm, a navegarem por águas que em alguns trechos não registram lâmina superior a 40cm que somados ao movimento da maré resultam em não mais do que 160cm, inapropriados aos veleiros de maior calado. A prudência do Comodoro Carlos Salvochea foi determinante em afastar a hipótese de que as embarcações com menor calado singrassem por aquele canal, partindo todos juntos na quinta-feira, dia 10 de Junho, por volta do meio-dia soltos das amarras em poitas que por lá nos mantiveram seguros e por mar aberto rumamos em direção a Ilhabela. Ventos do quadrante Sul-Sudeste nos levaram, ora em través ora em popa rasa, permitindo o uso de balão e asa-de-pomba, até próximo de Alcatrazes, ali rondaram e se fixaram em Nordeste com rajadas entre 22 e 27 nós a consagrarem orças empolgantes, com registros de muitos comandantes em desempenho que alcançava nas descidas de onda 11,3 nós e adernadas de 25 gráus. O St.Thomas II cumpriu esta travessia em 31 horas, momento do pedido de apoio para atracar no Iate Clube de Ilhabela. Lá encontrando já desfrutando merecido descanso os comandantes e tripulação do Mandinga e Lalinda. Mas para nosso especial deleite, o Escorpion, com quem brincávamos de disputar a chegada, ainda não mostrava suas velas e menos ainda suas amarras. Enquanto admirávamos a noite nas dependências do ICI, acompanhávamos a chegada dos demais veleiros, um a um sendo atracados costado com costado, a separá-los somente as necessárias defensas. No lobby ouviam-se histórias, brincadeiras e provocações, todas muito saudáveis, alguma picardia e farta rega de caipirinhas. Estávamos todos muito felizes, mais uma etapa cumprida e valorizada pelas condições de uma navegação bem organizada e segura, acompanhada por São Pedro nas dosagens de vento e por Netuno administrando as ondas e correntezas, ambos certamente a tudo assistindo no mais alto estilo (quanta pretensão).
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