Amigo do Popa 2011
Homenageando quem fez pela Navegação de Recreio
Danilo Chagas Ribeiro

15 Jul 2011
O desempenho de cada segmento da sociedade está intimamente ligado à competência de seus participantes, e na navegação de recreio não é diferente. O Rio Grande do Sul, celeiro de velejadores campeões há muitos anos, vem tendo participação notável no cenário mundial graças ao esforço abnegado de alguns de seus participantes, tanto na vela de competição quanto na de cruzeiro. O sucesso visível no pódio muitas vezes traz embutida a tradição e a ativa participação nos bastidores da comunidade.

O prêmio Amigo do Popa homenageia anualmente os participantes de reconhecido sucesso na navegação de recreio, que se dedicaram e contribuíram para torná-la cada vez melhor.

Em 2011, o homenageado escolhido unanimemente pela comunidade náutica gaúcha é o Comandante Nelson Piccolo.

Campeão, campeão, campeão...
Nelson Piccolo navega desde guri. Com pouco mais de 10 anos já velejava. Aos 15, foi campeão brasileiro da classe Snipe, e a partir daí passou a colecionar títulos navegando em Finn, Hobie Cat 14, Hobie Cat 16, Supercat 17 e barcos de Oceano. Foi Campeão Mundial de Snipe, Campeão Sul Americano por diversas vezes, Campeão Panamericano, Campeão Europeu, Campeão Brasileiro 21 vezes, Campeão Sul Brasileiro várias vezes, vencendo também dezenas de Campeonatos Estaduais.

Fazendo as próprias velas
Nelson aprendeu cedo a enorme importância da qualidade da vela no bom rendimento de um veleiro, e decidiu desenhar e confeccionar suas próprias velas, obstinadamente. Há 50 anos (1961) fundou sua veleria em Porto Alegre e tornou-se o fabricante oficial das velas para a classe Hobie Cat. Ter uma vela produzida pela veleria de Nelson Piccolo sempre representou prestígio entre os velejadores.

Hoje, aos 71 anos, Nelson Piccolo continua trabalhando, dedicando sua vida ao iatismo e incentivando novos velejadores. Costuma velejar no Rio Guaíba com seu catamarã SimbadXX (foto ao lado) . É uma pessoa simples, de bem com a vida, e bem quisto por toda a comunidade. Nelson Piccolo faz jus ao prêmio
Amigo do Popa.

Parabéns ao Comandante Nelson Piccolo pelo sucesso, e muito obrigado pelas excelentes velas produzidas há meio século.

Amigo do Popa
O bonito prêmio Amigo do Popa (foto) tem sido produzido pelos comandantes Roberto Gruner e Eduardo Cassel. A entrega do prêmio ocorrerá em 26 de julho de 2011, terça-feira, no Veleiros do Sul, em espaço cedido pela comodoria do clube (Vento Sul).

A recepção da festa de entrega do prêmio Amigo do Popa será oferecida por um grupo de velejadores, com número limitado de pessoas. É imprescindível a confirmação pelo e-mail: info@popa.com.br

 

O que: Entrega do Prêmio Amigo do Popa 2011
Homenageado: Comte Nelson Piccolo
Onde: Veleiros do Sul (Vento Sul)
Quando: 26 Jul 2011 (terça-feira), às 19:30h
Ingresso: uma peça de roupa ou 1kg de alimento não perecível para doação a pessoas carentes na orla do Rio Guaíba.
A quem este convite é destinado: participantes da navegação de recreio (necessário confirmação)
Confirmação: É imprescindível confirmar a presença por e-mail até 25 Jul 2011: info@popa.com.br , indicando no campo Assunto: Amigo do Popa.

 

O Comandante Paulo Hennig conta a história de como ele e Nelson Piccolo aprenderam a velejar no Rio Guaíba, na década de 50. É uma história maravilhosa. Leia a seguir.

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Nelson Piccolo, Amigo do Popa 2011
Por Paulo A Hennig

Conheci o Nelson lá por 1953, quando minha família mudou-se para a Vila Conceição, em Porto Alegre, e ficamos vizinhos dos Piccolo´s. Não só a Vila, mas o conjunto Tristeza – Vila Assunção, Vila Conceição e Pedra Redonda faziam uma comunidade afastada da “cidade” e assim com vida própria.

Garotos, usávamos o então Rio Guaíba para lazer. Nadávamos muito, a partir da Praia da Vila Conceição, juntos com nossos cachorros. O meu atendia por Black, o do Nelson não lembro. Liberdade absoluta, segurança também.

Numa dessas achamos (ou será que foi um presente?) um rema-rema, madeira, doble proa e bem podre. De imediato, projeto, o barquinho vai navegar novamente. Lembro que iniciamos cortando direto 1/3 do costado, já que a parte mais podre era o fundo. Fundo novo, certamente pregado e lá fomos nós a navegar, remando. Nossas incursões no Guaíba ganharam novo alcance. Em vez de nadar, navegávamos remando, bem legal.

Eis que aparecem uns caras velejando aparentando pouco esforço comparado com o nosso remar. E ainda por cima deram em fazer piada dos remadores. Novo projeto. Vamos velejar com o nosso barquinho. Cabos de vassoura, arame e lençol transformaram nosso rema-rema em veleiro. Ou assim pensamos. O treco não funcionava, andava de lado, tínhamos esquecido a bolina! Mais um compensado e arame de fixação e o projeto melhorou 100%.

Agora podíamos ir para qualquer lugar, ou quase, dadas as freqüentes quebras do nosso “veleiro”. E pior, os mesmas caras que velejavam passavam por nós em alta velocidade e se puseram a fazer piada – novamente – do nosso veleiro.

De qualquer maneira, este foi o nosso começo, Nelson e eu, na vela. Rudimentar, mas aprendemos os “truques” básicos de velejar.

Não demorou muito e fomos convidados para conhecer um clube de vela, donde saíam os tais caras velejadores. Era o Clube dos Jangadeiros, que dispunha da categoria “filhotes”, por inspiração de Leopoldo Geyer. Não só a categoria como barcos da classe Jangadeiros, verdadeiros iates para a gurizada de então.

Nossa velejada agora era mais profi e tínhamos um grupo maravilhoso de companheiros velejadores, muitos ainda atuantes na vela. Claro que não demorou e começamos com pegas e daí regatas, tudo acompanhado por longos passeios pelo Guaíba.

Assistimos a transição de algodão para dacron, a entrada da classe Snipe e Sharpie. De todas, o Snipe foi a de maior sucesso, atraindo os melhores velejadores da época. Nelson inicia como proeiro de Gabriel Gonzalez e esta dupla fez história na vela, trazendo inúmeros campeonatos para o nosso clube.

Porém o mais importante, no caso do Nelson, foi que ele não “gostava” da buja que usavam e ganhavam campeonatos. Acho que era uma ELVSTRON, mas Nelson não gostava.

Daí novo projeto, fazer uma buja de Snipe melhor. Partipei. Começamos por esvaziar a sala de estar do Sr Piccolo e lá construímos, em madeira um modelo 3D em escala 1:1 de uma buja de Snipe. Esquecemos de patentear e hoje a NORTH SAILS ganha uma grana com esse método.

Ajusta para cá e para lá, tudo comandado pelo olho clínico do Nelson e finalmente a nova buja é costurada na máquina de costura da mamãe Piccolo.

Não lembro se foi na primeira vela, mas não demorou a ser um sucesso. Impossível correr e ganhar sem uma buja do Piccolo. E assim nasce a velaria Piccolo. Quem a conhece hoje pode imaginar a dedicação e trabalho do Nelson e, mais tarde da parceira
Dircinha.

Em paralelo, muitos campeonatos vencidos, primeiro com o Bubi Gonzalez e depois em solo, incluindo Hobie Cat´s, onde e de certa maneira fomos os pioneiros aqui no nosso Guaíba.

Não lembro o ano, mas logo no início dos Hobies fomos a um mundial de HC14 em Honolulu, Havaí. Fenômeno. Nada sabíamos das manhas do barco – alguns insistem em chamar de helicóptero - e assim, nos dois dias de treino, seguíamos os hawaianos e gringos para ver como se velejava. Acho que aprendemos algo, Nelson foi 7º e eu la por 20º. Competiam uns 50 barcos, nada mau.

O mais importante não foram as regatas, mas o contato direto com Hobie Alter, o inventor e na época dono dos Hobies. Papo vai, papo vem, sai o Nelson autorizado como fabricante de velas para a classe. Claro que não demorou e as velas do Nelson, tal qual a buja de Snipe, eram de uso obrigatório para quem quisesse competir. Não sei quantas velas Nelson fez, mas houve época que todos os barcos as usavam, tal o “shape” perfeito e a qualidade do acabamento.

Muitos barcos teve o Nelson, seu ultimo SIMBAD XX, um catamaran de cruzeiro. Ótimo barco, muito bem acabado, com a tradicional assinatura do Nelson. Qualidade.

Acima de tudo, Nelson um grande companheiro.

Nelson Piccolo em sua famosa veleria na Vila Conceição, Porto Alegre

 

 

Fotos: Daniela Piccolo

 

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Amigos do Popa

2006 - Geraldo Knippling

 

2007 - Hugo Sander

 

2008 - Emilio Oppitz

 

2009 - Guto Vieira da Fonseca

 

2010 - Christina Silveiro

Comentários recebidos

31 Jul 2011
Ramiro Martinez Filho
Em 1990 o Nelson entregou as velas para o Big Apple, meu veleiro de 35 pés, feito em Porto Alegre. Acabo de receber um novo jogo de velas para o mesmo barco.As primeiras estavam ótimas, ainda. Estas estão impecáveis na confecção e no acabamento. Grande velejador, grande fabricante de velas, querido amigo. Parabéns ao Popa pela ótima escolha. Ramiro - Rio de Janeiro

28 Jul 2011
Gilberto Matusiak
Parabens,  Nelson, ainda tenho a vela DACRON do meu SLICK, de 1976, e estão em otimo estado. Navegamos no mar de Sta.Catarina com nosso Bruma (pela costa),e na Lagoa do Mirim e Imarui, em laguna com o SLICK, sempre com tuas otimas Velas NP.Parabens.Homenagem merecida. Grande Abraço Gilberto e Helenita
Veleiro NITAEBETO  -  IMBITUBA  SC

26 Jul 2011
Rudi Schultz
Ótimas lembranças desta época nos anos 50. Excelence escolha deste multicampeão e que produziu os melhores produtos para a vela brasileira.
Parabens também ao Paulo Hennig no relato das aventuras no Guaiba.
Parabens Nelson !

24 Jul 2011
Marcelo Aaron
Parabens Nelson, realmente tem poucas velerias no mundo que conseguem este acabamento.

24 Jul 2011
Emilio Petry Oppitz
Faz pouco tempo encomendei uma vela mestra nova, para o meu barco, o Adriana.
Para o Nelson ter as medidas levei a velha que era, nada mais nada menos de uma vela de fabricação dele mesmo.
O Nelson relembrou de como faziam os acabamentos na época, pois minha vela era de 1965.
E ainda está muito boa.
Eu disse 1965, e, repito ainda está muito boa.
Justa a Homenagem pela história que tem o Nelson.
Parabéns.
Emilio

22 Jul 2011
Arno Black
O que jamais esqueci foi de um acidente após o mundial de Snipe em POA onde o Gabriel Gonzales voltando para casa caminhando pela água, cortou o pé numa garrafa quebrada dentro do rio.....ainda sinto um arrepio

22 Jul 2011
Luiz Pureur

Piccolo é uma marca de referência do Rio Grande.
O Nelson é um Guerreiro, um Campeão, um Grande Amigo. Merece esta homenagem com todos os méritos. Grande Abraço.

21 Jul 2011
Arilson Schwonke

Ótima escolha ,excelente resumo histórico do Comandante Paulo Hennig ;com esses gestos, certamente toda comunidade náutica sente-se homenageada.
                    Arilson

21 Jul 2011
Leandro Najfeld

Minhas velas são made in NP. Nao as troco por nada.
Quando conhecia a fama do SENHOR Nelson, qual foi minha surpresa, que cheguei na veleria, e quem estava pilotando a máquina de costura?? O próprio.
Confesso que fiquei mais que surpreso, pois tinha ideia que ele apenas "coordenava". Parabéns

21 Jul 2011
Andreas / Canibal

No inicio dos anos 70, em São Paulo, eu comprei um dos primeiros Hobby Cat 14 fabricados. Veio com uma excelente vela Piccolo. Usei este barco muitos anos em Ilhabela, capotei inumeras vezes, coisa de enterrar o mastro no lodo no ventão sul do Canal de São Sebastião. E a vela sempre perfeita. Conheci o produto antes do fabricante. Tive muito prazer de conhecer o Nelson aqui, sem falar no prazer de voltar para a agua, pois moro em Santa Cruz do Sul. Merecidíssima a homenagem. Parabéns Nelson e Dircinha!

21 Jul 2011
Júlio

Queria agradecer ao POPA, por me proporcionar historias como esta, que fazem parte do inicio da vela no nosso estado, e da historia da saga de grande campeão, tenho absoluta certeza que essas historias incentivam e muito novos velejadores!!!
Parabens ao POPA!!
grande abraço

21 Jul 2011
Rodrigo Fadanelli - Areté
Merecida homenagem!


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