O Jardim do Éden... Existe... Além Mar
Cylon Rosa Neto
31 Mai 2011
Estou hoje aqui escrevendo este texto com o Raio de Luar a 5 nós, todas as velas em cima, brisa de SE tranquila, somente o marulho da água no casco, nenhuma nuvem no céu em um dia perfeito de outono no Guaíba, sendo fácil então pensar e lembrar deste paraíso, também ratificando ser a vida uma viagem e a razão do nome do meu barco vir de uma música maravilhosa com este título. Escrever velejando é uma experiência sensitiva e intuitiva, pois velejar é também sensitivo e intuitivo, aliás, não por acaso, um veleiro navegando representa logicamente o símbolo de prazer, paz, equilíbrio, sendo a essência da pura liberdade de espírito. Nesta linha de reflexão espiritual, descobri, novamente aterrissando, que o paraíso não está no além, e sim no além mar. Após os 45 anos, especialmente depois de perder minha Mãe, passei a priorizar de fato alguns valores, vinculados à qualidade de vida e principalmente quanto a ser grato por cada dia, logo, fazer valer cada segundo destes dias aqui neste planeta tão agredido e que temos de apreciar, conservar e cuidar. Talvez a principal atividade neste contexto, depois das nossas relações afetivas e da busca do conhecimento constante, sejam as viagens, para obtermos o máximo que se consiga de visão de mundo. Assim, temos viajado para conhecer, aprender, ver onde a história ocorreu, estudando, curtindo, mergulhando, velejando e também, prioritariamente “namorando”... Sempre idealizei o conceito de Jardim do Éden, fantasiando ambientes na busca do paraíso, ditos em algumas religiões existirem somente no além. No entanto, muito perto deste conceito chegamos em Bonito, nas ilhas do ABC holandês no Caribe, na Barreira de Corais da Flórida, nas Bahamas, em Angra dos Reis, em Noronha, e em tantos outros lugares em terra onde a natureza nos encantou. Porém, sempre por alguma razão, faltava um detalhe... Nosso mar é o Atlântico, neste Carnaval tivemos a oportunidade de irmos além do nosso mar, no Índico, lá descobri que o paraíso é aqui na terra, somado aquele que dizem existir do “lado de lá”. As Ilhas Maldivas são um País Arquipélago, uma capital literalmente cravada em uma ilha, um aeroporto parcialmente implantado no mar, nenhum verde em terra, apenas todos os m2 ocupados e antropizados, as pessoas literalmente amontoadas. Todavia, a 140 Km dali, em um atol chamado Lhaviyani, Ilha de Kuredu, descobrimos o tão sonhado Jardim do Éden.
Alguns (poucos) veleiros, trawlers de live aboard, embarcações de apoio e transporte entre as ilhas, pois carros lá não existem, uma infraestrutura discreta e sustentável, sofisticação pela simplicidade construídos com esmero, praias impecáveis, a vida marinha de uma exuberância por mim nunca vista, inimaginável, pois ali, a 100 m da margem, onde a profundidade vai de 10m a profundidades abissais, se encontra toda a cadeia alimentar, de crustáceos e peixes do recife de coral, até o azul profundo, onde estão todos os peixes pelágicos, em um conjunto de diversidade, cores e dimensões que se tem de ver para acreditar existir.
Mergulhar neste cenário é algo indescritível porque até os intervalos de superfície eram absolutamente surpreendentes, com mergulhos de snorkel junto a Arraias Manta. Nestes momentos pensava em porque pessoas dispensam energias em guerras, disputas de poder e política, esforço inaudito por dinheiro além do bem estar e do equilíbrio presente e futuro, simplesmente por um status fútil, quando a vida tem tantos outros atrativos a oferecer. Aí entendo entrem os valores de nossos próprios cenários de céu e inferno. Assim, a descoberta do Paraíso para mim pelo menos reforçou esta convicção de busca pelos conceitos inerentes à vida, tal qual na natureza, onde a beleza e o perigo estão próximos, porém ambos cúmplices para nos mantermos vivos e sadios em um ambiente competitivo, natural e saudável, caso equilibrado.
Kuredu é um lugar mágico, somente 1,0 m acima da maré alta, logo, sujeito a ameaças diante de qualquer instabilidade, mas enquanto estiver lá é a definição de paraíso na terra, longe daquele dito existir no etéreo céu, porém, para nós aqui a 30 graus S e 51 graus W, infelizmente, além mar... Em 07/05/2011 a bordo do Raio de Luar, em um dia perfeito de outono velejando com a alma livre. |