Plantando a semente da dúvida

Cylon Rosa Neto

05 Mai 2011
Todos nós temos grandes amigos, cujas qualidades são em geral proporcionais a dimensão da amizade e os defeitos toleráveis ou motivos de gozação.
Tenho dois amigos com estas características nas quais se inserem coincidentemente também dois defeitos simples e comum a ambos, “toleráveis”, um destes sendo irrevogável... são colorados, outro quase imperdoável....são lancheiros...nem os grandes homens são perfeitos...

Tendo em vista eles terem construído famílias queridas e estruturadas, não sendo possível tentar alterar o defeito irrevogável, resolvi convidá-los para um cruzeiro a vela, no local que entendo seja o mais propício, especial e talhado para isto no mundo (pelo menos dos locais que conheço), Angra dos Reis, em períodos e feriados diferentes (dizem que as Ilhas Virgens também, mas não pude ainda conhecer...). Nesta idéia de leva-los ao cruzeiro pensei em plantar uma sementinha de dúvida nas suas convicções de lancheiros, após curtirem dias no paraíso a bordo de um belo veleiro...
No feriado de 7 de setembro de 2010 fomos a família tripulante do Raio de Luar e a turma do Betinho (Luiz Alberto Machado) para uma navegada em Angra nos maravilhosos veleiros da Delta Yacht Charter.
Fomos todos nós (Cylon, Simone, Matheus e Gabriela) e ele com a filha Joana, sem a esposa Lúcia, retida por compromissos profissionais. Acredito de fato não existir no mundo um local como Angra em termos de paisagem e diferenciais de beleza, com centenas de Ilhas, sem extremos meteorológicos, um contraste absolutamente único entre mar cristalino, floresta exuberante e relevo proeminente, além de pontos de atracação e mergulho, inclusive naufrágios, belíssimos, logo, atrações embaixo, dentro e acima d´água.

Chegamos a noite, tarde, barco pronto, noite tranquila na marina, depois a partir do segundo dia, após rancho no Piratas Mall direto do barco, algo que também nunca vi, saímos para mostrar-lhes as atrações da Baía da Ilha Grande, começando pelo meu local predileto, a praia de Ubatubinha na enseada do sítio do forte.
Ali, já no primeiro dia, fizemos mergulhos diurnos e noturnos, peguei umas tainhas de arbalete para um assado a bordo e entendo coloquei o primeiro abalo nas suas convicções de motonauta... conforto, segurança, beleza, tudo que somente um veleiro bem estruturado oferece.

 


Então, na sequência continuamos a explorar a baía, com mergulhos no helicóptero, banho e mergulho na lagoa azul, por fim, um banho de cachoeira no saco do céu, com direito a frutos do mar no happy hour......
Como nem tudo é perfeito, as 4h da manhã entrou um sudoeste de 45 nós que fez muitos estragos, sustos, com veleiros na praia, lanchas batendo, rebocadores sendo chamados, e nós alertas, de motor em marcha lenta, engatado a vante, para reduzir o esforço de ancoragem...isto durou muitas horas e grande parte deste dia também, assim resolvemos por bem permanecer no saco do céu mais uma noite e no dia seguinte darmos um passeio então pelo lado do continente, pelas botinas, praia do dentista, e noite na tranquilidade do itanhangá, pois o mar ainda continuava de ressaca pelo sudoeste forte do dia anterior.

Mais um super jantar da Moni com camarões “ de itu”.
No último dia, banho de mar, estiradinha para Marina, van e avião...ele cabreiro com a confusão do ventão, mas vendo que em um veleiro também isto se administra bem...
Passados alguns meses, é pascoa já em abril de 2011, lá estamos nós novamente chegando para “incomodar” os amigos da DYC para mais uma navegada em Angra, desta vez também com outro grande amigo e família, lancheiro e colorado, o Carlinhos (Carlos Oliveira), com a Marisley grávida e a filhota Babi para um batismo de cruzeiro, eles um casal baiúcho e uma filha baiana puro sangue, outra chegando.



Mesma “ rotina”, quem dera todas as rotinas assim fossem, chegamos tarde, noite tranquila na Marina, na bela manhã que nasceu saímos para rancho no Piratas Mall, uma corricada para Ilha Grande, passando pelas plataformas para ver se encostava um peixinho no corrico, mas não deu, e fomos para uma noite tranquila no sítio do forte, com direito a mergulhos a noite e pela manhã cedo, onde também o arbalete garantiu peixes frescos para satisfazer a fome de todos. Abastecemos o barco de água no ponto do restaurante do Lelé, enxergando todos os detalhes do fundo a 6 m de profundidade, esta beleza da água cristalina também para mim incomparável na Baía da Ilha Grande.
Fomos então rumo oeste para Parati, passando por outras plataformas, onde tive de ouvir a gozação dos meus filhos, Matheus e Gabriela, dizendo para Marisley, a Babi e o Carlos:
O Pai vai passar perto das plataformas para tentar pegar peixe e vai dizer que ali está o... futuro do Brasil...passei e disse, também para provocar, mas de fato acredito que as descobertas de petróleo, se o Brasil souber administrar esta riqueza, garantirá um grande futuro para as próximas gerações.



Como estava também conhecendo Parati por água, propus dormirmos na Marina do Engenho, para podermos com segurança deixar o barco e irmos passear na cidade. Foi muito legal, tranquilo, descobri que na Marina tem uns robalões para pescar com isca artificial, pena não tive tempo, mas na próxima pretendo ir com tempo e preparado quanto a material.
Como a Marisley grávida enjoa, saímos bem cedo para as 25 milhas de travessia na volta, toda turma dormindo, exceto o Carlos e eu, também mar tranquilo, tempo perfeito, passamos o dia na Lagoa Azul com um movimento absurdo de escunas e fomos fazer o fim da tarde no saco do céu para eles também conhecerem, inclusive e especialmente o banho gelado de cachoeira.
No outro dia cedo saímos, novamente sem sucesso no corrico, mas fomos almoçar nas botinas um super camarão preparado pela Simone, aliás, a Simone é um capítulo a parte, tornou-se também uma espetacular cozinheira de bordo como é em terra, fazendo pratos especiais nestes dois passeios, bem acompanhados de champagne geladinho, que combina com frutos do mar e com o local. Em função destas habilidades e o sempre altíssimo astral que ela tem, foi eleita pelo comandante do veleiro Sonho na última Refeno a melhor tripulante, pois fez talentosas receitas com mar forte e para 9 pessoas durante toda a travessia, no caso da Refeno, muito bem assessorada pelo Leo Licks e vice-versa.
Pegamos neste dia também mar lindo e água com mais de 10m de visibilidade, tanto nas botinas, como no dentista e por fim na ilha de Paquetá onde dormimos, pois fugimos de Itanhangá por ter uma festa daquelas “tipo rave” a noite...o movimento de lanchas foi descomunal e entendo os riscos também, com a mistura de velocidade, bebida (talvez algumas “coisas” a mais..) , área de navegação cheia de obstáculos , etc, mas, nós estávamos tranquilos com outros 6 veleiros na enseada ao lado.
No último dia, demos uma passadinha no Frade para eles também conhecerem, e foi a “rotina” de marina, van, avião e casa...
Assim, penso haver cumprido minha missão, curtindo Angra com a família, esperando sempre poder voltar e desfrutar os veleiros impecáveis da DYC, aproveitado a companhia de grandes amigos e especialmente haver, sem erro, plantado em todos eles a semente da dúvida sadia, pois a imagem de liberdade e felicidade em livros, filmes, anúncios, e outros (principalmente em nós velejadores), sempre tem uma brisa, um mar tranquilo, sol e ...um belo veleiro!
Cylon Rosa Neto, 29/04/2011, escrevendo no RJ em viagem de trabalho... e uma passadinha no Boat Show pois também sou filho de Deus.....

 

Comentários recebidos

16 Mai 2011
Cylon Rosa Neto

Prezado Antônio, bom dia, obrigado pelo comentário na crônica de Angra, como blogueiro, imagino compartilhar contigo o prazer de escrever, mas principalmente gostei muito no teu blog a ênfase que deste pelo prazer de viajar, realmente esse nosso único e  grande patrimônio pessoal, o conhecimento e as vivências.
Felizmente nunca fui de tripudiar sobre meus amigos, assim, sou poupado quando perco, pena que nos últimos anos nós gremistas temos muito mais perdido que ganho, mas, ciclos são parte da vida...Quanto a tua pergunta, sim, deveremos estar na REFENO a bordo do Veleiro Sonho, do amigo Carlos Kise, de Salvador Bahia. Se também fores, espero ter o prazer de conhecer o amigo pessoalmente. Parabéns por receberes com fidalguia nosso amigo Emílio, grande incentivador da vela por aqui e um dos maiores conhecedores dos mistérios e segredos da Lagoa dos Patos.
Parabéns pelo Blog e muito sucesso por aí!
Aqui, SEMPRE a disposição, grande e feliz abraço, apesar da cabeça inchada.

15 Mai 2011
Antonio

Cylon um belo texto,mas so imagino com esses amigos o que tu deve estar tendo que ouvir hoje.
Minha solidariedade gremista.
E se vier na Refeno e chegar em Natal me procura, Avisa no meu blog www.papodevelejador.blogspot.com
Um abraço
Antonio

10 Mai 2011
Andreas

MegaCylon
Grande viagem e passeio pelas bandas de Angra. Me fez lembrar das férias com meu pai no trawler da familia. Tá, eu era lancheiro mas tinha meu Hobby Cat em Sampa. Mas nada substitue um bom veleiro, né? Salve a DYC. Abraço.

05 Mai 2011
Fernando Volkmer

Salve comandante Cylon,
sou velejador (aprendiz de proeiro) em Floripa. É impreesionante como num texto bem escrito nós conseguimos ter a sensação se estar navegando junto com vossa familia e amigos... Parabens pelo texto e pela iniciativa de plantar esta sementinha nos lancheiros, parceiros de mar...
Por sinal, talvez seja o defeito mencionado que não tenho (sou velejador convicto), mas sou colorado de Porto Alegre...
Um grande abraço
Fernando Volkmer


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