Passando o tempo na Lagoa Mirim
Um passeio de trawler por 480 millhas de água doce
Adriano Marcelino
11 Out 2011 Barco abastecido, em 18/07 zarpamos do Iate Clube Guaíba às 15h, com muita chuva e vento sudeste oscilando entre 25 e 30 nós. Apesar do vento forte e ondulação proporcional, o PASSATEMPO com suas 22 toneladas, não tomou conhecimento da situação, inclusive as gurias fizeram um bolo e tomamos um belo café durante a navegada. Chegamos à Praia do Sitio às 18h já com pouca visibilidade e ancoramos bem na beira da praia para minimizar o efeito da aceleração do vento que desce o morro, pois este barco navega muito, ancorado, bem mais que um veleiro. Consultando a previsão do tempo constatamos que no dia seguinte o sudeste iria dar uma trégua e rondaria para uma aragem de nordeste. Noite agradável apesar das rajadas de 35 nós. Acordamos sem pressa porque uma boa navegada só se daria na parte da tarde, sem ondas laterais, (é... trawler tem destas coisas, deve-se evitar ondas de través para uma navegada mais confortável). O dia amanheceu ensolarado e durante a manhã o vento acalmou. Temos 10 dias para ir e voltar, então não devemos mosquear muito. Após o almoço, às 13h, deixamos o Sítio rumo ao sul sem um pernoite definido, mas devido ao horário que saímos, certamente não seria Pelotas, pois teríamos que navegar á noite no Canal da Feitoria. Não que isso não seja possível, mas estando de férias, não havia necessidade. Lagoa tranqüila, confirmando o nordeste fraco, fomos seguindo para o sul. Cruzamos o Farol do Cristovão Pereira às 17h e aproveitando a calmaria total, resolvemos tocar até a Barra Falsa do Bojuru. Lá pelas 22h ancoramos ao lado da estaca que sinaliza o início do canalete de acesso. A calmaria era total com o céu bem estrelado, mas para o próximo dia teríamos uma nova frente entrando na parte tarde. Até lá já estaremos em Pelotas. Fomos enganados, acordei às 5h do dia 20/07 com o balanço do barco anunciando que a frente já tinha dado as caras. Vento sul forte, na faixa dos 20 a 23 nós não nos dava outra escolha senão navegar rumo a Pelotas. Entrar na Barra Falsa com água relativamente baixa e 22 toneladas para desencalhar com vento, estava fora de cogitação. Levantei âncora e zarpamos. Apesar do balanço acentuado, a Mariana e a Vera só acordaram no través do Saturno. Estamos começando a gostar do barco, deu para tomar café relativamente tranquilos. Entramos na Feitoria às 9h já com o vento sul fraquejando para 10 a 12 nós, o que nos possibilitou uma navegada gostosa até Pelotas. Seguiríamos em frente até onde fosse possível um bom pernoite. Cruzamos a eclusa às 15h e seguimos São Gonçalo acima, com 1,5 nós de corrente contrária. Caiu à noite e apesar da escuridão fomos seguindo com o auxilio do radar até a Vila Santa Isabel, onde pernoitamos. Dia 21/07 para variar um pouquinho amanheceu chovendo com uma brisa de sudoeste, bem de proa para o nosso destino, a Ponta do Juncal, depois daria um través até a entrada do Rio Jaguarão. Deixamos o canal às 8h com a Lagoa Mirim totalmente encalmada. No Canal do Sangradouro cruzamos por várias redes de pesca, inclusive algumas boiadas e descobrimos outra coisa positiva no barco, não pega rede nenhuma devido à proteção que foi colocada entre o patilhão e o leme. Seguimos costeando a Ponta Alegre e depois colocamos o rumo direto à Ponta do Banco do Juncal, bem no mangrulho. Chegamos lá às 15h com 15 nós de sudoeste bem pela proa e dali à boca do Jaguarão seriam só mais 5 milhas. Do São Gonçalo ao Rio Jaguarão são aproximadamente 50 milhas. Entramos no rio às 16h e tocamos direto à cidade tomando os devidos cuidados com os baixios e principalmente com os espigões de pedras encobertos com 30 cm de água. Chegamos à cidade às 19h, já noite escura e para atracarmos, fomos auxiliados pelos queridos amigos Roberto Couto e o Sr. Moreira os quais nos recebem muito bem sempre que andamos por aquelas bandas. A chegada, apesar do escuro da noite, foi totalmente tranqüila, bem diferente da de 2007, aonde chegamos com muita chuva e previsão de ventania. Passamos dois dias muito tranqüilos com o rio totalmente encalmado. Depois de umas comprinhas em Rio Branco começamos a planejar o retorno. Dez dias passam voando e apesar da robustez do barco, tenho que zelar por uma navegada confortável. Já se passaram cinco dias desde a nossa partida de POA, portanto resolvemos deixar Jaguarão às 10h do dia 23/07 após se dissipar uma densa neblina. Esta pequena estada na cidade se deu devido à previsão de um nordestão força sete para os próximos dois dias. Às 12h entramos na Mirim já com um sudeste forte, seriam mais 7h de navegada com vento de proa. Navegada longa, mas tranqüila, com o piloto automático tomando conta direitinho do barco. Entramos no sangradouro com o auxilio do radar, pois já era noite e assim seguimos procurando sinal de TV e INTERNET até ancorarmos às 23h no canal de acesso a Ilha das Moças onde pernoitamos. No dia 24/7, como esperado, ventava muito, mas aqui a navegação é tranqüila. Depois de um belo café da manhã com pão feito a bordo, rumamos para Pelotas. Fizemos um churrasco ao lado da eclusa e cruzamos no horário das 15h. Aportamos no Saldanha da Gama às 16h, em um box que só cabia a metade do barco, mas devido à proteção do lugar, não tivemos problema. Vamos aguardar por aqui a entrada de mais uma frente para seguirmos viagem. Até agora, como era esperado, tivemos dois dias ensolarados e quatro chuvosos, mas os 46 pés do barco minimizam o confinamento. Continuamos aproveitando o que a situação nos oferece, comer, beber, dormir, muita leitura, televisão, internet, um bom carteado e o melhor de tudo, o visual proporcionado pela cabine ampla e envidraçada. No dia 26/07 às 5h entrou uma frente com ventos fortes de oeste, mas que acalmou em seguida. Aproveitamos e às 9h demos saída do clube. Navegação tranqüila pela Feitoria, mas depois tivemos que encarar um suave balanço lateral remanescente do vento da madrugada. Conforme avançamos rumo ao Cristovão Pereira a direção do vento vai rondando para sul e com fraca intensidade. Com vento de terra, cruzamos o banco do Cristovão e ancoramos com o auxilio do radar, a uns 200m do farol, no lado norte do pontal. Passamos uma noite muito tranqüila e no dia seguinte, 27/07 navegamos até o Porto do Barquinho onde ficaríamos até o dia 31. Neste percurso de pouco mais de uma hora cruzamos por 15 redes boiadas, eu nunca tinha visto tanta rede nesta região. Dentro da proteção dos molhes, ancoramos ao largo, pouco antes do antigo trapiche de ferro, para não atrapalhar o fluxo de pesqueiros que entravam e saíam constantemente. Tivemos três dias por aqui sem conseguir desembarcar devido ao vento e chuva torrencial. Em um belo dia entrou um norte forte e de pura teimosia insistimos em agüentar o balanço naquele lugar. Aproveitamos uma brecha no tempo e dia 30/07 levantamos ferro rumo ao Arroio araçá. A Lagoa dos Patos estava totalmente espelhada, mas com uma densa neblina que nos acompanhou até a Ilha do Barba Negra. Nestas condições a navegação é totalmente eletrônica e viva um bom piloto automático interfaceado com o plotter e o radar. Depois do São Simão, pequenos ecos na tela do radar me chamaram a atenção, deveriam ser alguns pesqueiros espalhados por aquela região repassando suas redes, mas à medida que nos aproximávamos do Guaíba, os ecos se tornaram mais freqüentes. Como a visibilidade era de poucos metros, resolvi rumar para um deles no intuito de verificar o que realmente era, e para nossa surpresa, não eram pesqueiros e sim dezenas de árvores inteiras navegando com alguns galhos para fora. Deve ter sido por causa da chuvarada daquela semana nos afluentes do Guaíba. Às 10h ancoramos no Sítio para curtirmos um almoço bem descansado e no final da tarde tocamos para o Arroio Araçá. Como planejado, dia 31/07 chegamos à noitinha no ICG encerrando 10 dias de navegada, com 480 milhas percorridas e muito vento e chuva que por fim, não nos atrapalharam em nada. Quanto ao primeiro bom teste do barco, nos surpreendeu e muito positivamente. ADRIANO, VERA, MARIANA E MEG. |
Comentários recebidos 16 Out 2011 14 Out 2011 |