Cruzeiro de caiaque no Carnaval 2013
Rio Guaíba, Porto Alegre
Luciano Duarte
06 Mar 2013 O feriado do carnaval se mostrava a data ideal para realizarmos a viagem e aproveitamos o mês de janeiro para nos prepararmos melhor em Devido a nossa pouca experiência com este tipo de viagem, planejamos tudo de forma que pudéssemos abandonar ou mudar o roteiro em caso de mau tempo ou necessidade. Coisa que acabou acontecendo e por estar previamente pensada, não provocou nenhum problema maior além do encurtamento da viagem. Durante a última semana de preparação, compramos os últimos itens faltantes e organizamos o cardápio e a logística de água para garantir uma autonomia de 4 dias. Na verdade, podíamos ter sido mais comedidos nesta parte, mas pecamos pelo excesso e Na sexta feira, véspera de Carnaval, marcamos um ensaio do carregamento dos caiaques para o final da tarde. Este ensaio foi super útil pois ficamos tranqüilos quando a quantidade de carga que estávamos carregando, a acomodação da mesma nos caiaques e o tempo que precisamos para arrumar tudo. Depois do teste, realizamos a reunião final para definição do roteiro com base na últimas No sábado pela manhã, o dia amanheceu nublado e com pouco vento, conforme previsto e as 7:40, com alguns minutos de atraso, eu chegava ao Sava para preparar o caiaque. O Cristiano já estava bem encaminhado nos preparativos e já tinha inclusive trazido o meu caiaque para a rampa de saída. Arrumamos as tralhas rapidamente e ajudamos a Carol a colocar um caiaque SOT na água, pois ela iria nos acompanhar no primeiro trecho até a Ilha das Pedras Brancas (Ilha do Presídio). Depois de A remada até a Ilha foi super tranqüila e aproveitamos para tirar algumas fotos e filmar. No trapiche da Ilha batemos mais algumas fotos e nos despedimos da Carol, que voltaria para o Sava sozinha. Seguimos dali em direção a margem oeste do Guaíba, mais exatamente para as chaminés da Riocel Celulose. A remada continuava tranqüila e apenas poucas ondulações laterais em virtude do vento fraco de sudeste perturbavam. Passamos rapidamente pela imponente fábrica e seguimos direto para nosso primeiro desembarque na Praia da Alegria. Com ondulação muito pequena e a praia tranqüila, desembarcamos sem problema. Comemos alguma coisa rápida como castanhas e barrinhas de cereal, batemos algumas fotos e seguimos viagem.
O sossego do abrigo não nos tirava a preocupação do vento que aumentava lentamente e soprava no Guaíba. Sabíamos que a próxima travessia prevista era a maior do
No dia anterior, nossa preocupação havia sido que a portaria do camping que dava acesso à praia abria somente as 9h. Mas com todo o Certamente teríamos outras oportunidades para completar nosso roteiro programado. E neste momento, tudo era novidade, ou seja, estávamos curtindo muito a viagem independente do roteiro. Seguimos então do
Buscamos um lugar para aportar no fundo do Saco do Arado e tivemos que fazer duas tentativas de O dia havia ficado muito bonito, com sol quente e pouco vento, mas o final de tarde prometia temporal, justamente pela mudança de temperatura. Chegando na Marina do Lessa, aportamos na rampa e fui procurar pelo Jorge, o dono do local. Achei-o numa roda de bate papo a sombra das árvores e me apresentei pedindo Depois do descanso, preparamos o almojanta curtindo um belo visual. O cardápio mais uma vez foi arrebatador: risoto de frango e tomate acompanhado de frango desfiado ao molho de estrogonofe com champignon e batata palha. Comemos muito e muito bem! Depois de lavarmos a louça, fizemos uma bela caminhada pela Marina olhando os barcos, batendo fotos e falando com os marinheiros que cuidam dos veleiros dali. Muitas histórias interessantes sobre uma Porto Alegre muito diferente da metrópole com a qual estamos acostumados. Algumas fotos do por do sol, alguns pássaros voando para os ninhos e uma família de preás indo tomar água. Durante nossa refeiçao o céu havia estremecido um pouco, inclusive ensaiou alguns pingos, mas deitou suas lágrimas mais ao norte de onde nos encontrávamos. Mas os trovões continuavam ao longe e davam aquele ar de fim de tarde todo especial em comunhão com a natureza. Havíamos pensado na possibilidade de fazermos um lanchinho antes de dormir, visto que acabamos comendo pelas seis da tarde. Mas tanto eu como o Cristiano estávamos satisfeitos na hora de dormir e resolvemos manter a dieta equilibrada. Fomos para cama por volta das nove da noite e, em contraste com a noite anterior, descansamos ouvindo apenas o som da natureza. Levantei a noite para ir ao banheiro e puder ter uma das sensações que adoro que é curtir o som da noite olhando para o céu estrelado com a impressão que somente você está fazendo aquilo naquele momento. Demais! Amanheceu quente na Segunda-feira mas aproveitamos para dormir um pouco mais. Saímos da barraca somente as oito horas e começamos a preparar o café. Foi uma refeição bem reforçada com direito a bolinho recheado, bolacha salgada, pão preto, mel e achocolatado. Depois começamos a suar a camiseta e desmontar o acampamento. O sol já estava mostrando sua força e saímos da Marina novamente em direção a Ponta do Arado Velho. Logo alcançamos uma dupla de pescadores que havia saída um pouco antes também da Marina em um caiaque duplo SOT. Cumprimentamos a dupla e seguimos firme na remada passando novamente pelas belas Pedras do Arado Velho. Ao sairmos da proteção do Ponta do Arado Velho, encaramos de frente o vento de cerca de 10 nós que soprava agora do norte, exatamente conforme a previsão avisava. Seria um dia de vento contra mas não havia muita alternativa. O avanço era lento, mas notável. Apesar do esforço para remar, estávamos progredindo satisfatoriamente e com segurança em direção a Ponta Grossa, nosso próximo destino. Neste longo trecho de cerca 10 km de extensão fizemos algumas paradas embarcadas para descanso e alimentação. Eu procuro sempre estar comendo alguma coisa para não deixar o nível de energia baixar muito. Quando sinto que estou mudando de humor, ou com algum desconforto, para e como algo rápido para restabelecer o ânimo. Normalmente, nestas situações, uma mariola, um mix de castanha, amendoim e passas ou uma barrinha de cereal é o suficiente para tocar mais um trecho. Guardo tudo isto nos bolsos do colete salva-vidas, além do apito, canivete, luneta, GPS, máquina fotográfica e lanterna. Remei também sempre com um reservatório de água no colete. Assim, basta eu pegar a mangueira do reservatório e tomar água enquanto continuo remando. Muito prático e evita a desidratação. O inconveniente é que o colete acaba ficando bem pesado, mas não fica desconfortável já estamos sentados. Chegamos na Ponta Grossa por volta do meio dia. Escolhemos uma praia aprazível e com sombra e aportamos com cuidado por causa das pedras. Logo em seguida a simpática e falante dona do terreno veio nos receber. Ficou calma quando viu que estávamos de caiaque e se ofereceu diversas vezes para preparar nosso almoço. Recusamos educadamente, agradecemos sua atenção e permissão para ficar por ali e a tranqüilizamos sobre o manejo de nosso lixo, sua principal preocupação e reclamação quando ao Guaíba. Dissemos que vimos cenas muito tristes sobre este assunto e que entendíamos sua preocupação. Montamos então nossa cozinha improvisada nas pedras e demos inicio ao preparo do almoço: risoto de frango e tomate e lentilha. Demos uma rápida descansada pós almoço e nos preparamos para o último trecho de nossa jornada. Teríamos mais uma travessia grande até o Sava com cerca de 10 km. Logo que saímos o abrigo da Ponta Grossa, as condições haviam mudado significativamente para melhor. O vento havia praticamente parado, o céu estava aberto mas ao longe no horizonte, nuvens negras ameaçavam nossa chegada. Seguimos confiantes remando em direção ao nosso destino, torcendo para que a tempestade anunciada não nos pegasse muito longe da costa. Acabamos demorando demais para tomar uma decisão e quando vimos que seria inevitável enfrentarmos o temporal desviamos para a costa mais próxima que era Ipanema. Como o local que estávamos atravessando assemelhasse a uma grande baia, a praia mais próxima na verdade ficava a mesma distância de nosso destino, mas era mais abrigada e com vento lateral na remada. Nosso destino era exatamente na direção do temporal, ou seja, norte. O mau tempo nos alcançou como previsto ates de chegarmos a praia. Continuamos remando firme em direção a Ipanema sempre de olho um no outro, pois as ondas de través poderia provocar um capotamento. Depois de trinta minutos de remada tensa, chegamos a praia. O temporal acabou nos pegando ainda na água, mas como somente a extremidade do mesmo nos alcançou, não sofremos muito. Vivemos mais a apreensão da tormenta e o aprendizado de que os quinze minutos que demoramos para tomar a decisão poderiam ter sido decisivos. A rampa que fica ao lado desta praia pertence aos escoteiros do mar e tem pouco uso. Havia muito limo numa parte dela e eu estava calçando apenas a bota de neoprene de remar. Na última viagem entre o caiaque e a rampa para retirar a carga, escorreguei enquanto descia e cai de lado batendo com força a o rosto no chão. Quase desmaiei com a batida e ainda tonto demorei para entender que a Carol me avisava que eu havia cortado o rosto. A batida com o rosto de lado nas pedras da rampa fez com que o óculos que eu usava provocasse dois cortes no meu olho direito. Um bem grande no supercilio e outro menor próximo da união das pálpebras. Fiquei muito irritado com aquilo pois a viagem havia sido perfeita e no último instante um acidente bobo mudava o final da história. Rapidamente a Carol e o Cristiano limparam o corte e fizeram um curativo para estancar o sangue. A análise preliminar indicava a necessidade de pontos, mas eu preferi ir para casa e ver como estava o ferimento antes de ir buscar um atendimento. Acabei decidindo não tomar pontos e tratei os cortes com muito cuidado para não infeccionar. Creio que foi uma decisão acertada, pois em uma semana, os cortes já estavam bem cicatrizados e apenas o inchaço incomodava. Depois de duas semanas, a cicatrização está ótima mas ainda resta um pouco de inchaço na pálpebra superior. Bem, foi uma viagem repleta de aprendizados sobre o caiaque, o tempo, o vento, as ondas e o Guaíba. Espero poder realizar muitas outras neste estilo e compartilhar as experiências com mais companheiros de viagem. Agradeço ao Cristiano pelo companheirismo e a Carol pelo apoio. |