Diário do Andante
Recife

Cabanga Iate Clube, Recife, no píer, 17 de agosto de 2006.
Quando a noite chega parece que o movimento aumenta , são dezenas de pequenos pesqueiros por todo lado, apenas com uma luz fluorescente, piscando no sobe e desce das ondas, feito vagalumes. Eles não aparecem no radar pois são de madeira, e como não tem luzes de navegação, não se sabe para onde estão indo, se é que não estão parados. É a pesca semi-artesanal, responsável por muito do camarão e pescados da região. São pescadores vivendo sempre no limiar da segurança e da viabilidade econômica do seu trabalho.

A lua nasce mais tarde agora, e por enquanto o céu se estrela, mas os Pirajás, similares a Cúmulus Nimbos, às vezes aparecem no radar, prenunciando uma chuva forte local. Desconfio que o pessoal do turno começa a chamar quem está dormindo para trocar quando eles aparecem no radar. O céu alterna nuvens, chuva, ventos variados, mas esta vez a cozinha não está à altura dos gourmets, chegando no máximo no convés castanhas e bolachas secas. A Comodoria está começando a pensar na troca do economato.

Chegamos cedo demais na barra de Recife, o vento acabou ajudando. Como não conhecíamos a barra do porto, resolvemos aguardar o amanhecer, com pirajás na cabeça. Dois tripulantes secos, dois molhados. E parece que era um pirajão, chuva forte e frio na entrada do porto. Os que roncam acordaram para ver a entrada no porto. Daí pra frente foi só cuidar para não encalhar quando perto do Iate Clube Cabanga.

A bandeira Brasileira já está bastante esfiapada, afinal são mais de 2000 milhas desde Porto Alegre. Mais um item para a interminável lista de coisas a fazer no barco. Parece que barco é caixa de e-mail, sempre que se resolve um problema, aparece mais dois. O tempo, agora do relógio, aqui no píer não dá moleza, é tanque para limpar, bote que descola fundo, vela que precisa costura, descobrir origem de vazamentos. E como ainda não se conhece nossos novos prestadores de serviços, o melhor é ir resolvendo o que se pode. Começam a parecer os novos amigos, Edílson, Dinaldo, Luiz Sérgio e todo pessoal do Cabanga.

Alguns veleiros da França, Suíça, Alemanha e outros países já estão por aqui. Suas tripulações já estão treinando um português gesticulado, para ter vez na festa da regata para Fernando de Noronha, que larga dia 23 de setembro. Esta festa promete, será numa quinta, já que a largada para a regata será no sábado. Fica assim um dia para curar a ressaca. Tudo muito bem planejado...

A final da Libertadores foi disputada no campo e dentro do barco, causando o primeiro motim que se tem notícia no Andante. A tripulação é bem equilibrada, com 2 representantes de cada um dos melhores times do Brasil, note-se que o São Paulo não está nesta lista.

Agora no aeroporto, vamos levar 7 horas para percorrer o que navegamos em algumas semanas ao longo de 4 anos, mas sem o prazer de costurar de perto a costa do Brasil.

Voltaremos em setembro,

Tripulação do Andante

 

 

 

 

 

 

O Andante leva o galhardete do Clube dos Jangadeiros, de Porto Alegre

 

Considerando o relato do comandante sobre o estado do barco, aí vai uma tira
do ídolo dos marinheiros que lembrei ao ler este belo diário.
[popa]

 

-o-