Festa de 15 anos ou viagem ao berço do iatismo
A opção pelo esporte à vela
Anelize Caminha

Prezado Comandante Danilo Ribeiro.

Acompanhando os barcos da Volvo no rumo de Portsmouth, lembrei que ainda não tinha cumprido a promessa de apresentar um breve relato da viagem à Inglaterra, que fiz anteriormente. Essa viagem, como sabes, foi negociada em troca da minha festa de quinze anos. Acho que fiz um bom negócio.

Então lá vai:

Aterrisamos em Londres, alugamos um carro e fomos direto para o canal do Solent, rumo a Isle of Wight, curiosos para conhecer o berço do iatismo e o palco das mais famosas regatas, entre as quais a “Cowes Sailing Week”, que inclui a temida Fastnet Race, de longo curso (mais de seiscentas milhas), que larga na cidade de Cowes, na Ilha de Wight, contorna o solitário farol Fastnet Rock, no sul da Irlanda, e termina em Plymouth. Não é demais lembrar que essa semana de iatismo é patrocinada pela Rolex e organizada pelo Royal Ocean Racing Club, com apoio do Royal Yatch Squadron, e foi vencida por lendas do iatismo, como Eric Tabarly e Ted Turner. A Cowes Week, afirmam, é a mais antiga regata do mundo, tendo a primeira sido realizada em 1812. Em 1826 o Royal Yatch Squadron oficializou a semana de vela e o Rei Jorge IV doou uma taça de ouro para marcar a ocasião. Hoje as 34 classes participantes somam cerca de 1000 veleiros. As classes têm largadas individuais, ou seja, todo o dia tem 34 largadas, sendo a primeira dos “superiates” como mais de trinta metros. Se no mar o agito é grande em terra não é menor, com muitos eventos. Melhores informações sobre a regata poderão ser obtidas do Cmte. Manotaço, que teria participado de três edições.

A ilha pode ser alcançada por um eficiente sistema de ferrys ou rápidos aliscafos desde as cidades de Limighton, para quem chegar pelo lado oeste, ou de Portsmouth, para quem chegar pelo leste. O ferry navega entre uma infinidade de veleiros apoitados na margem do canal, que ficam cabeceando a cada passagem.

Optamos pelo lado oeste, para conhecer as imponentes Needles, série de pontiagudos rochedos brancos que seguem enfileirados mar a dentro no limite oeste da ilha, que eu “conhecia” de fotos e do Virtual Skipper. Atravessamos a ilha por sinuosas estradinhas em meio a campos com construções típicas da Inglaterra rural


até alcançarmos as cidades de Newport e Cowes, que parecem inteiramente voltadas para o iatismo, tal a quantidade de barcos e clubes náuticos. A maioria dos pubs, hotéis e B&B têm nomes e decorações náuticos. A ilha também tem um museu naval, onde estão expostas curiosidades, como um veleiro movido à hélice!!! Calma, eu explico: ao invés de velas ele “enverga” no mastro uma grande hélice de duas pás, como um helicóptero deitado (mas sem motor) que gira com a ação do vento e impulsiona o barco, segundo garantiu a guia do museu, jurando que ele veleja (ou seria heleja) muito bem!!!

Wight também tem o seu belo, bem conservado e imponente castelo, construído no morro mais alto da ilha para expulsar os romanos, como sempre, e que, por sua vez, também deixaram lá as marcas de sua passagem.

Atenção aos incautos: a ilha não tem hotéis de grandes cadeias, salvou-nos um hotelzinho de meia estrela pelos padrões da Embratur. Outra: os restaurantes são raros e fecham às 9:00 pm impreterivelmente, of course. Não adianta discutir nem tentar subornar. Mais: nos pubs, únicos que ficam abertos depois das 21hs, os children não são permitidos. E child pra eles é qualquer coisa com menos de 21 anos. Resultado: fomos salvos por uns frangos da KFC (cadeia de fastfood tem, é claro)! Mas tudo bem, pela manhã ficamos sabendo o que é um english breakfast: feijão com molho de tomate (believe), bacon (frito, of course), 2 ovos (fritos, é claro), lingüiça (frita, óbvio) e tomate assado, entre outras gorduras!!! Deu pra entender como é que eles aturam aquele clima.

Falando nisso, ele (o clima) até que foi bonzinho conosco, porque a Inglaterra está passando por um período de seca bastante grave.


Needles ao fundo

Depois de dar a volta na ilha pegamos um ferry em Cowes rumo a Portsmouth.

Durante todo o trajeto o ferry navegou perigosamente entre inúmeros barcos que velejavam faceiros, embora fosse uma segunda-feira e a temperatura não passasse dos 8ºC (sem o aparente). Nessa hora eu entendi porque a vela é um dos esportes mais importantes na Inglaterra.

Na aproximação de Portsmouth de longe observamos a intrigante figura de uma imensa torre que em aço, vidro e concreto pretende imitar um veleiro com o balão armado. E é! Trata-se do Spinnaker Tower, uma torre de cento e tantos metros de altura com um mirante todo envidraçado no alto.

O mirante é todo envidraçado mesmo. Até uma parte do piso é feito de um vidro super reforçado, onde se pode caminhar vendo o chão cento e tantos metros a baixo. Dá uma sensação muito estranha.

A cidade é bastante grande, com uma base da marinha (Royal Navy) e um número imenso de marinas lotadas de barcos.


Spinnaker Tower iluminado

Para comprovar que a cidade é toda voltada para o iatismo, em sua entrada pela rodovia, existe uma imensa escultura em concreto no meio da estrada, que representa um barco com as velas em asa de pomba e uma placa escrita ‘welcome’. Não preciso falar mais nada.

Um dos shoppings, com centenas de lojas, restaurantes, bares e academias, foi construído na beira da marina onde está a Spinnaker Tower, com um deck lindo em que literalmente se amontoam todas as espécies de barcos.

A cidade é muito alegre e muito jovem. Encontrei muita gente da minha faixa etária. Toda ajeitadinha, parece cidade de filme (ou melhor, é). Eu tenho certeza que os velejadores da Volvo vão amar quando chegarem lá.

De Portsmouth fomos para Chichester, Winchester, Oxford e Londres, claro, onde conhecemos a tua simpática Daniela. Todas estas cidades são muito interessantes, cada uma com a sua particularidade, mas Portsmouth tem algo mais atraente e indefinível, talvez a nossa afinidade esportiva, sei lá. Parece que não é só eu quem percebe isso, pois dentre tantos importantes portos e cidades marítimas na Inglaterra, os organizadores da Volvo foram escolher logo Portsmouth como pit stop desta grande regata.

Anelize Caminha
Maio 2006

Anelize Caminha veleja no Shogun, o Frers40 do Comte Marcelo Caminha, VDS, desde que nasceu,
e veleja em Laser no Rio Guaíba, em Porto Alegre.

 

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22Maio2006
Carlos Altmayer Gonçalves Manotaço

Que beleza de artigo.
Lembro que a tradicional Fasnet Race, vencida por figuras ilustres da vela mundial, como bem registrou Anelize, foi vencida no Geral e, claro, na Admiral's Cup fleet, pelo barco brasileiro "SAGA", do comandante Erling Loretnzen, no ano de 1.973. Ano que teve cerca de 300 participantes. Arrisco-me a dizer que, terá sido a regata oceânica de maior importância já ganha por um veleiro brasileiro. "SAGA" foi capa de inúmeras revistas náuticas e tema de reportagens, na ocasião.
Segue velejando, lindo como sempre.
Sempre bons ventos,
Manotaço

25Maio2006
Alexandre S. Nanni

Artigo nostálgico
Morei na Ilha de Wight por quase 2 anos e posso dizer com segurança: aquele povo respira vela/iatismo 24h por dia. Detalhe: sapato que mais se via no hospital onde trabalhei: sebago-docksides.
Um grande abraço
Alexandre S. Nanni (Folgado/ICG)