Cruzeiro na Ilha Grande
Tentando velejar em Angra
Antonio Joaquim Machado

20 Ago 2007
Sonho acalentado de há muito, no início deste mês decolei, numa sexta-feira, rumo ao Rio, para conhecer a tão decantada baía de Angra dos Reis, Ilha Grande e Parati. O nosso grupo compunha-se de três velejadores: eu, o Carlos Blum Tartakowsky (Anarquia) e o Fábio Zanon (Auguri).

A empresa aérea, a Webjet, de acordo com o padrão atual brasileiro, perdeu a bagagem do Carlos. Aí foi aquele sufoco, indaga aqui, liga para acolá e nada. O jeito foi seguir o roteiro e esperar notícias, enquanto isso emprestamos para ele algumas peças de roupas e outras ele comprou mais tarde em Parati. Locamos um carro no aeroporto tocamos para Bracuhy, o nosso primeiro destino. Colocar toda a bagagem de três marmanjos que vão passar uma semana no mar num Celta, já foi uma proeza, mas a empreitada estava apenas começando... O Márcio, que recebera um veleiro Fast 360 como parte do pagamento da venda do Malacara, amavelmente nos possibilitou um passeio com este barco, que estava em Parati. Como o bote inflável estava na Marina do Bracuhy, adivinhem se não colocamos ainda o referido dentro do Celta?

Foi um feito de engenharia, digno de ser relatado à GM! Bom, como eu ia no banco traseiro do carro, com duas sacolas, foles, remos e o dito bote, já que o porta-malas estava repleto, praticamente naveguei dentro dele...

Chegamos à noite em Parati e seguimos para a Marina Porto Parati, ao lado da Marina do Amyr. Claro que o barco não estava no trapiche sim apoitado. Conseguimos dois marinheiros de plantão que nos levaram até à poita e assim o trouxemos ao trapiche. Finalmente instalados, fomos dormir.

No dia seguinte, fomos ao supermercado fazer o rancho para a viagem. Pega a tralha toda, carrega por um trapiche interminável até o barco. Distribuímos tudo pelos paióis e toca a navegar. Saímos costeando, em direção ao Saco do Mamanguá, um local belíssimo. No caminho, fomos conhecendo várias ilhas e enseadas, cada uma mais bonita que a outra, com destaque para a do Amyr, que é a mais acolhedora.

Bom, aí o motor, que não passava de 2500 rpm, deu uma rateada, caindo para 2000 rpm. Fomos devagar voltando para a marina.

Examina aqui, ali, filtros ok, hum... nenhuma conclusão. O mecânico que atende a marina estava em São Paulo. Era sábado, depois domingo, mecânicos nem pensar...

Nesta região, o vento é normalmente fraco ou inexistente nesta época o que, combinando com a existência de correntes marítimas e inúmeros rochedos, torna o uso do motor imprescindível.

Como a coisa estava ficando encardida e tínhamos pouco tempo disponível, passamos ao Plano B: Telefonamos para um conhecido do Carlos, que aluga veleiros na Marina do Bracuhy. Como tinha barcos disponíveis, reservamos um e começamos a retirar toda a tralha do Fast e passá-la para o Celtinha, seguindo pelo trapiche interminável.

Nova proeza e, com o carro ainda mais carregado que na vinda, seguimos para o Bracuhy. Descarrega o carro, carrega o barco, já estava ficando uma rotina...!

O Condomínio e Marina do Bracuhy é uma idéia muito interessante, com um setor de casas com fundos para o canal, possuindo rampas e cais particulares.

Tem outro setor com apartamentos e um hotel, que utilizam a marina geral. Junto a esta, existem algumas lojinhas de apoio, bar e pizzaria. Um paraíso, desde que tu convenças a tua mulher a morar num local que só tem barcos e o supermercado está a 5 km de distância. Shopping, então, nem pensar, só em Angra, a 50 km ...!

Dormimos no barco, um veterano Brasília 32´, nos fundos da casa do proprietário e zarpamos na manhã seguinte. Nosso rumo: Ilha Grande.

Além da beleza escandalosa da paisagem, os destinos a que os navegantes se propõem são todos próximos.

Da Marina do Bracuhy até à Ilha Grande é uma navegada de 3 horas, aproximadamente, cruzando por uma dezena de ilhas. Navegação toda visual.

Com a carta na mão, fomos reconhecendo os diversos pontos geográficos do roteiro, sem problemas.

Depois de passarmos a Ilha da Gipóia, atravessamos o canal de navegação que a separa da Ilha Grande. Neste momento, um bando de uns quatro ou cinco golfinhos passou a nos acompanhar.

Ficavam ao lado do barco e cruzavam em ”X” na proa do barco, como que competindo qual passava mais perto da roda de proa sem ser atingido por ela. Foi um belo espetáculo, que durou uns vinte minutos, após o que se afastaram saltitantes.

Na Ilha Grande, que faz jus ao nome, começamos bordejando a Enseada de Araçatiba e seguimos para o norte, passando pela Lagoa Verde (que não é lagoa) e entramos na Enseada de Sítio Forte, um local imperdível.

Esta enseada, de águas transparentes, onde se podem observar os peixes e tartarugas.

No fundo da enseada há uma prainha, onde, a exemplo de quase todas as outras da Ilha Grande, tem um botequinho servindo bebidas geladas e pratos com peixes.

Comemoramos o nosso primeiro aporte à Ilha com uma fritada de sardinhas e algumas Itaipavas geladas.

Nos acompanhavam, no local, um grupo de argentinos em outro veleiro alugado, um flamante Bramador 34´.

Neste local, chamado de Tapera, há uma tubulação que capta água de uma vertente da montanha e joga na praia e sobre um pedestal erguido sobre uma rocha a uns 50 m da praia. Lá se pode encostar o barco e abastecê-lo de água fresca, o que fizemos.

No dia seguinte saímos em direção à Lagoa Azul. Na verdade não se trata de uma lagoa e sim de uma grande laje que une duas ilhas e aí podem ser apreciados cardumes de peixes devido ao fundo claro. Inúmeros barcos param junto ao local para apreciar o espetáculo.

Desembarcamos na praia próxima com água límpida, onde podíamos ver a âncora presa ao fundo de 4m. Dali seguimos à pé por uma trilha dentro do mato até à Freguesia de Santana, primeiro povoamento da Ilha Grande. No local existe uma igreja encantadora, bem conservada, datada de 1830.

Voltamos ao barco e seguimos um pouco adiante, para pernoitarmos junto à Ilha do Macaco, numa pequena enseada com boa proteção a ventos de três quadrantes.

Nesta noite entrou um ventão, adivinhem de qual quadrante?

Isso aí, o barco jogou muito e com suspeita de que a âncora houvesse garrado, foi aquela correria de madrugada, porque as margens ao redor eram constituídas só de rochas.

Aliás, a geografia de toda a região é parecida com a nossa de Itapuã (mata atlântica e rochas enormes), só que ao invés de colinas, são montanhas e a água, bom ...

No dia seguinte navegamos até o Saco do Céu, um belíssimo local, bem abrigado, cercado de residências luxuosas e pousadas. Urinar na borda do barco, nem pensar! Jantar na pousada ficou fora das cogitações devido aos preços muito caros. Ficamos também sem banho, adiado para o dia seguinte na Vila do Abraão. Nota: Apesar de estarmos no Rio de Janeiro, etc. e tal, a água do mar nesta época está extremamente fria, talvez mais do que do nosso litoral, tornando o banho de mar impraticável.

Seguimos bordejando a costa, apreciando a paisagem exuberante, tanto nas praias como nas montanhas. Aportamos, então, na enseada onde fica o principal ponto da ilha, a Vila do Abraão. A enseada é encantadora e a par da vila, existem vários locais bons de ancorar. Aliás, quanto mais longe do trapiche principal, melhor, pois o fluxo de embarcações de serviço que aportam ao cais é enorme.

Conseguimos ancorar bem no início da enseada, numa curva bem protegida de ventos e oscilações, garantindo um bom sono para aquela noite porque na anterior tinha havido aquele sufoco. Como havia uma pousada bem defronte, conseguimos banho quente e transporte por lancha até o centro da vila (por preço razoável). O que poderíamos querer mais?

Quando desembarcamos, tomamos conhecimento de um fato desagradável: no transporte de uma plataforma de petróleo, rebentaram o cabo submarino que abastece a Ilha Grande, deixando-a sem eletricidade. Bem na hora em que a bateria da minha máquina fotográfica estava acabando... Bom, tomamos banho com um toco de vela no banheiro (o aquecedor era à gás, felizmente) tocamos para o centro com a lanchinha da pousada. Lá, como quase todos os estabelecimentos tinham geradores individuais, conseguimos uma boa pizza e umas Itaipavas quase geladas. Vocês devem perceber que estou falando muito em Itaipavas, mas é que esta cerveja, de Petrópolis-RJ, é muito leve e gostosa não se encontra com facilidade em P. Alegre.

Na manhã seguinte fomos até a enseada das Palmas, onde ancoramos e cruzamos o morro para alcançar a Praia Lopes Mendes. Esta praia, localizada no lado de mar aberto da Ilha Grande, é um espetáculo imperdível. É considerada uma das dez mais lindas do mundo. Faz perfeitamente jus ao título e eu sem bateria na máquina! Voltamos ao barco e retornamos à Vila do Abraão para o derradeiro pernoite.

Lá, repetimos o mesmo roteiro da noite anterior e até a mesma pizza (não quis arriscar comer peixe num lugar sem eletricidade...).

No nosso último dia de navegação, deixamos a Ilha Grande para trás e tocamos para o lado ocidental da Ilha Gipóia, onde conhecemos uma linda enseadinha, a da Fazenda. Um belo local. Lanchamos e seguimos até o continente, junto a Cunhambebe, onde está localizada a sub-sede do Iate Clube de Santos. Barcos magníficos, como soe acontecer no ICS, a grande maioria lanchas e trawlers cujas dimensões lembram mais cruzadores do que barcos de recreio...!

Junto a este local há, a exemplo do Bracuhy, um condomínio fechado com um canal no meio, onde os barcos ficam estacionados junto às casa, em cais particulares.
Só que o gabarito era bem mais elevado do que em Bracuhy. Após apreciarmos o beautiful people paulista em seu habitat, retornamos à Marina do Bracuhy, já saudosos dos locais visitados.

Dormimos no barco em seu cais de origem e na manhã seguinte tocamos para o Aeroporto tom Jobim. Ali, finalmente, após sete dias de telefonemas, o Carlos conseguiu a sua bagagem de volta.