De Belém a Salvador
Navegando 1.500 milhas no Nordeste brasileiro
Átila Böhm
Parte 1: Belém a Cabo Gurupi Fui convidado para trazer um catamarã de Belém do Pará para Salvador BA. Sabia que não seria uma tarefa fácil, devido ao vento e correnteza contrários. O primeiro passo dessa epopéia foi reunir uma tripulação que não tivesse problemas com a data de retorno, pois era muito difícil prever o tempo de navegação. Após algumas ligações, a tripulação estava pronta para o embarque: João e Lourdes Rolim, donos do Veleiro Compostela. Voamos para Belém no dia 05 de dezembro onde fomos recebidos pelo ex-proprietário Roberto (isso que é fidelidade ao barco!), e por Roy, o atual proprietário do Aruã. Belém é uma cidade muito agradável e de boa culinária. Gostamos muito do Pato ao Tucupi; o Tacacá, um tipo de sopa preparada com o tucupi (suco da folha da mandioca com alho e chicória), camarões secos, goma e jambú, servido em cuias, geralmente encontrado nas esquinas de Belém em barracas das "tacacazeiras". Geraldo Link em seu livro "Velejando o Brasil" comenta que em Belém tinha uma sorveteria que oferecia 90 tipos de sorvetes de frutas da Amazônia. Na sorveteria Cairú, tivemos o prazer de degustar pelo menos uns 10 tipos: graviola, sapoti, castanha, açaí, bacuri, murici, uxí e outras delicias que não lembro o nome. O Iate Clube de Belém aonde se encontrava o Aruã, faliu ou coisa parecida. Moral da história, Belém não dispõe de apoio náutico adequado. O que existe é um improviso de ex-funcionários do clube que aproveitam as instalações enquanto o novo dono do pedaço não aparece. Demos início aos preparativos para a partida: revisar, fazer a lista do supermercado e a lista da loja de materiais náuticos. Após 3 dias partimos de Belém rumo a Vista Alegre, navegada de 80 milhas, acompanhados por Roberto. Os WPT da entrada do rio Cajutuba, que leva até Vista Alegre, foram fornecidos pela praticagem da Barra do Rio Pará. Navegar no Rio Pará tem algumas semelhanças com a Lagoa dos Patos: água turva, ondas curtas e o relevo da terra são baixos. Aproveitamos a maré vazante até a proximidade do Canal das Poções onde a maré mudou para enchente, fazendo com que nossos bordos, quase sempre, dessem no mesmo lugar. Avançávamos lentamente, devido a forte correnteza contrária. O primeiro problema apareceu: tínhamos muita água a bordo! A proa, dos dois cascos, que deveria ser estanque no entanto estava cheia d’água. As duas tampas de inspeção não suportaram a pressão d’água e quebraram inundando o primeiro e segundo compartimentos próximos à meia nau. A bomba elétrica não estava instalada, levando nosso companheiro João a improvisar uma instalação para funcionar nas duas proas. Em uma hora estava tudo sob controle, agora nossa preocupação não era mais a correnteza contrária e sim o WPT N° 1 da entrada do Rio Cajutuba, pois já começava a anoitecer e o céu a SE estava cinza anunciando um temporal que não tardou a chegar. Com esse vento contra não tivemos outra opção a não ser continuar com a proa para NE, por mais 13 milhas. Após 2 horas no rumo 60°, o vento rondou para NE. Cambamos rumo ao Rio Cajutuba, porém nessa manobra a genoa rasgou. Continuamos a navegada somente de vela grande e ainda com uma forte chuva. Com os WPT disponíveis e a luz dos raios que iluminavam a praia próxima a Barra do Rio Cajutuba, fizemos a aproximação sem problemas. À meia-noite largamos a âncora em frente ao cais da Praticagem, onde haviam duas lanchas de 40'. É sempre uma surpresa quando se chega em um lugar à noite. Ao amanhecer não era nada daquilo que se imaginava. Tomamos café da manhã e resgatamos nossa lista de tarefas, agora com mais alguns itens: conserto da genoa, bateria com carga baixa e duas proas fazendo água. Fomos para a cidade mais próxima: Marapanim, onde almoçamos e nos despedimos de Roberto, que retornou a Belém. Lá encontramos um entendido em velas que após avaliar nossa genoa deu-nos o prazo de uma semana para remendar à mão o rasgo de 4 metros na valuma. IMPOSSÍVEL, não dava para esperar. No outro dia pegamos o ônibus para Belém, que saía de Marapanim. A recomendação era procurar o Catraca, na Feira do Açaí. Foi fácil achá-lo. Ele imediatamente se pos a costurar a vela (foto acima). Pedimos um reforço a mais no punho da escota. Ficou jóia! Compramos mais alguns parafusos e porcas de inox e massa de calafetar. De volta a Vista Alegre, colocamos bastante massa de calafetar na travessa de proa (ao lado) e apertamos os parafusos que estavam folgados. Partimos com vento Nordeste de aproximadamente 10 nós e com tempo bom. Navegamos duas horas em mar aberto para constatar que o barco ainda fazia água pela proa. Demos meia volta e retornamos para o Rio Cajutuba com o Aruã cheio de água na proa. Eu já tinha a solução em mente, em vez de tentar vedar a união dos cascos com a travessa colocaria um plástico resistente por cima de tudo. Ancorados novamente em Vista Alegre telefonamos para Diniz e Marco Antonio, da prefeitura, e pedimos 1 caixa de tachinhas, pregos pequenos, e uma ripa de madeira. O plástico resistente tinha a bordo do Aruã. Com o material em mãos foi fácil resolver o problema. No dia seguinte saímos novamente, e desta vez, sem problemas, navegamos até o Cabo Gurupi (a 18mn a oeste da Praia Velha, veja mapa abaixo). |
Clique uma imagem para carregar todas da mesma moldura
Na semana que vem leia a Parte 2: Cabo Gurupi a Jericoacoara
Envie seus comentários ao popa: info@popa.com.br
02 Jun 2006
Átila, Essa foi dez.!!! Aguardo a continuação.......
Sds Cesar |