Navegada à Lagoa do Graxaim
Emilio Oppitz

S31º03,801' W051º27,835'

Os pescadores são, sem dúvida, as pessoas que melhor conhecem as lagoas e os rios, pois é aí que vivem e ganham a vida. É neste ambiente que passam os dias, na faina de matar peixes para comercializá-los e manterem suas famílias. Cada um de nós, tem seu ambiente de trabalho e aí passamos grande parte de nossas vidas, e os conhecemos a fundo.

Somos velejadores e motonautas, remadores e windsurfistas, usamos o ambiente água para lazer, depois de consultarmos cartas sinóticas, previsões de tempo, nossa própria experiência... Tudo nos conformes, vamos lá. Mau tempo à vista, não vamos desta vez, fica para outro dia.

Os pescadores profissionais, consultam apenas suas próprias experiências, a de seus companheiros, e tem que ir. O supermercado ou as “vendas” chamam. Seus filhos precisam de cadernos e roupas. As peças que a Lagoa dos Patos prega, com seus ventos violentos, ondas macanudas e correntes, levam estes pescadores a conhecerem todo e qualquer buraco que possa dar-lhes abrigo, por isto é muito bom conversar com eles e aprender onde ficam estes lugares e a possibilidade de servirem de abrigo para nossos barcos. Assim também conhecem outras lagoas em que possam estender suas redes, na tentativa de matarem mais peixes, ou apenas para servirem de abrigo durante a noite, para no outro dia revisarem suas redes.

Este é o caso da Lagoa do Graxaim. O pessoal lança as redes na Lagoa do Patos e se recolhe no canal de acesso do Graxaim, para se abrigar, saindo pela manhã para revisá-las, tendo ainda mais uma facilidade. É que no lado oeste da lagoa, tem uma vila, chamada Sta. Rita do Sul, que propicia para os pescadores, um reforço no rancho, gelo e é aí que os compradores do peixe vem pegá-lo, poupando assim aos pescadores, de terem de viajar para entregar o produto.

Conversando um dia com um destes pescadores, o Luiz Carlos Carvalho Dias, me disse que tinha passado o tempo da safra, na boca do Graxaim, aguçando minha curiosidade, já que sou buraqueiro barbaridade. Perguntei aonde era, e como seria a entrada, tendo recebido as informações em detalhes.

“Anotei” tudo na cabeça e não parei mais de pensar na tal. Verifiquei as coordenadas da entrada, passei para o GPS, e de vez em quando dava uma olhada, até o dia que o André Spolidoro, meu noro (genro, hoje ex) disse que iria sair de férias e que gostaria de dar uma navegada, bem como meu filho Edgar, que estava também de férias e que se acelerou para a navegada.

Combinamos então uma volta maior, já que a Lagoa do Graxaim fica a apenas 26 nm de Tapes e que ficou sendo então nosso destino final.

Programa: Barquinho, Cristóvão Pereira, Lagoa do Graxaim, Pontal de Tapes e Clube Náutico Tapense.

Barco abastecido com muita bóia, saímos dia 12 de 04 de 2000. Direto ao Barquinho, com vento norte, mar de almirante, o Adriana andando beleza, parceria muito boa, chegamos lá cedo do dia. Lá encontramos o Molecão do Amorim, o Maragato do Mauro, o Refúgio do Roca, o Skua do Renato e o Dondoca, o trawler do Cauduro, com o qual durante nossa permanência de um dia e meio, acertamos nosso barômetro. Descansamos muito no outro dia. Afinal não estávamos de férias? Muita conversa. Fotos. Caminhadas, deles né. Comida boa, o André pilota bem. O fogão também.

Depois de toda esta folga, no outro dia saímos com destino ao Cristóvão Pereira. Um pulinho. O vento era nordeste fraco, às vezes até dávamos uma mãozinha com o motor. Chegamos bem perto, tiramos algumas fotos e resolvemos rumar para o nosso objetivo principal, pois como o vento era nordeste fraco poderíamos chegar perto da entrada da Lagoa do Graxaim o que seria um problema sério se o vento fosse forte.

Chegar num lugar desconhecido, de calado baixo, com vento por trás, não se deve fazer nunca. Com o motor ajudando para aumentar a velocidade fomos papeando até que ele começou a superaquecer. O que seria?

Desligamos o motor e fizemos uma armação de velas, novidade no Adriana. Veja foto. Asa de pomba, mais o drifter, que mesmo estando na sombra da grande, puxava, com o vento direcionado pela buja. Ficou muito legal.

Chegamos no ponto do GPS tirado da carta, e quem diz que víamos a entrada. Passeamos pela frente e nada dela. Disse o Edgar: Pai quem te disse que aqui tem uma lagoa, te mentiu.

Nesta passeada, de repente vimos o canal da entrada. Acontece que ele chega oblíquo na Lagoa, e olhando de frente, víamos o outro lado do canal que se confundia com a costa, parecendo uma coisa só, disfarçando o canal.

Aí começaram a aparecer as informações que o Luiz tinha me dado. As estacas finas que deveriam ser deixadas a bombordo, conferindo a profundidade pelo Edgar, que pedi para descer e ir a pé, sendo que a água alcançava o peito dele por todo o trajeto demarcado pelas estacas. Fácil, e sem problemas, entramos e chegamos no canal de entrada, muito bonito, fundo, com mato a esquerda e adiante uma figueira muito grande.

Próximos à figueira, segundo o Luiz, veríamos umas paias (palhas), formando ilhas e teríamos que entrar pela passagem bem da esquerda. As paias eram na verdade malhas de Capim Santa Fé. Pedi então para o André descer e verificar a passagem. Foi na da esquerda e tinha uma pedras que não nos deixariam passar. Ao esperarmos por ele, vimos outra passagem mais a esquerda. Só podia ser por lá. O André conferiu, e não dava pé. O Edgar conversando comigo perguntou se ali não teria jacarés, o que respondi que o local era sem dúvida muito propício para os bichinhos viverem, fato confirmado depois pelos nativos. Um bom habitat.

Descoberta a entrada, recolhemos o noro e adentramos na dita Lagoa do Graxaim. Muito linda. Pequena e mais importante, nosso objetivo, desconhecido para nós. É muito bom chegar, principalmente em um lugar desconhecido, com pinta de descobrimento, o que para nós, realmente era.

Seguindo sempre as dicas do Luiz, fomos na direção de Sta. Rita do Sul até vermos a casinha das bombas da Corsan da qual devíamos nos aproximar e seguir próximo ao cano que levava água, até umas paias onde então tínhamos que encostar bem para entrar em um valo onde os pescadores ancoram seus barcos. Chegamos.

Logo apareceram dois garotos, em seguida seus pais, batemos papo, e estamos em casa.

Conhecemos o seu Reinoldo, o pescador mais antigo da área, seu filho Cláudio, o Érico e unos más que não recordo o nome.

Eles se admiraram muito com o tamanho do mastro do Adriana, pois ainda não tinham visto um veleiro de tão perto. A pergunta era: Como é que não vira? Tudo devidamente explicado, o papo rolava solto. Foi bonito.

Quando acalmou o movimento de visitas, nos recolhemos e o André, exímio cozinheiro nos brindou com uma janta excelente, depois da qual dormimos o sono dos cansados.

No outro dia andamos pela vila, fazendo amigos. Não preciso dizer que o meu passeio foi o mais curto. Fui só até a casa do seu Reinoldo, que é a primeira, uns 100 metros. Conversei bastante com ele, ouvindo relatos da sua sofrida vida de pescador. A falta do peixe, que não existe mais. A queixa contra as lontras da lagoa, que roubam os peixes malhados nas redes, e que segundo ele, se o Ibama não der licença para matarem algumas delas, a pesca não vai mais dar resultado. ( Na outra vez que fui lá, fotografei uma lontra).

À tarde fomos convidados a irmos até ao canal da entrada, com o barco deles, onde iam dar uns tiros. Nunca tinha visto. Tinha um camarada que atirava demais. Botou um papelão pendurado em uma cerca e foi regulando a alça de mira da Puma 38, que segundo ele, não estava certa. A partir de uma certa regulagem o cara atirava só na mosca. Um tiro em cima do outro. Ainda bem que não era o dono do campo.

Depois que voltamos, saudamos Baco, bem devagar.
Estávamos preocupados com o nordeste que soprava, e que quando viemos era fraco, agora roncava, pois a saída para a Lagoa dos Patos devia ter ondas enormes e ali é bem baixo.
O Edgar foi na casa do seu Reinoldo comprar gelo para sairmos de manhãzinha.

O seu Reinoldo nos tranqüilizou: - Esta noite vai chover um pouco, e amanhã cedo o vento é oeste bem fraco. ”A experiência”.
Cedo levantamos e a previsão se confirmou.

Já tínhamos nos despedido da turma no dia anterior, e foi só ir saindo devagarito, sem pressa. A saída estava calma e fácil.
Com o ventinho de oeste, levantamos os panos e com um través nos afastamos já com saudade, e com o firme propósito de voltarmos breve, o que havíamos prometido para o pessoal. (já fui mais três vezes).

Passamos o Pontal Dna. Helena, e com aquele vento a costa oeste, sem dúvida a mais bonita do Saco de Tapes, era um abrigo só, e aproveitamos para encostar, tomar um banho, almoçar um prato daqueles do André. Uma sesteada e rumo ao Pontal de Tapes, onde pernoitamos para no outro dia aproveitando o vento que tinha rondado para sul chegarmos no Clube Náutico Tapense envergando o balão, encerrando uma excelente navegada, com chave de ouro.
Passeio que deixou grandes recordações e saudade.

Pontos da entrada para a Lagoa do Graxaim, do Beto Goidanich Raspa Junco
1) S 31º 03,309' W 051º 28,250'
2) S 31º 03,801' W 051º27,835 '
3) S 31º 03,884' W 051º 27,898'
4) S 31º 03,849' W 051º 27,987'

Entrada para a Lagoa do Graxaim

 

Cmte Emílio e tripulação

 

A lontra curiosa

 

A todo pano

 

 

O bonito balão do Adriana

 

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