Velejando mundo afora 01 Set 2007 7/8/07 Porto Alegre – Rio Grande Saímos de Porto Alegre, do Iate Clube Guaíba, em 7/8/07 às 13h30min, após o almoço com a família no clube. Despedidas com saudades e ventos oeste fortes me acompanharam na saída do clube. Saímos manobrando de popa, até a incômoda bóia de sinalização do ICG, que me fez manobrar novamente. Subimos os panos, rizados na segunda forra da mestra e voando baixo! A tripulação da perna Porto Alegre – Rio Grande era constituída pelo Daniel, Tau Golin e Flávio Fiala. À noite, servimos um sopão para aquecer a noite muito fria. 8/8/07 Durante a madrugada, o vento diminuiu, entrando um nordeste com 14 nós. Na foto ao lado, o amanhecer na Lagoa dos Patos. Chegamos em Rio Grande às 11h35min, o que resultou em 22h05min de navegada e 157 milhas desde Porto Alegre. Mais tarde chegou o Paulo Ribeiro, que nos encontrou em um restaurante na cidade de Rio Grande. 9/8/07 Fomos almoçar no Restaurante Brisa Mar em São José do Norte. Excelente lugar para uma refeição gostosa, à base de frutos do mar. Consultamos a previsão do tempo e marcamos a saída para o dia seguinte, 8 horas. 10/8/07 Rio Grande - Porto Belo Com o retorno do Flávio Fiala para Porto Alegre, a tripulação passou a ser o Daniel e Tau Golin. Saímos no horário combinado e motoramos até a barra do porto sem vento. Duas milhas após a barra, já no mar, entrou a frente de sudoeste. Muito forte. Estávamos com a grande na segunda forra e com genoa. Quando entrou o sinal da frente, já a 25-28 nós, recolhemos a genoa. Algum tempo depois, diminuiu a intensidade do vento e continuamos rizado, abrindo a genoa com pau de spi. Em seguida aumentou o vento e enrolamos 50% da genoa. A noite aumentou mais o vento e a temperatura baixou muito. Só foi possível fazer um rápido lanche. Às 23 horas o vento aumentou e recolhemos a genoa. Deveríamos ter retirado a grande e ficar só com a trinqueta. Mas estava perigoso ir ao mastro para baixar a vela mestra. Pauleira a noite toda. Rajadas de 47 knots. A chamada de mau tempo dava força 7 e ondas de 3 a 4 m confirmando a chamada da marinha. 11/8/07 Amanheceu, o vento diminuiu e ficou aceitável para uma bela velejada. Às 11 h, a grande estava toda aberta e genoa com pau de spi. Meio dia, sopa da Cleuza - uma delícia. O vento foi morrendo e às 17 horas seguimos com motor até Porto Belo, numa noite gelada. Tau Golin fez uma massa com atum no capricho. Chamou a atenção a grande quantidade de focas e pingüins durante toda a travessia. 12/8/07 Chegamos a Porto Belo às 14 h. Fundeamos na frente no Centro Náutico de Porto Belo. Foram 406 milhas em 54 horas. 22 horas de motor. 7,5 nós de velocidade média. Tau Golin (foto ao lado, na faina) precisou voltar a Passo fundo e Daniel a Porto Alegre. Que azar: perdi a tampa do combustível do motor de popa. O Daniel levou o bimini para consertar. O zíper tinha estourado na saída de Porto Alegre com o vendaval. 13/8/07 Muita coisa para limpar e arrumar. À tarde fui ver o fundeio na frente do Iate Clube Porto Belo. Como tinha muitos barcos, decidi continuar no Centro náutico. Aproveitei para visitar os amigos na Escola de Wind Surf de Porto Belo (Ilha Wind). Estava lá a Lú, professora de windsurf e o Alan, velejador francês que vai dar aulas no projeto da Lú para crianças carentes de construção de barcos. Dormi chacoalhando, horrível. 14/8/07 Café da manha e faina. Às 10 h chega o João Pedro Wolf (foto abaixo), para tripular até Angra dos Reis. Chegou trazendo o bimini, já consertado. Saímos às compras no supermercado e almoço em um restaurante a quilo. À tarde fomos abastecer no Iate Clube de Porto Belo. Fundeamos na frente do clube e tiramos a previsão do tempo: vento nordeste fraco, contra vento e pouca visibilidade. Resolvemos ir motorando, pois o tempo estava escasso. 15/8/07 Porto Belo - Angra dos Reis Saímos para Angra dos Reis às 9:30 h. Vento na cara, fraco. O rádio anunciava nevoeiro. Às 16 h baixou o nevoeiro. A visibilidade era zero. Só o radar enxergava. 16/8/07 Por volta da 1 h da madrugada o nevoeiro abriu um pouco, mas depois o nevoeiro voltou por quase todo o dia. Resolvemos entrar em Ilha Bela. A três milhas da chegada a visibilidade melhorou. Em toda a viagem fazíamos turnos de 2 h. 17/8/07 Olha o barco! Entramos em São Sebastião a 01h30min da madrugada. Cansados e com pouca visibilidade. De repente o João Pedro grita: “olha o barco”! Uma escuna sem luz de fundeio, cor preta, no meio do canal! Desviei o que pude. Mas o gurupé bateu no gerador eólico, entortando e quebrando uma pá do hélice. Resolvemos dormir em Ilha Bela. Antes de dormir, corrigimos um pouco o suporte do gerador eólico. Com a escota da genoa, amarrada na torre, puxamos o suporte com a catraca do mastro. Melhorou 80%. Agora é só colocar no esquadro. Às 7 h da manhã saímos rumo a Angra dos Reis. Uma bela velejada de popa, que não durou muito. Alternava com motor e vela. Meio dia: pizza. À tarde entrou vento. Barco a mais de 8 nós, com 23 nós de vento. Depois dizem que não dá para velejar na Ilha Grande. Chegamos à Enseada do Sítio Forte na Ilha Grande às 16 h. Seguiu um churrasco de costela. 18/8/07 Aproveitamos para ir à Lagoa Azul (foto ao lado). Como a água estava muito fria, só o João Pedro mergulhou. Fomos ao Saco do Céu, fizemos uma massa com atum. Daí até a vila do Abraão e retornarmos ao Sítio Forte. 19/8/07 Rumamos para o Piratas Mall. Abasteci com Diesel. Mas a água não foi possível. O posto de combustível do Piratas Mall não tinha água para abastecer. O João Pedro retornou para Porto Alegre. Comecei a faina: terminar de endireitar a torre do eólico - amarrei um cabo na torre e outra ponta no cunho do píer. Puxei com outro cabo pela catraca do mastro. Deu certo! 95% bom. De Porto Belo até aqui foram 396 milhas. 20/8/07 Angra dos Reis – Rio de Janeiro Saí solitário às 6 horas rumo ao Rio de Janeiro (foto ao lado). A saída foi sem vento. Virou para o Noroeste 10 nós. Velejei 30 minutos e vento virou para sudoeste. Mais alguns minutos de velejada, entrou nordeste com 27 nós na cara. E eu com motor nele. Cheguei a Marina da Glória às 14h30min. Chamei a marina pedindo uma vaga no píer, dizendo que estava só. Solicitei auxílio para atracar, pois a poita fica muito longe e precisa muito cabo. Com o vento fica muito difícil fazer sozinho a atracação. Depois de quase atracado, chegou a ajuda. Da Vila Abrão em Angra dos Reis até o Rio de janeiro foram 62,5 milhas. Fiz a faina, lanche e cama. Amanhã chega a nova tripulação. 21/8/07 Rio de Janeiro - Salvador A nova tripulação, constituída de Silvio Almeida, Marco de Jesus e Rui Ketzer, chegou às 10 h. O Silvio trouxe a pá do eólico, acidentada em Ilha Bela. Foram ao supermercado enquanto eu colocava a pá do eólico. Zarpamos ao meio dia. Saímos com um sudoeste fraco com muitas ondas e aviso de ressaca. O vento continuava fraco e prosseguimos com vela e motor para fazer o Cabo de São Tomé. Neste primeiro dia passamos a frutas e sanduíche e um ou outro Dramin para o Rui e o Marco, para adaptação da nova tripulação a bordo, pois o mar estava muito mexido. 22/8/07 Passamos o São Toméàs 12 h. Saiu a primeira picanha ao forno com creme de leite e salsichão, iniciando a nossa dieta da proteína. O vento continua sudoeste fraco. Às 20h passamos ao través de Vitória do Espírito Santo. Consultamos a previsão do tempo no computador, via Vivo Zap, navegando a cinco milhas da costa. A previsão era de sudoeste fraco. À noite, lanche. Nós fazíamos os turnos em 2 h, dois a dois. O radar no través de Vitória parecia estar com catapora, tamanha era a quantidade de navios chegando e esperando para aportar. 23/8/07 De manhã, o vento continuava fraco, às vezes apertando e permitindo velejar sem motor. Logo cedo começamos a avistar as primeiras baleias. “Temos que aproveitar este vento fraco, de sudeste, mais favorável, para chegarmos a Abrolhos.” O Rui pegou um atum pequeno de aproximadamente um quilo. Meio dia, e o atum já estava no forno, temperado com orégano e limão entre uma onda e outra, acompanhado de batatas e salada de tomate com cebola refogada. Sensacional! O vento aumentou somente durante a noite, quando navegamos apenas com vela. Tivemos que afrouxar o pano para travar o barco, pois queríamos chegar ao amanhecer em Abrolhos. 24/8/07 Chegamos a Abrolhos às 7 h num dia de sol. Do Rio de Janeiro até Abrolhos foram 442,8 milhas navegadas. Fundeamos, tomamos um café, e com muita conversa e papo, admiramos a paisagem especial. Mais tarde, informamos através do rádio os dados da embarcação e do capitão para o Rádio Farol Abrolhos e Ibama Abrolhos: 25/8/07 Amanheceu mais um dia de sol em Abrolhos. Após um reforçado café, saímos de bote para rodear as ilhas. Paramos no lado sul da ilha Siriba para mais um mergulho. Tudo fantástico. Ao meio dia voltamos à nossa dieta de proteína, churrasco de entrecote, salsichão e cerveja. À tarde, sessão de fotos entre as Ilhas e do por-do-sol. À noite, papo no cockpit. Marcamos a saída para as 6 hs do dia seguinte. 26/8/07 Acordamos às 5:30hs, café e preparativos. Saímos às 6 hs entre as Ilhas Santa Helena e Siriba (foto ao lado) numa pequena passagem repleta de pedras e corais. Marinheiros atentos na proa alertando para as pedras à frente. Saída muito tensa. Saímos em um contra vento de 12 nós, motor novamente. No caminho mais baleias em todos os lados. Algumas a menos de 50 metros do barco. Meio dia, pizza. À noite somente pequenos lanches e frutas. 27/8/07 Sem parar, mais um dia de sol e contravento. Poucas baleias à vista (foto abaixo). Meio dia, novamente pizza. Às 15 hs fundeamos em Ilhéus. Eu e o Rui fomos levar o lixo na avenida via bote. Desembarque horrível devido a rebentação. Tomamos um banho e quase viramos o bote no embarque. Fomos todos ao clube tomar banho e saímos para caminhar ao centro de Ilhéus, pois estávamos a sete dias sem pisar em terra, mas não sete dias sem banho. Em Abrolhos só podíamos desembarcar acompanhados de fiscais do IBAMA, o que não foi do nosso interesse. Ao chegar ao clube uma surpresa para os gaúchos: a maré tinha descido 2 metros. Em Porto Alegre não existe maré e no RS, aos 31 graus Sul, ela é fraca. Por sabedoria intuitiva, tinha ancorado aos 4,9 metros de profundidade, na maré alta. Com a maré baixa a profundidade chegou a 2,7 metros. Era lua cheia, o que gera a chamada “maré de lua”, mais forte que as demais. Fomos dormir após o tradicional papo no cockpit. Cidade simpática. O clube recepcionou-nos muito bem, o restaurante é ótimo e o visual é esplêndido. Porém não tem píer adequado para veleiros, inseguro mesmo para botes. E precisa cuidado com a ancoragem, pois a variação da maré é muito grande e é desprotegido para o vento de nordeste, o mais comum na região. 28/8/07 Amanheceu em Ilhéus, Sol forte. Eu e o Rui fomos abastecer o barco. 420 litros de água e 100 litros de diesel. Em Ilhéus não tem trapiche, o barco balança de través. A água precisa ser pegada de galão num deck flutuante do clube e o diesel encomenda-se e vem ate o deck flutuante. Enquanto isto, o Silvio e o Marco foram ao supermercado repor o rancho. 29/8/07 Chegada a Camamu a 1 hora da madrugada. Fomos dormir depois de 65 milhas navegadas. Amanheceu em Camamu. Maré de lua vazando, mais de 2 metros de variação. A correnteza é muito forte, ultrapassando os 2 nós. Após o café saímos de bote para as ilhas Goió e Sapinho, distantes +- ½ milha. Caminhamos entre as casas na ilha Sapinho. Muito simples, mas muito organizado, com papagaios, cachorros e gatos junto com o povo. O tempo está um pouco fechado, cai uma chuva rápida, mas a temperatura continua agradável. Caminhamos ao longo da margem da ilha Sapinho, pela areia e pelo lodo do mangue, observando o ambiente exposto pela maré baixa. Na volta enfrentamos problema com a variação da maré, que encheu. Um pequeno córrego que passamos com um passo na ida tinha 70 cm de profundidade na volta, e trouxe preocupações com as máquinas fotográficas. No momento de embarcar no bote caiu um Pirajá e decidimos tomar uma cerveja e comer uns petiscos em um bar na margem do braço de mar que separa a Ilha Sapinho da Ilha Goió, onde tínhamos amarrado o bote. Muito bem servidos, uma cerveja Bohemia super gelada e ½ kg de agulhas bem fritas, acompanhadas de uma ótima farofa caseira, servidos com muita habilidade pela atenciosa dona do bar. Voltamos ao Entre Pólos, almoçamos um churrasco pelas 17 hs e conversamos até dormir cedo, pois a partida seria na madrugada do dia seguinte. 30/8/07 Apagando o Isqueiro do badejo Acordamos às 3:30, levantamos âncora e rumamos para o Morro de São Paulo. Saída da barra com correnteza de maré contra. Passamos a 1,5 milha de 1 plataforma de petróleo próxima à barra de Camamu. Depois passamos por mais 2 plataformas, situadas mais afastadas da costa e por vários pesqueiros muito pequenos, sofrendo muito com o vento sudeste de 15-19 nós. Chegamos a Morro de São Paulo às 11 hs em uma bela navegada de vento de ¾ com vento sudeste de 15-19 nós. Novamente fundeamos com forte correnteza, descemos o bote e fomos para terra. Caminhamos por toda a cidadezinha, que é um espetáculo à parte. Os táxis são carrinhos de mão para o transporte de malas dos turistas e outros tipos de carga. Mulas são usadas para o transporte de cargas mais pesadas. Não existem automóveis, pois a topografia do local e a idade da cidade não permitem. Fomos caminhar pelas Primeira Praia, Segunda Praia e Terceira Praia. Muitas lojas, pousadas, restaurantes.
- Isqueiro aceso? Respondi: - Tira uns quilos do teu badejo que eu apago o isqueiro. Isto gerou muitas gargalhadas. Retornamos ao Entre Pólos ao fim da tarde, fazendo um almoço-janta dentro da dieta das proteínas. No começo da noite estávamos no interior do Entre Pólos digitando o diário de bordo quando ouvimos vozes tensas, muito próximas. Sílvio, que estava na gaiúta de popa, saiu e encontrou um pesqueiro de porte semelhante ao Entre Pólos quase em colisão, com a galhada do arrastão tocando o bordo de bombordo. Empurrra o pesqueiro, que tinha ancorado mal a montante da forte correnteza de maré e garrado lentamente para cima do Entre Pólos. O pesqueiro vai lentamente para a popa do barco e a âncora finalmente unha, debaixo de nós. Muita confusão, com o pesqueiro tentando livrar a âncora e oscilando a poucos metros da nossa popa. Tentou afastar-se soltando mais amarra, o que só firmou a âncora. Depois de muita tensão o pesqueiro finalmente faz a manobra correta: recolheu a amarra até ficar próximo à nossa popa e deu marcha a ré, arrastando a âncora até conseguir recolhe-la. De Camamu ao Morro de São Paulo foram 42 milhas. 31/8/07 Acordamos em horário normal e zarpamos às 10:30h. Saída sem vento, mas ao abandonarmos a proteção do morro entra um vento de sudeste, começando em 12 nós e crescendo até 25 nós, variando desde ¾ até orça apertada. No começo temos ondas altas, pois estamos em água rasa, de 9 m e as ondas vem de águas profundas, de 1000m. As ondas alcançam 2,5m e a navegada é bastante desconfortável, apesar do belo visual. Logo que entramos em águas mais profundas, de 30 m, as ondas arredondam e a navegada fica mais fácil. Passamos por vários navios e pelo catamarã motorizado que liga Salvador ao Morro de São Paulo. A chegada a Salvador é impressionante, pois a cidade tem uma bela vista para quem entra na Baía de Todos os Santos. Passamos por uma pequena flotilha de Laser, chegando ao Centro Náutico da Bahia às 15 hs. Após as providências de atracação devoramos 2 pizzas e subimos para o Pelourinho pelo Elevador Lacerda, para comer um bom soverte na sorveteria situada na saída superior do elevador. Depois demos uma volta pelo Pelourinho, que está muito arrumado e limpo, transmitindo uma sensação de segurança que não sinto em Porto Alegre. Foram 36 milhas do Morro de São Paulo até Salvador. De Porto Alegre a Salvador o odômetro do plotter marca 1807 milhas de belas navegadas. Bons ventos a todos e até o próximo diário. |