Apesar de tudo, o podium em Ilhabela
O diário de bordo do Alvará
Alexandre Goidanich
Chegamos a Ilhabela passado das 4 da madrugada de sexta-feira, 7/7/2006. No aeroporto estávamos a 1:00 e a viagem levou em torno de 2,5 horas. Sono, muito sono. O André comeu semente de guaraná como se fosse pipoca. Só perguntávamos para o Pica-Pau se ele tinha confirmado com o pessoal do hotel que era possível chegar no meio da madrugada, o que ele respondia que tinha confirmado. Chegando lá encontramos a pousada. Coisa quase fina. O Pedro já queria partir para procurar uma alternativa de melhor nível mas como era tarde fomos bater na porta. Resultado, ninguém para atender. Depois de perdermos uns 30 minutos tentando entrar, indo pela praia e efetivamente entrando as dependências do hotel, descobrimos que não havia viva alma para nos receber. A conclusão obvia do capitão Pedro foi, "vamos montar o barco". Sono e escuridão nos esperavam no clube. - Cinco da manhã quatro gaúchos guasca entraram no Iate clube Ilhabela para montar o barco. Ficou um guarda 100% do tempo ao nosso lado para ver o que estávamos fazendo. Foi desamarrar pra cá, levanta o mastro pra lá e tudo o que tinha direito. Os engenheiros - Como ficamos sabendo por fonte não lembrada que o café da manhã da pousada iniciava as 7 pensamos que seria um bom horário para tentarmos dar entrada. Portanto quando era quase 7 da matina estávamos nós esperando na porta fechada da pousada, e nada. Eram 7:30 quando chegaram as primeiras almas que entraram pela praia onde estávamos acomodados esperando. Passado das 8 foi que abriram a recepção onde os corpos de 4 gaúchos foram atirados nos sofás a espera de atendimento. O tempo andava e nada. As 9 os engenheiros foram para o clube e as 9:15 o André também enquanto eu fiquei bravamente vigiando as bagagens e esperando pelo quarto que estava sendo preparado. Eram quase 10 quando nos entregaram alguma coisa. Levei as malas e me atirei na cama. Mas foi rápido porque o Pedro chegou rápido para me buscar para fazer não sei bem o que. - Este dia, a sexta-feira, passou meio nebulosa. Eu estava desidratado e com fome para baixar o peso. E pior, sem dormir nada alem de cochilos durante a viagem e na recepção do hotel. Agora me lembrei, o Pedro veio me pegar para a pesagem. Já chegou dizendo que - Mais, durante este dia a polemica do motor deu o que falar. Na instrução de regata estava escrito que todos os barcos deviam ter motor a bordo e nos é claro não tínhamos levado. Ainda exigia mais diversos equipamentos de segurança que também não tínhamos. Resultado, fomos atrás de equipar o barco. O Lucio e eu fomos atrás de alugar um motor e conseguimos um bem grande e pesado por 50 reais o dia. As compras dos equipamentos de segurança foram caras, mas fáceis pois tinha uma loja da Regatta ao lado do clube. Também tínhamos a mão de obra de colar os adesivos, primeiro os alvarás nas velas, depois o TNCSF no casco e por fim os adesivos dos patrocinadores do campeonato no casco. E seguiam os engenheiros a acertar novas regulagens e coisas no barco. Saímos para dar uma velejada que por mais esforço que fizéssemos não rendia nada. Todos estavam rateando. O bom senso nos levou a guardar o barco e ir comer e logo dormir. Foi quando descobrimos os restaurantes que ficamos clientes pelo resto da semana. - O quarto da pousada era algo. Uma peça pequena com duas camas grudadas que poderiam ser usadas como cama de casal, e um beliche para dois. O cheiro era algo incomum, muito ruim. O banheiro era interessante, apesar de imundo a água quente existia e as louças - Sábado. Pois é, parece que a sexta-feira foi esquecida, mas ela foi a extensão da quinta pois não chegamos a dormir. Foi o dia da regata longa que nos levou até a ilha de Toque-Toque. Foi cogitado que o nome da ilha vem da necessidade de usar um motor "toc toc" para chegar a ela. Pegamos o motor cedo para colocar no barco e fomos para o clube para ir para a regata. O André como de costume foi ler a instrução de regata enquanto os outros foram preparar as coisas. Passamos no supermercado para buscar comida para a regata. Na noite anterior tínhamos encomendado sanduíches na cafeteria do super e quando buscamos tivemos a surpresa. O sanduíche mais caro que já comemos, ou melhor não comemos pois sobrou um monte dentro do barco no final da regata. O nosso capitão Pedro foi quem encomendou os sanduíches. Pediu tudo o que os ilhéus não sabiam fazer, desde pão "cassetinho" que já gerou constrangimento com a atendente, até ovo cozido cortado. Foi o preço que eles quiseram cobrar. Fomos para a água e os engenheiros continuavam a criar novas regulagens. Me parecia que eles estavam ali mais para montar o barco do que para velejar. Então fomos nos esgarrando da comissão de regatas e a correnteza nos levando para longe, com o vento da região claro que ficamos longe demais. Tivemos sorte que a comissão de regatas adiou a largada pois se não teríamos saído atrasados, e muito atrasados porque não tinha vento. Duas coisas quase aprendemos nesta experiência. A primeira é que ninguém da região dá reboque, e a segunda que quase aprendemos é que a correnteza é forte mesmo com vento muito fraco. Largada com "vento" de popa e Correnteza também de popa empurrando para o sul. Fomos atrás dos que conheciam e fizemos algumas coisas estranhas. A que mais me impressionou foi que colamos ao lado da plataforma da Petrobrás, ao lado dos navios e com isso disparamos como os barcos locais. Apesar disso os barcos que tinham ido pelo outro lado, pelo lado da ilha estavam indo bem. Vai, vai, vai e chegamos a encruzilhada do vento. Perto da ilha de Toque-Toque o vento estava muito pouco. Como disse o Xandi depois 'esta raia está cheia de bandeiras amarelas" se referindo as corridas de formula um onde todos tem que diminuir a marcha e se aproximam parecendo uma nova largada. Então fizemos a nossa primeira tentativa de cruzar a ilha muito perto dela. Estávamos preocupados pela sombra do vento e realmente nessa tentativa quase que ficamos para sempre ali. Mas apesar do concorrente "rajada" ter se encalacrado ali conseguimos dar o jibe e voltar para a rajada perdida. O Wind e o Cibs que estavam uns 500 metros ao sul ficaram e o Rajada encalacrado seguia sem vento. - "Ai que azar o deles". Cruzamos a ilha na frente de todos os 21e quando parecia que tínhamos encontrado o vento ele se foi. Já tínhamos passado pela sombra mas o vento não quis colaborar. Então ficamos na calmaria junto com todos os outros e a uma milha mais ou menos a noroeste tinha um vento bem forte que demorou para chegar. Toda a paciência e o tempo fez com que o vento chegasse em nos, e tinha vento. Mais de 15 nos e 355kg na borda nos fez disparar. Fomos na frente longe e durou pouco. Logo o vento diminuiu e estávamos de novo na merreca. Perto do terminal de petróleo quase nada de vento e ainda por cima um petroleiro grande chegando a toda a velocidade. Para piorar a situação a noite também estava chegando. Nos por dentro do terminal estávamos avaliando se passávamos entre a plataforma e o navio ou por fora. Tinham 4 rebocadores empurrando o navio e alguém teve o bom censo de escolher passar por fora. Seria uma cena interessante o barco atolado em baixo do terminal prensado pelo navio. O que aconteceu depois é tudo de ruim. Estávamos na frente apesar da merreca mas se foi o vento junto com a luz. Região totalmente desconhecida. Seguimos as rajadas que nos levaram para o “encalacre”. O canto da sereia nos levou a ficar no meio do canal com correnteza contra e sem vento enquanto os nativos foram pelo baixio no lado de São Sebastião onde pelo menos a corrente não atrapalhava. Resultado, 12º lugar e chegando no clube passado das 23 horas. Cansados e abatidos sem mais nenhuma cerveja para tomar. A desgraça não vem sozinha e na chegada ao clube tivemos mais uma peripécia. Fomos para as poitas que ficam ao lado do flutuador. Foi onde ficamos na noite anterior e voltamos para ali para buscar lugar. Mas já não tinha mais nenhuma poita sobrando e portanto decidimos nos amarrar em uma onde outro 21 já estava amarrada. Um sujeito para parecia tripulante de algum barco rapidamente foi nos informando que não podia amarrar em uma poita que já tinha outro barco amarrado, e nos fizemos de surdos. O cara foi denunciar para os guardas do clube que vieram em 3 para nos tirar de lá. A vantagem é que eles estão acostumados a lidar só com caras metidos e portanto atendem bem. A resposta do nosso Charrua foi simples, "se não pode, que me consigam outra poita, e já aviso que não temos motor". Foram atrás de uma lancha de transporte para encontrar Foi nessa regata que a historia do japonês enganado pelo Souza Ramos foi criada. Antes da regata, enquanto o vento não aparecia o André foi para o barco do Xandi, um HPE25, para tentar levantar mais informações sobre a raia. Ficamos com os dois barcos amarrados - Domingo. Acordamos tarde para compensar os dias anteriores. Não me lembro bem o que aconteceu neste dia mas ficamos zanzando por lá. Descobrimos que algum outro barco tinha falado com a comissão de regatas a respeito de levar o motor e que já havia uma De novo fomos para cima do barco para trocar o estai de popa que estava meio fino demais, arriscado a despencar a qualquer momento. Foi o Pica-Pau para cima do mastro e de resto ficamos lá assistindo. Depois encontramos o Manfredo e acabamos indo para a casa do - segunda-feira. Dia do Grand Prix. Como a semana de vela tem a regata do sábado e depois só retoma na quarta-feira a segunda e terça foram dedicadas a regatas de classes. Tinham os HPE25, os 21, os Delta 32, Beneteau 40.7 e sei lá mais o que. Sem vento e com corrente, e mais uma chuvinha por cima fomos forcados pela comissão a ir para a raia. Pelo jeito a comissão não era de lá porque ficamos dando voltas o dia todo e nada de vento. Lá pelas três da tarde começou a palhaçada pelo radio. Anônimos começaram a se deitar na comissão e a fazer piadas. Dai entrou um imitando o Maluf e outro imitando a Heloisa Helena. Aprendi boas. O Maluf era muito bom e deu duas que podem ser aproveitadas. A primeira dizia que a Heloisa Helena gostava muito de "damascus secos", e a segunda dizia que ela só gostava de café expresso pois no cuador é forte. As 4 a comissão mandou todo mundo de volta para casa e cancelou a regata. Foi nessa hora que o sol apareceu e o vento entrou. - terça-feira. Esse dia foi bom. Acordamos cedo como sempre. Depois de uma certa hora o cheiro e o desconforto do quarto já não deixavam o corpo ficar na cama. Fomos para o clube e saímos na hora. Claro que o André continuava na sua ferrenha leitura da instrução de regata. Ou seja ele não fazia nada além de comer, folgado como só ele. Mas fomos para a água e foram 4 regatas naquele dia. Resultados interessantes. Tiramos 6, 5, 3 e primeiro na última quando o vento roncou. Ligamos o turbo como dizíamos, afinal com 355kg na borda e vento acima de 15 nós, e é claro velas novas e lindas, não tinha para a concorrência . A terceira regata foi perdia em cima da linha. Lideramos de ponta a ponta e no fim fomos atacados pelo Rajada e pelo Wind um para cada lado da raia, e acabamos perdendo para os dois. Este e outros eventos me levam a crer que se tivéssemos nos preparado um pouquinho mais teríamos toda a chance de trucidar os competidores. Com esses resultados acabamos em 4o. no Grand Prix, a posição do bobo. E a cada dia os nossos cabos de amarra e de reboque, que eram os mesmos se multiplicavam em número e se reduziam em tamanho. Durante todo o campeonato experimentei diversos nós de emendar cabo. Experimentei o nó direito que é para emendar cabos de mesmo espessura, e funcionou, experimentei o nó de escota que serve para emendar cabos de espessura diferentes, só não testei o nó catau porque nesse eu não levo muita fé. Acho que foi nesse dia que descobrimos uns elos de aço que emendam os flutuadores e que não são afiados. Passamos a usar estes elos para amarrar o barco. O porem foi que só tinha de um lado e era necessário amarrar de dois lados, então continuamos necessitando amarrar nos cunhos afiados. - quarta-feira. Regata longa para a ponta grossa. Este lugar fica na Ilhabela ao norte. Essa foi bem interessante. Pouco vento e fora da correnteza. O truque era ficar colado na pedra no lado da ilha onde o vento de terra era mais forte do que no mar. Então foram muitas e muitas cambadas. Os barcos dos nativos, 21 com tripulação de pouca experiência incomodaram no inicio até que cansaram. Eles se entregaram e desistiram de cambar com tanta freqüência. A briga ficou com os 4 de sempre, o Wind, Cib's, Rajada e Alvará. Mas tinha ainda alguns da ORC 700 que não eram 21 e que deram trabalho. O Mystic e o Bravissimo que estavam bem preparados para vento fraco acabaram indo muito bem nesta regata de vento quase inexistente. Foi quando o Gordo Warla e eu começamos a entender essa tal de ORC 700. O tempo corrigido. Estes dois barcos são de classes diferentes e nos pagam em vento fraco mas pagamos para eles em ventos fortes. Coisa mais chata pois fica complicado competir com alguém que não anda junto, não da para cambar na cara! Mas em todo o caso acabamos chegando em 4 nos 21 e o Cib's chegou em primeiro. Desta vez tivemos mais juízo e fizemos os sanduíche nós mesmos. O custo se reduziu a metade do anterior. Desta vez, diferente da regata do sábado, os barcos menores chegaram muito antes do que os barcos dos ricos, estes últimos davam a volta na ilha. Por isso desta vez chegamos muito antes deles no clube. A canoa de cerveja estava intocada. No sábado quando chegamos não tinha nem água gelada para nos. Foi quando o pessoal que cuidava da canoa de cerveja não queria nos deixar tomar porque era muito cedo. Tivemos que mostrar que tínhamos chegado da regata e ido muito bem, dai eles liberaram geral. Ficamos os donos da canoa. - quinta-feira. Primeira regata barla-sota da semana de vela. Merreca de vento. A comissão montou a regata no meio do canal largando quase na frente do YCI, um pouco mais para o norte, e tendo a perna de barlavento para o sul, passando em frente da praça principal onde estava montada a "Race Village". Tinham que prestigiar o prefeito que estava dando a maior força para o evento. Vento sul fraco e uma correnteza de norte forte de mais de 1 nó. Varias bandeiras amarelas na regata que teve somente três pernas pois tinha o risco de não terminar. O vento parou completamente na montagem do primeiro popa. Ficamos parados a uns 200m da bóia e com a correnteza começamos, nos e todos em volta a andar para trás. A paciência e perícia da tripulação fez com que pegássemos uma brisa para andar um pouco e conseguimos montar a bóia. Tivemos que colocar a genoa porque o balão não enfurnava mais. Mas depois que montamos abrimos uma boca dos outros 21 e foi só ir com a correnteza. Dai a estratégia era estar no caminho da correnteza que nos levasse até a linha de chegada. Vários barcos passaram da linha e para voltar levaram muito tempo. Perto da linha cambamos para ficar dentro da "caçapa" e não conseguimos descambar. O resultado foi uma chegada de ré. Mas chegamos e muito bem. Comprova que com o timoneiro Este dia teve a entrega de prêmios do Grand Prix e não sei mais do que, acho que foi este dia, não me lembro bem. O Rajada tirou primeiro e o Wind segundo, ficando o Cib's em terceiro. A comissão chamou o barco Max, dos nativos como terceiro mas foi vaiada pela - sexta-feira. Barla-sota, vento nordeste e a regata para fora do canal. Vento mais limpo e menor influencia da corrente. Mas pouco vento. Foi neste dia que descobrimos finalmente como amarrar o barco nos cunhos afiados. E essa dica é importantíssima para todos que enfrentarem a mesma situação. Ao invés de usar o nó tradicional de cunho que apenas circunda este, passamos a amarrar com nos mais - sábado. Barla-sota, vento sul. Correnteza fortíssima que chegou a marcar 2,5 nós vindo também de sul. Nessa arrebentamos!!!! Em diversos sentidos. Começamos largando 2,5 minutos atrasados. Ficamos de bobeira a sotavento da comissão e quando nos demos conta a corrente era tanta que para chegar foi com muito esforço. A sorte foi que os nossos competidores na sua maioria também estavam por perto e se atrasaram. Mas o Gordo Warla já tinha feito a tática. Ir para cima do baixio sem pensar para diminuir o efeito da correnteza. E só sair de lá depois de ganhar muita altura. O vento estava forte para a região, ou seja tudo de bom para ligar o turbo dos nossos 355kg. E foi. O que largou melhor, o Tutu do Wind largou na linha 2,5 minutos na nossa frente. Mas cometeu um erro inexplicável, seguiu pela margem esquerda, pela ilha onde o canal é mais fundo e a corrente é mais forte. na montagem da bóia de barlavento ele já tinha ido para trás. A vantagem foi se abrindo e tínhamos tudo para tirar primeiro até no tempo corrigido. Foi quando no segundo contravento a driça do grande soltou. Tivemos uma parada para subir esta de novo. O mais dramático foi que o Cib's estava no mesmo bordo e se aproximando, e tinha um Delta 36 vindo ao nosso encontro e não nos atorou ao meio por muita sorte pois paramos bem na frente dele. Mas conseguimos voltar na frente do Cib's e abrir de novo a vantagem. Ficamos em segundo por 20 segundos no tempo corrigido. Depois de terminada a regata a próxima gincana foi a chegada no clube para subir o barco e embalar para o transporte. Tinha vento e fomos a vela. Na chegada a fila para a rampa. Buscar todas as tralhas de empacotamento e partir para desmontar as coisas. Desta vez Terminada a premiação o que nos restava era tomar um sorvete e dormir pois o corpo estava destruído. A maior concentração de hematomas em um corpo que não sofreu um acidente. E tínhamos que levantar cedo para pegar o rumo de casa. - Domingo. 8 da matina de pé para preparar as coisas para a saída. O muquifinho ia deixar saudades!?!? Acho que não. Mas fomos para o café na esperança de encontrar os tios de Niterói que corriam de Delta32 e que chegaram em 2 e 3 nos campeonatos da classe. São Tripulação: Glossário do campeonato. Referências |
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