* Comecei esta viagem no final do outono, atravessei o inverno e já é primavera. Só chegarei em Floripa no verão.
Estava fazendo as contas, em um mes e oito dias já fiz 1600 km desde que saí do Brasil. Talvez por isto me sinta um pouco cansado, fora o fato de ter emagrecido 10 kg ou mais.
* Aliado ao vento de rajadas, ficou bem difícil estabilizar e remar, estou encharcado mas vejo um navio rebocador vindo na minha direção. Tento sair da frente, mas continuo como alvo de proa dele que nao pode manobrar em canal estreito e com correnteza. Eu é que tenho que dar um jeito.
* Resolvi fazer outra "cirurgia" gaudéria no garrão direito, pois um fresco dum bicho de pé cresceu, e estava na hora dele partir.
- Aqui tu nao te crias, só te deixei crescer porque não bato em guri.
* Chego à bela cidade de La Paz, cheia de antenas. Sou recebido por um oficial da prefectura que passa o rádio avisando que cheguei, é que uma lancha saiu a me procurar...
Vamos na central e o prefecto (comandante) Acosta vem falar comigo. Sinto que vou levar uma mijada mas ele diz que este é o trabalho deles, fala em seguranca e diz que o que eu estou fazendo é um exemplo para a juventude da cidade e se eu não me importo de fazer uma matéria na tv...
Eu, um exemplo...
Estes são alguns trechos do diário de bordo de André Issi, que começa a se aproximar de Buenos Aires, descendo o Rio Paraná. Em 30 de Setembro de 2005, na cidade de Paraná, André Issi enviou ao popa, o diário do último trecho navegado.
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A) Diário, de 16 a 24 de Setembro de 2005, descida do Rio Paraná
De Bella Vista a Esquina
Olá amigos, aproveitei que cheguei cedo aqui (Bella Vista) e resolvi escrever um pouco para nao deixar acumular. Os dedos da mao esquerda sao paraplegicos( nao recuperei bem os movimentos) e por isto levo horas para escrever.
Sigo o diário desde o dia 16/09, quando estava em Corrientes.
16/09/05 Sexta dia 90
Depois que saí da casa de Miguel fui na casa de Victor. Passei o resto da tarde com sua mae e sua tia, internet e mate doce com elas, estava legal. Victor aparece às 18 h e vamos de moto até a casa de Daniel, apresentador do programa Angeles o Demonios, na tv. Dali seguimos para a praca central de corrientes e chega Waco. Eles entrevistam os jovens e perguntam basicamente o que eles acham da primavera e o que pensam sobre as "cantadas" (piropos, em espanhol). Era divertido de ver as gurias e os estudantes respondendo as perguntas e a alegria deles era contagiante. Waco e Daniel entrevistavam e Victor filmava. Depois Daniel me entrevistou e victor filmou cam a camera profissional e com a minha ao mesmo tempo. Foi uma noite diferente e adorei estar ali com eles, vendo realizarem seu trabalho.
Alto astral. Depois fomos na casa de Daniel e ali eles analisaram o que foi filmado e o que deverá ser feito a respeito de edicao.
Fui dormir na casa de Victor, comemos um assado em companhia da mae dele e de sua namorada. Depois ele foi filmar pela noite.
17/09/05 Sábado dia 91
Tomei um mate com señora Ramona, peguei um taxi e fui para a prefectura. Victor aparece na hora que chego, o coitado nem dormiu e vem se despedir e tirar fotos da partida.
Despeco-me dos amigos e parto às 10:40 h e dali sigo para a ponte que liga Corrientes a Resistencia. Lá em cima estava Victor que foi de moto e tirava fotos, dou um último adeus para meu amigo e sigo pelo meio do rio. Frio, ondas e vento contra, estou meio triste e quase nao dou bola para o vento. Recebi um e-mail que me deixou chateado e baixou o astral. Acho que faco todas essas palhacadas para manter minha moral e qualquer coisa já deixo cair a peteca, sigo sem raiva do vento e do frio, estou bem chateado.
Agora vejo como é tênue a linha que me mantém todo esse tempo enfrentando as adversidades sem sentir. Bastou uma coisinha de nada e já estou me perguntando se tudo isto faz sentido, se as pessoas estao gostando ou odiando aquilo que vou escrevendo para manter minha propria moral nesta verdadeira batalha para continuar depois de 3 meses e quase 3000 km... Nao é fácil brother, mas eu tento entender os porques e nao tiro a razao de ninguem, pois no fundo eles nao deixam de ter razao, apenas eu nao posso fazer mais do que estou fazendo.
Sigo em frente, sem saber que direcao tomar, pois agora é como nao ter nada, meu mapa é rodoviário e nao dá detalhes. Rodrigo, do Asterix me enviou um, mas tb é rodoviário. Mesmo assim obrigado, valeu a forca Rodrigo!
O vento fica mais forte, de rajadas. É um SW, bem contra meu rumo, menos mal que a correnteza ajuda um pouco. Sigo adiante e vejo um enorme pássaro morto na entrada de um riacho. Paro ali para descansar e observo um casal de lontras brincando entre os galhos sobre a água. Ali está mais abrigado do vento
Bueno, percebo também que a correnteza nao sai do riacho, pelo contrário. Entao isso aqui deve ser um caminho do rio e que deve cortar caminho...
Mesmo sem ter certeza resolvo me aventurar por ali.
Logo adiante, um enorme jacaré está sobre a areia na saída de um córrego e o melhor é que poderei filmá-lo, pois nao foi para a água. Tiro a filmadora do compartimento, ligo e quando vou filmar o bicho nao é que vem duas lanchas e o espantam?
- p q p... É brincadeira!
Nao passa barco há horas e justo quando iria filmar e fotografar um jacaré de jeito, passam esses boiolas? Vao se ralar!
Paro para almocar numa praia de lama onde antes estava outro jacaré. É um inferno de maruins (bariguis, em espanhol) que nao dao folga.
Sigo em frente, alguns jacarés dao violentas rabanadas antes de mergulhar, o canal está cheio deles. Um dos jacarés ficou furioso e deu umas cinco rabanadas entre os aguapés. Jogou pedacos de aguapé, lama e água. Acho que o corno tá querendo briga. Meu plano é enfiar meu punhal matador de sucuris pelo nariz dele, se ele deixar, é claro, he ,he!
Estes daqui sao mais ferozes que os do rio Paraguay, passei ao lado de uns capins flutuantes e havia 3 jacarés, um ao lado do outro.
O vento ficou muito forte e minha protecao neste belo canal acabou às16:15 h.A margem esquerda me protege mais ou menos e altos barrancos surgem ao longo da margem, eles tem entre 15 a 20 m de altura.
Inúmeras lanchas e barcos de pesca estao por toda a parte; eles ficam onde tem mais correnteza. A briga de todos é pelo Dourado, El tigre del rio, como está escrito em um dos barcos.
O final de tarde chega e resolvo acampar ao abrigo dos barrancos, ao lado de uma cerca e sob uma pequena árvore. Fundo de areia. Coloco o abrigo para armar a barraca, do contrário nao daria, pois hordas de mosquitos e maruins atacam sem dó. Sao 18;30 h, sete horas e meia de remo e nao consegui chegar a Empedrado. Nao estou a fim de viajar de noite e meu astral nao está legal, estou meio desmotivado!
Li os relatos da viagem de meus irmaos de Rosário ( www.rosário-rio.com ), aquilo sim é que é coragem, enfrentaram o mar e as ondas como se fosse um brinquedo e para mim é quase uma barreira intransponível. Se eu conseguir ter um décimo da coragem deles, acho que dará, mas eu acho que o meu destino está marcado para quando lá chegar e acho que por isto meu astral nao anda bem.
Acho que estou me aproximando do fim da estória e sei que eu nao vou desistir sem tentar, aí poderá ser tarde...
- Te pára índio véio, nao me faz te pegar nojo!
- Parece um boiola cagao!
' Deixa que na hora do "pega prá capa" o xiru aqui assume o comando das rédeas.
- Se as ondas vierem por cima, "nóis se abaixemu":; se vierem por baixo, "nóis pulemo"!
- E se vierem pelo meio?
- "Nóis se estrepemu"!
É brody, acho que por isto estou meio Dow!
18/09/05 Domingo dia 92
Hoje faz tres meses que sai de Brasília, foram mais de 2800 km.
Amanheceu com sol, faz frio mas logo vai esquentar. Coloquei uma sopa no kinojo e logo vou sair.Parti às 9:20 h com fraco vento contra.
Sigo entre inúmeras lanchas com pescadores, muitos deles vem do Brasil em busca de dourados... Êta peixinho caro!
Os barrancos sao de uma beleza a parte, pois a erosao forma quadros incríveis de lindos, ressaltada pelos raios de sol e pelas diferentes cores dos barrancos.Vou seguindo entre lanchas, ondas que se formam contra a correnteza e ilhas. Fora o vento contra, é tudo muito lindo; o cara pensa:
- Ah, sao 4000 km de rio, tudo igual!
Pelo contrário, a paisagem sempre mudando, sempre vendo coisas diferentes, tudo lindo demais. Cada por de sol é único, noites de lua, tempestades e até o corno do vento... Nao, menos o corno boiola do vento!
Esse é meu inimigo e sei que ele estará esperando no mar para se vingar das derrotas que está sofrendo por aqui. No mar, a vez será de Eolos e Netuno, fora a maozinha de Thor. Vou precisar de todos meus Santos para ajudar.
Será que influi negativamente o fato de eu ter rodado na catequese?
Vocês já viram alguém rodar na catequese?
Foi a primeira vez que pensei em suicídio, repetir catequese...
Ninguém merece!
Após quase 2 h, paro para descansar e comer um punhado de amendoim e filmar os barrancos.
Sigo em frente e meia hora depois chego a EMPEDRADO (km 1140) ali está Daniel que faz sinal para que eu pare depois de um trapiche de ferro. Ali tem um cara metido a bacana que vem gesticulando os bracos e a cabeca em sinal de reprovacao por eu nao estar utilizando o colete. Nem me cumprimentou, nao gostei dele e respondo no mesmo tom. Meu colete é o caiaque, digo. Com esse outro fui para o fundo e quase morri nas corredeiras, o que salvou minha vida foi o caiaque e nao o colete. Ele fica quieto e eu sigo com Daniel para a sede onde eles oferecem de tudo, desde hospedagem, se quero comer algo, etc... Os caras sao gente fina demais mas resolvo prosseguir, pois tenho andado muito pouco, estou fora do ritmo.
Meia hora depois vejo uma placa que diz ; comedor para todos os pescadores. É a pousada Costa del sol e vejo um grupo almocando. Pergunto se é privado e ele responde que sim. Faco meia volta mas Oscar vem atrás, percebe que estou viajando e me convida para almocar com eles. Ali tem um grupo que é do Rio Grande do Sul e os caras sao muito legais. Edvalt, Tobias e Chiquinho, de Caxias e de Venancio Aires, eles organizam excursoes d pesca em um luxuoso onibus (Pescabus) para a pousada de Oscar que me apresenta sua simpática família, D Magdalena e seus filhos, Samuel e Viviana. Oscar diz que estou realizando seu sonho, assim como meus irmaos de Rosário realizaram o meu. Comi uma deliciosa feijoada, o pessoal diz que o Gremio ganhou a primeira partida pelas semifinais do brasileiro e da passos grandes para sua recuperacao. Fiquei muito feliz, descobri que Palloci continua no governo, melhor assim.
Mostro as fotos da sucuri para todos e todos se espantam, assim como eu ao ver os enormes peixes que eles pescaram, um enorme dourado de uns 10 kg e um outro, parecido com bagre, de uns 20 kg.
Está muito agradável ali e vou ficando. Acabo partindo só às 15:30 h mas valeu, foi muito bom para melhorar o astral.
O vento SW aumentou, mas os altos barrancos protegem razoavelmente. Estou com os bracos doloridos e nao dá para fazer muita forca. Acho que estes dias de vento contra me deixaram mais fraco ainda e nao está muito fácil de seguir em frente.
Depois de 2 h acabaram os altos barrancos. A margem ficou mais baixa e posso ver a mata nativa, o que me agrada muito mais pela presenca de pássaros.
Algum acampamento de pescador aqui, outro acolá, mas nao tantos quanto no rio Paraguay. Está repleto de bons lugares para passar a noite e isyo me tranquiliza um pouco.
O vento aumenta, mas penetro em um lindo canal onde fica bem abrigado do vento. Vou em frente e resolvo parar às 18:30 h antes que termine a protecao do canal. O lugar é lindíssimo, o rio está que é um espelho e os peixes dao rabanadas na superfície em busca de alimentos. Posso ver os cardumes, é muito peixe...
É um lugar bucólico e que transmite seguranca. Armo a barraca no alto do barranquinho enquanto um sem número de pássaros canta em volta ao final do dia. Para completar, um por de sol maravilhoso. Naveguei apenas 5:30 h, mas valeu pelos novos amigos.
19/09/05 Segunda dia 93
Manha fria de 5 graus (escutei no rádio), pássaros cantando, muito peixe saltando e ausência de vento... Nem acredito!
No rádio diz que é S rondando para SE, mas aqui nao tem, show!
Resolvo fazer uma pequena cirurgia gaudéria, pois tem um chifrudo bicho de pé no meu "garrao" (calcanhar).
Meu bisturi é o punhal esterilizado a cuspe RRRTT!
Tirei o corno no seco e o espremo entre os dedos pra aprender a nao fazer casa em garrao de guerreiro farroupilha.
Joguei uma rifocina por cima, mas o barro da margem tomou conta do buraco feito...
Bueno, ele que se cuide, em peleia de campanha cada um por si, até fiz muito.
Acabei partindo só às 10:36 h e logo saí do canal. Forte correnteza favorável e sem vento, hoje eu vou longe...
As dores nos bracos diminuiram, acho que estava detonado pelo esforco no R Paraguay.
Sigo para W, com fraco vento S e uma hora depois estou passando pela placa do km 1114, estou ha 5 km das ilhas Lauretti, onde o rio fará uma curva para o sul, até posso vê-las, mas resolvo entrar em um pequeno riacho para pegar água e ali descansar. Recém é 12 h, o lugar é lindo e resolvo almocar num barranquinho, sentado no caiaque.
Enquanto almoco, um lindíssimo pica pau, todo preto, cabeca e topete vermelho, uma linha amarela em volta dos olhos e um pequeno triangulo branco no dorso, vem batucar no tronco podre quase a meu lado. Pego a filmadora e vou seguindo o corninho pela mata, de pé descalco.
A correnteza penetra no riacho em vez de sair no rio; deve ser um atalho, penso eu. É bem estreito, deve ter uns 10 m no máximo, mas é lindo, cheio de pássaros e margeado por salgueiros e mata nativa.
É super abrigado do vento e a superfície está coberta de uma penugem branca que cai dos salgueiros. Vejo um sem número de pássaros silvestres, aves aquáticas e até mesmo um solitário papagaio de cauda vermelha sobrevoa olhando para mim, show!
Os bugios arrotam, digo, roncam ao me observar das árvores altas mais ao fundo. O lugar está cheio de jacarés cinzas e maiores que os pretos do rio Paraguay. Eles sao brabos e chicoteiam os aguapés antes de mergulhar.
A cabeca deles é bem maior!
- Brody, esse negócio está meio estranho...
- Deixa de frescura, eu nao vou voltar contra a correnteza!
Nao consigo filmar os jacarés, quando os vejo, já estao entrando no riacho; alguns devagar, outros com estardalhaco. Um deles, que nao vi, formou ondas grandes...
Eles sao muito rápidos e sempre me percebem antes que eu os veja.
Árvores caídas, camalotes e capim flutuante vao criando dificuldade para avancar, deixando apenas sinuosos estreitos.
Mais um pouco e tenho que embalar o caiaque para cruzar sobre os camalotes, pequenos aguapés e capim flutuante.
- Tchê, que m.. é essa?
- Essa droga está fechando, estou "comendo" aranhas e milhoes de insetos que vivem nessas folhas de aguapés...
- O caiaque está todo cagado de barro e bichos...
- Te pára de frescura, tu nao ves que a correnteza continua?
- Eu que nao vou voltar contra a correnteza e passando de volta sobre esse monte de capim que me caguei todo remando por cima!
- Merda, eu tenho certeza que vamos nos ralar e nao encontro ninguém para falar.
Os aguapés me obrigam a remar sobre eles, às vezes fico meio preso, mas vou passando. Quase que só vejo aguapés e capim, passo sobre troncos e duas horas depois tudo parece terminar.
Desco do caiaque, pego o facao e vou explorar a pé.
Acabou!
Só vejo um banhado em frente, um estero!
Serao entre 20 a 30 km jogados no estero...
- P q p!
- GRRRRR!
- Agora, de castigo, vais voltar tudo de novo até o R Paraná e sem descanso!
- Quero ver tu passares sobre aqueles camalotes contra a correnteza, seu babaca!
- Otário!
Será a primeira vez que eu vou voltar na viagem, menos mal que o lugar é lindo.
Faz de conta que é um passeio pelos esteiros dentro da viagem.
- Tu diz isto porque nao é o teu traseiro que está pegando fogo!
Pior de tudo é que o dia estava bom e teria andado muito se permanecesse no rio.
Bueno, faz parte!
Beijando boca de aranha e aparando pé de aguapé, fui retornando e olhando para a cara dos bugios que parecem rir.
A jacarezada que tinha retornado para a margem tem que se atirar de volta no rio:
- Sai da frente bugrada, he, he!
É cedo ainda (15 h), dá para voltar de dia.
Tchê, vi um tronco enorme sobre um barranco, só que brilhava!
Era o jacaré que fez ondas grandes... Acho que tinha uns 4 a 5 m,`parecia um crocodilo. Era tao comprido como parecia ser gordo. Fez a volta e entrou na água bem onde eu teria de passar. Pela primeira vez fiquei receoso, o bicho era muito grande!
Fui em frente e quase chegando no fim encontro cacadores...É sempre assim, só encontra ajuda quando nao mais precisa!
Às 17 h cheguei de volta no R Paraná, pelo menos está calmo, sem vento e com forte correnteza favorável.
No mínimo, teria feito entre 50 a 60 km hoje.
Azar, valeu ter andado por um local tao bonito!
Avisto dois jacarés no barranco, consigo filmar e fotografar um jacaré vivo, aleluia!
Em seguida filmo uma lontra comendo um peixe entre os galhos, bem próximo do jacaré.
As "porpa" do traseiro estao querendo amotinar-se, mas todos estao de castigo pela burrada e assim prossigo sem parar até às 18:30 h.
Foram 5:30 h direto!
Parei em um local onde tem uma pequena praia, uma área limpa entre árvores nativas e que deve ser muito utilizada por pescadores. É bem abrigada do vento e repleta de pássaros silvestres, gavioes e urubus.
Estou aproximadamente no km 1100, ao lado das ilhas Lauretti.
Filmo o por de sol e vou para a barraca.
20/09/05 Terca dia 94
Hoje é dia da Revolucao Farroupilha, mitificada por alguns e desmitificada por outros. O que interessa é o legado de bravura e brio de um povo que lutou até onde pode, de atos heróicos e ideais de liberdade. Nao interessa se perdeu ou se ganhou: há derrotas que sao verdadeiras vitórias.
Com certeza a nossa revolucao nos enche de orgulho e é cantada em prosa e verso nos galpoes de estancia e nas escolas.
Parabéns Rio Grande do Sul!
Hoje o pai faria aniversário, abraco no espírito veinho!
Amanheceu com névoa, a lua cheia permanece. Escuto os pássaros e o ronco dos bugios. Nesta noite escutei as capivaras se atirando no rio com estardalhaco. O dia está maravilhoso, canto de pássaros e rio calmo pleno de sol. Desde Corrientes a paisagem é assim, muito bonita e cheia de natureza.
Cada lugar onde passo a noite convida a ficar uma semana.
Parto às 9:20 h e pouco adiante penetro em outro canal lindíssimo, vejo bugios, jacarés e algumas lanchas de pescadores.
O canal tem uns 50 m de largura e matas nativas em ambas as margens.
Estou eufórico, filmo um pouco ao sabor da correnteza e resolvo remar para ver se o dia rende, afinal ontem foi um dia perdido, apesar de ter remado quase 7 h.
A ilha da direita é comprida e após 1 h já nao vejo pescadores, casa, sinal de civilizacao...
Será que estou seguindo a correnteza na direcao de outro estero?
Entrar em lugares assim, sem mapa é um tiro no escuro.
Tu nao ficas seguro e muda de humor aos poucos. A correnteza é mais forte que ontem e se tiver que voltar será muito difícil...
As margens estao altas, isto nao parece ser uma ilha, parece um canal...
- Volta cara, nós vamos nos ralar de novo!
- Vamos só até a próxima curva, de repente ali termina essa ilha. Talvez um barco, alguém pescando na margem...
- Entao vamos remar só 1,5 h. Nao achando nada, vamos retornar!
Vejo um jacaré atravessando o rio bem na minha frente, parece nao me ver.
Tenho tempo de ligar a filmadora mas a correnteza vai me jogar contra uma árvore semi submersa. Sou obrigado a remar e o jacaré mergulha...
- Merda, que droga de tudo, deste caiaque que nao mantem o rumo, dessa droga de canal, de nao ter mapa, nao tem ninguem para perguntar e por eu nao saber se volto ou se sigo em frente...
Pronto, lá estou eu, sozinho berrando alto toda sorte de palavroes até ficar rouco, agora é bom nao ter ninguém por ali mesmo...
Paro de berrar, vi algo brilhante se movendo numa curva ao longe, com certeza é um barco.
Aproveito a raiva e remo com tudo até chegar no local... Era um camalote...
Perdido 2 vezes em 2 dias seguidos. Ainda por cima encontro bancos de areia, parece que vai terminar como ontem...
Nova explosao de fúria, pior que a outra!
- Agora é que eu nao volto, vou seguir essa m de canal só de raiva!
E asim se foi nosso bravo pelotao farroupilha, louco para meter a lanca no inimigo oculto.
Após 3 irritantes horas vejo uma bifurcacao e escolho o caminho da direita onde finalmente vejo uns barcos. Desco ali, sigo uma trilha pelo campo e falo com uma senhora que diz que existe saída... ALELUIA!
Nem acredito, dou um profundo suspiro e com o ar expelido saiu toda a raiva.
Sigo mais um pouco e paro para almocar ao sol.O canal parece nao ter fim, mas confiando na senhora estou tranquílo.
Às 14:30 h, depois de 4h, chego de volta no R Paraná.
- Se entrares em outro canal de novo...
Descanso mais uma vez e vejo Bella Vista ao longe e a paisagem muda. No final de tarde o vento SE fica mais forte, mas a margem protege razoavelmente.
Chego na city às 16:30 h, uma forte correnteza, uma pessoa sentada na beira do rio, é uma estátua prateada. As pessoas indicam onde parar, é o clube náutico caza y pesca. km 1057
Deixo o caiaque ali, sou instalado na prefectura onde Ferreira me recebe muito bem e depois vou no centro da city onde haverá uma festa na praca. Janto e depois vou na internet. Bueno, escrevo até às 1:30 da madrugada e o cara que cuida ali desliga o meu computador por engano...
- Tche, depois de remar sete horas, perdido dois dias seguidos, escrevendo há 4 h e o boludo, pelotudo desliga por engano...
- Desculpem!
- P..Q.. P...!
Fico reinando uns 10 min mas o mal está feito. Pra melhorar meu astral me perco na volta e só chego na prefectura às 3 h da manha!
21/09/05 Quarta dia 95
Acordo às 7 h, escrevo, arrumo tudo, vou para o clube de pesca e só parto às 9:30 h seguindo altos barrancos até entrar noutro canal, só que este eu sei que tem saida. Vejo muita gente pescando de lancha e nas margens, tratores servem de motores para tubulacoes que irrigam arrozais. um cano despeja uma meleca amarela, sao resto de laranja que o gado mais adiante descobriu e entra na água para comer os bagacos.
O sol forte e um belo abrigo do vento fazem que eu pare às 11:30 h para descansar e comer algo, pois nao tomei café.
É na ilha, à sombra de uma bela árvore no alto do barranco. Esfrego a casca da laranja na pele e isso me livra dos insetos. Resolvo organizar as coisas e só parto às 13 h. Nao ando nem 10 min e vejo um cara limpando 3 aves na beira do rio, penduradas na travessa de um curral utilizado para embarcar o gado das ilhas. Eram cegonhas, eles convidam para um mate e eu peco para filmar.
Ali é o rancho do sr. Chamorro, um simpático senhor que tem 70 anos e vive neste local há muitos anos. Aqui é Isla Verde e os outros dois sao irmaos, Sergio e Roberto Miño.
O rancho é feito de barro com armacao de bambu, o teto é de palha. Há uma pequena varanda com apetrechos de cozinha, pesca, selas, ferramentas, galinhas e cachorros. No pátio sombreado há uns paus em brasa onde duas chaleiras (favas) pretas de fuligem estao apoiadas sobre um triangulo de ferro.
Sentamos em pequenos bancos de madeira ao redor do fogo, tomando mate e escutando música chamamé de um velho rádio preto de pilha. Ele está no chao, todo empoeirado, mas funciona bem. a música chamamé é identica às nossas tradicionalistas do Rio Grande.
Lá no curral, um pé de vento parece um redemoinho de poeira, Chamorro diz que " es el Diablo".
Estou feliz demais aqui, tomando mate com pessoas simpaticíssimas, curtindo cada imagem, cada som, cada cheiro...
Estou "viajando" brody!
Falo para eles da revolucao Farroupilha, dos ideais e da bravura dos Gaúchos e de como nossos costumes nao tem fronteiras, seja no Rio Grande, no Uruguai ou na Argentina. É por isto que me sinto em casa aqui.
Chamorro fuma um cigarro de palha, fumo em corda, cheiros que me levam ao sítio da vó...
Bueno o tempo passa, tomei mate sem parar e só vou partir às 15:30 h, mas valeu. Passou todo o cansaco e o bom astral voltou.
O dia parece mais bonito, aliás, hoje é o primeiro dia da primavera.
Sigo costeando as ilhas e observando os altos barrancos desde Bella Vista.
Perto do fim do dia uma lancha se aproxima e fico conversando demais. Acabo acampando em uma ilha já ao escurecer, quase encostado nágua.
22/09/05 Quinta dia 96
- Senhor, o lanceiro Facao nao foi encontrado, acho que se perdeu em batalha!
- Deixem, ele é bravo e saberá sobreviver!
- Acho que ele nao estava bem com sua mulher, dona Bainha!
Parece que estou no km 1010, já passei dos 3000km, mas oficialmente só vou considerar quando chegar no km 1000 (distância que falta para B Aires)
Sigo em frente em rio espelhado e ao passar por uma ilha vejo um cara pescando piavas com linha de fundo. Ele tira uma atrás da outra.
Passo por uma cobra que empina ao me ver.
Viajo de bone com véu, é um inferno de insetos e teias de aranha. Passei por Lavalle (km 995) e acho gozado que faltem menos de 1000 km para B Aires.
Mais 15 km chego em Goya, km 980. Vou num super e nao encontro miojo, desisto.
Comprei outro facao e sigo para o porto.
- Senhor esse cara é estranho, parece que é Colombiano...
- Garibaldi também é mercenário... Pergunte a ele que tipo de mato que ele corta.
- Nao entendemos bem, parece que fala o nome da namorada... uma tal de Mari Juana!
Ando mais 1,5 h e acampo em um barranco.
23/09/05 Sexta dia 97
Dia muito quente e sem vento, sigo de boné com véu e camisa molhada.
Paro entre bancos de areia e pego uma piava de 2 kg a unha, ela debate e foge. Eu nao estou a fim de fazer fogo e nao tenho tempero.
Hoje resolvi remar muito e fazer muitos km. Faco 3 turnos de 2 h e no quarto eu paro mais cedo para filmar 8 peoes (arrieros) vacinando e cercando umas 500 cabeca. Acabo ficando por ali, vi uma vaca chorar e depois tomamos mate ao redor do fogo de chao. Mais tarde comemos todos na mesma panela um guisado de carne d tatu com massa. Durmo ao relento, na varanda da casa com telhado de palha.
24/09/05 Sábado dia 98
Acordo cedo, tomamos mate, o espantalho da horta deles é uma coruja grande enfiada num pau, nenhum bicho se aproxima.
Remo com um louco o dia inteiro e chego em Esquina km 853 às 17:30 h.
Estou podre. Tomo banho e venho no centro escrever.Agora sao 4:43 h da manha, estou podre e sigo viagem quase sem dormir nem descansar. Desculpem nao responder os e-mails, nao deu tempo.
Resumi tudo no fim porque nao aguento mais. Ainda tenho que voltar a pé para a prefectura e acordar cedo para seguir.
Bueno, um abraco para todos,
André!
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B) Diário, de 23 a 29 de Setembro de 2005, descida do Rio Paraná
De Esquina à cidade de Paraná
Olá amigos, acabei de chegar na cidade de Paraná, há 600 km ao norte de B Aires depois de remar mais de oito horas sem quase descansar, sete delas abaixo de um violento temporal. A moral está boa e os soldados aos poucos vao preparando o espírito para enfrentar o mar, que eu tenho verdadeiro pavor. Mas estamos todos loucos para chegar na estância do céu e lá só se chega se for peleando.
A viagem está sendo maravilhosa e agradeco aos amigos pela forca que venho recebendo, sem ela já estaria enfraquecido moralmente e o gás aumenta quanto mais me aproximo do rincao querido. Um abraco e até a próxima! Os dois primeiros dias estou relatando de novo, em detalhes, pois eu estava muito cansado em Goya. É demorado escrever, perco muito tempo, mas é um grande prazer dividir isto tudo com voces e o esforco vale a pena.
23/09/05 Sexta dia 97
Parti às 8:30 h quase sem vento de novo. Vou seguindo junto da margem e os hehenes(maruins), borrachudos e outros insetos infernizam ao me atacar os bracos, as pernas e as orelhas. Para nao perder totalmente a sanidade, coloco o boné com véu, porque, além de tudo, as pragas entram nos olhos.
O boné é muito útil, nao fosse ele, nao daria para remar.
Hoje esta muito quente mas nao posso viajar sem camisa, pois os insetos atacam o corpo. Tenho que molhar a camisa na água gelada do rio e colocar no corpo para refrescar.
Sigo pela margem e encontro uma passagem entre os bancos de areia, por ali corto caminho.Paro às 10:20 h para comer um punhado de amendoins. Estou ali, quieto no meu canto, comendo e matando maruins que picam as pernas quando vejo um baita peixe meio que encalhado nas águas rasa do banco de areia. Pego a filmadora e o bicho fica por ali, me provocando. Pego o punhal e o arremesso contra o bicho, quase acertei.
Ele se manda e eu vou pro caiaque. Dali há pouco ele reaparece e eu resolvo cercá-lo, ele foge para a água rasa e eu consigo pegá-lo. É uma piava de uns 2 kg. E agora? Nao estou a fim de matá-lo, só de filmar. Ele resolve a questao, se debate e vai pra água.
Nessa frescura perdi muito tempo, logo hoje que queria andar bastante.
Partí só às 11 h, seguindo as margens e percebendo que muitas barrancas vao caindo enquanto passo. O rio está em constante renovacao, tragando margens e formando novas ilhas.
Paro às 13:10 h para comer um enorme sanduiche de milaneza que trouxe de Goya. É impressionante a variedade de insetos com o mesmo objetivo, chupar o meu sangue até a morte! Esmago os cornos com raiva, mas minhas pernas mais parecem com as prosti da Voluntários da Pátria.
Devo estar anêmico!
Faco mais um turno de 2 h, descanso e sigo em frente. Seis horas já se foram, conseguirei remar oito horas hoje.
Depois de cruzar com uma porca e seus filhotes em uma ilha, atravesso um pontal e vejo arrieiros tocando o gado para um enorme curral. É uma poeira dos diabos, deve haver mais de 500 cabecas.
Eles me vêem e um deles chega à cavalo na beira e me chama:
- Compañero!
- Veni a tomar um mate con nosotros!
Bah! Falou em mate pegou pesado!
Olho pro relógio, sao 17:30 h, poderia remar mais uma hora, já remei 7:30 h, mas a viagem nao é só isto!
Sigo para lá, pego a filmadora para registrar eles lidarem com o gado para vacinar e dar um banho de pesticida; sinto cheiro de creolina.
Sao oito cavaleiros, um deles fica no brete da "torre" para vacinar, os outros tocam o gado dentro do curral para um corredor q2ue os leva para a torre, onde o bicharedo mergulha e sobe por uma escadinha do outro lado.
Com certeza o gado nao gosta e tenta evitar de todas as maneiras ser conduzido para a torre. Alguns saltam a cerca de arame e se juntam a outros. Todos usam esporas e alpargatas e alguns cavalos sangram.
Uma vaca, em especial, me chamou a atencao. Ela tentou de tudo, pular a cerca, correu de um lado a outro.
Depois foi lacada por dois cavaleiros, cravou as patas no chao, entao mais quatro, com os cavalos emparelhados lado a lado a tocavam por trás. Ela nao se movia, um quinto entrava com o cavalo pela lateral e fazia este dar "trombadas" na vaca empacada. Ela se atira no chao, o cara toca o cavalo que a pisoteia ao mesmo tempo que a cachorrada se mete no bolor e lhe morde. Alguns se ferem e ganem de dor. A vaca se levanta e é arrastada para a torre e ainda assim tenta furar o cerco entre os cavalos emparelhados. quando ela chega na entrada do poco, percebo que lágrimas correm dos seus olhos, nunca tinha visto uma vaca chorar...
Assisto tudo ao lado de Blanca, mulher de Lopez e seu sobrinho, Bernardino.
Omar foi o que me chamou na beira, Ramón o que vacina, Leonardo e Ramoncito sao os mais jovens, hay el viejo,Moreira e outro Moreira.
Eles sao muito gente boa e se eu vacilo em ficar eles insistem para que fique.
Comeca um terrível vendaval que levanta uma nuvem de terra do curral por tudo. A poeira cobre o caiaque na beira enquanto o puxo mais para cima. Vou passar a noite na varanda do ranchinho de López, com teto de palha. Todos vao dormir por ali e partir no dia seguinte.
Blanca faz um fogo de chao do lado de fora da casa e logo um triangulo de ferro sustenta duas favas(chaleiras) que aquecem água para o mate. Fica frio, mas nao chove. Ficamos todos ao lado do fogo, conversando e ficando "defumados" pela fumaca espalhada pelo vento.
Depois de muito mate, eles tiram as chaleiras e colocam um panelao bojudo e preto de fuligem. Ali tem um "guiso", massa, batatas e dois "quirquinchos" (tatus) que eles cacaram antes de vir para el laboro (lida). Na hora de comer, cada um tem sua colher e vai se servindo no panelao...
Estava muito bom, muita prosa, mate e quirquincho ao lado do fogo de chao...
Que chato! Estes dias sao todos iguais...
Durmo no saco de dormir, sobre a barraca estendida na varanda.
Blanca tinha razao, acabou nao chovendo!
24/09/05 Sábado dia 98
Todos acordam cedo, tomamos mate e logo se vao.
Fica só eu, Blanca, Lopez e Bernardino, o piazinho que ajuda a carregar as coisas no caiaque.
Blanca tem uma pequena horta ao lado da casinha e o "espantalho" é um baita corujao que Lopez cacou e fincou numa taquara. Nenhum pássaro se aproxima, acredito que nem roedores.
O vento, um SE forte e contra aliado ao frio nao convida a continuar.
Parto às 8:55 h seguindo bem próximo da margem para abrigar-me do pior do vento e das ondas. A vantagem em relacao ao rio Paraguay é que a vegetacao aqui é mais densa e fica próxima da margem, protegendo mais.
Passo por uma série de pequenos currais onde os arrieros embarcam o gado nas diversas ilhas.
Às 12 h paro para almocar, depois de passr pelo km 885, quer dizer que fiz 105 km em 13 h remadas. Depois do almoco, o vento SE muda SW e fico sem protecao da margem, menos mal que a correnteza ajuda.
Aqui é uma confusao de ilhas, se olho para trás, nao consigo definir de onde vim, muito menos onde fica a outra margem.É uma confusao de ilhas se formando, barrancas caindo...
Nao vi mais nenhum jacaré. Está penoso remar, mas parece que se aproxima um temporal. Resolvo tocar até chegar em Esquina, há 127 km de Goya.
Remo direto por 3 h e chego na city às 17:40 (km 853) depois de seguir um barco de pescadores que mostrou o caminho. Aqui é uma confluência de 5 rios e a city fica fora do rio Paraná, fica no rio Corrientes. A cidade é muito bonita, tem um casino e uma bela igreja mais ao fundo.
Sou bem recebido por Roa e Fabian, que trazem o caiaque para cima, aqui na prefectura. Depois do banho e instalado, sigo para o centro, janto e dali sigo para uma internet 24 h. Agora sao 21:46 h, estou meio cansado de remar por sete horas.
Realmente os dedos mínimos da mao esquerda nao funcionam direito (por causa do acidente). Ainda por cima o computador apaga por duas vezes o texto, chamo o boludo que controla e ele encolhe os ombros.
- GRRRRR!
Depois de 15 min reinando, recomeco, salvando o texto a cada 5 min.
Às 4:45 resumi grotescamente o que falta e sigo para a prefectura, estou podre!
25/09/05 Domingo dia 99
Desperto às 7 h, arrumo as coisas e parto às 9:30 h. Remo meia hora contra a correnteza até retornar ao rio Paraná.
Há uma leve brisa de SE, mas nao atrapalha, dela eu nao tenho raiva, até que é boa (a namoradinha do vento). Sigo pelo meio do rio, aproveitando a corrente mais forte.
Um casal de gaivotas de cabeca preta, chatas e irritantes, fica me sobrevoando e gritando sem parar. Elas nao saem de cima de mim, só falta me "bombardearem". Tenho que remar olhando para cima para ver se nao vem nada do traseiro delas.
Irritante!
Às 12:30 h passei do km 830 e logo tem uma entrada para a esquerda, o atalho seria no km 810 e levaria até La Paz, no km 763.
O vento ficou muito forte, o avanco é penoso e eu nao dormi direito. Resolvo entrar ali, acho que é por ali o tal atalho. Já passei por várias entradas, mas o cara descreveu mais ou menos. Entro sem ter certeza de nada.
Sigo em frente, os barrancos sao altos, quero descansar e encontro a saida de um pequeno riachinho. Ali tem areia, é abrigado do vento frio e posso almocar. Descasco uma laranja, esfrego a casca pela pele (para afastar os insetos) e vou comer. Encontro uma árvore atingida por um raio, partida ao meio e preta até determinada altura.
Nao vejo ninguém, é um saco seguir sem ter certeza.
Um pouco adiante encontro uma lancha, um dos caras diz que nao tem saída, o outro diz que tem, que devo ir seguindo sempre pelo lado direito.
Bueno, assim vou em frente, passando pequenas bifurcacoes, mas sempre a principal é sempre maior.
Adiante vejo uma bifurcacao em "T", deveria seguir para a direita, mas olho na bússula e sigo por aquela que vai mais para o Sul, por onde os camalotes estao seguindo. Well, acho que estou "futz" mas só me resta seguir em frente. Para o sul vejo uma barreira de cúmulus-nimbus, o tempo vai fechar, preciso dormir em local bem abrigado do vento que virá.
Depois de mais duas horas paro para descansar junto a um bosque de salgueiros, abrigado do vento. Sao 17:20 h, dá para andar mais uma hora, mas estou penetrando em regiao de banhados, poucas árvores e pouco abrigo.
Na hora de seguir, dá um "tique" e sinto que devo permanecer por ali, posso nao achar local abrigado adiante e irei me ferrar!
Armo acampamento mais cedo, descanso e estarei abrigado.
Nao deu outra, depois do por do sol chega um vendaval terrível, um pouco de chuva e as copas das árvores balancando como loucas. Aqui na barraca nada de vento, me encolho no saco de dormir, quente e abrigado. Fico feliz, despreocupado, ouco um pouco de rádio antes de dormir.
26/09/05 Segunda dia 100
Centésimo dia! Legal!
Acordo cedo, vou na rua e resolvo cochilar mais um pouco. Resultado: acordo só às 9 h, nunca dormi tanto!
Fui explorar em volta, aqui do lado tem um banhado, é muito bonito. Filmei tarrãs, gavioes, biguás e quero-queros.
Agora sao 10:44 h, as nuvens se foram, mas o vento forte permanece. Continuo perdido e vou seguir por onde a correnteza for mais forte e dando preferencia para o sul nas bifurcacoes. Ou vou me dar muito bem ou vou me ferrar, pois perderei dois dias de viagem, fora o esforco para voltar contra a correnteza.
Estou em regiao de banhados e nao vi mais ninguém além daqueles pescadores.
Acabo partindo só às 11:50 h e sigo em frente. Quarenta minutos depois encontro um rancho. Bato palmas e aparece um vivente. Ele diz que nao tem saida para o rio Paraná... Nao pode!
- Y ahi salida para La Paz?
- Si!
O mané nao sabe que La Paz fica na margem do Paraná.
Suspiro aliviado. Adiante o canal fica mais largo e encontro outra grande bifurcacao. Sigo até outra pequena ilha para descansar, estou até com dor de cabeca de remar contra esse vento SE que está forte. Enche o saco remar todos os dias contra esse vento chato. Descasco laranja, esfrego a casca pela cara, bracos e pernas e depois vou comer, é a única maneira de afastar estas mini máquinas de tirar sangue.
Vejo um barco ganadero e sigo em frente, já sem protecao contra o chifrudo do vento. Depois de uma longa reta, uma curva e uma série de canais que o rio formou ao dividir um belo bosque de salgueiros em diversas ilhas. Descanso por ali e depois coloco a filmadora sobre o caiaque e deixo-a filmando enquanto passo pelos lindos canais.
Parto às 17:50 h e sigo até encontrar outro bosque de salgueiros ao lado de um banco de areia. Centenas de piavas estao no raso com o dorso de fora. Arremesso o punhal, mas nao acerto nenhuma. Eslas ficam o resto da noite ali no raso batendo na superfície. Uma tarrafa aqui seria covardia!
Apesar de tudo, andei 5 h, vi uma estrada ao longe mas ainda nao sei onde estou.
27/09/05 Terca dia 101
Amanheceu igual a ontem, gelado e lindo! Vento sul...
Hoje fiz um kinojo, só restam tres. Agora sao 8 h, o por de sol foi às 18:54 h.
Comecei esta viagem no final do outono, atravessei o inverno e já é primavera.
Só chegarei em Floripa no verao.
Estava fazendo as contas, em um mes e oito dias já fiz 1600 km desde que saí do Brasil. Talvez por isto me sinta um pouco cansado, fora o fato de ter emagrecido 10 kg ou mais. Já pesei 84 kg e hoje estou com menos de 70.
Parti às 9:55 h, fui contornando uma grande curva onde havia casas na margem esquerda. Dali percebi que o vento era E, rondando para NE.
No credo!
É um belo dia de sol, comeca uma parte com altos barrancos e vejo muitas construcoes que desabaram no rio. Há uma enorme chaminé, quase uma torre, toda feita em tijolos. Finalmente vejo outra bifurcacao, só que ali tem bóias de sinalizacao do canal, estou de volta ao rio.
Chego a bela cidade de La Paz, cheia de antenas. Sou recebido por um oficial da prefectura que passa o rádio avisando que cheguei, é que uma lancha saiu a me procurar...
Vamos na central e o prefecto (comandante) Acosta vem falar comigo. Sinto que vou levar uma mijada mas ele diz que este é o trabalho deles, fala em seguranca e diz que o que eu estou fazendo é um exemplo para a juventude da cidade e se eu nao me importo de fazer uma materia na tv...
Eu, um exemplo...
No Brasil eu nao passo de um louco frustrado, pois ainda nao recebi meu atestado de loucura, he, he!
Falo com os caras da tv e agradeco ao grande apoio que venho recebendo da prefectura argentina. Digo o porque do nome Hermanos de Rosário ao prefecto e ele se enche de orgulho, porque tambem é de Rosário. Passo o endereco da página deles e depois vou no centro comer alguma "coisinha melhor" como fala meu amigo Fabrício.
Encontro Laura, de riso maroto e que pergunta sobre a viagem enquanto tomo um litro de leite achocolatado.
O corpo volta pro porto, mas o coracao fica naquela lanchonete...
O caiaque está só, mas ninguém mexeu em nada. Parto às 13:30 h, aqui é o km 763. O vento é favorável e a correnteza é forte, tanto que 1 h depois passo por uma bóia com o km 748 inscrito nela, 15 km/h remando normal. Muito bom, pois no rio Paraguai levei 5 h para fazer esta distancia contra a correnteza.
Fui alcancado por dois jovens num caiaque duplo, eles estao bufando, me viram passar e vieram só para perguntar de onde eu vinha.
Descanso um pouco às 16 h e logo depois chego em S Elena (km 727), outro povoado super bonito, uma bela praca gramada e muita gente jovem na beira do rio. Cheguei a trazer algumas coisas, iria dormir ali para ir num "ciber" mas o cara da prefectura nao estava muito animado a trazer o caiaque e eu iria dormir num salao, sem colchao...
Digo que resolvi partir e me vou sem despedir, o cara sente o astral das pessoas e eu nao preciso disto, estou livre para ficar onde me sinto bem. Se é para dormir mal, mil vezes o mato.
Parto às 17:30 h, brigando com o caiaque, pois o corno nao mantem uma reta devido ao vento e a correnteza forte, o que me irrita profundamente.
Nao acho bom local para passar a noite e acabo montando a barraca junto a um enorme barranco com fundo de barro seco. Forro o chao com algas secas e vejo o sol se por às 18:56 h.
28/09/05 Quarta dia 102 km 705
Agora sao 7:52, amanheceu frio, as algas foram excelentes, ficou macio e isolado do frio do chao. Resolvi fazer outra "cirurgia" gaudéria no garrão direito, pois um fresco dum bicho de pé cresceu e estava na hora dele partir.
- Aqui tu nao te crias, só te deixei crescer porque nao bato em guri.
- Ala pucha tchê!
Tem que enfiar o punhal de ponta ao lado do bicho e seguir cortando a pele em roda do bicho, daí é só remover o a bolota amarela onde vive e mastigá-lo! Arg!
Agora, que é muito ardido é!
Parto só às 10:15 h e logo depois vejo um cara de lancha fisgar um dourado, ele é muito mais lindo quando esta vivo. Ele pula muito e por isto o pessoal gosta de fisgá-lo.
Passa uma corveta da marinha argentina. Sigo por fora de uma ilha com um fraco vento NE, fiz mais de 70 km ontem e a velocidade continua boa. Duas horas depois estou no fim da ilha e um vendaval muito forte se inicia. As ondas crescem é um NE violento. Ao longe, num banco de areia, o vento comeca a levantar a terra da praia e aquilo comeca a subir e forma um mini tornado, só espero que nao venha para o meu lado, esse bicho do diabo!
Estou passando entre duas ilhas e sigo na direcao do canal.
Brody, uma confusao de ondas e corrente que comeco a pensar no plano de evacuacao da tripulacao, caso o caiaque vire. A corrente é muito forte e posso perder algo.
Aliado ao vento de rajadas, ficou bem difícil estabilizar e remar, estou encharcado mas vejo um navio rebocador vindo na minha direcao. Tento sair da frente, mas continuo como alvo de proa dele que nao pode manobrar em canal estreito e com correnteza. Eu é que tenho que dar um jeito. Assim vou remando, tentando nao virar e olhando para trás o tempo todo. Eles passam ao lado, bem perto e o cara apita seguidas vezes...
Voces já ouviram apito de navio?
É tao forte que tira até trem da linha!
O cara sai da sua cabine lá do alto e acena repetidas vezes, coloca os bracos estendidos no alto e volta ao timao. O resto da tripulacao fica assistindo a peleia do maktub com as ondas.
Chego em Hernandarias (km 688) às 11:55 h, já mais abrigado do vento. Miguel, da prefectura está me esperando, o cara do rebocador passou um rádio para ele e o cara diz que cruzou comigo lá no rio Paraguai, perto de Asunción. Legal!
Vou no centro, como uma milaneza, tomo sorvete e leio os e-mails dos amigos me dando forca. Se eu nao fosse um taura acostumado as peleias, teria me emocionado. É muito bom ter o apoio dos amigos, eu me sinto mais forte e tenho uma certa responsabilidade, porque além de estar realizando o meu sonho, estou realizando o de outros que viajam comigo em pensamento. Olho pro relógio, quase cinco horas...
Vou correndo pro porto e sigo meu caminho. O vento diminuiu, entao sigo pelo meio para seguir pela correnteza mais forte, apenas tenho que sasir da frente quando vem navios.
Após uma hora sigo por um canal que Miguel falou, mas sou obrigado a encostar por causa das pragas dos insetos que vem nos olhos e bracos, um inferno. Coloco o boné com véu e consigo remar. Essas pragas nao cansam de morrer esmagadas. Paro só às 19 h, bem no km 672. Há um cheiro de podre por toda a margem, sao milhares de cascudos mortos. É um baixo astral, mas o sol já se pôs e eu nao tenho escolha. Ali tem coisas de outros pescadores mas nao tem ninguém.
O tempo vai mudar, está soprando NE, coisa boa nao é!
Armo a barraca de modo que fique protegida tanto do sul como do norte.
Tchê, nao deu outra. Vendaval violento a noite toda, árvores balancando muito e aqui na barraca tudo bem. Remei menos de 4 h, assim nao dá; menos mal que andei 33 km
29/09/05 Quinta dia 103
Acordo cedo, chega um senhor, ele é o dono do local e nao se importa de eu ter passado a noite aqui. Peco desculpas por nao ter pedido licenca e o ajudo a colocar suas coisas e troncos de lenha em seu barco. A regiao é de muitos descendentes de alemaes e ele é um senhor de idade muito mais forte que eu. Ele diz que os cascudos(armados) morreram por causa de uma "peste", mas acho que pode ser por poluicao, se bem que nao há outra espécie de peixe morta, apenas milhares de cascudos.
O cheiro de podre deixa tudo com um baixo astral, enfeia os lugares bonitos.
O pior é que amanheceu nublado e comeca a chover fraco. Arrumo tudo bem rápido e parto às 8:40 h. A chuva chega forte, com ela o vento, raios e trovoes.
Penso na teoria de que se me atingirem nao vou sentir nada entao sigo em frente. Menos mal que o vento é favorável. A chuva é intensa e assim vou seguindo até passar pelo poblado de Brugos, no km 668, onde tem um enorme terminal graneleiro ao lado de uns silos. A chuva nao pára:
- Cabo! Controle de avarias!
- Tudo em ordem senhor, apenas um pouco de infiltracao no reator...
- Cuide dele, está meio sem uso mas poderemos utilizá-lo a qualquer momento.
- Um dia foi atômico, hoje funciona a gás metano...
É brody, essa chuva me irritou e só pra mostrar pra ela quem manda, vou remar direto até chegar em Paraná.
Eu deixo o inimigo pensar que estou detonado e aí ataco com tudo.
- É isso aí senhor, senta a pua, digo, o remo!
- Senhor, nunca vemos o comandante...
- É o espírito...
- O que anda? Já ouvi falar tem um anel que deixa marca...
- Nao, esse é o "Espírito que Manda", sem aquelas boiolices de roupinha colada e cueca a mostra.
- Chega de conversa, essa chuva só faz aumentar e está ficando frio.
Remo direto por longas 4:30 h até que a chuva cansa e dá uma estiada.
Preciso comer algo e nada melhor para estimular o apetite do que um monte de peixe podre ao lado. Empurro eles com os pés, sento no caiaque dentro dágua e como rapidamente, pois vejo outro temporal se aproximando.
Nesse período percorri cerca de 40 km, mas ainda faltam 32.
Pior, entrou um vento SE que joga as ondas contra, isso pode comprometer meus planos.. Foram só 30 min de descanso.
Agora enfrento um vendaval, chuva e ondas que formam um rebulico nos pontais e fica perigoso na forte corrente que se forma.
Já estou todo encharcado, vejo milhasres de cascudos empilhados nas margens, boiando nos remansos e alguns por morrer, super estranho!
A costa é formada por altíssimos barrancos erosionados e alguns bosques de salgueiro onde o barranco fica mais para trás.
Passo por dois pueblos de pescadores, Curtiembre y El Cerrito, os pescadores estao todos dentro de seus acampamentos. Eles ficam localizados próximos de pontais onde a correnteza é mais forte e onde tem mais peixe. Tenho dificuldades sérias em cruzar estas partes, é bem perigoso e ali no remanso os cascudos... O caiaque vai abrindo caminho entre eles e galhos flutuantes.
O "bom" é o cheiro de podre, de carnica!
Depois de mais de sete horas, a chuva dá um tempo. Vejo nuvens em vários tons de cinza e roxo, muitos relampagos, mas estes já passaram.
- Que Thor vá bater seu martelo em outro lugar, o chifrudo!
Sigo em frente mesmo com esse boludo y pelotudo soprando contra, estou decidido a chegar hoje em Paraná.
Passo por Villa Urquiza e depois dela penetro em outro canal. Parece nao ter saída, mas isto era no outro, este tem. Tenho que descer em um banco de areia e depois pego o vento de frente. Vejo enormes torres de alta tensao, sob o rio tem um túnel que liga Paraná a Santa Fé, a provincia que fica de frente a esta, Entre Rios.
Esse túnel eu cruzei na viagem de moto de 1995, quando iniciava a longa viagem de 37000km, vindo de Uruguaiana rumo a Mendonza.
Depois entro em uma baía, já mais abrigado do vento.
Ali encontro Javier e mais dois amigos que tiram o caiaque dágua para mim. Os caras sao fortes e sao alunos da escola de canoagem que está localizada num enorme galpao, no cais.
Cheguei em Paraná às 17:50 h, 8:10 h de remo e trinta min de descanso.
Mostrei pros chifrudos (vento, chuva e ondas) que gaúcho que peleia nunca se queda muerto!
- Senhor, é verdade que Gaúcho que morre peleando vai pro paraíso?
- É claro! Eu já estive por lá, mas uns caras me trouxeram de volta.
- Disseram que nao era minha hora, que eu nao estava peleando...
- E como é?
- Bueno, é uma baita duma estância, terra a perder de vista. Muito gado que se cuida sozinho, três mulheres...
- Três?
- Três, que é pro vivente nao enjoar. Uma loira, uma castanha e uma morena de longas trancas...
- Lá nao tem criancas, nao tem shopings e a mulherada quase nao fala, apenas agradece.
- Se tu enjoares das três, tem uma casinha mais afastada onde mora uma ruiva espetacular, sempre fantasiada de bailarina, com um véu colorado...
- Senhor, eu quero morrer!
- Só chega lá se for peleando.
Bueno chega de sonhar com a morte!
Estou encharcado e congelado!
Entro no clube, uma turma legal demais. Ali conheco Eduardo Riera que me abraca entusiasmado.
Ele é o responsável pela ECENAA, ESCUELA DE CANOTAJE!
Bueno, olha só a estória dele:
Em 1994 ele idealizou e organizou uma expedicao de oito pessoas com duas canoas canadenses (piráguas) e um inflável de apoio. Idealizaram e registraram uma bandeira universal que representasse a paz mundial, uma pomba abracando o mundo com suas asas em pleno vôo. Eles levaram tambem um crucifixo esculpido por um artesao missioneiro e um lampiao com a chama acesa, representando a paz. Denominou a Expedicao de PACIS NUNTII ( mensageiros da paz, em latim). Levaram a bandeira que foi abencoada pelo papa Joao Paulo ll. Foram transportados de caminhao, fizeram a viagem e entregaram a bandeira ao presidente argentino, Raul Alfonsin. Os barcos foram colocados sobre carros de bombeiros e desfilaram pelas ruas...
Local de saída: Rio S Bartolomeu, Brasília 25/08/85
Chegada: Buenos Aires 23/12/85
Vejo os jornais da época, falam da viagem de 5000 km...
Todo mundo fica ouvindo nossas estórias e os lugares que foram comuns a nós, inclusive foram transportados no mesmo trem.linha que eu, quando fui para o hospital.
Aqui no galpao tem entre 200 a 300 barcos, a maioria piráguas e caiaques de competicao.
Fui na prefectura registrar a chegada, tomei um banho e segui com Javier e amigos para a internet, onde escrevi até às 3 h da manha
Depois retornei ao clube para dormir.
30/09/05 Sexta dia 104
Eduardo quer que eu vá em um jornal, assim aproveito para terminar de transcrever o diário. Esperei até as 11h que chegasse alguém, venho até o posto da petrobrás, onde tem internet e estou terminando de escrever agora,15:37 h. Ufa!
Remei o dia todo no temporal e hoje faz sol...
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