Velejando 1.000 milhas sobre rodas
Aventura em carro à vela
André Issi

Parte 3: De Torres a Quintão

Queridos amigos
As grandes guerras são vencidas com pequenas derrotas e grandes vitórias.
Ontem o pelotão farroupilha chegou muito tarde ao palco de combate (16 h), pois o relatório aos amigos nos tomou muito tempo.
Quando chegamos à praia da Guarita, soprava violento vento de rajadas do sul. Além de tudo estava enregelante.
Para mostrar ao inimigo que não nos metia medo, resolvemos utilizar o final de tarde para aprender a orçar (seguir contra o vento). Várias vezes os carros quase viraram, mas pegamos a manha e saímos do combate sem nenhuma baixa (tombo).
Resolvemos nos entrincheirar na varanda de uma casa abandonada e seguir no dia seguinte.
Ali o vento quase não existia, e a noite prometia ser gélida.
Por isto, mesmo com o teto da varanda, armamos a barraca.

28/07/07 Sábado
Acordamos muito cedo e às 9 h já estávamos no cenário da batalha de ontem.
Tchê, que loucura!
Vento enfurecido, totalmente congelante e o mar lambendo os cômoros...
Resolvemos avançar mesmo assim, mas o mar não dava tréguas e fomos "lavados " por ondas que nos cercaram e atolaram os carrinhos.
que luta desigual!
Como o Paulo viria buscar amanhã o Luigi (final de férias escolares), resolvemos voltar e antecipar o resgate em um dia, pois estava quase impossível de avançar.
- Senhor, que fazemos?
- Vamos voltar e nos entrincheirar novamente.
- E o recruta Luigi?
- Não o chamem mais de recruta, esse menino que nunca esteve em um campo de batalha se comportou de maneira excepcional e demonstrou alto grau de bravura em combate.
- O alto comando se reuniu e resolveu promovê-lo a Tenente Luigi.

É verdade, não esperava encontrar nesse menino um companheiro tão leal, amigo e divertido nos piores momentos. Cheguei a chorar de tanto rir quando ele fazia caretas de cansado, mas nunca quis parar, sempre foi positivo e graças a ele o pelotão conseguiu superar dezenas de obstáculos que não teria conseguido sem ele.
Luigi, eu só tenho a te agradecer!
Amanhã o pelotão perderá um grande soldado que será deslocado para o setor burocrático.
Espero que não se transforme em "mais um tijolo na parede" como cantava o Pink Floid.
Acho que esses dias foram a melhor escola de vida que todo garoto deve passar, aprende a respeitar os mais humildes e vê que o melhor da vida não é uma marca de tênis, roupa ou refrigerante, mas que o verdadeiro valor de tudo se baseia na amizade e na honestidade.
Bueno, é isso aí!
Amanhã tem mais.
Muito obrigado Luigi, foi inesquecível para mim e para ti, no alto dos teus quatorze anos.

Pois é, o Luigi partiu e todos no pelotão sentem sua falta. Era o escrivão dos diários e sem ele volto a "catar milho"!
Na verdade esta viagem iniciou com uma de moto, que levou oito horas desde Imbituba a Torres (pela praia).
Depois mais duas de moto em função do carrinho que não conseguia encontrar.
Em uma delas perdi os 1600 dólares que trazia para pagar os carrinhos. Coloquei por dentro da bota e voôu nota por nota....
De carro ainda fomos ter uma aula em Cidreira e depois de porto para a Guarda e dali para Imbituba, mais de 4000 km....
- Soldado! Relatório!
- Senhor, perdemos o tenente fogareiro, três soldados bujões e duas varetas da barraca naquele combate nas dunas...
- Em Torres perdemos o tenente Luigi, sargento Panela e mais quatro soldados bujões dispensados em função do falecimento do tenente fogareiro.
- Afora isto, o Tenente Issi ficou com mais cinco "medalhas" (cicatrizes) em combate no Morro dos Conventos(queda e atropelamento pelo carrinho).
- E os reforços?
- Bueno, este ano levamos mais duas "damas de companhia" (hérnias), afora as fraturas de plantão...
É isso aí. Parto do hotel e vou à casa de Lopes e Gabriel que guardaram o carrinho para mim.
Consigo montar a vela sozinho e vou ao campo de batalha que vejo pela terceira vez.
Ainda está com pouca praia, mas dá para encarar.
O vento fraco e a favor não tem força para deslocar a mim e ao carrinho.
Descubro que subindo na longarina da roda dianteira o carrinho atola menos e até dá para seguir em frente.
Dou um embalo, pulo na longarina e sigo em pé, de frente para onde estou indo e controlando a direção com as rédeas ou corrigindo o curso dando biquinhos na roda dianteira.
Andar no estilo "patinete" corre o risco de ser atropelado se cair, mas a velocidade é baixa.
As horas vão passando e mais adiante encontro outro filhote de lobo marinho (não sei a diferença entre lobo ou leão marinho).
Tiro uma foto do bichinho e mais adiante encontro enormes carretéis de cabos de luz, agora amarrados em troncos e que são utilizados para facilitar o recolhimento das redes de pesca.
É impressionante o nº de redes!
Por volta de 15 h, justo quando o mar subiu, o vento aumentou.
- Senhor, o inimigo cortou nosso caminho!
- Calar baionetas e preparar para combate.
- Este vento favorável é raríssimo e temos que avançar de qualquer jeito!
Odeio ir por onde estão as ondas, pois os carrinhos não tem paralamas e na areia molhada o cara vira um verdadeiro "croquete de areia molhada e congelante.
Bueno, seu André. Te rala!
Agora enfrenta isso ou desiste!
- Nem a pau, Juvenal!
E lá se vai o croquete, digo, pelotão!
O mar sobe até as dunas, desce uns 20 m e volta com tudo.
Para pegar velocidade, tenho que acompanhar o recuo das ondas e subir antes que elas me atinjam.
Acontece que,às vezes, elas vêm muito rápidas e o carrinho perde velocidade na subida e somos envolvidos pela água gelada.
Apesar de estar com roupa de chuva, já estou encharcado.
Cabos e roldanas estão entupidos de areia que lixam as mãos nuas que manejam retranca e cabos.
Começo a tremer, mas agora só me resta seguir em frente sem parar sequer para comer.
O vento aumenta e o jogo de gato e rato se sucede na região das ondas e das dunas.
Quando subo, encontro areia mole, o carrinho pára e as ondas vêm por cima.
Ele atola, tenho que descer e voltar ao cockpit toda hora.
Passando por Capão da Canoa há uma infinidade de pedras e lixo junto a rstreita faixa de terra e tenho medo que fure os pneus.
Sigo adiante e paro depois das 17 h, já com o sol abaixo do horizonte, muito vento, frio, encharcado e cheio de areia.
Tive que desmontar a vela, pois havia uma plataforma (Xangrilá). Alguns caras que pescavam ali perguntam se não tenho frio...
Estou cheio de areia e só me resta entrar no mar com carrinho e tudo para me livrar da areia.
Uma onda forte quase faz o carro me atropelar.
Agora tenho que achar lugar para dormir, mas é um local de casas de alto luxo, cercas elétricas e seguranças...
Desmonto vela e mastro e sigo pelas ruas, já escuro e com vento forte.
- Senhor, que fazemos?
- Calma, desenvolvi uma técnica Ninja para estas situações!
- Agora nós somos a escuridão e o inimigo não nos perceberá...
-Como se faz isto, senhor?
- Basta usar o poder da mente!
Dito e feito, à medida que caminhava< os seguranças me seguiam discretamente com suas motinhos.
Em uma distração dos chifrudos, encontrei um condomínio onde as luzes estavam apagadas, estava abandonado e havia varandas que protegeriam do vento NE.
Fui para a varanda mais do fundo, onde era mais escuro.
Troquei de roupa, coloquei plástico, isolante térmico e o saco de dormir por cima. Puxei o plástico sobre o saco de dormir e assim passei uma noite que prometia ser difícil razoavelmente bem. Como não comi nada o dia inteiro, fiz uma granola básica e fui nanar.

31-07-07 Terça-feira
Acordei bem cedo e parto logo, com as roupas ainda molhadas de ontem.
Cadê o vento?
Nothing!
- Senhor, como vamos combater o inimigo?
- Já estamos combatendo!
- Vocês relaxaram e o pelotão foi tomado por uma leva de ácidos graxos, colesteróis e assemelhados.
Quando chegamos ao final da viagem de caiaque ano passado o pelotão não passava de 68 kg.
Ao partirmos de Imbituba, vocês largaram com 86 kg...
- Agora... MARCHEM!
- SEUS "APAGADÕES"!
E assim nos fomos, marchando e cantando a canção...
Parei para almoçar ao meio dia, pois já estava com dor de cabeça. Ali ao lado havia um daqueles carretéis para recolher as redes do mar.
Mais adiante encontrei uma fêmea de lobo marinho e dois filhotes. Um deles estava morto.
Depois de três horas de caminhada o vento começou a se manifestar. Fraco a princípio, mas às 13 h já podia navegar sentado, pois o estilo "patinete" é cansativo.
Às 14:30 h, já com o mar subindo e com pouca praia, cheguei a foz do Rio Tramandaí. Conversei com Eduardo que veleja de windsurf e kite surf e dali segui para o hotel Alaska. O mesmo onde me hospedei ano passado quando passei rumo a Torres naquela viagem de oito meses.
Aliás, foi ali que se hospedaram meus hermanos de Rosário em sua viagem de caiaque rumo ao Rio de Janeiro.
Encontrei Márcia, esposa de Marcos, dona Vani, esposa de seu Juvenal, o dono.
Agora são 21 h e screvo na mesma net onde enviava os mails ano passado.
Foi legal ter passado aqui e rever meus amigos.
Parece que vem outra frente freia e chuva, mas o pelotão segue em frente.
Grande abraço
André

1º/08/07 Quarta-feira
Parti de Tramandaí depois de reencontrar seu Juvenal. A festa foi completa. Dona Vani lembra minha mãe e é muito querida. Marcia, Marcos e seu filho (Taylor) são pessoas especiais e só aceitei que não me cobrassem a diária com a promessa de que irão retribuir a visita lá na pousada.
Essa é a parte que mais interessa nas viagens, a amizade que permanece, os bons amigos.
Às 10:30 h já estou na praia velejando e logo adiante desmonto a vela para cruzar pela plataforma de pesca.
Dali em diante o vento diminuiu e tive que velejar no estilo "patinete", ou seja, dar um embalo e subir na longarina do eixo dianteiro e seguir de pé, apoiado no mastro, segurando o cabo da vela e controlando a direção dando bicos no comando da roda dianteira.
Fico parecendo com aqueles mestres de barcos que seguem de pé em suas canoas com os cabos do leme na mão.
É legal, pois o cara segue de frente para onde está indo e percebe melhor onde a areia está mais firme.
O perigo é escorregar e ser atropelado, mas isto só aconteceu uma vez; acho que estou ficando craque!
As horas passam, observo as gaivotas, as garças e os talha-mares.
Eles ficam numa patinha só e ficam pulando...não sei se a areia está fria, mas a outra pata não está machucada. Na hora de voar eles a colocam no chão.
Passo por uma infinidade de lobos marinhos mortos, na maioria são filhotes, parecem pequenos cachorros sem orelhas.
Horas depois chego a plataforma de Salinas, a mesma onde o Nardi nos deu a única aula que tivemos um dia antes de partir. Estava gelado pra caramba e tomamos nosso primeiro "banho de areia".
Depois passo por Cidreira e um casal legal (Caco e Lúcia) conversa e oferece chimarrão... Era tudo que eu queria! Passei o dia todo sem comer, mas o pelotão têm que aproveitar os raríssimos ventos favoráveis, mesmo que fracos.
Até hoje não houve um dia inteiro de vento forte o suficiente para eu velejar normal. Por isto adotei o estilo "patinete"!
O pelotão está ficando com fome, mas é bom para emagrecer, hehehe
Amanhã entra chuva e outra frente fria, por isto tenho que aproveitar.
Depois de Cidreira o cenário ficou feio e triste. Há uma verdadeira favela que tomou conta das dunas e com elas lixo, bichos e detritos...
Assim foi até chegar a Pinhal.
Há, também, muitos desses rolos que os pescadores utilizam para remover as redes do mar. Desde Capão há áreas demarcadas para pesca, surf e banhistas, visto que essas redes são perigosíssimas, pois mais de 40 surfistas e banhistas já morreram enroscados nelas.
É uma polêmica que se arrasta e as pessoas morrem...
Outro fator curioso são as casas de salva-vidas ao longo da orla. Cada município as faz nas mais diferentes formas, desde pirâmides, quadradas ou mesmo em formato de boné.
Às 17:30 h, quase escuro, resolvo sair da praia para encontrar a varanda de uma casa pois há previsão de chuva para esta noite e guardar a barraca molhada é ruim.
Resolvo limpar o carro e as roupas com a escova antes de seguir. Percebo algo estranho no pneu e puxo... Era uma espinha de peixe e foi tirar para esvaziar.
Tchê, que confusão! É um vira-desvira o carro e nada da câmara sair. As coisas se espalham no chão e não posso sair dali sem antes consertar o pneu. Para complicar o mastro travou e não desconecta...GRRRRRRRRRRRRR!
Estou quase mordendo aquela maldita câmara que não sai e ainda por cima o esforço arranca as cascas das feridas do tombo em Morro dos Conventos.
Ah é, tu vai ver maldita! Pego o alicate e tiro a câmara "a la André", ou seja, animalescamente. Acabo arrancando o ventil, grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
- Burro, incompetente!
- Sabia que irias fazer porcaria!
- Agora azar, arranquei a maldita e consegui colocar outra. O mais importante é achar abrigo.
Sigo pelas ruas possesso, pois o mastro "colou" por causa da areia e não desmonta totalmente.
Para me acalmar os cachorros se botam por cima e estragam meu disfarce ninja para encontrar uma varanda em silêncio.
GRRRRRRRRRR!
- Calma seu boludo, te concentra no objetivo maior!
Vai querer jogar pedra em tudo que vê ou achar lugar para dormir?
Bueno, as casas estão no fim e finalmente encontro uma de jeito, com boa varanda e abrigada.
Coloco o saco de dormir e tento passar a noite.

02/08/07 Quinta-feira
Desperto com chuva e vento sul.
Hoje a Ângela (minha irmã) está de aniversário. Parabéns!
Lúcio (professor de windcar em Rio Grande) falou que só terei vento favorável Terça que vem...Ele é amigo do Nardi e do Henri "Talha-mar".
Os amigos crescem na mesma medida da viagem. O Danilo ajuda como pode com previsões e o Rodrigo "Asterix" (que é biólogo), informa sobre a fauna.
Ele disse que aquele "filhote" de golfinho (esqueleto) na verdade é adulto.

"a observação q tenho q fazer é que o "filhote de golfinho" q vc fotografou na verdade é um golfinho adulto! Provavelmente vc vai encontrar muitas mais ao longo do litoral, em especial ao gaúcho na parte sul. Trata-se do menor golfinho do mundo e que vive em nossas águas, da Argentina ao Rio de Janeiro, em maior quantidade concentrand-se do Uruguai a Santa Catarina e Paraná! O Rio Grande do Sul é rota e presença frequente desses animais. Chama-se vulgarmente como Franciscana (na região do Prata) e Toninha (RS, SC, PR) e a espécie é a Pontoporia bleinvillei. São animais muito frágeis e acabam morrendo emalhados nas redes de pesca próximo ao litoral onde se afogam rapidamente. Como é proibido por lei matar, capturar ou perseguir estes animais, os pescadores com medo as desemalham já mortas ou ainda inconscientes e vão acabar dando na praia. No caso das insconscientes acabam indo ao fundo e se afogando. Se vc puder ao longo da sua jornada registrar com uma foto (coloque alguma coisa como uma caixa de fosforo ao lado para se ter uma noção do tamanho) e as coordenadas (tá funcionando o GPS?) seria uma boa para eu repassar esses dados ao Museu Oceanográfico de Itajaí, onde sou co-fundador e colaborador. Eles realizam trabalho de pesquisa com estes mamíferos e seus dados podem ajudar em algum aspecto sobre a mortandade e distribuição no litoral. O mesmo vai ocorrer com lobos e leões marinhos, eventualmetne outra espécie de golfinho e provavelmente vai encontrar várias tartarugas marinhas mortas. Se fotografa-las é possivel q identifique para vc as espécies o que, ainda mais por fotos, vai depender muito do estado de deterioração para achar as caracteristicas.
Achei q ia gostar desse feedback pois sei q curte os animais q encontra e sabendo mais deles fica melhor ainda.
Abração! Toca ficha! Bom passeio.
Asterix "
Bueno, vamos em frente pela praia com fraco vento de proa, areia mole e ruim de puxar.
- Hay que tener huevos!
Paro em uma guarita na praia para descansar, pois mesmo com chuva e frio fico suando pelo esforço de puxar.
Já estou em Magistério e decido que é melhor ir por cima, pois é mais fácil de seguir.
O plano é parar em Quintão, comprar câmaras, reparos de câmara e mais kinojo antes dos próximos 200 ou 300 km sem nada.
Dali pra frente é sem moleza, apenas dunas e eventuais povoados perdidos no meio do nada...
Resolvo também almoçar, pois estou ficando fraco.
Liguei pra casa, dei os parabéns a Ângela e falei com a mãe. Ela disse que o Luigi emagreceu cinco quilos nos 14 dias que viajamos e que está comendo como nunca...
Paro para almoçar no restaurante da Olga em Magistério...
Tchê, nunca comi um filé a parmegiana tão saboroso. Que delícia!
Para acompanhar uma deliciosa feijoada e dois baita copos de vinho, que adoro.Antes não bebia por causa do Luigi, para não influenciar soldado tão novo e adepto do refri.
Fico assistindo tv, bebendo o vinho e sem vontade nenhuma de seguir puxando na chuva...
Faço amizade com Olga, Tereza e Jaíra e elas topam fazer um café depois de eu "chorar" dizendo que poderia ser meu último café, heheheh
Essa "tática" sempre funciona com a mãe!
Depois sigo até uma casa de material de construção para comprar o que falta. Uma parte havia, mas o resto só em outro local. Os donos, sr. Júlio e Simone, me levam de carro até onde tem o que preciso. Que pessoal legal!
É isto que torna viagens assim tão agradáveis, as pessoas saem da rotina e te surpreendem!
Dali sigo para o asfalto que liga Magistério a Quintão.

- Senhor, o nosso barco não foi desenhado para pelear por aqui!
- Quieto, o nosso pelotão peleia onde quiser! Se aparecer vento por aqui monte a vela e siga em frente.
- Mas pode haver polícia, não temos freios...
- Então atropele os chifrudos, pois eles só param para verificar a validade do extintor!
- Senhor e essa mania de velejar em pé, junto ao mastro e de frente para a proa?
- Dizem que estamos amaldiçoados, pois nas noites de lua cheia vemos apenas nossos corpos magros... Como se fossem esqueletos!
- Será que o nosso barco não está amaldiçoado como aquele navio fantasma do Jack Sparrow?
- CHEGA!
- Te pára de frescura!
- O bagual que não aguentar o tirão sentirá a fúria do pelotão!
- Esta guerra é real e se o inimigo (vento) vacilar, montamos a vela e seguimos por cima desse bicho preto (asfalto) rumo ao sul velejando...
- O pelotão não tem caminho definido, não temos regras e só dependemos de nosso esforço!
- E os Imperialistas (polícia)?
- Soldado, viemos aqui para combater e não para pedir licença.

... E às 17 h o pelotão chega em Quintão!
Acampamos na pousada da Lorinha e do Francisco. Chuva, ruas inundadas e vento...
Não sei como, mas a calça de chuva rasgou nas duas pernas e nem o conserto com fita silver tape ajudou. Amanhã tenho que achar outra em Quintão no inverno e chovendo a cântaros!

3-08-07 Sexta-feira
Desperto com o barulho de um corno acelerando sem parar. Descubro que é o vento assoviando pelas frestas...
Chuva, chuva e chuva!
Caminho pela city e nada da roupa. Uma menina diz que encomenda uma e que amanhã de manhã a roupa estará por aqui. Durmo parte da tarde e depois venho a lan house para mandar notícias.
Espero que estejam gostando e amanhã inicia o trecho sem nada...
- Senhor, é aqui a fronteira final?

Abração


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