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Trilhas & Trilhos
A faina e os cenários dos trilheiros
Danilo Chagas Ribeiro
 

14 Mar 2005
A monocultura obstinada pelo esporte à vela cedeu lugar neste final de semana a "fazer trilha". Trilha de jeep, ou de jipe que seja, mas que pouco tem a ver com os velhos jeeps. São veículos modernos com ar condicionado, robustos e com tração nas 4 rodas. O roteiro incluiu paisagens magníficas. A participação requer perícia dos trilheiros, como são chamados.


Aqui nasce o Rio Taquari, na confluência do Rio das Antas com o Rio Carreiros

O passeio foi organizado por uma empresa especializada que conduziu o grupo em comboio por estradas para carroça em meio a roças e despenhadeiros, e por estradas abandonadas onde um carro comum jamais passaria.

Semelhanças
Em vários aspectos o perfil do trilheiro assemelha-se ao do velejador. Saem em busca do contato com a natureza e de aventura, sujeitando-se a más condições de intempérie e a dificuldades no percurso. Garimpeiros de adrenalina, são solidários e falantes, e têm prazer em ajudar os parceiros em dificuldades. Opiniáticos, gostam de contar sobre as piores peripécias por que passaram. É uma tribo (sim, porque o que fazem é pura indiada) muito diferente daquela de pilotos de corrida. São usuários de GPS e preocupam-se com a navegação. Usam equipamento especializado. A trilha desenvolve-se em baixa velocidade. Como se percebe, têm muito a ver com o povo da água.

Diferenças
Os veículos utilizados na trilha geralmente são os mesmos utilizados no o dia-a-dia. Trilheiros não costumam sair sozinhos.

Belíssimos cenários
A trilha realizada nos municípios de Salvador do Sul e Dois Lajeados oferece cenários de rara beleza, com montanhas e desfiladeiros. Viadutos muito altos da estrada de ferro chamam a atenção.
Passamos por alguns aglomerados de casas (menos que vila ou povoado) muito simples. São casas de madeira sem pintura, sem energia elétrica, no meio do mato. Cruzamos córregos, arroios e rios. Circundamos vales, subimos e descemos montanhas.

Recordes ferroviários (um pouco de história)
Uma das atrações da trilha organizada pelo pessoal do Rotas & Trilhas é a passagem por túneis ferroviários desativados.
O túnel da Linha Bonita (antiga ferrovia Montenegro – Caxias do Sul), teria sido o primeiro túnel escavado em rocha no Rio Grande do Sul (1.906)*.

A ferrovia EF-491 (Passo Fundo - Roca Sales) que ainda hoje funciona ali foi construída pelo Exército e detém alguns recordes, como o do maior viaduto ferroviário das Américas, sendo também o 2º mais alto do mundo, com 509 m de comprimento e 143 m de altura.
Na mesma ferrovia visitamos o Viaduto Dois Lajeados, com 81 m de altura e 384 m de extensão. É uma obra imponente de que o Exército orgulha-se**.

Sem luz no fim do túnel
Dois outros túneis visitados nunca foram utilizados. Consta que o Exército teria alterado o traçado da ferrovia durante a construção e as obras foram abandonadas aí por 1.970. Um deles, com uns 300m de extensão, não tem saída. É todo em rocha e o leito é irregular. Como uma caverna artificial, apesar do dia muito quente, lá no fundo estava frio, muito úmido, completamente escuro (o túnel é em curva), e qualhado de morcegos. É uma sensação inusitada manobrar lá naquele aperto para voltar...

Dificuldades para fotografar
Os participantes andam em comboio. A parada de um jipe significa, na maior parte do trecho, a obstrução da trilha. Se todo mundo resolvesse fotografar as paisagens incríveis por que passamos, o grupo não andaria (eram 19 participantes).
Passamos por um abrigo abandonado com duas ou três telhas de zinco, sem paredes, com uma placa enferrujada que dizia: "Telefone Comunitário". A ausência do telefone representava uma oportunidade para fotografar, mas não foi possível parar porque a poeira era grande. Muitas oportunidades para excelentes fotografias foram perdidas, mas tivemos cenários bonitos de sobra. Imagino que o número ideal de veículos no comboio possa ser menor.

Esperas
Mas existem paradas involuntárias, como para transpor obstáculos. É nestas ocasiões que o pessoal confraterniza. Os trilheiros descem dos carros e ficam de papo. Na maioria das vezes a trilha fica obstruída porque é estreita. Em alguns casos não se pode desembarcar, de tão estreitas que são as "estradas".

Estiagem
Salvador do Sul está com racionamento de água. Em pelo menos dois pontos da trilha passamos pelo fundo de córregos secos. Aliás, creio que não fosse a estiagem, não teríamos passado.
Alguns rios que margeiam as estradas por onde passamos tem apenas um fio d'água. Vimos lavouras de soja perdidas devido à seca. Vimos outras plantações que não soubemos identificar, amareladas e murchas. Trabalho perdido. O solo está muito seco. Foi uma boa oportunidade para perceber os prejuízos da seca no interior. A nuvem de poeira levantada na passagem do grupo era grande. Observe no fundo do vale, na primeira foto desta página. Apesar de tudo, os vales estão verdes. Dois ou três jipes não tinham ar condicionado...

Riscos
Em uma única situação percebi risco que considerei elevado. A trilha ficou estreita na encosta do morro obrigando a passagem a poucos centímetros de uma pirambeira (precipício) enorme. Cair ali seria perda total do veículo. E talvez dos tripulantes.

Ao passar sobre uma árvore, já à noite, um jipe Suzuki foi atravessado por um galho de umas 2 polegadas de diâmetro. Foi algo raríssimo, disse Fábio, um dos organizadores do passeio. O galho entrou por baixo, rente à caixa de câmbio, perfurou o console no interior do veículo e ficou espetado no estofamento.
Há situações em que não há como voltar. É preciso ir em frente, de qualquer maneira.
De um modo geral achei o nível de segurança muito bom.

Solidariedade
Os trilheiros ajudam-se muito. Há um forte espírito de solidariedade. Tive a certeza de que ninguém seria abandonado no caminho em caso de dificuldade. Notícias do último participante do comboio eram freqüentemente verificadas pelo rádio.

Envolvimento
Zé da Brita, como é conhecido um trilheiro cinquentão (a maioria tem menos de 40) disse que nos finais de semana na praia volta e meia lhe vêm à mente assuntos de trabalho, perturbando o descanso. "Na trilha isso não acontece", comentou o empresário. O piloto precisa estar muito concentrado à trilha, e ainda atento às instruções via rádio. Além da atenção ao solo, é preciso dar conta do mato rente ao carro, da tração 4X4, do rádio (Talk About), e do tráfego do próprio grupo. E tem ainda a paisagem para apreciar.

Outras informações
O custo para participar do passeio foi de R$ 110,00 por veículo (incluindo refeição para duas pessoas). Além do combustível e das despesas normais de um veículo, é bom considerar geometria, polimento, e eventuais reparos na carroceria. Veja no vídeo como os jipes passaram bem perto de barranco em uma subida.
O pessoal que organizou o passeio percorreu a trilha anteriormente para certificar-se da viabilidade do trajeto. Além de indicar o caminho a seguir, orientam os participantes nas passagens mais difíceis.

É significativa a participação das esposas e namoradas. Alguns casais levam os filhos. A partida ocorreu às 8h em posto de gasolina próximo à saída de Porto Alegre. Chegamos de volta aí pelas 22h, rodando em torno de 400km. Participaram veículos Toyota, Land Rover, Suzuki, Mitsubishi e outros.

Em resumo
Descontração revezando-se com adrenalina em meio a cenários exuberantes e clima de muita camaradagem. Além do mais, trilha também é cultura. Não me convidem de novo porque eu vou aceitar, de cara!

Meus agradecimentos a Elemar Scherer e Eliane Nemoto que viabilizaram a realização do belo passeio.
______
(*) As informações sobre a história dos túneis foram obtidas em diversas fontes e podem não ser totalmente confiáveis.
(**) Pequeno site do Exército com mais informações sobre a ferrovia.

 

Vídeo do passeio
Para o download clique com a tecla direita do mouse aqui e opte por "Salvar Destino Como"
Vídeo de 5min, 9MB, zipado. Dependendo do tráfego na Internet poderá levar uns 10 minutos para baixar (com banda larga).
Havendo dificuldade para baixar o vídeo, diga-nos o que aconteceu: info@popa.com.br.
A qualidade do vídeo é típica de versões compactadas para a Internet (na versão DVD são 200MB).

Vídeo em DVD
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