Veleiro Passatempo em Buenos Aires
Expedição Rio de La Plata
Adriano Marcelino


07 Out 2007
Este ano a tripulação do Passatempo foi acometida de algumas dificuldades básicas para realizar um bom roteiro náutico, mas se houvesse participação de alguns voluntários, talvez alguma coisa fosse possível de se fazer. Daí tive a idéia de realizar algo um pouco diferente do tradicional, algo que não demandasse nem muito tempo, nem muito dinheiro. Em vez de navegar para o norte, em busca dos dias ensolarados dos trópicos, fomos atrás de temperaturas mais baixas, em latitudes mais altas. Quem sabe uma velejada até Buenos Aires e ancorar no belíssimo Puerto Madero e logo ao lado degustar algumas Parrilladas?

Vontade de velejar não faltava, o principal acessório para a empreitada estava saindo de uma pintura geral de fundo e costado, além de uma revisão total do sistema secundário de propulsão, o motor. Realinhamento, troca de bucha, verificação do alinhamento do eixo e uma verificação geral do barco, só faltava pouco, conseguir dois tripulantes que tivessem uns dias de folga e topassem bancar os custos. Por sorte rapidamente surgiram em vez de dois, três interessados. Só que como o barco só possui três camas, o último a ingressar na equipe teria que dormir no chão. Para quem gosta do mar, dormir no chão, na cama ou no cockpit, não tem a menor importância, o que vale mesmo é participar.

O único senão do passeio seria o que não deve acontecer em nenhuma velejada, limitação de tempo, pois só conseguimos 20 dias. Não pensava em simplesmente zarpar de Rio Grande e ir direto á Buenos Aires, e sim desdobrar a bela costa do Uruguai, mas tudo bem, veremos o que as condições meteorológicas nos possibilitarão fazer. E assim formamos a tripulação, Adriano Marcelino, comandante do PASSATEMPO (ICG), o Serginho Lourenço, comandante do LORA (ICG), o Anselmo Silveira, comandante do TAIÚ (ICG) e o marinheiro de primeira viagem em águas salgadas, o carismático Carlos Lorandi, comandante da lancha MIRAGEM (Marina Lessa).

Esta navegada serviria também para testar a eficiência dos dois novos lemes. Se bem que a meu ver, o melhor campo de teste para barcos é a nossa Lagoa dos Patos, com seus nordestões de verão e suas frentes de inverno. E como a modificação foi realizada em janeiro/07, já se experimentou de tudo um pouco, mas como nem todos concordam com isto, também teria que ser testado no mar, e um bom campo de provas seria a costa Uruguaia com seus fortes ventos de sudeste. Determinamos o período da viagem, primeira quinzena de setembro e se necessário fosse, estenderíamos até o dia 20.

Tiramos a última semana de agosto para os preparativos finais, abastecimentos de água, diesel, víveres e iniciamos a análise das previsões de tempo (Windguru, CPTEC e Buoy Weather). As primeiras previsões nos indicavam ventos favoráveis para descer até Rio Grande nos dias 30 e 31/08, mas o Serginho e o Anselmo só poderiam sair a partir do dia 02/09, portanto, dia 30/08 eu e o Carlinhos soltamos amarras do ICG às 15h, com um forte vento de sudeste, que a sul da Ponta Grossa soprava a mais de 30 nós (foto abaixo). A previsão era que no final da tarde rondaria para leste. Grande na segunda forra e trinqueta, fomos batendo num duro contra vento até a Praia do Sítio onde ancoramos às 21h, mas nada de rondar para o leste. Nossa idéia de ingressar na lagoa e tocar a noite toda, foi abortada. Dormimos o que o corpo achou necessário, pois como tínhamos que chegar ao amanhecer no Canal da Feitoria, não precisávamos de pressa para zarpar. Os dois parceiros que ficaram em PoA embarcariam em Rio Grande.

Dia 31/08 tivemos um dos raros dias de sol de nossa navegada, o vento não poderia ser outro, um ENE de 20 a 25 nós. Tomamos um café bem descansado a as 8h levantamos ferro do Parque de Itapuã, deixando para trás um belo som emitido pelos Bugios. Desta vez levantamos a grande na 2a forra e a genoa. No través da Ilha do Barba Negra o vento fraquejou para 15 nós, nos possibilitando velejar com tudo em cima. O Passatempo singrava a lagoa majestosamente no piloto automático, para que entre um mate e outro, fossemos jogando um pouco de conversa fora. Nossa idéia era de navegar sem forçar nada para não comprometer o equipamento. Fomos atrasando o máximo para chegar à Feitoria ao raiar do dia. As 17h o fraco vento leste parou totalmente nos obrigando a motorar. Uma hora depois o vento voltou de sudeste, nos possibilitando uma boa velejada, só que muito fria. Para nos protegermos, colocamos uma pequena lona no bordo em que entrava o vento.

As 19h deixamos o Dona Maria para trás, tinha baixado uma forte cerração que parecia mais um chuvisqueiro. Não avistamos o farolete nem pelo radar. Dois navios cruzavam a 1mn por bombordo, um subindo a lagoa e outro descendo. Durante a noite administramos a velocidade em no máximo 5 nós para chegar à Feitoria às 6h. E realmente entramos no canal no horário previsto, ainda escuro e com cerração fechada. Antes da Ilha Marechal Deodoro, cruzamos por um navio na mesma situação que a nossa, tateando, pois a visibilidade era de pouco mais de 30m. Fizemos todo o canal nesta situação e às 11h aportamos em Rio Grande. Logo depois, os outros dois tripulantes se integraram à equipe.

Dia 02/09 pegamos uma nova previsão que marcava ESE de média intensidade até 04/09 e logo em seguida, às 10h 30 min soltamos amarras do Rio Grande Iate Clube, para almoçarmos navegando. Em frente ao Terminal de Containeres baixou novamente uma cerração muito intensa nos forçando a uma parada técnica para fazer o almoço, na base do molhe de São José do Norte. Só às 15h a neblina dispersou-se um pouco, e enfim partimos rumo à barra, em meio a pesqueiros e navios cruzando com freqüência. A maré vazante chegava a cinco nós, praticamente nos jogando para fora, na marra. Nosso primeiro ponto a ser alcançado seria o través do Banco do Albardão. As 22h deixamos o banco pelo través, à 13mn da praia. As 6h do dia 03/09 passamos pelo Chuí (foto ao lado), entrando definitivamente em águas uruguaias. A chegada em La Paloma foi em grande estilo, noturna, com nevoeiro cerrado e correndo ondas empopado. As 19h amarramos em uma poita (borneo) do porto desportivo (foto abaixo), organizamos o barco e em seguida fomos a “Prefectura Naval” para darmos entrada no Uruguai. Trâmites relativamente rápidos, pois todo porto no Uruguai, possui ema repartição da Prefectura, para se dar entrada e saída do porto. Pediram-nos um documento que comprovasse nossa saída do Brasil, e como já tínhamos sido avisados pela Tina (FOREST), providenciamos o tal em Rio Grande. Só um ofício do Iate Clube já servia, ele foi sendo carimbado até Colônia.

Fizemos as 180mn de Rio Grande a La Paloma em 28h, totalmente à vela com uma média de 6,5 nós. Quando o vento apertava, chegávamos a desenvolver 9,7 nós, velocidade muito boa visto que o Passatempo é de aço e tínhamos uma forra na grande. O controle portuário nos recebeu muito bem, com dicas de como demandar o porto com baixa visibilidade e vento forte. O dia 04/09 amanheceu com vento nordeste, mas com muita chuva e trovoadas. Optamos em permanecer por aqui. Fomos à cidade pegar uma previsão e ligar para nossos familiares. Dia 05/09 o porto amanheceu “cerrado” devido à possibilidade de entrar um vento força 8, tiramos o dia para almoçar na cidade e refazer o rancho de bordo. Dia 06/09 o porto também estava fechado, agora por “niebla” a nossa famosa cerração. Apesar de muito abrigado, não agüentávamos mais ficar ali, pois já seriam 3 dias.

O vento força 8 não apareceu e a calmaria era total, fomos a Prefectura argumentar, mas para nossa segurança não nos permitiram zarpar. Com névoa não sai nenhum barco do porto. Mais tarde ficamos sabendo que tal precaução era devido ao acidente ocorrido há alguns anos atrás, onde um cargueiro partiu ao meio uma corveta da marinha, causando algumas mortes. À tarde deixamos nossa saída pronta, para quem sabe partirmos no dia seguinte. Primeiro se vai a Hidrografia e com recibo de pagamento em mãos vai-se a prefectura. A diária em La Paloma para um barco de 38 pés é de $ 84,00 pesos, cerca de R$ 8,00, com direito a água, se precisar de energia elétrica é um pouco mais caro, mas é muito difícil aportar no píer, pois ele é muito alto e sempre está lotado de pesqueiros.

Dia 06/09 acordamos às 5h ansiosos para zarpar, pois já estávamos em La Paloma há 3 dias, com calmaria total e neblina. Para variar nesta manhã a névoa continuava. Chamei o “Control La Paloma” e ainda não nos liberaram. Os nervos estavam à flor da pele porque sabíamos que com aquele tempo já estaríamos em Buenos Aires. Fiquei de chamá-los novamente em uma hora, e o fiz mais três vezes, até que às 8h a névoa deu uma dissipada e nos liberaram. Tínhamos que reportar nossa posição após algum período e não navegar a menos de 2mn da costa. Imediatamente soltamos amarras fazendo festa.

À medida que deixávamos o porto, o tempo ia abrindo e uma modesta claridade, com alguns poucos raios de sol, nos prestigiava , pois não o víamos desde o dia 31/08 quando saímos de PoA. Deixando para trás o Cabo Santa Maria, percebemos que a neblina envolvia novamente o porto, acho que este fenômeno é muito comum por aqui. Sorte que já estamos aqui fora. Até Piriápolis são 63mn. Cruzamos por Punta Del Este às 15h, e como o vento E nos favorecia, resolvemos ir tocando. As 23h passamos por Montevidéu nas mesmas condições, continuamos seguindo em frente, pois a noite anunciava ser boa. Durante a noite nada de tráfego e velejada muito tranqüila com o radar sempre setado para 4mn.

Traçamos uma rota de Montevidéu a Colônia do Sacramento bem pela costa, fora da rota de navegação e a uma profundidade de 5-7m. Pela manhã, aproximando-se de Colônia fizemos nova chamada no VHF, para avisar “Colônia Control” que estávamos chegando. As 15h do dia 07/09 atracamos no porto desportivo de Colônia. Repetimos o procedimento de entrada e já demos saída para o dia seguinte. Tiramos o resto da tarde para conhecer o centro histórico (foto ao lado) e a noite fomos atrás de uma “parrillada”.

Dia 08/09 às 7h comunicamos nossa saída e rumamos para Buenos Aires, o frio dos dias anteriores desapareceu e deu lugar a temperaturas de primavera, claro que com aquela conhecida nebulosidade. Essa travessia tem 26mn e a faríamos em 3h. Chegamos em Buenos Aires às 10h, recepcionados por uma bela regata com mais de 50 barcos. Chamamos o “Puerto Madero” e pedimos informações de possibilidade de atracação e prontamente nos deram as dicas: teriam lugar e a ponte abre a cada hora cheia, como já eram 10h 30 min, tivemos que ficar circulando ao lado dos buquebus (barcos de passageiro que fazem a travessia de B. Aires para Colônia e Montevidéu). Dentro do porto não é permitido atracar em lugar algum e quando a ponte abre é bom estar bem próximo, pois ela já fecha rapidamente.

As 11h entramos no Puerto Madero, atracando em um belo píer flutuante. Este a meu ver é o mais belo Iate clube da Argentina, sua localização é privilegiada, bem no meio da cidade. E dos principais pontos turísticos de B. Aires. A entrada aqui não é tão simples como no Uruguai, tivemos que pegar um táxi até o prédio da imigração, e é necessário a presença de toda a tripulação, não bastando só a documentação. Após, temos que ir a Prefectura Naval, que fica bem ao lado do atracadouro. Tiramos o final de semana para passearmos por B. Aires e segunda-feira, dia 10/09 às 19h iniciamos o retorno. Cruzamos o Rio de La Plata à noite e com o barômetro despencando. Ancoramos novamente em Colônia às 23h com muitos relâmpagos e alguma chuva. Na madrugada entrou um nordestão de 40 nós deixando a ancoragem bem mexida. Na poita é bem melhor que no píer.

Muito importante na travessia do Rio de La Plata é ficar fora da rota dos Buquebus, pois eles andam a 30 nós sem dar muita bola para barcos pequenos. O dia 11/09 amanheceu chovendo e com vento SE fraco. Fomos às compras e pouco antes do meio dia, soltamos amarras rumo a Porto Sauce. As previsões para os próximos dias não eram nada animadoras, ventos fortes de ESE. Esta navegada deu-se com vento de 15 nós bem na cara e chuva fina. Atracamos em Porto Sauce às 15h 30 min (foto abaixo). De almoço saiu uma fraldinha maturada, assada no forno com mostarda, acompanhada de arroz brando e salada de tomate. Já estávamos cansados de arroz com lingüiça. Este porto fica a 20mn de Colônia e a 63mn de Montevidéu. A cidade é Juan Lacaze, bem pequena como a maioria das cidades uruguaias. É um belo abrigo com dois molhes. Este porto Desportivo é bem na base de uma indústria papeleira. O custo da diária é de R$ 6,00 em poita, com água e banho.É o porto mais barato e abrigado do Uruguai, pena que ao anoitecer o processo industrial deixa o ar quase irrespirável. À noite comemos 2 pizzas e fomos dormir, para no dia seguinte partir bem cedinho.

Dia 12/09 acordamos às 5h na expectativa de zarpar rumo a Montevidéu. Para nossa surpresa, ao lado estava atracado um pequeno navio que leva caminhões até La Plata na Argentina. O vento era contra, mas sua força era mascarada pela indústria. Solicitamos permissão para zarpar, mas só nos permitiriam depois que o navio partisse. Algun tempo depois partimos logo atrás do navio. Soltamos a poita e ainda de noite deixamos à barra. A ondulação na saída já nos dava uma idéia do que seria a navegada. Vento na cara marcando 30 nós no aparente e corrente contrária de 1 nó. Nossa velocidade oscilava entre 2,5 e 3,5 nós dependendo da batida na onda. Levamos quase 2h para percorrer 6mn, como o total seriam 63mn, abortamos e retornamos ao porto só de genoa, andando a 7,5 nós. Tiramos o dia para caminhar pela pequena Juan Lacaze e completar nossas reservas de diesel. Uma nova previsão do tempo nos anunciava a possibilidade de zarpar no dia seguinte com vento ENE fraco, o que nos favoreceria em pelo menos uma orça apertada, com vento vindo de terra.

Dia 13/09 como o esperado, o vento realmente batia com a previsão, novamente o navio carregava caminhões e teríamos que esperar sua partida para depois sair. As 6h 30 min deixamos a barra do Sauce já com velas em cima rumo a Montevidéu. Com velocidade de 7,4 nós, levaríamos 8h de navegada. Velejada tranqüila com vento aparente de 18 a 20 nós e o Rio de La Plata bem mais tranqüilo que o dia anterior. As 16h estávamos no través de Montevidéu e o vento continuava do mesmo quadrante só que soprando a 26 nós. O barômetro baixou na parte da tarde de 1008 para 1002. Como teríamos mais 45mn até Piriápolis chegando lá só às 23h, resolvemos arribar para o Porto Buceu, aqui mesmo em Montevidéu (foto acima). Pegamos uma poita no belo Iate Clube Uruguaio às 16h 20 min. Logo se aproximou do Passatempo um bote com dois rapazes do clube, para nos dar apoio e levar-nos a terra. Solicitaram que reforçássemos as amarras porque havia aviso de vento forte para noite, fizemos bem em ter atracado ali. Banho em dia o Anselmo preferiu ficar no barco e o restante da tripulação foi ao mercado público comer um Assado de Tira e aproveitar para dar aquela tradicional ligadinha para casa. É uma lástima que a telefonia por satélite ainda esteja tão longe das possibilidades do Passatempo.

Todas as cidades possuem locutórios, nele telefonamos e utilizamos à internet. Para se ligar a cobrar para o Brasil, é só discar 000455 e seguir os passos da gravação. Assim que entramos no Porto Buceu, o vento diminuiu bastante e durante a noite nada do vendaval anunciado. Pela segunda vez nos abrigamos por causa desta previsão e não dava nada. As 2h acordamos com o barco vizinho de poita encostando-se ao nosso. A calmaria era total, tomamos café rápido e resolvemos zarpar direto para La Paloma. Seriam mais ou menos 110mn, mas se o tempo ficasse ruim aportaríamos em Piriápolis ou Punta Del Este. Demos uma arriscada, pois o barômetro permanecia muito baixo e relampejava sobre a cidade. Coloquei um ponto no través da Isla de Flores safando um parcel de pedras. Monitorei a navegação até ali pelo radar.

A água doce do Rio de La Plata ficava para trás e algumas Noctilucas davam sinal de vida, anunciando a presença do mar em nossa esteira de popa. Os dois lemes além de eficientes, deixaram à esteira do barco mais bela do que já era. Na Isla de Flores colocamos um ponto no través de Punta. Teríamos 45mn e devido à calmaria avançávamos a motor a 7 nós de velocidade. Volta e meia o radar anunciava a aproximação de alguma chuva passageira. Eram 4h 45 min. Eu e o Serginho fomos descansar enquanto o Anselmo e o Carlinhos assumiam o quarto de guarda. As 7h entrou um SE fraco e levantamos as velas para ganhar uma milha por hora.

Aproveitamos a calmaria e deixamos Punta para trás (foto ao lado), pois nosso tempo estava se esgotando. Aportamos em La Paloma às 18h com mar bem tranqüilo, sem vento. Trâmites burocráticos realizados, tratamos de ir a cidade para uma caminhada e um bom jantar. Em La Paloma uma boa opção para ir a cidade é chamar o táxi do Sr. Wilian pelo canal 79 do VHF. A corrida do porto a cidade custa R$ 4,00, mas é um percurso bem interessante para se fazer a pé, principalmente se está confinado em um barco há muito tempo.

Dia 16/09 pretendíamos zarpar bem cedo, visto que para o dia 18/09 estava previsto um nordestão de 40 nós. Como sempre, acordamos às 5h, mas quando fui lá fora me deparei com, adivinhem o que? Isto mesmo, “niebla”e para variar o porto estava “cerrado”. Fiz-me de desentendido e comunicamos que estávamos zarpando. Categoricamente não nos permitiram e mandaram-nos aguardar mais um pouco. Eram 9h e nada de liberar, aí entrou em ação nossos assessores para assuntos diplomáticos do Mercosul, o Anselmo e o Serginho. Eles desembarcaram e foram a “Prefectura Naval” explicar a nossa situação, mostraram nossas previsões e afirmaram que se saíssemos muito tarde ainda teríamos mais problemas, entraríamos em Rio Grande á noite, sabe-se lá com que vento. Ficaram mais de uma hora na cerração e no frio, esperando o responsável. As 10h, meio contra a vontade eles concordaram. Tratamos de zarpar rapidamente antes que eles se arrependessem. Deixamos o porto às 10h 30 min, com muita cerração e ondas de 3 a 4m, as quais tínhamos que negociar com as que estavam arrebentando. O vento já era o SE de 15 a 18 nós da nossa previsão. Colocamos a proa rumo ao Brasil e um ponto no través do Cabo Polônio. A cada 4h de navegada, o Controle de La Paloma nos chamava, solicitava nossa posição, rumo, velocidade e condições “sanitárias”da tripulação. E assim foi até umas 10mn depois do Chuí.

Pelo través do Chuí, a 15mn da costa, o vento começou a nos castigar. Surgiram relâmpagos bem longe no horizonte, que rapidamente estavam em cima da gente. Raios para todo lado e vento aumentando até 48 nós. Era impossível ficar no cockpit, pois um raio poderia atingir o barco e ferir gravemente quem estiver do lado de fora, além da chuva que não caía, voava na horizontal. Permanecemos refugiados no interior do barco, só botando um olho para fora para fazer uma leitura do anemômetro. Grande na segunda forra e trinqueta, o barco voava no piloto automático, aliás, deste eu sempre fui fã e para mim é o primeiro acessório a ser adquirido para um barco. As 2h da madruga, cruzamos por 25 pesqueiros ancorados em frente ao Chuí, certamente devido as mas condições para entrar naquela precária barra. Chamei no VHF para me certificar que não estavam pescando com redes boiadas, pois naquela condição de mar, ficar trancado numa rede não deve ser nada agradável.

Quando clareou o dia o vento tinha amainado para 20 nós, nos possibilitando uma bela velejada. O dia estava um pouco mais claro que o dia anterior e sem neblina. Hoje conseguimos comer algo, lanches rápidos, pois o mar continuava muito mexido. As 17h do dia 17/09 entramos a barra de Rio Grande surfando ondas de 3m. Os novos lemes do Passatempo que já tinham sido testados no Guaíba e na Lagoa agora também foram testados em uma severa condição de mar. Aproveitamos a empopada, levantamos toda vela e seguimos direto a Pelotas, aportando no estaleiro Vilas Boas às 23h. A previsão para o dia seguinte era de passar vaca voando, um nordestão de mais de 30 nós. Realmente foi o que aconteceu. Deixamos o barco em Pelotas e retornamos a PoA de ônibus. Buscamos o barco dia 21/09, com previsão de ventos favoráveis. Saímos de Pelotas às 10h 30 min e aportamos no ICG às 8h do dia 22/09, depois de uma bela velejada noturna, com SE de 18 nós.
E assim encerrou-se nosso modesto cruzeiro a Buenos Aires, bons ventos para todos e até uma próxima.

Adriano Marcelino

 

 

 

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