07 Out 2007 Vontade de velejar não faltava, o principal acessório para a empreitada estava saindo de uma pintura geral de fundo e costado, além de uma revisão total do sistema secundário de propulsão, o motor. Realinhamento, troca de bucha, verificação do alinhamento do eixo e uma verificação geral do barco, só faltava pouco, conseguir dois tripulantes que tivessem uns dias de folga e topassem bancar os custos. Por sorte rapidamente surgiram em vez de dois, três interessados. Só que como o barco só possui três camas, o último a ingressar na equipe teria que dormir no chão. Para quem gosta do mar, dormir no chão, na cama ou no cockpit, não tem a menor importância, o que vale mesmo é participar.
Esta navegada serviria também para testar a eficiência dos dois novos lemes. Se bem que a meu ver, o melhor campo de teste para barcos é a nossa Lagoa dos Patos, com seus nordestões de verão e suas frentes de inverno. E como a modificação foi realizada em janeiro/07, já se experimentou de tudo um pouco, mas como nem todos concordam com isto, também teria que ser testado no mar, e um bom campo de provas seria a costa Uruguaia com seus fortes ventos de sudeste. Determinamos o período da viagem, primeira quinzena de setembro e se necessário fosse, estenderíamos até o dia 20. Tiramos a última semana de agosto para os preparativos finais, abastecimentos de água, diesel, víveres e iniciamos a análise das previsões de tempo (Windguru, CPTEC e Buoy Weather). As primeiras previsões nos indicavam ventos favoráveis para descer até Rio Grande nos dias 30 e 31/08, mas o Serginho e o Anselmo só poderiam sair a partir do dia 02/09, portanto, dia 30/08 eu e o Carlinhos soltamos amarras do ICG às 15h, com um forte vento de sudeste, que a sul da Ponta Grossa soprava a mais de 30 nós (foto abaixo). A previsão era que no final da tarde rondaria para leste. Grande na segunda forra e trinqueta, fomos batendo num duro contra vento até a Praia do Sítio onde ancoramos às 21h, mas nada de rondar para o leste. Nossa idéia de ingressar na lagoa e tocar a noite toda, foi abortada. Dormimos o que o corpo achou necessário, pois como tínhamos que chegar ao amanhecer no Canal da Feitoria, não precisávamos de pressa para zarpar. Os dois parceiros que ficaram em PoA embarcariam em Rio Grande.
Dia 02/09 pegamos uma nova previsão que marcava ESE de média intensidade até 04/09 e logo em seguida, às 10h 30 min soltamos amarras do Rio Grande Iate Clube, para almoçarmos navegando. Em frente ao Terminal de Containeres baixou novamente uma cerração muito intensa nos forçando a uma parada técnica para fazer o almoço, na base do molhe de São José do Norte. Só às 15h a neblina dispersou-se um pouco, e enfim partimos rumo à barra, em meio a pesqueiros e navios cruzando com freqüência. Fizemos as 180mn de Rio Grande a La Paloma em 28h, totalmente à vela com uma média de 6,5 nós. Quando o vento apertava, chegávamos a desenvolver 9,7 nós, velocidade muito boa visto que o Passatempo é de aço e tínhamos uma forra na O vento força 8 não apareceu e a calmaria era total, fomos a Prefectura argumentar, mas para nossa segurança não nos permitiram zarpar. Com névoa não sai nenhum barco do porto. Mais tarde ficamos sabendo que tal precaução era devido ao acidente ocorrido há alguns anos atrás, onde um cargueiro partiu ao meio uma corveta da marinha, causando algumas mortes. À tarde deixamos nossa saída pronta, para quem sabe partirmos no dia seguinte. Primeiro se vai a Hidrografia e com recibo de pagamento em mãos vai-se a prefectura. A diária em La Paloma para um barco de 38 pés é de $ 84,00 pesos, cerca de R$ 8,00, com direito a água, se precisar de energia elétrica é um pouco mais caro, mas é muito difícil aportar no píer, pois ele é muito alto e sempre está lotado de pesqueiros. Dia 06/09 acordamos às 5h ansiosos para zarpar, pois já estávamos em La Paloma há 3 dias, com calmaria total e neblina. Para variar nesta manhã a névoa continuava. Chamei o “Control La Paloma” e ainda não nos liberaram. Os nervos estavam à flor da pele porque sabíamos que com aquele tempo já estaríamos em Buenos Aires. Fiquei de chamá-los novamente em uma hora, e o fiz mais três vezes, até que às 8h a névoa deu uma dissipada e nos liberaram. Tínhamos que reportar nossa posição após algum período e não navegar a menos de 2mn da costa. Imediatamente soltamos amarras fazendo festa. À medida que deixávamos o porto, o tempo ia abrindo e uma modesta claridade, com alguns poucos raios de sol, nos prestigiava , pois não o víamos desde o dia 31/08 quando saímos de PoA. Deixando para trás o Cabo Santa Maria, percebemos que a neblina envolvia novamente o porto, acho que este fenômeno é muito comum por aqui. Sorte que já estamos aqui fora. Até Piriápolis são 63mn. Cruzamos por Punta Del Este às 15h, e como o vento E nos favorecia, resolvemos ir tocando. As 23h passamos por Montevidéu nas mesmas condições, continuamos seguindo em frente, pois a noite anunciava ser boa. Durante a noite nada de tráfego e velejada muito tranqüila com o radar sempre setado para 4mn.
Dia 08/09 às 7h comunicamos nossa saída e rumamos para Buenos Aires, o frio dos dias anteriores desapareceu e deu lugar a temperaturas de primavera, claro que com aquela conhecida nebulosidade. Essa travessia tem 26mn e a faríamos em 3h. Chegamos em Buenos Aires às 10h, recepcionados por uma bela regata com mais de 50 barcos. Chamamos o “Puerto Madero” e pedimos informações de possibilidade de atracação e prontamente nos deram as dicas: teriam lugar e a ponte abre a cada hora cheia, como já eram 10h 30 min, tivemos que ficar circulando ao lado dos buquebus (barcos de passageiro que fazem a travessia de B. Aires para Colônia e Montevidéu). Dentro do porto não é permitido atracar em lugar algum e quando a ponte abre é bom estar bem próximo, pois ela já fecha rapidamente. As 11h entramos no Puerto Madero, atracando em um belo píer flutuante. Este a meu ver é o mais belo Iate clube da Argentina, sua localização é privilegiada, bem no meio da cidade. E dos principais pontos turísticos de B. Aires. A entrada aqui não é tão simples como no Uruguai, tivemos que pegar um táxi até o prédio da imigração, e é necessário a presença de toda a tripulação, não bastando só a documentação. Após, temos que ir a Prefectura Naval, que fica bem ao lado do atracadouro. Tiramos o final de semana para passearmos por B. Aires e segunda-feira, dia 10/09 às 19h iniciamos o retorno. Cruzamos o Rio de La Plata à noite e com o barômetro despencando. Ancoramos novamente em Colônia às 23h com muitos relâmpagos e alguma chuva. Na madrugada entrou um nordestão de 40 nós deixando a ancoragem bem mexida. Na poita é bem melhor que no píer.
Todas as cidades possuem locutórios, nele telefonamos e utilizamos à internet. Para se ligar a cobrar para o Brasil, é só discar 000455 e seguir os passos da gravação. Assim que entramos no Porto Buceu, o vento diminuiu bastante e durante a noite nada do vendaval anunciado. Pela segunda vez nos abrigamos por causa desta previsão e não dava nada. As 2h acordamos com o barco vizinho de poita encostando-se ao nosso. A calmaria era total, tomamos café rápido e resolvemos zarpar direto para La Paloma. Seriam mais ou menos 110mn, mas se o tempo ficasse ruim aportaríamos em Piriápolis ou Punta Del Este. Demos uma arriscada, pois o barômetro permanecia muito baixo e relampejava sobre a cidade. Coloquei um ponto no través da Isla de Flores safando um parcel de pedras. Monitorei a navegação até ali pelo radar. A água doce do Rio de La Plata ficava para trás e algumas Noctilucas davam sinal de vida, anunciando a presença do mar em nossa esteira de popa. Os dois lemes além de eficientes, deixaram à esteira do barco mais bela do que já era. Na Isla de Flores colocamos um ponto no través de Punta. Teríamos 45mn e devido à calmaria avançávamos a motor a 7 nós de velocidade. Volta e meia o radar anunciava a aproximação de alguma chuva passageira. Eram 4h 45 min. Eu e o Serginho fomos descansar enquanto o Anselmo e o Carlinhos assumiam o quarto de guarda. As 7h entrou um SE fraco e levantamos as velas para ganhar uma milha por hora.
Dia 16/09 pretendíamos zarpar bem cedo, visto que para o dia 18/09 estava previsto um nordestão de 40 nós. Como sempre, acordamos às 5h, mas quando fui lá fora me deparei com, adivinhem o que? Isto mesmo, “niebla”e para variar o porto estava “cerrado”. Fiz-me de desentendido e comunicamos que estávamos zarpando. Categoricamente não nos permitiram e mandaram-nos aguardar mais um pouco. Eram 9h e nada de liberar, aí entrou em ação nossos assessores para assuntos diplomáticos do Mercosul, o Anselmo e o Serginho. Eles desembarcaram e foram a “Prefectura Naval” explicar a nossa situação, mostraram nossas previsões e afirmaram que se saíssemos muito tarde ainda teríamos mais problemas, entraríamos em Rio Grande á noite, sabe-se lá com que vento. Ficaram mais de uma hora na cerração e no frio, esperando o responsável. As 10h, meio contra a vontade eles concordaram. Tratamos de zarpar rapidamente antes que eles se arrependessem. Deixamos o porto às 10h 30 min, com muita cerração e ondas de 3 a 4m, as quais tínhamos que negociar com as que estavam arrebentando. O vento já era o SE de 15 a 18 nós da nossa previsão. Colocamos a proa rumo ao Brasil e um ponto no través do Cabo Polônio. A cada 4h de navegada, o Controle de La Paloma nos chamava, solicitava nossa posição, rumo, velocidade e condições “sanitárias”da tripulação. E assim foi até umas 10mn depois do Chuí. Pelo través do Chuí, a 15mn da costa, o vento começou a nos castigar. Surgiram relâmpagos bem longe no horizonte, que rapidamente estavam em cima da gente. Raios para todo lado e vento aumentando até 48 nós. Era impossível ficar no cockpit, pois um raio poderia atingir o barco e ferir gravemente quem estiver do lado de fora, além da chuva que não caía, voava na horizontal. Permanecemos refugiados no interior do barco, só botando um olho para fora para fazer uma leitura do anemômetro. Grande na segunda forra e trinqueta, o barco voava no piloto automático, aliás, deste eu sempre fui fã e para mim é o primeiro acessório a ser adquirido para um barco. As 2h da madruga, cruzamos por 25 pesqueiros ancorados em frente ao Chuí, certamente devido as mas condições para entrar naquela precária barra. Chamei no VHF para me certificar que não estavam pescando com redes boiadas, pois naquela condição de mar, ficar trancado numa rede não deve ser nada agradável.
Adriano Marcelino
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La Paloma
Colonia
Porto Buceo
Porto Madero
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