Velejando em Santa Catarina
Do Iate Clube de Santa Catarina Veleiros da Ilha (Florianópolis) a Porto Belo, SC
Fernando Maciel

“Navegar é física e espiritualmente restaurador”
Geraldo T Linck

23/11/06 – 13:30h
Com esta idéia, vamos eu e Marta de Garopaba para Florianópolis, o plano era sair ainda durante a tarde de quinta-feira, mas não contávamos com as obras da BR 101 as quais nos tomaram preciosas horas, acabamos chegando ao Veleiros da Ilha ás 16:00h. Então como de costume carrega, verifica, carrega, olha, confere, da saída no barco e aqui neste espaço aproveito para agradecer a todos os amigos que fizemos neste belo clube, que nos apoiaram e nos abrigaram, também as preciosas dicas do Paulo Heck, velejador das antigas ex. VDS, da turma do Manota e do Lalau o Heck foi que ficou cuidando do Planeta enquanto ele ficou no Veleiros da Ilha.

Conversando com o Heck ele nos sugeriu visitar alguns lugares que de acordo com ele são obrigatórios antes de seguirmos viagem para Porto Belo, com a carta 1903 Canal Norte de S. Catarina ele vai navegando com o dedo indicador nos apontando os lugares abrigados de ventos de todos os quadrantes e os pontos a serem evitados.

Olho para o relógio e são 18:00h, resolvo mais uma vez dormir no clube e aproveitar o chuveiro e o restaurante do clube, o restaurante do veleiros da ilha tem pratos e bebidas de qualidade e preços baixos em relação a POA.

Lá pelas 22:00 já de banho tomado e com os estômagos saciados, resolvemos dar uma caminhada pelos trapiches e para nossa surpresa novamente encontramos o Heck que resolve nos sacanear.

-Querem ver um barco de 34 pés, que tem mais espaço que um 36’?

-Vamos nessa, eu não faço doce para conhecer barcos.

Pois o sacana nos levou até o trapiche sul e parou diante de um Beneteau 34’, embarcou e logo foi abrindo todo o barco, só não era zero porque navegou da França até Floripa, são impressionante o espaço interno e o acabamento deste estaleiro, não é necessário dizer que sonhei com aquele barco.

24/11/06 – 07:45h
Saímos do clube a motor, aproando para o vão central da ponte com uma brisa de NE. Abro a genoa mas logo após passar a ponte já há enrolo novamente pois o vento aumenta e entra na proa de cara. Lembro na hora de uma das dicas do Heck: para ventos do quadrante N, a Pta. da Ilhota é uma ótima pedida. Seguindo as dicas e com a carta 1903 na mão vou aproximando da bóia luminosa a W das Ilhas Guarazes e Pedra Diamante na marcação RM 018° e distância de 03MN do vão central da ponte. Deixando por BE esta bóia toma-se o rumo RM 050° são mais 04MN até a Pta. da Ilhota que fica na marcação S 27°29’547” W 048°32’247” WGS 84 do clube até aqui são 09 MN.

Realmente é um excelente abrigo de ventos de N, com praia e restaurantes à beira mar, todos com deck e trapiche, mas só para lanchas. O calado não permite a aproximação de veleiros de quilha fixa como o nosso. Eram 09:45h quando fundeamos em 2,5 metros.

Bote na água e em pouco tempo já explorávamos o lugar todo, fazendo uma gostosa caminhada e fotografando compulsivamente, não demorou muito para nos instalarmos em um dos decks de um simpático restaurante e enquanto minha tripulante se esbaldava ao sol eu saboreava uma cervejinha no ponto em uma mesa, protegido por um guarda sol. Acabamos almoçando neste mesmo lugar e após um breve descanso retornamos ao Planeta. Noto agora que o vento havia aumentado consideravelmente. Já com os famosos carneiros se apresentando, suspendo o ferro. Eram 13:20h quando resolvemos conhecer mais uma das dicas do Heck: o Tinguá.

Recanto dos Navegadores - Armação da Piedade
Praias desertas, enseadas tranqüilas e abrigadas, construções históricas e vilas de pescadores fazem deste lugar, o melhor ancoradouro da região da Ilha de Santa Catarina.

Armação da Piedade é, por excelência, local de gente do mar: navegadores, pescadores...Aliás, em algumas de suas praias e pequenas enseadas só se chega de barco. E tem gente que vem de muito longe em busca das suas águas esverdeadas, praias ainda desertas, manhãs tranqüilas com gaivotas brincando no quintal do barco. No verão, ali podem ser encontrados veleiros de todos os portos. A maioria é de Florianópolis e Porto Belo. Há muitos gaúchos, alguns europeus... Como aves de migração, é certo que, mais cedo ou mais tarde, todos vão voltar... Não há como resistir ao encanto daqui!

Abrigo contra os ventos
Armação da Piedade não é apenas o melhor ancoradouro da região; é o único que oferece opção de abrigo para todos os ventos. Se ventar nordeste, os barcos ficam em Armaçãozinha e Tinguá. Se entrar uma frente fria, todos procuram o abrigo da Ponta do Magalhães.

Localizada no município de Governador Celso Ramos, no continente, em frente à parte norte da ilha de Santa Catarina, esta grande baía é formada por muitas praias e pequenas enseadas.

A enseada mais ao norte é Armação, conhecida pelos velejadores como Armaçãozinha. Bom fundeadouro tem uma pequena praia, uma colônia de pescadores e uma igrejinha construída pelos primeiros imigrantes açorianos.

A oeste, entrando na baía, fica a enseada do Tinguá. Não confundir com a praia do Tinguá, do outro lado do morro, voltada para o mar aberto. Só é possível chegar até esta enseada pelo mar, de barco. Lugar deserto, quase virgem, só há duas casas por ali, normalmente vazias. Junto com Armaçãozinha, é o ancoradouro preferido pelos velejadores.

Saindo da Pta. da Ilhota (foto ao lado) contornamos a mesma para deixar a Pta. na nossa popa e colocamos a proa entre a Pta. Norte da Ilha Ratones Grande e o Pontal da Daniela RM 340°. Esta perna me lembrou muito o Guaíba e a nossa Lagoa dos Patos, ondas altas e curtas não dando trégua em nenhum instante numa orça safada e um balanço desconfortável, e tome pancada.

Cheguei à lógica conclusão que se tratava do efeito do forte vento combinado com o baixio do banco da Daniela que em sua extremidade S chega a 0,7 metros.

Passamos entre o Pontal e a Ilha com 3,5 metros, é bom lembrar que existe um casco soçobrado com profundidade desconhecida na marcação RM 330° e distância de 1,25MN da Pta. da Ilhota no alinhamento com a Pta. Norte da I. Ratones Grande.

Navegamos no RM 340° até a posição S 27°27’450” W 048°33’480” Través do Pontal (WGS 84) e acertamos o rumo para RM 032° proa na Enseada da Armação deixando a I. Anhatomirim por BB na chegada coloque a proa entre as duas casas e não se assuste, pois a praia é funda mesma, a gente vai chegando, chegando e a profundidade não diminui, fundeamos as 16:00h em 3,0 m e distante no máximo 50 metros da praia na posição S 27°22’497” W 048°32’332” (WGS 84).

Esta praia dentro da enseada abriga de ventos NW a SE.

Da Pta. da Ilhota até o Tinguá são mais 09MN.

Bote novamente na água e seguimos para praia para esticar as pernas e matar a curiosidade, a praia é pequena e se vai de uma ponta a outra em 15 minutos, areia clara, mar verde esmeralda e o Morro do Tinguá ao fundo é de tirar o fôlego.

Tudo devidamente fotografado, resolvemos tomar um banho de mar, saímos e sentamos na beira da praia observando um pescador que passava preguiçosamente com sua canoa, ele encostou na areia puxou a canoa para a linha acima da maré e sem a menor cerimônia veio dizendo:

-Não tem nada que preste na TV vim foi pescar!

Fico impressionado e até acho que invejo as vidas desprendidas e simples desta gente, que fala com todo mundo e conhece a todos num raio de kms., e nós que moramos em edifícios muitas vezes não conhecemos os vizinhos do mesmo andar em que moramos.

Já anoitecendo voltamos ao barco. Ainda aproveitei para mais um mergulho da popa antes do “banho”.

No Planeta fizemos algumas melhorias para obter um pouco mais de conforto. Entre elas, instalamos na popa uma ducha e uma bomba de pressurização em conjunto com três tanques de inox com capacidade para aproximadamente 200 litros de água. Dois destes tanques estão na proa e um a meia nau a BB. Oportunamente vamos mostrar as principais modificações feitas para esta viagem.

Praia deserta, bem abrigada, temperatura agradável, banho no cockipt em boa companhia – Isso não tem preço!

Após o jantar chequei a metereologia e constatei que os ventos de N dariam uma trégua das 06:00 às 10:00h.

25/11/06 – 07:00h
Fomos deixando para trás sem muita vontade este pedacinho de céu. Nosso novo destino é Ganchos. Passamos pela Armaçãozinha, Pta. do Mata-Mata, Pta. da Armação fazendo uma navegação costeira, porém segura sempre. Atento à carta e ao mar, mantínhamos uma distância aproximada de 0,5MN de terra suficiente para passar safo por pedras e lajes. Com a proa na posição S 27°17’213” W 048°31’113” (WGS 84), deixamos a Ilha de Ganchos por BB e contornamos a Pta. de Ganchos a uma distância segura. Fique atento aquele que chega por aqui a primeira vez. É possível passar entre o continente e a Ilha de Ganchos, porém abra no mínimo 0,25MN da ponta para só depois virar a BB.

Foi uma navegada tranqüila até o través de Palmas com a mestra e motor, e em seguida abrimos a genoa para só baixar os panos em frente ao ICC-Ganchos, (Antiga Marina de Ganchos), fica também no município de Governador Celso Ramos.

Vale lembrar que a enseada de Ganchos é formada por quatro pequenas enseadas; por ordem, a partir da ponta de Ganchos: a primeira é Ganchos de Fora, depois a enseada de Ganchos, a terceira é Calheiros e por último a enseada de Canto de Ganchos.

O ICC - Ganchos fica na enseada de Calheiros. Fomos aqui mais uma vez muito bem recebidos pelo Sr. Serafim e sua família, esposa e filho Mateus, funcionários do IATE CLUBE CAIOBÁ. Chegamos ao trapiche às 09:10h e o Mateus veio nos dar as boas vindas e pegar os cabos de nosso veleiro dizendo:

-A gente estava esperando vocês ontem, o pessoal lá do Caiobá passou um fax avisando que vocês iriam chegar!
Do Tinguá até o ICC – Ganchos que fica na posição S 27°18’950” W 048°33’651” (WGS 84) fizemos mais 10,5MN.

No trapiche o calado é de 3,5m além de pontos de água e luz à disposição, destaque para os banheiros impecavelmente limpos e com duchas aquecidas por painéis solares. É possível também tomar café da manhã e almoçar no restaurante, porém temos que avisar previamente.

Nós já havíamos estado aqui em outras duas oportunidades, quando o local operava ainda como marina e pousada, e era propriedade do Sr Claitom.

Agora arrendada pelo I C CAIOBÁ, da família do Sr Claitom, já falecido, funciona como sub sede e a pousada é de uso exclusivo dos sócios. Para chegar aqui como nós e utilizar a marina tem de ser feito um contato direto com CAIOBÁ. Para não quebrar a cara, entrar em contato com iateclube@icc.com.br com o Sr João Ricardo Cunha de Almeida ou Srta. Josiane Deconto.

As três primeiras diárias dos barcos são gratuitas e as demais R$30,00 o dia, vale dizer que o sócio do CAIOBÁ paga 20,00. Dica do Sr Serafim: - Não chegue sem contatar com o pessoal de Caiobá.

Um passeio que vale a pena em Ganchos é subir o Morro do Pinheiro, o mesmo das Antenas. Caminhada de dificuldade baixa a média com aproximadamente 45 minutos, mas, a vista compensa todo o esforço (fotos ao lado e abaixo).

Na praia indo em direção oposta à marina existe dois bares. O último vale a pena, fomos muito bem atendidos e os preços são muito camaradas. Foi mais um lugar difícil de soltar as amarras e seguir em frente. Me pergunto quantos ainda estão por vir?

26/11/06 – 10:00h
Banho e café na subsede, e em seguida nos despedíamos do seu Serafim e família para seguirmos até Porto Belo. Até lá seriam mais 19 MN e a metereologia avisava que não devíamos nos demorar mais, pois estava entrando uma frente fria com fortes ventos lá pelas 15:00h.

Colocamos a proa na Pta. de Zimbros e com um ventinho camarada NW seguimos velejando suavemente fazendo 4 nós. À medida que nos aproximávamos da Pta. de Zimbros, tornamos a fazer aquela navegação costeira mantendo uma distância segura 0,5MN com a proa entre o continente e a Ilha do Amendoim. Atenção para a Pedra da Cruz afastada 03MN da Pta. de Zimbros na posição S 27°13’282” W 048°31’105” (WGS 84) e para as Ilhas Mondobins igualmente afastadas da costa 03MN entre a Pta. de Zimbros e o canal da Ilha do Amendoim na posição S 27°12’539” W 048°39’297” (WGS 84).

Navegamos tranqüilos entre a Ilha do Amendoim e Pta. do Morcegão (continente), para em seguida ganharmos o través da enseada de Mariscal, aqui abandonamos a carta 1903 e passamos a usar por um curto tempo a 1902, colocamos a proa na Pta. de Bombas na seqüência Pta. das Garoupas, e novo rumo com ajuste dos panos agora Pta. de Porto Belo. Cuidado para pedra visível na marcação RM 332° e distância de 0,2MN da Pta. das Garoupas em frente a Bombinhas.

Contornando a Pta. de Porto Belo já trocamos novamente de carta para a 1810, mais detalhada, e rapidamente chegamos ao Estaleiro. Apesar de seu tamanho acanhado, a Praia do Estaleiro guarda inúmeros tesouros e mistérios.

Lendas à parte, Estaleiro é um lugar tão especial que qualquer observador sensível descobrirá logo o verdadeiro tesouro a usufruir. Sua estreita faixa de areia (Algo em torno de 100 metros) é banhada por águas limpíssimas e, dependendo do dia, de extrema transparência. Encravada entre dois costões de pedra, num lugar onde a Mata Atlântica quase mergulha no mar.

Seguindo adiante, entramos motorando lentamente entre a Pta. da Caixa D’Aço e a Ilha João da Cunha e então dobramos a BB para dentro da enseada da Caixa D’Aço. Uma das histórias curiosas do lugar é a origem do nome da enseada de Caixa D’Aço. Foi dado pelo oficial britânico Robert McDouall, comandante de uma esquadra portuguesa de 11 navios.

No dia 17 de fevereiro de 1777, para evitar o combate com uma esquadra espanhola de 116 navios, McDouall refugiou-se no abrigo natural. Durante dois dias o comandante espanhol Pedro de Cevallos Cortez y Calderón vasculhou a área sem encontrar nada. Daí o nome da enseada, que significa “cofre-forte” e é um excelente local de ancoradouro, protegido de todos os ventos. A esquadra espanhola prosseguiu rumo ao Sul e tomou a Ilha de Santa Catarina, de onde só saiu um ano depois com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, que selou a paz entre Portugal e Espanha.

Seqüência de pontas de terra que avançam e recortam o mar de forma irregular, desenhando algumas das paisagens que estão entre as mais bonitas do litoral catarinense:

Caixa d’Aço, Bombas e Bombinhas, Mariscal, Quatro Ilhas, Canto Grande, Zimbros, Ganchos...

Navegar por estes mares é um raro privilégio, desses que os navegadores nunca esquecem! Bons ventos, águas tranqüilas e transparentes, excelentes ancoradouros, praias de areia branca, mata atlântica fazendo sombra em costões virgens.

16:00h
Canal 77 – Chamava o Iate Clube de Porto Belo para avisar que estávamos chegando. Minutos depois um bote já nos escoltava para o abrigo do clube, que vindo do Caixa d’Aço e deixando a Ilha João da Cunha por BE é facilmente avistado a BB na posição S 27°08’420” W 048°32’120” (WGS 84).

O clube fica a 1km do centro, na enseada Encantada. Iate clube muito bonito, bem cuidado, trapiches flutuantes, muros de proteção contra marolas, uma verdadeira marina! Não tem convênios e barcos visitantes pagam diárias progressivas e salgadas iniciando com R$85,00 a diária para a primeira semana.

Mas depois de se conhecer a estrutura toda (fotos ao lado e acima) como banheiros e vestiários, que nada ficam a dever para os melhores hotéis e resorts, bar e restaurante igualmente impecáveis, e tudo mais que você possa imaginar e muito mais...

Confesso que achei de certa forma justo pois deixamos o Planeta em segurança e durante as 24h que permanecemos no ICPB, o serviço era de um resort.

A Marina Tedesco em Camboriú - SC só esta recebendo embarcações acima de 38'. Eles alegam a altura de seu pier, mas aceitam visitas. www.tedescomarina.com.br

Nosso próximo destino é São Francisco do Sul, a 65MN de Porto Belo.

Fernando Maciel
Veleiro Planeta Água VDS

 

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