Planeta Água - pintou o clima!
Primeiros passos na arte da vela
Fernando Maciel

10/03/2006
F
inalmente o barco voltou para a água, se passaram vários meses entre reformas e compras de novos equipamentos. A transformação do Planeta Água de veleiro de regatas, para um veleiro de cruzeiro foi bastante trabalhosa. Muitas ordens, muitos pedidos, muitos apelos, muito stress e por fim eu já estava fazendo muitas suplicas para que fossem terminadas as obras em nosso Delta 26.
Oceano, sim este era o antigo nome de nosso valente Deltinha, foi construído inicialmente para regatas e mais tarde foi barco escola da extinta Oceano - escola de vela que tinha sua sede no Iate Clube Guaíba, conduzidos pelas mãos do professor Marcelo Lopes, ali mesmo demos nossos primeiros passos na arte da vela.
Se existe um culpado, por este aprendiz de escriba se atrever a escrever alguma coisa sobre vela, o nome dele é Marcelo Lopes, uma das belas amizades que fizemos no meio náutico.
Sexta-feira, final de tarde, Marta e eu vamos até o clube para dar uma olhadela na agora nova "casinha", satisfeitos com o que encontramos, ficamos a lamentar o fato de não termos levado roupas e mantimentos para ali ficarmos durante o final de semana. Resolvemos então providenciar tudo o que faltava, no sábado estávamos novamente prontos para por ordem no Planeta que literalmente seria nosso pequeno mundo nos próximos meses. Ajeita daqui, limpa dali, abastece de água, combustível, testa motor do barco e do bote e quando vemos já são 16:00h, resolvemos então dar uma navegada para ver como o brinquedo se comportaria. Foram muitas mudanças, temos que ter certeza que tudo esta em ordem e vai funcionar com perfeição, afinal sou virginiano de certidão.
Vamos lentamente saindo do abrigo do clube, somos então presenteados com um vento leste que nos leva para fora dos moles que protegem os trapiches do ICG. Passo o leme para minha imediata e peço que ponha a proa no vento para que eu possa adriçar o grande.
- Faço o que ? - Pergunta Marta.
Com a adriça na mão grito:
- Bota a proa no vento... Aproa... Aproa...
- Onde ta o vento ? - Pergunta Marta com os olhos vasculhando ao redor.
- Olha a biruta, o index... - digo já perdendo as estribeiras.
- O que ? - Marta, já com cara de assustada.
- Marta, olha lá no topo do mastro... Bota a proa na mesma direção pra onde aponta a flechinha... - Penso...(#§*''{°°¢+>z? putz...)
Lentamente o Planeta vai aproando com o vento, consigo levantar o grande, mas não totalmente, pois a proa passa pelo vento e temos que reiniciar a manobra. Com o grande parcialmente adriçado, navegamos "empopados" em direção ao farolete da Piava, agora só a vela, apenas o som da água no casco do Planeta e alguns resmungos da tripulação. Temo que seja algo contra este capitão e relacionada a manobra anterior.
A poucos metros da Piava mudamos o rumo, colocamos a proa na direção da Usina do Gasômetro, agora vamos de carona com um travezão gostoso com direito a umas rajadas abagualadas que de tanto em tanto me obrigam a folgar a escota do grande.
- Dá uma caçadinha no burro - Ordeno do alto de meu posto.
- Faço o que ? Com quem ? - Marta, mais uma vez sem entender nadica de nada.
Definitivamente vamos ter que começar do começo, penso comigo mesmo. Tenho que me acalmar, pois já noto nestes pouco mais de 20 minutos de "viagem", ares de tripulação querendo se amotinar. Nos últimos três anos, venho participando de regatas em Porto Alegre, Florianópolis e São Paulo e já incorporei ao meu vocabulário o "nautiquês", pobre da minha imediata, levou um tempo até caírem as minhas fichas e eu entender que não estava a bordo do "Mutley" com minha tripulação safa. Nunca é tarde para se reconhecer as mancadas, vou tentando contornar a situação com paciência, alias paciência é um opcional que no meu caso não veio de fábrica.
Chegando nas proximidades do cais do Porto, entramos no Jacuí, vamos navegando a dois nós, apreciando as belas casas construídas as margens do rio, o movimento dos lancheiros e dos jets, passam os barcos de turismo Cisne Branco e o Noiva do Caí.
Entramos pelo Canal da Conga e iniciamos nosso retorno. Como é bonito este lado de Porto Alegre! Um lado que só o povo da água pode contemplar, que espetacular é este pedaço do Delta do Jacuí.
Paz reinando a bordo, selinhos... O amor também é lindo.
Olha só, ta montado o cenário... Paisagem bonita com direito a pôr-do-sol, capitão bonito que só se vê em filme americano e imediata lindaça que nem laranja de amostra... Pintou o clima.
Chegamos no clube por volta das 19:00h, velejamos, motoramos enfim observamos o comportamento do Planeta, agora meio novo.
Com o barco já quietinho no box do clube, taco fogo na churrasqueira de bordo, enquanto as tiritas de costela e os medalhões de filé assam, minha imediata abre o bar e serve uma cervejinha no ponto. Que baita investimento foi a geladeira de 12V comprada para o Planeta. Estômagos saciados, banho tomado, tripulação recolhida para o conforto de sua cabine.
Domingo me disseram que o Planeta no sábado a noite era só coraçõezinhos... Que barbaridade!


Praia do Sítio (Rio Guaíba)

 

Tapes (Lagoa dos Patos)

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