Um cruzeiro a Rio Grande
Belíssima recepção onde a Lagoa dos Patos vira mar
Danilo Chagas Ribeiro


Partimos de Porto Alegre rumo a Rio Grande a bordo do Fast310 My Way, às 10:30h de uma terça feira. Motoramos até o Farol de Itapuã, com vento de proa.

Na Lagoa dos Patos este vento sudeste permitiu uma boa velejada até o nascer do sol, já quase na entrada do Canal da Feitoria. Foi por ali que amanheceu o dia, às 06:56h. Motoramos entre barcos de pescadores até Rio Grande, onde chegamos às 14:55h da quarta-feira, 01/02/06, em umas 29 horas de navegada.


Em frente a São José do Norte tomamos o canal utilizado pelas barcas que interligam esta cidade a Rio Grande (1,4mn). Foi uma tentativa. Como encalhamos (calado 1,70m), tivemos que seguir pelo caminho mais longo e mais profundo, passando pelo Porto Novo (6,6mn). Dois dias depois conseguimos passar pelo caminho das barcas graças à atenção do prestativo comandante Maia do RGYC, que nos ensinou a passagem mais profunda dentro do canal (ao lado).


Navegando pela Lagoa dos Patos
A navegação pela Lagoa é simples. Basicamente consta do contorno dos bancos. São pernas longas. Já quando o vento sopra forte, a baixa profundidade do "mar de dentro" faz com que a amplitude das ondas seja exagerada em relação ao comprimento (de onda).

O canal da Feitoria (~40mn) é navegado a pano somente com ventos muito favoráveis, e nunca à noite, dada a largura e os baixios. Saindo fora do canal, há baixios sem fim pra todos os lados por todo o percurso. Há ainda o perigo dos talvez milhares de postes cravados à beira do canal para fins de pesca. Mesmo assim, bem sinalizado, o canal é navegado facilmente pelo visual.

Os 4 tripulantes foram divididos para faina em turnos de 2h. É difícil dormir nos primeiros turnos de 2h, mas nos seguintes, o cansaço ajuda.

Fartura de GPS a bordo
Cada tripulante levou seu GPS. Com mais o GPS do barco e outro que estava lá, eram 6 equipamentos GPS a bordo. Os pontos (waypoints) do Emilio recheavam o meu GPS. Dois GPS foram utilizados durante toda a velejada. Um deles, na cabine, contendo a rota preparada antes da partida, e outro, no cockpit, indicando dados atuais daenavegação, gravava o track, etc. Resta informar que 1 GPS é suficiente, e que 1 de reserva é muito bom. Os 2 GPS que o velejador Susto carregava na subida da costa brasileira ficaram inoperantes em uma ocasião: o portátil estava com pane e o do barco sem energia: depois de vários dias de chuva o painel solar não carregava a bateria.

Retornamos a Porto Alegre por via rodoviária no sábado, 04/02/06. O veleiro voltará a Porto Alegre brevemente.

Rio Grande
Rio Grande tem localização estratégica. Situa-se onde a Lagoa dos Patos chega ao mar. Desde o tempo do Império os molhes da barra eram reivindicados. A obra é gigantesca. A cidade abriga o primeiro iate clube gaúcho, a primeira biblioteca do estado, e outras obras pioneiras no Rio Grande do Sul.

O tráfego aquaviário na região mostrou ser predominantemente de pescadores. Há também tráfego de grandes navios de carga. Vários terminais, como o de contêineres, formam o super-porto. A sede do 5º Distrito Naval da Marinha localiza-se em Rio Grande (estátua d'a sereia, na foto ao lado).
Em frente à cidade de Rio Grande está São José do Norte. Na saída para a barra está o Saco dos Pescadores, abrigo de traineiras. São locais que ficarão para visitar em uma próxima vez.

Rio Grande Yacht Club
O clube náutico é muito bonito. Os trapiches de concreto com instalação de energia elétrica e de água potável (Comte Emilio conectando a mangueira na foto ao lado) são excelentes. A iluminação dos trapiches é formidável. Os associados são hospitaleiros e foram muito simpáticos conosco. O Comandante Ricardo Habiaga, do RGYC, muito gentil e prestativo, trouxe-nos diversas informações interessantes. O Comandante Pires, ex-comodoro do RGYC, levou-nos à rodoviária. O pessoal da secretaria, a exemplo dos demais funcionários do clube, é também muito prestativo.

Há em torno de 50 barcos atracados. A marina é toda enrocada. Em um enorme e bem cuidado gramado existem diversas churrasqueiras cobertas, algumas à beira d'água. A piscina do clube é muito boa, sendo permitida sua utilização por visitantes. Os banheiros são amplos, muito bem cuidados e oferecem um banho muito bom. O restautante no segundo andar do prédio principal tem uma varanda com vista para a piscina e para os trapiches. O buffet diário tem comida saborosa. Um guincho de bom porte e hangares altos garantem a manutenção dos barcos no clube.

Abrigo de navegadores
Os tripulantes do My Hobby, barco visitante de bandeira panamenha, esperavam um novo leme para seguir a Punta del Este. Quando estavam a 80mn da costa, tendo Mostardas no través, perderam o leme em um temporal com 50 nós de vento. Foram resgatados pela corveta Benevente e o barco foi levado ao RGYC. Os velejadores do Avanti aguardavam a frente fria para subir a Parati. E outros estavam lá para conhecer Rio Grande. O RGYC é o ponto de encontro de velejadores de várias nacionalidades e destinos.

Comodoro Guto Vieira da Fonseca
A recepção no Rio Grande Yacht Club foi excelente. O Comodoro Guto Vieira da Fonseca foi incansável. Já na chegada disponibilizou-nos churrasqueira e todos os utensílios necessários ao nosso churrasco. Facilitou-nos serviços de tele-entrega, levou-nos às compras na cidade, e deu-nos carona de carro prá lá e pra cá.

Fotógrafo extraordinário, Guto (foto ao lado) apresentou-nos um slideshow com belas imagens que fez de velejadas por Rio Grande.

Sempre irradiando alegria, Guto ofereceu um saboroso anchovaço aos velejadores visitantes do RGYC, no Recanto dos Assadores. Eram anchovas assadas inteiras em fogo de chão. Estava uma delícia. O pessoal ficou reunido até tarde trocando as experiências das velejadas. O grupo formado por jovens e por outros nem tanto, incluía velejadores e velejadoras.

Guto sabe muito bem como prestigiar os visitantes do clube e o faz com grande expressão. Exerce o cargo de comodoro com grande desenvoltura, tornando a estadia dos visitantes no RGYC extremamente agradável e gerando muita vontade de voltar. Nas conversas de trapiche o que mais se ouve é elogio ao Guto. Nosso anfitrião, enfim, foi exemplar.

Conversei com o Comodoro Guto sobre o grande evento náutico que o popa.com.br e o RGYC estão por promover, entre P. Alegre e Rio Grande. Atendendo às sugestões recebidas dos velejadores de Rio Grande e de Porto Alegre, será mais para Cruzeiro e Velejaço do que para regata. Faltam poucos detalhes para definir a data.

Levando a avó para velejar
Quando meu pai, que me botou nessa de velejar, já estava bem doente, eu quis levá-lo para uma última velejada. Havia armado um plano que incluía embarcar o Velho pelo guincho, etc. Acabei não conseguindo. Lá no RGYC presenciei o embarque de uma senhora magrinha de 91 anos. Ela foi carregada a bordo do O'Day23 Sunshine nos braços dos tripulantes. Era a avó do comandante. A cena me deixou comovido.
Dois dias depois, embarcado aí pela meia-noite, ouvi conversas na marina. Não havia vento. Olhei em volta e vi o Sunshine chegando, a remo, com o que me pareceu ser outra tripulação. Remavam com o pau de spinnaker.

Barcos chegando, barcos saindo
No dia seguinte à nossa chegada, o veleiro BB36 Riacho Doce/VDS atracou no RGYC. Alguns dias depois o catamaran Avanti, de 43 pés, atracou também, rumo a Parati. O veleiro Vida (Delta36 ) estava por lá aguardando uma frente sul para seguir para Salvador. O veleiro Canibal/VDS acompanhou-nos durante todo o trajeto e seguiu para Florianópolis no domingo, dia 5, junto com o Vida e o Avanti. Casos como estes e o do My Hobby são comuns no RGYC. Isso traz muita dinâmica ao clube, muita troca de experiência, muita alegria.


A procissão de Nª Sª dos Navegantes reuniu grande número de embarcações, a maioria formada por pesqueiros (foto ao lado).
Navegamos em frente ao balneário Cassino com "mar de almirante", ao sul do molhe oeste.

A tripulação do My Way/ICG foi formada por Pedro Boletto (comandante), João Pedro Wolff, Emilio Oppitz, e eu.


Local
Horário
Dist. acum. (mn)
Porto Alegre
10:30h (31/01/06)
-
Farol de Itapuã
14:33h
22,7
Navio naufragado Álvaro Alberto
19:00h
47,4
Farol Cristóvão Pereira
21:50h
64,4
Banco Dona Maria
23:40h
74,7
Banco do Vitoriano
02:35h (01/02/06)
91,3
Canal da Feitoria (Cisne)
08:11h
118,8
Canal São Gonçalo
10:40h
135,5
São José do Norte (encalhe)
13:16h
151,2
Rio Grande Yacht Club
14:55h
159,5 (28:36h)
Vel média: 5,58mn; Vel máxima: 8,9mn

Track para o caminho mais curto entre São José do Norte e o Rio Grande Yacht Club
O My Way (calado 1,70m) passou sem problemas. A maré no local pode variar de 30 a 40cm no máximo, segundo informações recebidas.


Track da c
arta acima, para Ozi Explorer, arq plt, zipado, 2KB
(início: RGYC)

Imediatamente ao sul da torre de alta tensão que cruza o canal (não indicada na carta de 1988) há um canalete (a leste) demarcado
com bandeirolas vermelhas indicando a entrada para o Saco dos Pescadores. Infelizmente não pudemos
navegar até lá. A forma da Ponta dos Pescadores mostrada na antiga carta não parece corresponder à realidade.

"ALTATENSAO" S32º 07,804' W052º05,865'

 

Os molhes de Rio Grande. Na extremidade do molhe Leste há tetrápodos de concreto sobre as pedras.

 

A linha vermelha é o track do My Way no mar

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