Rumo à REFENO
Diário de Bordo do Passatempo e Entre Pólos
Subindo a costa do Brasil rumo à regata Recife - Fernando de Noronha
Comte Adriano Machado
De Porto Alegre à Ilha do Bom Abrigo 12 Ago 2005 22:17 Os Barcos: Sexta-feira 29 de julho. Como a previsão para os próximos dias era de vento norte a noroeste de 8 a 12 nós e só entraria uma nova frente no dia 6/08, dia 01/08 decidimos zarpar rumo a Floripa nem que fosse no motor, o que ocorreu em 90% do percurso. Soltamos as amarras do Rio Grande Iate Clube às 6h e às 8h deixávamos a barra numa baita calmaria. Em Rio Grande a tripulação do Passatempo mudou, desembarcando o Gervásio (Veneza) e o Anselmo (Taiú) e embarcando o Robinson, do veleiro Cruzoé, de São Lourenço. Mar verde esmeralda, calmo, com muitos pingüins e lobos marinhos. Preparamos nosso caniço e logo já estávamos curricando. Devido ao bom tempo optamos em fazer uma navegação costeira, ficando entre 20 e 30 m de profundidade e mantendo uma distância de umas 10 a 15 mn da costa. Nesta região não perdemos nunca o sinal de celular e falamos com várias estações de rádio como: Veleiro Juti na praia da Varzinha, rádio farol de Tramandaí, rádio farol de Cidreira e dois radioamadores de Atlântida. Pesca inusitada Na altura do Porto de Imbituba, o norte apertou para 27 nós mexendo muito com o mar e aumentando a corrente contrária para 1,5 nós. Entramos a barra sul de Floripa às 17h. com muito vento e 2 nós de corrente contrária, fazendo com que chegássemos ao Veleiros da Ilha às 19h 30min. Pernoitamos no clube. Dia 4/8 abastecemos cedinho para aproveitar o pico da maré baixa que seria às 8h 10min, para passar pelas pontes e seguir para Porto Belo. Pelo caminho decidimos dar uma paradinha na Ilha de Anhatomirim. Após um belo passeio pela ilha, o qual tivemos que solicitar via telefone para para a Universidade Federal de Floripa, porque estava fechada para visitação pública. Deixamos a ilha e com um ventinho fraco nos dirigimos rumo a Porto Belo numa lenta velejada, enquanto o Tarugo e o Entre Pólos seguiam a motor. Às 14h cruzávamos entre a ilha do amendoim e o continente quando vimos que a duas ou três milhas a frente, aproximáva-se uma baita serração. Em seguida não enxergávamos 50m à frente do barco. Cruzamos por Bombas e Bombinhas, contornamos a Ponta de Porto Belo entrando no Cachadaço às 19h com a ajuda do radar, pois o ploter não possui carta detalhada da região. Ancoramos bem no fundo da baía após ter passado por vários veleiros e pesqueiros que ali estavam ancorados. Organizamos o barco e o Robinson fez frente na cozinha, preparando um belo carreteiro de charque lorenciano, o qual foi degustado acompanhado de um belo vinho Condotta. Como estava previsto para o domingo ou segunda a entrada de uma frente, tiramos o dia 5/8, sexta-feira para comprar mantimentos, iscas artificiais, e almoçar em terra. Na primeira hora da tarde enquanto o Robinson foi a Camboriu comprar uma máquina fotográfica eu e o Selmo fomos até o Iate Clube de Porto Belo para abastecer com diesel e água. Voltamos para o Cachadaço e a noite fizemos um belo churrasco a bordo. Neste dia o Comandante do Entre Pólos, o Gigante, aproveitou para resolver problemas pessoais, visto que possui negócios nesta cidade. Dia 06/08 demos uma bela velejada até Itapema onde desembarcamos para comer uma anchova à moda da casa, no restaurante Cabral, localizado no extremo norte, da praia, totalmente abrigado de noroeste, norte e nordeste, que eram os ventos que estavam ocorrendo neste dia. Fomos recepcionados pelo Sr. Braz do veleiro Jornal que já deu uma volta ao mundo num 29 pés e atualmente executa um projeto social em Itajaí. Do Cachadaço a Itapema tivemos o privilégio de contar com a parceria do Dr. César Augusto que foi conosco até Itapema. Não é sempre que almoçamos a beira mar namorando nossos barcos bem ancorados ao largo. Assim que retornamos aos barcos, lá pelas 16h, o vento rondou de norte para sudoeste e apertou atingindo 33 nós forçando-nos a regressar a Porto Belo a motor. Primeiramente tentamos ancorar no Cachadaço, mas o vento acelerava muito na descida do morro, fazendo com que o Entre Pólos garresse uma vez sua âncora. Devido a esse contratempo, optamos em fundear em frente ao IC de Porto Belo, visto que o fundo ali, possui boa tensa. Apesar do vento forte, passamos uma noite muito tranqüila. Dia 07/08 ás 6h zarpamos com destino a Ilha do Bom Abrigo já que a marinha anunciava ventos fortes para as zonas, beta e charlie e foi o que realmente aconteceu. Saímos com pouco vento, e poucas horas depois, já estávamos rizados e com a trinqueta. O vento rondava entre o sul e o sudeste. Em pouco tempo o mar cresceu atingindo 3 a 4 metros de onda, fazendo os barcos andarem um pouco além da conta, já que são pesados e basicamente de cruzeiro. Mesmo assim, o Passatempo registrou 10.1 nós, e o Entre Pólos 9,5. De Porto Belo a Ilha do Bom Abrigo são aproximadamente 127mn. Caiu a noite e ainda teríamos 8h de navegada . Com os barcos correndo onda no meio da escuridão, não restavam outras coisas a fazer, a não ser certificar-se bem da navegação, planejar a aproximação da Ilha e não deixar atravessar numa onda mais ousada. À 1h iniciamos o contorno da Ilha com o radar, e o ploter, mantendo uma distância segura, pois além da escuridão total, ficamos sabendo pelos pescadores que o farol está apagado há muito tempo, o qual deveríamos ter avistado à 23mn de distância. Procuramos um lugar com menos ondas possíveis e ancoramos. Primeiramente ancorei muito próximo dos rochedos, levantamos ferro e nos afastamos um pouco mais, ancorando com 8m de profundidade, baixando 30m de corrente e mais 15m de cabo 16mm. Comemos uma pizza e rapidamente fomos dormir. Dia 08/08 continuava o aviso de ventos fortes para aquela região, por isso decidimos que só sairíamos dali depois que cessassem os avisos. O vento soprava de sudoeste a vinte e poucos nós, mudamos de ancoragem algumas vezes, mas o desconfortável balanço não cessava. À noite o vento rondou para noroeste fazendo com que deixássemos a nossa ancoragem por uma mais afastada da ilha. Se entrasse o temporal teríamos lazeira para fazer alguma manobra se necessário. A noite foi relativamente tranqüila, exceto pelo balanço e constantes avisos de mau tempo. Dia 09/08 o vento aumentou para 30 nós aumentando também o balanço. Não parava de chegar pesqueiros e ligeirinho contamos 25. Neste dia o comandante se sobressaiu na cozinha preparando uma feijoada, arroz com açafrão e uma omelete com seis ovos. Dia 10/08 às 6h entrou a palmeira. O vento foi aumentando e não acreditamos, chegou a 64 nós, e como se não bastasse a força, entrou de oeste, praticamente anulando nosso "abrigo" demos 30m de corrente e 50m de cabo 16mm e em pouco tempo a onda de oeste chegava a dois metros, que aliado à correnteza e uma gigantesca vaga de 4m que vinha do outro extremo da ilha, logo logo tornaram o ambiente insuportável, inclusive baixando a moral de toda a tripulação. Algumas horas depois, o Entre Pólos garrou sua âncora e passou a poucos metros do Passatempo, neste momento, já escorávamos o barco com o motor na lenta. O Entre Pólos ferrou novamente a uns 100m a nossa popa. O vento soprou a 50 nós a manhã toda. Depois de umas três horas nesta última ancoragem, o Robinson teve a idéia de verificar como estava o cabo e quem sabe colocar um pedaço de mangueira para reforçar e evitar uma possível ruptura, só que quando fui verificar, tomei um susto, o cabo de três pernas já estava com duas rompidas e o barco estava sendo seguro só por uma (parabéns a Cordoaria São Leopoldo). A ruptura se deu por roçar em algo abrasivo, visto que o balancim tinha estourado, mas uma única perna agüentar as 9 toneladas do Passatempo, isto só deus pode explicar. Às 18h o vento resolveu se entregar e a paz voltou a reinar a bordo, trocamos a roupa molhada, comemos uma sobra do almoço do dia anterior e fomos dormir exaustos. |
Vídeo da RBS na partida de Porto Alegre:
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Carlos Altmayer Gonçalves Manotaço |
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