Rumo à REFENO (3)
Diário de Bordo do Passatempo e Entre Pólos
Subindo a costa do Brasil rumo à regata Recife - Fernando de Noronha
Comte Adriano Machado

De Angra dos Reis a Búzios

Em 21 Ago 2005

Dia 17\08 o tempo continua colaborando conosco, céu azul anil com um alegre e radiante sol. Para variar tomamos um café com torradas, já que nossos pães não estão mais em condições de serem comidos in natura. Aliás, este é um item que deve ser adquirido o mais breve possível. A previsão do tempo marca uma frente chegando a Porto Alegre no dia 18\08 e ao Rio de Janeiro no dia 20\08. Pela foto de satélite, parecia ser uma frente com muita chuva, mas que já estava desviando para o oceano. Com isso resolvemos sair antes dela chegar, aproveitando a calmaria que reinava por Angra. Então programamos para deixar a Ilha Grande no dia 18\08, só que antes iríamos a Paraty.
Como este já se caracterizou como o cruzeiro da terceira idade, pois todos sofrem de pelo menos uma dor, após nossa tradicional cessão de alongamentos, eu e o Robinson fomos a nado para a praia, aproveitando o calor de 30ºC e o Selmo ficou a bordo encarregando-se da lida doméstica. Da Ilha do Cedro a Paraty são 10mn, pouco mais de uma hora de navegada. Zarpamos às 10h. Cruzamos entre as Ilhas do Araújo e Rapada, posteriormente deixando a Ilha do Mantimento à Bombordo. Deixamos também por bombordo a Laje da Tapera, cruzando entre a Ponta do Canta Galo e a Ilha do bexiga. Demos um alô para o Weber do veleiro Acauã, que tem base na Praia do Bexiga e ancoramos em frente à marina do Amyr Klink.

Para ir à cidade, fomos todos no bote do Entre Pólos. Tratamos dos mais diversos assuntos, como: banco, revelação de fotos, compra de materiais diversos e aproveitamos para almoçar. O Selmo como estava com dor em um pé, ficou a bordo cuidando os barcos. Retornamos às 14h 30min e às 15h levantamos âncora rumo a Ilha Grande, mais precisamente, o Saco do Céu. De Paraty ao interior do Saco do Céu são aproximadamente 32 mn, o que faríamos em umas 5h de navegada com um vento sul fraco. Navegada tranqüila, metade à vela, metade a motor. Chegamos ao nosso destino às 20h 30min. A calmaria era total, e como o céu estava limpo, a lua e as estrelas refletiam sua luminosidade no mar, fazendo com que o pessoal relutasse em deixar o cock-pit. Para o jantar, o capitão tinha se esmerado toda à tarde preparando uma feijoada, a qual foi acrescida apenas de um arroz branco. O capitão Gigante, como tinha coisas mais interessantes a fazer, alegou uma forte gripe e recusou-se terminantemente a compartilhar daquele momento de trago e conversa fora. Faina de cozinha feita, conversamos mais um pouco e nos recolhemos, pois no dia seguinte acordaríamos às 4h 30min para zarparmos às 5h.

Dia 18\08 como planejado no dia anterior, acordamos bem cedo e às 5h já estávamos navegando. Do Saco do Céu ao Rio de Janeiro são 64 mn. Cruzamos pela boca do Canal de Sepetiba com vento de 25 nós na cara, onda crescendo e lavando o convés. Lá pelas tantas resolvi investigar se todas as vigias e gaiútas estavam bem fechadas e aí veio a surpresa, a de proa estava meio aberta e o beliche de proa todo molhado, travesseiro, lençol e um edredom, que por sorte era meio impermeável, impedindo a água de passar para o colchão, reuni toda a bagunça e sequei o assoalho. Enquanto isso, lá fora o balanço aumentava. Imaginei que aquele vento e aquelas ondas eram conseqüência do comprimento e largura da Baia de Sepetiba, que canalizavam o vento que somados a corrente contrária, deixavam o mar muito picado. Resolvi que se do lado de fora da Ilha de Marambaia o mar e o vento continuasse assim, voltaríamos e esperaríamos condições melhores. O Entre Pólos talvez tivesse que encarar assim mesmo, pois a Cleuza embarcaria de volta a PoA dia 19 às 15h. Passando a ponta da Ilha confirmou-se a teoria do porque daquele vento e ondas. Ali o vento era de menos de 10 nós e num ângulo que permitia uma orça folgada, ou seja era um norte-nordeste fraco. Levantamos velas e auxiliamos com o motor para não baixar de 6 nós de velocidade. O Entre Pólos fez o mesmo. Às 11h deixávamos pelo través de bombordo a Ilha Raza da Guaratiba, chegando a dois terços do percurso. Neste momento o vento já tinha aumentado para 22 nós que aliados a 1 nó de corrente favorável, nos fazia andar a 8 nós de velocidade. Na altura da Barra da Tijuca o vento rondou para sudeste e fraquejou muito nos forçando a baixar as velas. O vento baixou para menos de 5nós, fazendo com que continuássemos a motor. Deixamos as Ilhas Cagarras por boreste e quando cruzávamos pela Praia de Copacabana, avistamos o Brasil 1 a cerca de 5 mn voando com um imenso balão branco. Ele estava no mínimo a 10 nós de velocidade, enquanto nós não saíamos do lugar com aquela aragem. Ancoramos na Marina da Glória às 15h 30min, demos entrada nos barcos e fizemos uma lavagem geral com água doce. Caminhamos pela marina e fomos tirar algumas fotos do Brasil 1.

Dia 19\08 o Robinson recebeu a visita de alguns parentes e saiu para dar um role pela cidade e comprar passagem para retornar dia 20\08. Nós ficamos pela marina, almoçamos em um restaurante e enquanto o gigante levava a Cleuza ao aeroporto, ficamos de bobeira curtindo o barco. Aproveitei para tratar alguma oxidação no convés. Às 17h chegou mais um tripulante do Passatempo, o Tau Golin, colega do I.C.G., pois o Robinson desembarcaria dia 20\08 e o Rui, mais um tripulante do Entre Pólos. No final da tarde o Selmo e o Gigante colaram algumas peças de madeira da popa do Entre Pólos que tinham descolado. Assistimos televisão, falamos com a família em PoA, fizemos um lanche e fomos dormir sedo.

Dia 20\08 aproveitamos a previsão do tempo a nosso favor e soltamos as amarras da Marina da Glória às 6h, vento fraco, quase zero. Cruzamos entre a Ilha da Mãe e a do Pai e às 8h deixávamos as Ilhas Maricás por boreste. Pouco depois o gigante pegou um atunzinho de uns dois quilos. Eu me empolguei e fui preparar o meu material, só que quando levantei o paineiro para pegar a caixa depareime com muita água no porão. Pedi para o Selmo desengrenar o motor para procurarmos por onde estava entrando aquela água. Imediatamente acionei uma bomba de 2500 galões para ir esgotando a água enquanto procurava o vazamento. Revisei todas as entradas e saídas de água e não encontrei nada. O selmo foi dar mais uma verificada na caixa do motor quando por acaso eu acelerei e ele percebeu que entrou água pelo selo mecânico, era por ali que realmente entrou toda aquela água, mais ou menos 1000 litros de água salgada, por sorte toda água ficou no porão, não malhando mais nada. O disco de aço inóx que fica junto ao carvão teflonado tinha cedido quase uma polegada por causa de dois parafusinhos harlem que afrouxaram. Com o motor na lenta, não entrava água, mas quando se acelerava, o motor era empurrado para frente, afastando o disco do teflon permitindo a entrada de água. Dada a pressão certa no disco do selo, o problema foi sanado. Que isto sirva de exemplo para todos os barcos que possuam este dispositivo. Ele é o mais eficiente de todos, mas pelo menos uma vez ao ano deve ser verificado quanto ao aperto dos dois parafusos e a pressão da sanfona de borracha. Por sorte a calmaria era total neste momento, já pensou esgotar um barco e achar um vazamento com vento forte e ondas grandes.

Resolvido o imprevisto, motoramos até umas 10 mn antes de Cabo Frio, onde entrou um vento de sul-sedeste e começamos a velejar, inclusive entrando no Boqueirão à vela. O boqueirão, para quem não conhece, é uma passagem de 200 ou 300m entre a Ilha de Cabo Frio e o continente. A Ilha de C. Frio forma uma baía bem protegida. No seu interior tem uma praia quase deserta de areias brancas e uma construção que parece ser da marinha. Para chegarmos a Enseada dos Anjos, onde fica a cidade de Arraial do Cabo, precisamos contornar um banco de areia bem junto à ilha, onde a profundidade cai dos 25m para 3,5m. Após ter contornado o banco, rumamos para a Enseada dos Anjos, onde o molhe de um porto comercial da muita proteção aos barcos ali ancorados, só que antes passamos ao lado de um submarino da marinha que estava ancorado do lado de fora do porto, para filmar e bater algumas fotos. Ancoramos numa prainha atrás do porto a uns 30m da praia, com profundidade de 5m. Desembarcamos todos no bote do Gigante e fomos dar uma caminhada pela cidade. Voltamos à tardinha e planejamos que no dia seguinte iríamos a Búzios aonde chegariam dois tripulantes do Entre Pólos.

Dia 21\08 acordamos em horário normal e tomamos café. O gigante foi à praia com o Tau e o Rui, enquanto eu e o Selmo ficamos assistindo o Grande Prêmio da Turquia de Fórmula Um. Terminada a corrida, para aguardar o pessoal que foi a praia, aproveitamos para trocar o antigo cabo de âncora de 16mm com 5 anos de muito uso, por 100m de cabo 18mm novo.
O Gigante voltou feliz, pois encontrou uma carretilha para pesca embarcada de barbada e comprou. Às 12h levantamos âncora e zarpamos para Búzios, distante dali umas 25mn. Cruzamos entre a Ilha dos Porcos e o continente e rumamos para a Ilha dos Papagaios, a qual deixaríamos por bombordo. O vento era um leste de 18 a 20 nós, nos possibilitando rumar para as Ilhas Emergências onde demos um bordo indo quase até a Ilha do Breu, ganhando altura para contornarmos o Cabo de Búzios. Neste local o mar estava bem mexido, talvez pela corrente de um nó no sentido contrário ao do vento. Contornamos o Cabo e às 15h 30min ancoramos na Enseada de Búzios bem a bombordo. Mais uma vez, desembarcamos no bote do Entre Pólos, que é mais fácil de baixar que o meu. Caminhamos pela cidade, fizemos algumas compras e retornamos ao barco. Às 18h chegou os dois tripulantes do Entre Pólos.

Índice

 

 

 

 

Envie seus comentários ao popa.com.br:

Seu e-mail:



CLICK APENAS UMA VEZ