Rumo à REFENO
Diário de Bordo do Passatempo e Entre Pólos
Subindo a costa do Brasil rumo à regata Recife - Fernando de Noronha
Comte Adriano Machado
De Búzios a Sta. Cruz de Cabrália 31 Ago 2005 Dia 25\08 às 6h levantamos âncora rumo ao Cabo São Tomé, que fica a 73 mn de distância. O vento iniciou o dia soprando de sudoeste fraco e na parte da tarde, rondou para sul, mas de boa intensidade, 15 a 20 nós. Às 16h, quando cruzávamos pelo Cabo São Tomé, 15 mn longe da praia, pescamos um belo Peixe Espada, que foi imediatamente devolvido ao mar, pois o balanço não era propício para limpar peixe, Além do mais, tínhamos ficado quatro dias totalmente encalmados em Búzios, perdendo o costume ao balanço. A Estação de Rádio Costeira, iniciou um aviso de vento forte com força 8 para as áreas Bravo e sul da área Delta, onde estávamos naquele momento. Do Cabo São Tomé rumamos direto para Vitória distante 108 mn. O vento, que era pela alheta de boreste passou para popa rasa, aonde os barcos chegavam a 8,5 nós nas corridas de onda. Ao anoitecer o Passatempo deu uma forra de rizo e o Entre Pólos deu duas. Como nós estávamos um pouco mais velados, na noite nos perdemos de vista. Cruzamos por vários pesqueiros e uma plataforma de petróleo. O Tau, fez o primeiro turno, das 20h às 23h eu, das 23 às 2h, o Selmo das 2h às 5h com o Tau encerrando pela manhã. Às 6h do dia 26\08 o vento após dar uma boa diminuída, rondou para sudoeste e apertou para 25 a 30 nós com chuva forte. Às 15h quando cruzávamos por Vitória, fizemos contato com o Entre Pólos que nos passou suas coordenadas, estavam 4 mn atrás. O tempo limpou e o vento diminuiu. Vitória é um grande porto exportador de café, madeira e minério de ferro. Como o vento continuava favorável optamos em seguir direto para Abrolhos, distante 165 mn. Seguimos velejando empopados e com bom rendimento, entre 6 e 7 nós. Ao cair da noite o vento já era leste e na madrugada, rondou para nordeste e soprou de 15 a 17 nós. Continuamos a vela e motor. Os turnos se repetiram de 3h para cada. Nesta noite o nosso radar recusou-se terminantemente a funcionar, não descobrimos o defeito. Por sorte só cruzamos por um pesqueiro. A previsão de chegada a Abrolhos era às 11h do dia 27\08. Na parte da manhã, o nordeste apertou para 25nós. E com a chegada do primeiro Pirajá, chegou a 32nós com uma chuva rápida. Para quem nunca ouviu falar nos pirajás, aqui vai uma breve explanação: são nuvens negras, isoladas que vem da mesma direção do vento e trazem normalmente, aguaceiros e rajadas de ventos, são muito comuns nas estações das chuvas na Bahia e seu tempo é bastante curto, de 10 a 20 minutos. Chegamos a Abrolhos às 12h e pelo caminho nos deslumbramos com a quantidade de baleias Jubarte. Para o almoço, o Tau preparou uma deliciosa massa com lingüiça. Após o almoço trocamos o óleo do carter do motor e todos os filtros. Nesta época do ano as baleias deixam a Antártica em busca de águas mais quentes para se reproduzirem. Estas baleias medem até 16m e podem chegar a 40 toneladas. Os filhotes já nascem com 5m e não mamam diretamente na mãe, apertam o seu ventre para que a baleia solte o leite no mar. Em novembro, quando os filhotes já adquiriram boa camada de gordura, elas começam sua viagem de volta para as águas geladas. Abrolhos é a maior concentração de recifes de coral da costa brasileira. É um Parque Nacional e por isso devemos respeitar várias normas de preservação. O desembarque só é permitido na Ilha Siriba, assim mesmo com o acompanhamento de guias do IBAMA. O arquipélago é formado por várias ilhas, mas as principais são: Ilha Santa Bárbara, a maior, que não pertence ao parque, e sim a marinha, a Siriba, a Redonda e a Sueste. Deixando a caracterização de lado, a janta foi fraca, torrada com refri. E como a navegada de 350 mn em 54h foi bem cansativa, acabamos indo dormir cedo. Dia 28\08. A madrugada em Abrolhos foi desconfortável, o nordeste apertou durante a noite fazendo com que entrasse uma onda paralela à ilha, balançando muito, e como pegamos uma poita em vez de ancorar, sofremos com o tirão que dava o cabo de amarra. Zarpamos às 6h em direção a Cumuruxatiba, distante 58 mn de Abrolhos e a 40 mn de Porto Seguro. O vento era um nordeste de 15 a 17 nós, nos possibilitando uma bela velejada em orça folgada. Chegamos às 16h. Cumuruxatiba é um vilarejo a meio caminho entre Abrolhos e Porto Seguro, portanto uma boa parada para quem optar em navegar somente durante o dia. Basicamente como em quase toda a Bahia, um recife de coral protege a praia na maré baixa e permite a entrada de algumas ondas na maré cheia. A ancoragem está dentro de uma linha de recifes na qual há uma abertura com um farol bem visível no lado norte da entrada. Vindo do norte ou do sul não há obstáculos na chegada. Aproxíma-se perpendicularmente ao recife, bem no meio da abertura, passando a uns trinta metros do farol, a profundidade neste local varia entre 6 e 7m conforme a maré. No lado de dentro existem pedras próximas aos extremos da entrada, portanto não podemos virar para bordo nenhum até uns 100m após ter entrado. Para quem desejar conhecer esta ancoragem provisória, aqui vão as coordenadas: A) lat 17 06 380, long 039 09 514, B) lat 17 06 160, long 039 09 906, C) lat 17 06 083, long 039 10 128, D) lat 17 06 125, long 039 10 538, nesta última ancora-se com 3m de profundidade ao norte de um velho trapiche abandonado. Dia 29\08. A noite foi tranqüila, 30m de corrente e uma ondinha suave colaborando com o sono. Como de praxe, acordamos às 5h e levantamos ferro às 6h. A saída foi tranqüila, pois soprava um terral de menos de 10 nós. Colocamos a proa rumo 61 graus, para passar no lado de fora do Recife de Itacolomis. O vento permanecia norte fraco nos forçando a motorar. Após contornar o Itacolomis, o vento ficou totalmente na proa. Neste momento pegamos um peixe de um quilo e pouco, muito parecido com Odete, o qual foi limpo e refrigerado. Na parte da tarde, o vento rondou para nordeste, e como de costume, apertou até 25 nós nas rajadas, mantendo-se na média de 20 nós. Fomos direto a Santa Cruz de Cabrália, 15 mn adiante de Porto Seguro. Entramos utilizando o Ozi Explorer em um computador portátil e a carta 1205 digitalizada. Entramos muito bem apesar de apreensivos. E às 15h ancoramos atrás da Ponta de Santo André. Sto André é um vilarejo que pertence ao município de Sta. Cruz de Cabrália, na desembocadura do Rio João de Tiba. O local de ancoragem é abrigado de todos os ventos, e protegido do mar por um longo recife na sua entrada. Sua demanda requer muita cautela devido às dificuldades ali existentes, principalmente se o nordeste estiver forte. À noite comemos uma massa no Entre Pólos, feita pelo Rui, jogamos um pouco de conversa fora comentando nossas boas demandas em locais que nunca tínhamos estado e voltamos para nossa casa (Passatempo). |
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