Rumo à REFENO
Diário de Bordo do Passatempo e Entre Pólos
Subindo a costa do Brasil rumo à regata Recife - Fernando de Noronha
Comte Adriano Machado

De Salvador a Recife

Em 13 Set 2005
Dia09\09, como acontece desde os primeiros dias no estado da Bahia o dia amanheceu ensolarado e soprando um leste-sudeste que acelera muito na descida da cidade. A temperatura às 7h já é de 29 o C.

Hoje é dia de preparativos finais para a largada do VIII Rali Náutico Salvador-Recife. Um evento que antecede a REFENO, largando do Centro Náutico da Bahia. Este ano participarão 15 barcos, e obviamente entre eles, o Passatempo e o Entre Pólos. Com isso economizaremos cinco diárias de R$ 25,00, que tomaremos de cerveja lá em Recife, 380 mn de distância.

Dia 07\09 recebemos mais um tripulante, o Serginho do veleiro Algazarra, lá do ICG. Mais um grande amigo que integrará a tripulação do Passatempo rumo a REFENO. Tripulação esta que foi definida em Rio Grande como no máximo 3 pessoas para maior conforto durante as navegadas. O Entre Pólos também recebeu gente nova, o Rafael do veleiro Tethys, lá do Jangadeiros e o Bertrand, velejador e aviador do ICG que possui um Ultraleve Corsário e está comprando um veleiro para iniciação à vela de cruzeiro. O Bertrand é engenheiro mecânico da Madef (Empresa de zincagem a fogo e equipamentos de refrigeração industrial) e junto com ele veio um bom patrocínio para nossos barcos.

Como ficamos uma semana em Salvador, aproveitamos para conhecer um pouco de sua história. Foi a primeira capital do Brasil, recebe 2,5 milhões de turistas por ano. Não é à toa que essa cidade originalíssima é tão procurada. Ela tem diversas atrações como o Pelourinho, atual cartão de visitas de Salvador, mas há várias outras atrações como: a Catedral Basílica; o Mercado Modelo; o Forte de São Marcelo; as Igrejas de N. S. da Conceição da Praia, de S. Francisco, da Ordem Terceira de S. Francisco; os museus de Arte da Bahia, de Arte Sacra, Carlos Costa Pinto; os solares do Ferrão, do Sodré e do Unhão e belos passeios de barco pela Baía de Todos os Santos que possui 800km2 de mar e algumas ilhas. Os limites da baía são a Ponta da Barra (em Salvador) e a foz do Rio Jaguaripe. Em volta dela há cidades históricas como Cachoeira, Sto. Amaro e Nazaré. E dentro da baía há cerca de 50 ilhas, várias das quais podem ser visitadas de barco. A maior e mais bela ilha de Salvador é a Ilha de Itaparica com seus 240km2.

Itaparica em tupi quer dizer “cerca de pedras” e o nome vem de uma barreira de corais que fica a 0,5 mn das praias voltada para o Atlântico. Essa barreira cria uma grande piscina natural com água limpa e morna. A verdade é a seguinte: Salvador para quem está acostumado à tranqüilidade da vida a bordo de um veleiro, e um verdadeiro pandemônio, muita gente, muito turista, muitos carros, etc..., mas respeitamos quem admira todo este burburinho da vida urbana. Fizemos muitos amigos e por coincidência, um dia depois da nossa chegada, chegou um Aruba 28 tripulado pelo Luciano Zinn, gaúcho de PoA.

Voltando ao nosso rali, às 13h 30min do dia 09\09 deu-se à largada, na raia eram 15 barcos, cerca de 10 brasileiros e 5 estrangeiros, das mais diversas classes, desde o Aruba (Antares), o menor, ao Super Maramu de 55 pés, o maior, inclusive dois catamarãs, um de 46 e outro de 35 pés. A largada se deu com o vento acelerando de cima da cidade entre 20 e 28 nós nas rajadas. Largamos bem e para nossa surpresa o Passatempo contornou o Farol da Barra em Primeiro, ao lado do Aruba e seguido de perto pelo Entre Pólos. Cruzamos por dentro do Banco de Santo Antônio em Primeiro lugar, mas nos quatro bordos seguintes, até cruzarmos a Ponta de Itapuãzinho fomos ultrapassados pelo Catamarã de 46 pés, o Super Maramu e um Beneteau de 45 pés. Já era noite quando cruzamos pela Ponta Açu da Torre, ao largo acompanhávamos o estrobo do Entre Pólos a cerca de 2 mn, hora na frente, hora atrás.

Amanheceu o dia 10\07 e para nossa surpresa nenhum outro barco tinha nos passado e o Entre Pólos ainda estava ao largo, a cerca de 3 mn. O balanço era infernal com um leste-sudeste de 20 a 25 nós. E como se não bastasse, volta e meia entrava um Pirajá, o primeiro eu estava dormindo e a tripulação não deu muita bola, acordei com o barco encostando a borda na água e correria no convés. Enrolamos a genoa e demos duas forras de rizo na grande, o vento soprou 15 min a 40 nós e depois voltou aos 20 nós. O dia transcorreu tranqüilo com vento nos proporcionando uma orça que às vezes apertava e outras folgavam até 70 o . Às 13h cruzamos por Aracajú que fica a 160 mn de Salvador, estávamos a 20 mn da costa, navegando na faixa dos 1000m de profundidade, por isso deixamos todas as plataformas de petróleo bem longe a bombordo. Nesta profundidade não encontramos nada de pesqueiros e navios, fora o corcovear devido à estrada esburacada, a noite foi muito tranqüila, mesmo com um ou outro Pirajá mais fraco. ÀS 20h estávamos cruzando pela foz do Rio São Francisco do Norte, 47 mn distante de Aracaju, continuávamos navegando entre 1000 e 2000 m de profundidade a 20 mn da costa. Em Aracaju só se entra com calmaria total e o Rio S. Francisco até que seria possível, mas durante a noite não arriscaríamos. Outra noite tranqüila com muito bom rendimento nas últimas 24h. Como no Rali todos tinham liberdade para motorar, nós também aproveitamos. Quando a velocidade baixava de 5 nós, metíamos vela de porão. Pelo rádio falávamos com outros barcos do rali e percebeu-se que alguns estavam tendo dificuldade devido ao vento forte e ondas relativamente grandes. Outros problemas sérios, tiveram os barcos que optaram em navegar junto à costa, alguns ficaram presos em redes, e obviamente pegaram um tráfego muito grande de pequenos pesqueiros mal iluminados e que não são visíveis no radar. O catamarã de 35 pés (Cata-Vento) que era o barco de apoio, teve um estai de proa rompido e muita infiltração de água salgada.

Às 5h do dia 11\09 deixamos Maceió pelo través, a 15 mn da costa. As condições de mar eram de igual a pior que o dia anterior, só nos permitindo comer frutas e fazer lanches rápidos. Pela manhã avistávamos o Entre Pólos a cerca de 4 mn pela popa. Pelo rádio ficamos sabendo que tinha escapado a adriça da trinqueta e devido ao vento forte só estava usando a grande na primeira fora e o motor. Do través de Maceió colocamos um rumo direto a Recife, desta vez nos aproximando ao máximo da costa para tentar livrar os pesqueiros que estavam entre 30 e 50 metros de profundidade. Nesta perna a proa passou a ser de 35 o nos permitindo uma velejada de través, com trinqueta e grande na primeira forra. Não baixávamos de 7,5 nós de velocidade, inclusive, às vezes, chegando a 8,5 nós. A essa altura perdemos contato de VHF com os 9 barcos que ficaram para trás, inclusive com alguns parando em Maceió.

O Entre Pólos também teve problemas com pesqueiros, atrasando um pouco seu rendimento, já prejudicado pela falta da vela. O balanço era demais para subir no mastro e recolocar a adriça. Nossa tática de aterrar radicalmente deu certo e corremos onda a noite toda aumentando muito nosso rendimento. A dúvida era se os três barcos que nos passaram no Farol da Barra também tocaram direto a Recife ou se tinham parado em Maceió. Imaginamos que com aquelas naves eles tivessem tocado direto. Na pior das hipóteses estávamos em quarto e o Entre Pólos em quinto. Na altura do porto de Suape estávamos a 4,5 mn da praia, com 20m de profundidade, trânsito livre e voando baixo com vento e ondas de três quartos de popa, pela alheta de boreste. O piloto automático manteve-se mais uma vez como o mais eficiente tripulante. Aproximamo-nos da barra de Recife pelo lado sul do quebra mar de fora deixandoo por boreste. Tudo muito bem sinalizado.

E às 2h 10min do dia 12\09 o Passatempo entrou a vela no porto e anotou seu horário de chegada. Passamos ao Entre Pólos pelo VHF as condições de chegada e ficamos sabendo que estavam a 15 mn da barra. Já dentro do porto, bem abrigado das ondas, aproamos para baixar a vela grande. Encerrado a faina, com o Serginho e o Selmo fechando a capa da vela, eu escutei um barulho de ferro caindo contra o casco e imediatamente perguntei se eles tinham derrubado algo no convéz, prontamente responderam que não, deixando um mistério no ar, só que quando engrenei o motor e virei o leme para colocar o barco no meio do canal senti que o leme não respondeu. Imediatamente colocamos uma cana de fortuna e corri para o compartimento do leme para ver o que havia acontecido. Tinha caído o pino de 3/4 de polegada que prende o braço do leme ao quadrante, por isso o barulho de ferro caindo sobre ferro, o pino é grosso e pesado. O acidente ocorreu porque em Salvador fizemos o conserto de uma infiltração de água salgada nesta ferragem e trocamos o contra- pino por um outro, só que por falha ele não deve ter ficado com as pontas bem dobradas. Cheguei a conclusão que não ficamos sem leme correndo ondas de três metros, dando uma baita atravessada e deixando a tripulação em pânico, porque aquela santinha que tanto nos ajudou lá no “Bom Abrigo”, ainda estava de plantão circundando nossos barcos, e a outra hipótese, era porque devido à pressão constante que o leme estava sofrendo, não deu folga suficiente para que o pino saísse do lugar. Como era muito simples de se resolver, feito o serviço, rumamos para o Iate Clube de Pernambuco, onde iríamos ancorar ao largo e esperar o dia raiar, para depois investirmos até o Cabanga Iate Clube. Para nossa surpresa realmente só tinham chegado até o momento, os três barcos descritos anteriormente. O Entre Pólos ancorou do nosso lado umas três horas depois, como estávamos muito cansados, não deu para esperá-los. Às 8h acordamos e fizemos um belo café com torradas para tirar o atraso das 61h que levamos de Salvador a Recife sem escalas. E às 10 h ancoramos dentro do Cabanga, onde vamos esperar até o dia da REFENO, 24\09. Aproveitamos para registrar nossos sentimentos a galera aí do sul, devido ao mau tempo com muita chuva e baixas temperaturas, pois nós por aqui estamos desde Abrolhos com temperaturas altas, banho de mar e muita cerveja gelada. Até mais.

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