Rumo à REFENO
Diário de Bordo do Passatempo e Entre Pólos
Subindo a costa do Brasil rumo à regata Recife - Fernando de Noronha
Comte Adriano Machado

De Recife a Fernando de Noronha, e de volta a Recife

Em 03 Out 2005
Dia 24\09 é o tão esperado dia da largada da REFENO. Estamos aqui em Recife já faz 13 dias passeando pela praia de boa viagem e Olinda com suas igrejas históricas. A maior parte do tempo é gasta curtindo a piscina do clube e conversando com as tripulações dos barcos que vão chegando. Quando chegamos, dia 12, não havia mais que 20 veleiros. Hoje são 90 ao todo, pois alguns desistiram e outros ficaram no Pernambuco Iate Clube, com águas mais profundas. Recife é considerado o porto mais fácil de entrar em todo o nordeste. A cidade oferece excelentes condições para abastecimento, e nesta época de REFENO, o Cabanga Iate Clube não mede esforços para facilitar a vida dos velejadores participantes. Este clube está localizado no outro lado do canal. Essa área é muito rasa e o canal de entrada para o clube é balizado por estacas de madeira, pintadas de verde e vermelho desde o través do último cais do porto até a bacia do clube formada por um quebra mar em forma de retângulo. Aqui a amplitude da maré pode chegar a 2,5m na maré de sizígia. Voltando ao dia 24, acordamos cedo para nos prepararmos para deixar o Cabanga e ancorar no P.I.C. Como são muitos os barcos e alguns com mais de 2m de calado, aproveita-se o horário da maré alta, que neste dia foi às 8h 30min. Neste horário todos os barcos querem deixar o clube ao mesmo tempo, formando um espetáculo a parte, com muita gritaria e até mesmo alguns xingamentos dos mais eufóricos. Nossa intenção era ter deixado o clube um dia antes, mas devido à quantidade de cabos atravessados no caminho, isto não foi possível.

Meu calado não preocupava, mas o Entre Pólos não podia bobear, se não, ficava preso dentro do clube. Então surgiu uma brecha entre a saída de um barco e outro e o Passatempo soltou amarras, sendo logo em seguida acompanhado pelo Entre Pólos. Ancoramos ao lado do P.I.C e aguardamos o horário de nosso check-in. Para a largada os barcos foram divididos em grupos de 20, sendo cada grupo adesivado com um número de uma cor. Foram cinco grupos e o nosso era o vermelho, seria o primeiro a largar às 12h. A comissão de regata levantou a bandeira da cor do adesivo e partimos para o respectivo check-in, onde teríamos que passar entre duas bóias próximas ao porto onde seríamos chamado pelo VHF e teríamos que confirmar o número de tripulantes. Neste local umas 3000 pessoas assistiam a largada. Em seguida retornamos para a área de partida para aguardar o procedimento de largada. Às 12h deu-se à largada, o Passatempo colado ao molhe de pedras e o Entre Pólos mais por fora a sotavento, largamos bem e saindo à barra logo abrimos boa distância dos demais barcos de aço, com exceção do Vadio, que disputávamos palmo a palmo. Caiu à noite e o vento apertou para 20 a 25 nós, nos possibilitando a aproximação de vários barcos que tinham escapado com o vento fraco da largada. Nesse momento a marinha faz uma chamada geral pedindo as coordenadas de todos os barcos. O Entre Pólos estava duas milhas atrás e o Vadio duas milhas à frente. Com este procedimento acompanhávamos a evolução dos nossos concorrentes. Na madrugada as posições se inverteram, nós tínhamos ultrapassado o Vadio que estava uma milha a trás, mas fomos ultrapassados pelo Entre Pólos que estava a três milhas a nossa frente. Tinha barco de aço oito milhas atrás já nas primeiras 24h. O vento permaneceu de leste-sueste praticamente todo o percurso, oscilando entre 15 e 20 nós, aumentando um pouco com os pirajás.

Às 7h do dia 26\09 avistamos Fernando de Noronha a umas 20 mn encoberta por uma bruma, dificultando muito a visualização de seus contornos. Nesse momento o Entre Pólos estava a duas milhas a frente, o Vadio e o Jamaluce a três milhas atrás e o Kanaloa bem no través. Cruzamos a Ponta da Sapata 20min atrás do Entre Pólos e disputando com o Kanaloa. Brigamos até a linha de chegada, mas o Kanaloa com seus 50 pés chegou 2 min à frente do Passatempo. Poucos lugares do Brasil concentram um número tão grande de praias estupendas, sem contar a fantástica paisagem submarina da região. O arquipélago é formado por 21 ilhas e ilhotas que ocupam uma área total de 26 km2 e são o topo de uma montanha submarina de origem vulcânica, cuja base está a 4000m de profundidade. A principal ilha é a de Fernando de Noronha com 17 km2 . A história do local é bastante rica. Foi descoberta em 1503 por Américo Vespúcio na expedição de Gonçalo Coelho. Depois foi doada pela Coroa portuguesa a um nobre que a batizou com o seu nome. Abandonada, acabou ocupada pelos holandeses e franceses, já que estava na rota de navegação para o novo mundo. Somente em 1737 Pernambuco a tomou para o Brasil. Ela foi visitada por pesquisadores como Charles Darwin, virou base de um presídio comum, foi base norte-americana e território federal. A principal atração da ilha é, naturalmente, sua água clara. Oferece um excelente abrigo para uma enorme quantidade de peixes tropicais e vida marinha em geral. Um mergulho em qualquer praia da ilha revela um mundo colorido e variado incrível. A melhor época do ano para se visitar a ilha de barco é no inverno, de julho a outubro, pois o vento predominante é o sueste. No verão, predomina o nordeste, tornando o Porto de Santo Antônio bem mexido.

Curtimos a ilha dois dias e às 10h 30min do dia 29\9, zarpamos junto com a regata até Salvador, no través das ilhas Dois irmãos, nosso motor parou de dar água, interrompeu a refrigeração. Notei imediatamente que o barulho da surdina mudou. Recolhemos a genoa e diminuímos a velocidade para eu descobrir o que aconteceu, como a umas 500h atrás eu coloquei um rotor “genérico”, 5 vezes mais barato que o original, logo pensei que fosse o tal. Precipitadamente desmontei a bomba antes de cruzar a Ponta da Sapata para evitar o balanço fora da ilha. Para minha surpresa o rotor estava como novo. Aí lembrei de uma situação semelhante a 2600 mn daqui, lá na Sanga da Helena, na querida Lagoa do Casamento, onde um pedaço de aguapé ficou preso no cano da entrada de água do mar. Para isso eu possuo um pedaço de cabo de aço de 1,5m de 10mm para retirar a tampa do filtro e introduzi-lo no cano. Remontada à bomba e desobstruído o cano, seguimos velejando rumo a Recife. Saímos junto com esta regata para aproveitar o acompanhamento de um navio patrulha da marinha, o Gravataí. Velejamos 150 mn nas primeiras 24h, quando o vento rondou para sul-sueste, devido a uma frente fria estacionária na altura de Salvador. Como o vento ficou quase contra e apertou, trocamos a genoa pela trinqueta e demos dois rizos na vela grande, o Entre Pólos continuou com tudo em cima. Este arranjo de velas nos possibilitou passar a noite com o barco bem estável, muito confortável para continuarmos no piloto automático e dormirmos tranqüilos. Nesta noite tivemos um momento de apreensão, um forte cheiro de queimado tomou conta do interior do barco, que estava lacrado devido ao mar que lavava o convés. Procuramos muito até descobrir que foi o rádio am, fm que entrou em curto devido a uma infiltração de água salgada. Às 7h 30min entramos a tranqüila barra de Recife e mesmo na maré baixa, fomos direto ao Cabanga dar uma geral no passatempo que nesta navegada foi bem castigado pelo mar. O Entre Pólos chegou 1h depois e também inicio uma faxina geral.

Com este breve relato de nossa velejada até Noronha encerramos nosso diário de bordo agradecendo as pessoas que na nossa falta tocaram o barco de casa sozinhas, possibilitando assim nossa subida da costa brasileira nestes últimos 60 dias. Agradecemos também a audiência dos navegadores do RS e para nossa surpresa de vários outros lugares onde pessoas mencionavam estar acompanhando nossa trajetória. É o popa.com.br curtido pelo Brasil afora. E agradecemos principalmente aos nossos amigos que mesmo distantes nos deram muita força e ao amigo Danilo que com a competência de sempre editou este diário.

FIM

 

 

 

 

 

 

 

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