Mayday,
mayday...
Sem condições
de manobra na Lagoa dos Patos
Danilo
Chagas Ribeiro
Na semana da Páscoa de 2004 tentamos rever o Cebollati, o bonito rio uruguaio já visitado pela Aline do Cmte Adroaldo Mesquita da Costa Neto. Quem sabe alcançaríamos desta vez o Arroio São Miguel, com as águas doces mais austrais do Brasil.
Tentativa noturna Pane nos motores O rumo foi alterado para São Lourenço do Sul, para que a manutenção fosse providenciada (veja carta mais abaixo). Uma meia hora depois o motor de bombordo parou. Prosseguimos até que o outro motor parou uns 15 minutos depois, coincidentemente. Era uma hora da tarde. Havia pouco vento e céu limpo, a não ser a oeste. No dia seguinte soube-se que a causa da pane foi filtros de óleo obstruídos. Isso de abastecer a lancha em lugares diferentes, de caminhões-pipa por aí, é complicado. Nunca se sabe da qualidade do combustível abastecido. Sem condições
de manobra no meio do nada A sensação de estar sem condições de manobra no meio do nada tenta incomodar a gente. É ímpar. Se V. nunca esteve em uma situação dessas, talvez possa ter uma idéia da desolação, vendo a cena de vídeo gravada do fly bridge**. "Meidei"? Depois de chamarmos pelo rádio
várias vezes o Iate Clube de São Lourenço sem êxito,
a solução foi pedir ajuda. Não recebemos resposta de
autoridade marítima alguma. Nem das estações de
rádio que fazem comunicação, como a Rede de Estações
Costeiras do Sistema Móvel Marítimo. Creio que de onde
estávamos nosso sinal não poderia ser captado de lugar
algum, a não ser por uma embarcação passando nas
proximidades. Dá uma sensação de abandono... |
Fazendo contato
por rádio Celular funcionando
na Lagoa Faço questão de contar algumas experiências desse evento. Mayday x Pedido
de Socorro Resgate a olho Presunções Soubemos mais tarde que os navios
efetivamente fundeiam próximos ao Farolete 86, e não na
área demarcada na carta. Era para lá que o Bucaneiro
estava indo, um destino 10 milhas a sudoeste de nós. O
rapaz com o binóculo no convés já está enxergando
vocês! Nisso, Adroaldo viu a escuna, de través, e bem contra o sol refletido n'água, lá no horizonte. Não sei como ele pode ver aquela manchinha escura no meio do forte reflexo do sol, que nem saiu na foto (aí ao lado). Foi uma observação importantíssima que o comandante passou a eles pelo rádio. "Vocês estão
em uma lancha branca, não é?... O rapaz aqui no convés
já está enxergando vocês com o binóculo".
Depois, já em terra, eu soube do velejador Beto Goidanich "Raspajunco" que aqueles CBs formam-se sobre as muitas lavouras de arroz lá pro oeste e dificilmente vêm pra Lagoa. Escapamos da
pane à noite O resgate custou R$400,00, tendo dado umas 5h de trabalho à tripulação da escuna. Se tivéssemos continuado a navegada reiniciada na madrugada anterior, como tentamos em Tapes, certamente teríamos ficado empenhados na lagoa com bem menos chances de conseguirmos reboque. Quando a Marinha
vai passar a exigir GPS a bordo? Víamos a Aline plotada na tela do notebook sobre a carta da região (conectado ao GPS). Tínhamos o plotter também com a carta da Lagoa dos Patos. E tínhamos cartas em papel. E mesmo tendo passado as informações que cabiam, fomos localizados a olho! Um GPS simples custa US$100 (FOB).
No Brasil costuma ser encontrado por uns R$ 700. O GPS está tornando-se commodity e deveria ser de uso compulsório na grande maioria das embarcações. Falta a Autoridade Marítima determinar. Aspectos Positivos Nossos parceiros 1mn = 1 milha náutica =~ 2km |
Vídeos |
Vídeo
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Stream
|
1. Cenas da navegada, com bela trilha musical gravada na Aline | 3 minutos |
2. Já ficou sem condições de manobra no meio do nada? Não?... Então veja a cena |
1 minuto |
3.
O mesmo vídeo do item 1 acima, mas em tela cheia. Imagem muito
boa. Mas Atenção: é um "mangrulho" de Quarenta e Quatro MEGABYTES!!! |
44MBytes (zipado) |
Fotos |
Desenvolvimento:
Recebi mensagem do Cmte Carlos Altmayer
Gonçalves (o "Manotaço", veleiro Barba Negra/VDS)
informando que na situação em que a Aline encontrava-se,
o correto seria ter sinalizado a ocorrência com um PAN, e não
com um MAYDAY.
É muito bom ter amigos assim, que volta e meia gritam "Água,
água..." pra gente. Mas será que ele tem razão
dessa vez também?...
Consultei a Marinha do Brasil, para esclarecer, solicitando indicar um documento onde conste tal assunto. A resposta veio imediatamente, pelo que muito agradeço*.
Aprendamos com o Capitão-de-Mar-e-Guerra Luiz Isidore Barbejat, Encarregado da Divisão de Socorro e Salvamento:
Prezado Danilo,
Você
poderá encontrar as informações sobre os sinais de
emergência na publicação "Manual IAMSAR" Manual
Internacional Aeronáutico e Marítimo de Busca e Salvamento.
Volume III - seção 4 - Emergências a Bordo. Este manual
é publicado em conjunto pela Organização Marítima
Internacional (IMO) e pela Organização Internacional de Aviação
Civil (ICAO) e o seu uso é respaldado pela Convenção
Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS).
Como informação, existem três sinais de emergência
previstos:
Sinal de Socorro - MAYDAY , indica que uma embarcação ou aeronave
em movimento está em perigo iminente e solicita auxílio imediato;
Sinal de Urgência - PAN-PAN, deve ser utilizado quando existir uma
situação insegura que possa envolver a necessidade de auxílio;
e
Sinal de Segurança - SECURITÊ, é utilizado para mensagens
relativas à segurança da navegação, ou para
transmitir algum aviso meteorológico importante.
Cordialmente
Luiz Isidore
Barbejat
Capitão-de-Mar-e-Guerra
Encarregado da Divisão de Socorro e Salvamento
Recebi também o comentário do Cmte Geraldo Knippling, velejador, autor, e ex-comandante da Varig, 40.000 horas de vôo, agraciado com a Ordem do Mérito da Aeronáutica:
Danilo,
Mayday
(do francês americanizado) e PAN era muito difundido nos primórdios
da aviação (e navegação marítima)
antes do VHF, quando toda a comunicação era feita precariamente
em HF com muita estática, fading, e outros impecilhos. O mesmo
é válido para o código "Q". Oficialmente
ainda está valendo, mas na realidade não se usa, pois
as comunicações de hoje podem ser feitas de forma plena
sem as interferências de antigamente.
Creio que seria mais fácil, simplesmente dizer "...aqui
é embarcação tal, com chamada de emergência"
e entrar logo no assunto que no caso, pode ser feito no próprio
canal 16 (sendo emergência). A verdade é que a grande maioria
dos navegadores e pseudo-navegadores, inclusive "autoridades",
não tem nem idéia do que é "Mayday".
Um abraço,
Geraldo
(*) Não vou agradecer ao Manotaço pra não encher demais o pano dele.
Envie seu comentário ao popa: info@popa.com.br
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