O diário do Solaris
Trinidad-Tobago Cays
Fernando Niedemeier*

Diário do Solaris
Etapa Trinidad-Tobago Cays
27-01-06, 50 dias em Trinidad (Chaguaramas), fundeadouro ruim, 12 m profundidade, pedras no fundo, sinfonia a noite, zinco da corrente foi pro brejo, correnteza instantânea de 4 nos e vento no sentido inverso, óleo na água, água suja e continua cheio de barcos. Motivo. Não sabemos.
Trânsito: mão inglesa, motorista na direita. Caso contrário, um aviso na popa: left hand drive. Muito som embarcado, volume alto, vidros abertos, sempre a mesma música caribenha.
Transporte coletivo: 3% sistema público oficial por ônibus. 17% automóveis particulares funcionando como táxi, mas sem identificação e sem controle tarifário. 80% vans caindo aos pedaços, sem itinerário, ilegais, catando usuários pelo caminho.
Uma constatação interessante e normalmente não divulgada:
Como Trinidad é de sobra o ponto mais importante do Caribe para manutenção, até porque é teoricamente Hurricane Free, a maioria dos barcos estão em seco e, portanto, plenamente expostos abaixo da linha d`água. 95% possui quilha longa ou semi-longa. Todos com proa em V e popa não chata. 90% com skeg ou cadaste, incluindo aqueles em que quilha, skeg-cadaste e leme fazem parte de um mesmo conjunto. 80% de fiberglass. Destes 70% estupidamente fortes. 15% alumínio e 5% aço ou madeira. 80% tem 2 ou mais estais de proa com genoas enroladas. 50% ketch ou escuna. 95% monocasco. Tripulação 10% solitário ou família com crianças, 90% casais onde 80% com mais de 50 anos.
No período em que estivemos aqui anunciávamos todos os dias na NET procurando um leme de vento. Somente 2 dias antes de sair apareceram três e compramos um Áries usado necessitando reparos. Desde 01-01-06 o Erik e a Lara estão num veleiro que vai fazer o Caribe e vai para a Europa. Vamos acompanha-los enquanto for possível.
Saída para Grenada, 6 h, rumo 000, 80 NM, vento 70 graus, intensidade de bom tamanho, bela velejada.
Chegada 19 h em Prickly Bay, muitos barcos, um pouco mexido. No dia seguinte um visual bonito, hotéis, marinas, água limpa.

28-01-06 Um passeio pelo sul da ilha, pelos famosos fiordes tropicais de Grenada. A Baia Hartman, que deve ser do Cícero, é um lugar muito tranqüilo. Encontramos o Raul (Rauli) e Sandra, brasileiros raríssimos nestas bandas. Estão tripulando um barco de bandeira inglesa, de brasileiros, fabricação francesa, pelos 70 pés. Muitas dicas para passar o Caribe. Dormimos por ai e no dia seguinte uma volta por perto e um veleiro estampado no rochedo, vítima do Ivan, furacão de 2005, que fez muito estrago por aqui. Mais umas voltas por Hog Island e Woburth Bay e seguimos para a capital St. Georges, ancorando no Lagoon, antiga cratera de vulcão.

29-01-06 A cidade parece uma miniatura que a gente brincava quando criança. Muitos veleiros num lugar apertado. Passeamos por Carenage, nome dado ao local onde os barcos encalhavam para limpar o casco.
Muitos prédios ainda destelhados pelo furacão. De uma escola destelhada saiam crianças impecavelmente uniformizadas, ridículo, são iguais aos do Brasil na década de 60, meninas com saias com pregas azul-marinho abaixo do joelho e camiseta branca por baixo da camisa branca e, pasmem, uma grande gravata azul-marinho.
No mesmo dia caminhamos pelo centro da cidade onde havia um mercado de frutas, verduras e temperos. Som alto em casas e lojas, música caribenha.

31-01-06 9 h saída para Carriacou. Velejada desconfortável. Vento contra só para variar. Chegada 16 h em Tyrrell Bay, uma baía simpática com água azul, parecida com algumas de St. Catarina. Caminhando sobre um morro avista-se Sandy Island, uma pequena ilhota com areias brancas onde muitos veleiros se abrigam.

01-02-06 A tarde trocamos 2 garrafas de cerveja por uma dúzia de ostras com um nativo. Ainda temos dúvida se valeu a pena....

02-02-06 8 h saida para Petit Saint Vincent. Uma hora e meia apenas. Contorna-se Carriacou por oeste e em contra vento para leste chega-se em Petit Martinica e ao lado Petit Saint Vincent onde ancoramos. A água azul-turquesa mais bonita até agora. O lado ruim da história é que neste dia o vento rondou para sudeste e forte, fazendo as ondas grandes passar no canal entre as duas ilhas. Mas valeu. Uma caminhada por trilhas que levam ao topo dos morros revelam vistas extraordinárias. Um luxuoso hotel ocupa quase toda a ilha com suas instalações separadas, distantes e privativas. Ao redor, próximo às praias, bosques lindíssimos com quiosques à sombra, com redes, cadeiras e mesas com garrafas térmicas com água e gelo.
Final de tarde, banho rápido pois o vento estava frio e muita correnteza.

03-02-06 8 h, mais um tiro curto. Chegada às 10:30 h em Union Island. Entrada sinalizada, porém muitos grupos de recifes. Ancoramos bem próximos deles. Água muito clara. Uma pequena volta pela cidade, internet, e seguimos para Mayero contornando-a por oeste como sempre. Rumo leste para Tobago Cays, velejando em águas calmas proporcionadas pela barreira de recifes. Tudo muito perto. O lugar é lindo. Isto explica porque todos guias turísticos apresentam fotos deste ponto. São 4 ilhotas desabitadas, rodeadas por recifes de coral em forma meia-lua que permitem águas tranqüilas. Ancoramos entre as duas primeiras e curtimos um final de tarde maravilhoso. Os blakbirds nos visitam exigindo comida. Servimos pedaços de pão. Detalhe: a partir daqui até Antigua é uma invasão de catamarans, a maioria de charter.

04-02-06 Mergulhos ótimos junto aos recifes. Deixamos o bote em uma poita só
para eles, e viajamos num mundo submarino quase igual ao Atol das Rocas. O vento continua forte.


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(*) Fernando Niedemeier é associado ao Veleiros do Sul, de Porto Alegre