O diário do Solaris
Etapa St. Maarten - Ilhas Virgens - St. Maarten - Grenada
Fernando Niedermeier

27-04-06, 14:30h, saída pela ponte francesa com destino Anguilla (uma ilha estreita, comprida na direção SW-NE), 15 MN, RV 320, vento leste fraco mas velejável. Chegamos às 18:00 em Road Bay no norte da ilha, depois de contorná-la por oeste. Anguilla não tem grandes atrativos, baixa em toda extensão, vegetação rala e seca, sem estrutura. O local mais interessante é Sandy Island, uma pequena ilhota de areia muito branca e poucos coqueiros, próximo a Road Bay. Noite tranqüila.

28-04-06, 03:30h, saída para Ilhas Virgens, 73 MN, RV 280, vento fraco de popa, motorada. Chegamos às 16h em Virgin Gorda (foto ao lado) no seu extremo norte. North Sound, como é chamado o lugar, é uma espécie de lagoon, mas formado por várias ilhas em conjunto com recifes. Indescritível. Água cristalina, vegetação abundante e verde, como a tempos não víamos. Picos relativamente altos. Muito limpo, conservado, não se vê o mínimo vestígio de lixo ou qualquer resíduo produzido pela “civilização humana”. A estrutura de restaurantes, hotéis e marinas existentes em Saba Rock, Bitter End e Biras Creek é discreta, simpática e harmônica com o ambiente. Um estilo arquitetônico britânico-caribenho. A classificação de Tobago Cays, Antígua e St.Barth no nosso hanking está ameaçada diante de tanta beleza.
Ancoramos ao lado da ilha Prickly Pear I com 12m de profundidade, o mínimo que conseguimos.

29-04-06, passeio pela região, passando pelo lado direito da pequena Saba em direção à barreira de recifes. Sem ondas, 3 m de profundidade, água cristalina. Depois The Bitter End, Biras Creek, Robins Bay e Leverik Bay. A vela, só genoa. Saímos entre a grande Virgin Gorda e Mosquito Island, devagar porque é muito raso (1.8 m), porém lindo. De Moutain Point em VG apontamos para os “cachorros”, George Dog, Great Dog e West Dog, um pequeno arquipélago entre VG e Tortola (foto acima). Contornando Scrub Island pelo sul, chegamos a Marina Cay, uma pequena ilha abrigada 315° de SE a NE por Beef Island, Great Camanoe e Scrub Island e de leste por recifes. Muitos veleiros, 50% de charter, quase todos em poitas, com exceção do Solaris e mais alguns franceses. Por isso, ficamos com o melhor lugar, próximos do restaurante e dos recifes, com 3m de profundidade. Sem ondas, é como se não existisse água, percebe-se os detalhes do fundo. Nesta distância, o sinal de wi-fi é perfeito.
Começamos a utilizar o sistema Skype para comunicação computador-telefone. Fala-se muito bem com baixo custo. Para Porto Alegre custa Euro$0,17/min. e para os USA Euro$0,02/min.

30-04-06, 9:00h, saída para conhecer o norte de Tortola e seguir para Jost Van Dyke. Começando pela passagem entre Tortola e Guana Island, seguindo por Lambert Bay, Josiah’s Bay, Trunk Bay, Cooper Bay, Shark Bay e Brewer’s Bay. Desta última em Tortola para Jost Van Dike (foto abaixo). Lá, Green Cay, Sandy Cay, Litle Harbour e Great Harbour. Todas lindas, águas cristalinas.
Seguimos para o extremo oeste de Tortola passando entre esta e Gt. Thatch I., chegando em Water Melon Cay no norte de St. John. Veleiros em poitas. O Cruising Guide advertia para a proibição de ancoragem. Tanto nas Ilhas Virgens Britânicas quanto Americanas existem estas restrições por serem locais que fazem parte de parques nacionais. Um belo mergulho em torno de uma pequena ilhota lotadíssima de pássaros. Lá pelas 16h, apareceu uma mulher com insígnia em um dingue, acompanhada por um cachorrro, para cobrar a taxa noturna da poita. Como não iríamos pernoitar, não foi necessário pagar os US$ 15. Voltamos para Tortola, na localidade Frenchman’s Cay em West End. Local bonito, mas apertado. Poitas a US$ 25/dia. Ancoramos com 10m de profundidade, quase encostando em outros barcos. Desembarcamos para um passeio na marina, shoppings e markets, preços altos.

01-05-06, comparecimento ao Custom/imigration para registrar a entrada, pensando em seguir de ferry para St. John e obter um visto provisório para as ilhas americanas. O registro em Tortola (britânica) foi barato e simples, mas o tal de ferry era tão caro que decidimos partir para St John às 13:00h. Passando por Francis Bay e mais algumas enseadas, em zig-zag entre bancos de coral e ilhotas, percorremos o norte da ilha até chegar no seu extremo oeste. Em Cruz Bay, onde fica a capital, só demos uma volta, lugar apertado, pequeno. Mais adiante, em Great Cruz Bay, ancoramos em meio a muitos veleiros apoitados. Aterramos numa grande praia, em cujo centro há um grande hotel resort de bom gosto.

02-05-06, 9h, saída para St. Thomas (foto ao lado). Passando por várias ilhas, contornando a maior pelo sul, chegamos às 17h em Charlotte Amalie, capital. Cidade aconchegante, de bom gosto. Depois de um rápido passeio, retornamos ao barco e nos dirigimos para Sandy Point em Water Island passando por um estreito canal entre St. Thomas e Hassel Island.

03-05-06, retornamos à Charlotte Amalie para compras, inclusive computador, pois foi o lugar onde encontramos os melhores preços. Ás 15h saímos para Mangrove Lagoon, a oeste da capital, onde passamos ao largo na vinda. É uma enseada repleta de ilhotas e baixios. No norte, passando por canais estreitos há uma marina e lojas náuticas. Retornamos para ancorar próximo a Cas Cay com 1,9m de profundidade, lugar mais fundo que encontramos depois de várias encalhadas.

04-05-06, 8:30h, saída para St. John, contornando-a pelo sul desta vez.
Começando por Chocolate Hole, seguindo por Rendezvous Bay, Reef Bay e mais um monte de bays, chegamos a Hurricane Hole, dentro de Coral Bay . Realmente um lugar abrigado e muito bonito. Aliás, St. Thomas (foto abaixo), St. John e Tortola parecem folhas de fruta-pão, recortadas, pontas e enseadas.
Cruzando a Flanagan Passage, passando próximo à ilha de mesmo nome, chegamos a primeira da série de 6 ilhas menores, opostas à Tortola no Canal Sir Francis Drake. Norman Island teria inspirado Robert Louis Stevenson para escrever “A ilha do tesouro”, já que esteve acampado aqui por uns tempos. Avista-se muitas cavernas nos costões no lado norte. Já a caminho de Peter Island, chamou a atenção a quantidade de veleiros ancorados à oeste da pequena Pelican Island. Provávelmente para mergulho. Como estávamos com pouco tempo, em função da temporada dos furacões, seguimos adiante. Em Peter Island entramos em Sprat Bay, onde há uma marina e um sofisticado e bonito resort. Logo adiante, Deadman’s Bay, com sua praia de areia branca de doer os olhos, coqueiros e água de cor difícil de definir, aquela típica do Caribe.
Próxima ilha, Salt Island, onde o famoso RMS Rhone, um luxuoso navio de 90m de compr. e 12 de largura afundou em Great Bay, no dia 29/10/1867, vítima de um furacão fora de época.
Seguindo, chegamos em Cooper Island. Muitos veleiros em Manchioneel Bay. Parece ser o local preferido de todas estas pequenas ilhas.
Como estava soprando um vento norte atípico, não seria conveniente dormir por aqui. Rumamos para Tortola, velejando em contra-vento. Em orça máx. chegamos em Sea Cow Bay, onde há uma pequena marina. Ancoramos ao lado do canal de entrada às 17:45h. Noite tranqüila.

05-05-06, motorada curta para a baia ao lado, Road Harbor, onde está Roadtown, capital de Tortola. Ancoramos na frente da Marina Conch Charters. Desembarcamos para visitar a pequena cidade, que não apresenta grandes atrativos. Longa caminhada contornando a baia. Uma olhada nos supermercados, muito caro. A sede da Moorings tem barcos a perder de vista.
Voltamos ao Solaris e seguimos para leste, costeando Tortola. Muitas enseadas bonitas. Em Maya Cove está uma das sedes da Sunsail, outra empresa de charter. Contornando Beef Island por leste, retornamos à Marina Cay para conectar na internet e dormir tranqüilos.

06-05-06, 8:30h, saída para Virgin Gorda, agora na sua parte sul, numa enseada chamada The Baths. Como todo parque nacional, é proibido ancorar e há poitas gratuitas. As praias desta enseada, tanto quanto aquelas de Spring Bay e Devil’s Bay, ao lado, são lindíssimas. Entretanto o que realmente é maravilhoso está dentro da água cristalina. A fauna e flora são riquíssimas, variadas e multi-coloridas. Sem a menor dúvida o melhor mergulho até agora. Sob um sol escaldante, caminhamos muito para chegar até Devil’s Bay porque a estrada dá muitas voltas. Mas valeu a pena. Entre as grandes rochas próximas à terra há uma grande quantidade de grutas variando em formas e dimensões. Através delas, existe uma trilha onde se passa as vezes por dentro d’água (foto ao lado). O final desta trilha fica muito próximo a The Baths e, escalando perigosamente as pedras, conseguimos retornar por um lugar que aparentemente não permitia a passagem.
À tarde seguimos para o norte procurando um lugar menos mexido para dormir. Ancoramos em St. Thomas Bay, em frente ao Virgin Gorda Yacht Harbour, onde também se localiza a capital, Spanish Town.

07-05-06, 6h, saída para St. Maarten pelo sul de Virgin Gorda (foto abaixo), 85 MN, RV 108. Contra-vento num só bordo, motor e mestra para conseguir ângulo necessário, corrente E-SE agora obviamente contra, porque desde Martinica até as Ilhas Virgens foi favorável. Vento fraco no início. Lá pelas 19h, o vento rondou um pouco mais para leste, aumentou muito, os relâmpagos iluminavam os cúmulos. Se fosse na Lagoa dos Patos já estaria todo borrado. O mar cresceu. Apesar do Solaris ter a proa em “V” acentuado, batia bastante nas ondas de pequeno período. Mestra na segunda forra e motor. Já não dava rumo direto, mas faltavam apenas 15 MN. Ancoramos às 22:30h em Simpson Bay. Alguns dias no lagoon para abastecer principalmente de comida, porque para o sul a coisa fica muito cara.

11-05-06, saída às 8h e chegada às 11h em St. Barth na enseada de St. Jean.
Nos três dias seguintes muito mergulho nas águas cristalinas de St. Jean, onde encontra-se uma quantidade enorme de tartarugas ´pastando` algas no fundo de pequena profundidade. Alguns peixes acompanham as tartarugas comendo algum parasita no casco delas.

15-05-06, 2:30h, saída para Antígua rumo à Venezuela, pois hoje começa a temporada oficial dos furacões, embora, na prática, aconteçam apenas as tropical waves e tropical storms nesta época, sendo que estas últimas não são nada agradáveis. A saída pelo N/NE da ilha é bastante complicado, principalmente no escuro quando se tem que passar entre ilhotas e recifes confiando apenas no GPS.
A previsão de vento leste furou. Deu SE, ou seja, 75 MN à motor calçado na mestra rizada e quase sem angulo. Chegamos em Jolly Harbour às 18:00h depois de passar próximo à um porta-aviões norte-americano que tem apenas 5 mil tripulantes. Uma lancha da marinha nos mandou sair de perto pois estávamos a menos de uma milha de distância do animal. Quando estes malucos estiveram em St. Maarten, a ilha passou a viver em função deles. Todos os bares e casas noturnas tinham faixas com ´´WELCOME US NAVY``.

16-05-06, 5:45h, lá vamos nós para Guadalupe. Desta vez com um bom leste. Ótima velejada, chegando às 15h em Deshaies, uma gostosa enseada no lado oeste, que não conhecíamos, pois na vinda passamos no canal entre as duas grandes ilhas que compõem Guadalupe.
No fundo, corais cor-de-mostarda em forma de espigões, plantas que lembram samambaias oscilando ao sabor da água e peixes coloridos e variados.
Em terra aquela coisa de sempre nas ilhas francesas, bom gosto, aconchegante, limpo e organizado.
Sairíamos no dia seguinte, mas o vento roncava e não tínhamos tanta pressa assim.

18-05-06, 6h, vamos para o sul. Motorando a sotavento da ilha, passando por Les Saintes (arquipélago que pertence à Guadalupe) e velejando para Dominica. Chegamos às 15h em Prince Rupert Bay, ao norte, para um bom sono. Só que no final de tarde tivemos que nos mudar mais para o sul da enseada pois o swell estava insuportável. Como iríamos sair cedo, pegamos uma poita do hotel.

19-05-06, 5:50 h, rumo Martinica, vela e motor a sota de Martinica e vela na passagem até o norte da ilha francesa. Chegamos às 16:30 em Fort de France, capital, sem antes assistir um espetáculo dos golfinhos que até agora não tínhamos visto no Caribe. Saltos muito altos. Uma espécie de médio porte.
Desta vez não dormimos na cidade e atravessamos a baía em direção à Anse Mitan que é um belo ancoradouro. Uma caminhada pelo local e cama.

20-05-06, let`s go to St.Lúcia. Grande velejada, vento folgado. Chegada em Rodney Bay às 19 h.

21-05-06, 5 h, vamos de novo para o sul. Contornar praticamente toda St. Lúcia por oeste, sentindo um cheiro forte de flores, a passagem entre esta e St. Vincent, toda esta última com golfinhos ao final, passagem até Béquia e estamos em Admiralty Bay às 16h. Ótimo banho de mar e cama.

22-05-06, 6h, proa sul. Velejando confortavelmente na companhia de golfinhos e peixes voadores, passamos por Canouan, Mayerau, Union e mais um monte de pequenas ilhas e estamos chegando em Cariacou. Pouco antes de chegar em Tyrel Bay, às 12:30 h, no sul da ilha pegamos um ´´pirajá`` que mal deu tempo de enrolar a genoa. Ainda bem que a mestra não sai da primeira forra a meses, mesmo em ventos favoráveis como agora. Mas a costura do bímini não resistiu.
Quase 70 veleiros na enseada. Muitos pássaros. Pra variar banho e cama.

23-05-06, 6:30 h, vamos lá, Grenada é perto. Passa-se por outro monte de ilhas e, desta vez, com vento favorável, contornamos Grenada por barlavento(leste). Pouca gente faz isto porque o swell de leste/nordeste rebate na ilha e fica um banzeiro terrível. Quando o vento diminuía um pouco, o barco ficava uma batedeira. Não mais, só a sota. Por outro lado, foi muito bom conhecer o trecho leste e sudeste. Muitas enseadas e fiordes profundos em direção ao centro da ilha. Novamente visualizamos o coitado do veleiro estampado num costão à uns 5 m acima do nível do mar, resultado do ´´Ivan``. Chegada em Prickly Bay ainda às 12:30h.

24-05-06, passamos o dia em Prickly para acesso à Internet e passeios nas marinas. Em seco, constatamos mais estragos do furacão, muitos barcos com o casco parecendo uma peneira, mastros quebrados. Tem pilhas de enroladores Profull usados a venda, quase de graça.

25-05-06, passeio curto até a capital St. George, algumas compras, Internet wi-fi no barco para previsão de tempo, esperando boas condições para seguir para Testígos na Venezuela.



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04 Ago 2007
Geraldo Knippling Magana

Beleza de diário.  Chega a aquecer este nosso inóspito inverno gaúcho.  Merece ser publicado em livro.  Parabéns.
 
Geraldo Knippling