O diário do Solaris
Etapa Tobago-Cays até Antigua
Fernando Niedermeier

05-02-06 9h, saída para Canoan, próximo, 6,5 MN, RV 25, vento em torno de 50°. Como o vento anda sempre na cara e forte, estamos velejando desde Trinidad com G3 de punho alto e mezena. Este conjunto tem se mostrado adequado para a intensidade do vento. O barco anda rápido, equilibrado com leme praticamente neutro, não é forçado em demasia nem aderna exageradamente, e dá muito menos trabalho principalmente em trechos curtos. Chegamos às 10:15 h na Baía de Charleston, onde praticamente todos os barcos pertencem à Moorings. Não desembarcamos. O local é muito mexido. A ponta noroeste da enseada não protege do swell NNE e algumas depressões entre os picos das montanhas aceleram as rajadas de vento fazendo o cabo auxiliar da corrente gemer no cunho e no passador.
O barco recebe trancões e aderna quando a rajada o pega um pouco atravessado.

06-02-06 Logo depois do café mudamos para Little Bay, ainda dentro da enseada de Charleston, onde as ondulações e as variações no vento são menores.

07-02-06 9h, saida para Béquia (foto ao lado), RV 10, vento 80, em torno de 20 nós, 20 MN de porto a porto em linha reta. Isto porque deve-se realizar o contorno das ilhas por sotavento(oeste) e antes de Guadalupe, não se consegue fazer uma perna no mesmo bordo, pelo menos nesta época do ano. Além do vento contra, há uma corrente ESE por vezes forte.
Não passamos por Moustique porque além de ser mais a leste, o guia náutico apresentava proibição de ancoragem e limite diário de 25 pessoas ingressando na ilha e muita frescura porque é frequentada basicamente por artístas.
Chegada às 15h em Port Elizabeth na Admiralty Bay, um lugar muito bonito e simpático. A noite o mesmo rangido do cabo na proa. Pelo menos sem ondas.

08-02-06 Passeio pela pequena e simpática Port Elizabeth. Pequenas compras e uma passada pelas velerias para continuar a procura por uma staysail para usar no estai intermediário de proa que colocamos em Trinidad.

09-02-06 Saída para St. Vicent pela manhã. RV 20, apenas 10 milhas entre as ilhas(20 entre portos), vento 65, 30 nós. Direto à capital Kingstown. Passamos pois não tinha nenhum veleiro e o aspecto deprimente.
Igualmente passamos Young Island e Blue Lagoon, ambos lugares com poitas pagas (50 US$/dia).
Daí para o norte, vários lugares com muita profundidade para ancorar. Os barcos em poitas. Um vulcão adormecido, é visto no caminho. O primeiro lugar razoável para dormir foi Cumberland Bay, uma pequena e abrigada enseada, em cuja entrada nativos remando em velhas pranchas de windsurf ou pequenos barcos chamam os veleiros para entrar e oferecer o serviço de amarrar um cabo de popa num coqueiro por 20 EC$(eastern caribbean dólar), aproximadamente 20R$. Muitos outros ofereceram frutas e verduras. O lugar é lindo, mas a pobreza da população é evidente.
Junto com Dominica, são as duas ilhas pobres do Caribe.

10-02-06 7:30h, saída para St. Lúcia (ao lado), 45 MN entre portos, RV 35, vento um pouco melhor, 85graus, 20 nós. Só para variar, ondulação principal de NE e uma secundária de E. A consequência é muito balanço e convés lavado.
As 11 h já víamos Vieux-Fort bem ao sul da ilha onde há um porto comercial, navios grandes e nenhum veleiro ancorado. Seguimos com rumo 300 para atingir a parte W da ilha. Ao meio-dia estávamos ao lado dos Pitons, duas montanhas muito parecidas com o Pão-de –Açúcar. Neste local a profundidade é tamanha que o eco não registra nada. Muitas enseadas bonitas, mas proibida a ancoragem e a pesca pois a região é parque nacional. Ao longe no norte da ilha, próximo da Vila que tem o nome de Soufrière vê-se um vulcão com pequena atividade. Cheiro forte de enxôfre no ar. Entramos em Marigot Bay. Linda, abrigada, lotada de veleiros. É tão fechada que mal se percebe a entrada. Há hoteis, restaurantes, praias com coqueiros,uma base da Moorings, residências dispersas e bastante integradas na vegeteção. Paga-se pela água e coleta de lixo. Havíamos abastecido bem com água em Trinidad e não havia lixo.

14-02-06 Saída para Rodney Bay, norte da ilha, apenas 8 MN, uma boa velejada a sotavento de St. Lúcia. Baía grande. Veleiros espalhados, ancorados. Ancoramos próximo a marina que fica dentro de pequena baía para ficar mais próximo do mercado. Fizemos a entrada oficial no Customs e Immigration pois estávamos esperando os amigos Geraldo e Rhéa. O último registro havia sido em Trinidad. Não há necessidade de fazer estes procedimentos burocráticos em todas as ilhas, principalmente quando se permanece por pouco tempo. Outra exigência que nunca cumprimos e que poucos o fazem é o uso da bandeira de quarentena(amarela). Por outro lado sempre apresentamos a bandeira de cortesia astiada a boreste. Quanto a brasileira, usávamos conforme o lugar, pois estivemos ilegalmente em ilhas francesas e americanas onde é necessário visto antecipado e, em outras sem registro, porque permaneceríamos por pouco tempo.. Compras, e-mails e trabalho no barco(desde que saímos de Porto Alegre, em cada parada se tenta reduzir a lista das tarefas que faltam).

16-02-06 9:30h, saída para Martinica (ao lado), RV 12, 23 MN de porto a porto, vento 65, em torno de 25 nós. Aproximadamente a 5 milhas da ilha, o vento ficou bem forte e rondou para NE. Com as velas panejando, só de G3 e mezena, o barco adernava bastante. Velejamos assim mesmo. Chegamos em Le Marin. Algumas voltas pela marina e arredores, onde encontramos os primeiros mega-veleiros, barcos incríveis. Primeiro contato também com idioma francês no Caribe. Ainda bem que quase todas as pessoas falam inglês, pelo menos um pouco. Assim fomos nos comunicando misturando as duas línguas. Voltamos para St. Anne, onde desembarcamos para um passeio na simpática, aconchegante, bonita e limpa localidade, como todas as pequenos lugarejos das ilhas francesas. A única parte ruim destas curtas estadias é o movimento com o bote e motor de pôpa, pois sempre que se passa estes trechos entre ilhas, o motor vai para o suporte e o bote emborcado e amarrado à frente do mastro. Apenas em pequenos trechos sem onda o bote anda rebocado, mas também sem motor.

17-02-06 Bem descansados, saímos ao meio-dia velejando rumo à capital, Port de France, 18 MN. Passeio pelo centro da bela cidade, e-mails para definir o ponto onde embarcar os amigos, que acabou sendo Dominica.

18-02-06 saída às 13h, chegada às 16h em Saint Pierre, 18 MN a NW de Port de France. Outro lugar muito gostoso e, como em quase todas ilhas francesas, com um belo e bem construído pier público para atracar os botes. Aqui começamos a descobrir que as únicas coisas baratas em ilhas francesas são vinho francês e cerveja(principalmente alemãs).

19-02-06 6h, saída para Dominica, 36 MN, RV 340. O rumo finalmente mudou, e os ventos também, estão ENE. Chega de contra-vento. Chegada em Roseau às 13h. Lugar ruim de ancorar, fundo e com pedras. Cidade feia. Pegamos uma poita próxima à guarda costeira e ao hotel onde estavam o Geraldo e a Rhéa. Contato pelo VHF com o portátil do Geraldo, bote na água novamente e para terra encontrar o pessoal e registrar a entrada de barco e tripulação no Custom e Imigration. Aqui foi necessário, pois o casal deveria ser incorporado à tripulação para poderem fazer a viagem de volta ao Brasil. Como era horário do intervalo para almoço o oficial cobrou 60 EC$(aprox. R$ 60) para 24h. Em Trinidad havia sido 120 TT$(R$ 60) para um mês, enquanto que em St. Lúcia 40EC$ para um dia. Estas são calculadas de forma diferente em cada país, as vezes pelo barco(proporcionalmente ao comprimento) e/ou tripulação e/ou tempo de permanência. Tripulação maior, deixamos Roseau com destino a Portsmouth na baía de Prince Ruppert ao norte da ilha a 19 MN, único fundeadouro descente de Dominica. Na chegada já apareceu um nativo oferecendo ajuda para ancorar o que dispensamos educadamente. Depois apareceu outro, insistente, oferecendo seu serviço como guia turístico para visitar o Indian River. Desta vez, tanto o Geraldo quanto eu só falavámos ´´no english, brasileiros, português`` e o cara disse ´´oh my God``, tentou um espanhol horrível e foi embora. Este tipo de abordagem sómente conteceu em St. Vincent e Dominica, as ilhas pobres. Um banho de mar seguido de happy hour, bastante conversa para atualizar, janta com vinho francês e cama.

20-02-06 A idéia era seguir para Guadalupe, mas o vento roncava forte. Aproveitamos para passear no vilarejo e abastecer de água num terminal de barcos de passageiros. ´´Comemoramos`` a primeira água paga(R$0,06/litro) da nossa vida de cruzeiristas. Em Trinidad, aproveitávamos algumas viagens à terra levando 4 bombonas de 10 litros cada para pegar água no pier da marina.

21-02-06 8h, saída para Guadalupe, RV 350, 20 MN, vento ENE. Boa velejada até o arquipélago de Iles des Saintes. Um zig-zag passando primeiro entre Grand Ilet e Terre-de-Haut, depois entre a última e Terre-de-Bas e chegamos em Ile à Cabrit. Lindíssimas ilhas. Água muito clara, fundo visível com detalhes em profundidades de 20 m. A Ile à Cabrit (ao lado) merece o nome. Está repleta de cabritos. Desembarcamos e percorremos as trilhas, que na realidade são estradas estreitas de concreto, mas sem veículos. No alto, em meio a ruínas de um forte, a paisagem é magnífica, avistando-se o próprio arquipélago, Marie-Galante e Guadalupe.

22-02-06 5h. Acordamos com um estrondo. Háviamos colidido com um catamaram. Provávelmente o barco correu porque na sombra da ilha, o vento vinha em rajadas de todos os lados e, com 10m e fundo de areia dura a nossa CQR não pega bem. Estranho que é o tipo de âncora mais usada no Caribe, diria 95 %, e alguns lugares o fundo é de areia muito dura. Chega ao ponto de não ser possível dar ré para unhar. Deve-se esperar para que aos poucos a ponta da âncora penetre na areia ou mergulhar e cravar na marra. Bem para não correr o risco novamente atravessamos para Terre-de-Haut, apenas 1 MN, chegando já com claridade. Passeios pela simpática vila de mesmo nome da ilha, algumas compras, fotos (reparem na foto Chalet de Necessités acima) e gastronomia a borbo. Tentamos sair para Guadalupe, mas o vento estava bastante forte e não tínhamos mais pressa. Voltamos. Subi num morro para tirar algumas fotos do alto. Resultado: boas fotos e as mãos com espinhos de cactos, pois era a única vegetação daquele morro. Aproveitamos o resto do dia para um bom mergulho nas límpidas e transparentes águas da ilha.

23-02-06 9h, com calma saímos para Guadalupe, RV 20, 23 MN, vento em torno de 70 graus de boa intensidade, mas não deu um bordo só, pois sempre tem a corrente de ESE. Lá pela metade do caminho o vento aumentou a nível desconfortável para o barco velado sómente com G3 e mezena. Chegamos às 13 h em Pointe-à-Pitre, capital de Guadalupe. Passeio na marina, compras no centro do que é barato aqui: vinho, cerveja, chocolate e torradas. O resto é caro. Aliás, estamos quase vegetarianos desde que saímos do Brasil.

24-02-06 Saímos de Pointe-à Pitre rumo ao sul para visitar uma praia próxima chamada Le Gosier, com uma ilha à frente de mesmo nome. Lindo lugar. Retornamos à capital, passando pela cidade entrando no chamado rio salgado, um canal estreito de 9 MN de extensão que divide Guadalupe em 2 ilhas no sentido N-S. A idéia era dormir próximo à primeira ponte que abre às 5 h. Pegamos a última das 3 poitas públicas e mesmo assim encalhamos durante a noite.

25-02-06 Acordamos ás 4:30h. Noite ainda. Uns 8 barcos fundeados e no mínimo mais 7 se aproximando vindos da cidade. A ponte abriu no horário e os barcos em fila indiana começaram a passar lentamente. Só se ouvia o operador da ponte gritar go, go, allez, allez. 1,1 MN depois estávamos na segunda ponte que abriu pontualmente ás 5:30h. Daí até o final, ainda um pequeno trecho de caminho sinuoso pelos mangues e depois uma extensão de 4,3 MN entre bancos de areia muito rasos. Existe sinalização ao longo do canal. Às 7:30h já tinhamos água livre. Pela primeira vez depois de Grenada subimos a mestra na primeira forra. Durou pouco, na metade do caminho baixamos de novo. De qualquer forma, foi uma velejada tranquila nas 40MN, RV 350, vento 80 graus. Chegamos ás 15h em Antígua entrando em English Harbour, uma pequena enseada lotada de veleiros com um forte antigo na entrada e os prédios no interior espalhados, antigos, conservados, bonitos no típico estílo britânico.

26-02-06 Passamos para a enseada ao lado, Falmouth Harbour (ao lado). Segundo contato com mega-veleiros, muitos, enormes, alguns com mais de 150 pés. Um passeio em terra visitando o Nelson´s Dockyard National Park, um local que foi base da British Royal Navy nos séculos 18 e 19 e que hoje abriga, em prédios totalmente renovados antes usados pela marinha, Museus, Hoteis, Lojas e Retaurantes. Como era domingo, folga da cozinheira, almoçamos fora.

27-02-06 Depois do almoço saímos para Jolly Harbour, 11MN. Pela primeira vez, desde Trinidad, sem vento. Neste dia começou a temporada dos ventos fracos, com uma mudança instantânea. Ao longo da costa, praias, costões, recifes lindíssimos. Montanhas com picos de até 1500 m em contraste com as praias ao nível do mar e a vegetação exuberante fazem desta ilha uma das mais belas até agora, ao nosso ver. Há um canal de 2,5 MN entre a costa e uma barreira de recifes paralela que apresenta variações na cor da água impressionantes. Entramos em Jolly Harbour às 16h. Vários condomínios em canais, onde as casas de arquitetura britânica tem seu pier particular. Shopping horizontal, arborizado, ao lado de uma sofisticada marina no fundo da enseada. Abastecemos com Diesel e retornamos à parte externa da enseada para ancorar. Mais um gostoso banho de mar.

28-02-06 Acordamos cedo pensando em sair para Nevis e St.Kits(45 MN), mas nada de vento. Aparentemente vamos ter que esperar bastante para prosseguir. O Geraldo e a Rhea resolveram desembarcar em Antígua porque aqui tem Aeroporto e eles tinham passagem com saída de Miami marcada e seria arriscado esperar até St. Maarten.

 

 

 

 

 

 

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(*) Fernando Niedermeier é associado ao Veleiros do Sul, de Porto Alegre

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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