21Mai2006
Apesar de toda a tecnologia de comunicação a bordo, com geração de imagens inclusive, até o momento não foram divulgadas pela Volvo Ocean Race as causas do acidente em que o velejador holandês Hans Horrevoets, 32 anos, perdeu a vida. As circunstâncias apontam para um resgate muito demorado e para a não utilização de equipamento de segurança.
Acidente
Segundo o site da VOR, eram 02:11h GMT (madrugada de 18/05, a 1.500mn da Inglaterra) quando o mar varreu o convés do veleiro holandês AMRO2. Com 27 nós de vento, Hans estava trimando o balão quando foi arrastado ao mar por ondas de 5 metros de altura.
12 minutos para fazer o 180º
Ao grito de "homem ao mar" várias atividades foram encaminhadas, a começar por acordar a tripulação fora do quarto (turno de serviço). Arriado o balão, começaram a preparar o giro de 180º, incluindo fazer o motor funcionar para avançar contra o vento. Estes procedimentos implicaram em uma eternidade, segundo deduzi da análise que fiz com os dados oferecidos pela Volvo. O giro somente aconteceu 12 minutos depois, segundo meus cálculos, às 02:23 GMT, a 2,4mn do MOB ("man overboard" ou homem ao mar). Por que foi preciso todo este tempo em uma situação dessas? Tiveram problemas com a partida do motor?
Ficaram muito longe para voltar a motor contra o mar de 5 metros. Cada minuto gasto com o vento a favor que tinham, representava vários minutos para voltar contra o vento.
Mais 40 minutos para retornar
De início tentaram voltar com a vela grande içada, segundo a VOR noticiou, mas logo resolveram baixá-la. Voltar a motor contra o marzão de 5 metros não deve ter sido fácil. E não foi rápido. Navegaram a 4 nós aproximadamente, com 34 nós de vento bem na proa. O horário provável da chegada ao local onde estava Hans é 03:03h GMT, ou seja, a tripulação do AMRO2 teria levado 40 minutos para voltar. Um total de preciosíssimos 52 minutos entre o MOB e a chegada.
Uma hora ao todo
Um tripulante vestiu roupa de mergulho e fez o resgate. Quanto tempo pode ter levado? Algo como 5 minutos, talvez, ou menos, a partir da desaceleração do barco. Temos, ao todo, em torno de uma hora entre o acidente e o início do procedimento de ressuscitação na cabine.
Brasil1
Nesse meio tempo o Brasil1 iniciou uma jornada de 60mn contra o vento na tentativa de ajudar na busca. O relato dessa velejada é impressionante. O pau de spinnaker de 10,5m de comprimento e 25cm de diâmetro quebrou. Dois tripulantes que tentavam consertá-lo na proa foram lavados por uma onda forte que jogou o pau no cockpit.
Procedimento médico
A posição de Hans era monitorada por instrumentos a bordo, sem o que jamais o encontrariam. Hans já não tinha pulso quando foi embarcado. Auxiliados pelas instruções de um hospital da Inglaterra, os paramédicos de bordo tentaram a ressuscitação cárdio-pulmonar, sem sucesso. Desistiram às 04:20h GMT, conforme o site da VOR.
Cinto de segurança
A pergunta que se houve nas varandas dos clubes náuticos é "Por que Hans não estava usando o cinto de segurança?". Na verdade, não se sabe se ele estava usando o cinto, ou não, porque isso não foi informado pela organização da VOR, mas presume-se que não, em que pese a significativa experiência de Hans.
Imagem do esporte à vela
Enquanto a Volvo Ocean Race economiza informações sobre o ocorrido, seja lá pelo interesse ou razão que for, o esporte à vela perde. A divulgação do acidente sem informar suas causas, passa à população a idéia de um esporte intrinsicamente perigoso.
"Life at the extreme"
Certamente participar da VOR não é como fazer um cruzeiro em águas abrigadas, mas presume-se que ninguém cai n'água se estiver usando o cinto de segurança corretamente.
Tudo o que temos são especulações, e assim será até que a comissão organizadora da VOR resolva informar mais sobre o ocorrido.
|