Das Ilhas Baleares, no Mediterrâneo, até Saint Marten, no Caribe
(De Outubro a Dezembro de 2000)
O diário, as histórias e os versos do Comandante Aderbal Torres de Amorim
Direitos autorais doados ao Asilo Padre Cacique


Quatro Mil Milhas Além
Uma travessia, o Homem e o Mar
Aderbal Torres de Amorim
(16º capítulo - penúltimo)

A sexta máquina de velejar que conheci, e com a qual fui para o Mar, chama-se Norton Aertz. Pelo nome que deu ao próprio barco, já se pode ver de quem se trata: Fandango. Poucas pessoas podem ser mais alegres do que o Norton. Sua alma-criança de homem bom faz desse grande velejador um dos sujeitos mais benquistos, esteja onde estiver. Ele tem carisma: prende as pessoas e as fascina com seu jeitão esbodegado e franco.

Velejei muito com ele a bordo do velho Madrugada. Campeonatos, regatas, translados. Aprendi com o mestre, indo e vindo de Floripa. Certa feita, entreguei-lhe o Molecão e lá ficou ele, em Santa Catarina, com sua turminha, curtindo o barco por um bom pedaço do verão. Sentiu-se em casa, tenho certeza, sentiu-se dono. Ele era o dono e estava em casa.

No Circuito de Ilha Bela, ele era o parceiro do Marcelo para limpeza e manutenção geral do Madruga. Bebia todas, dormia tarde, mas no dia seguinte lá estava, antes das cinco horas da manhã, mergulhando. Os dois examinavam o casco do grande veleiro, encarregando-se de colocá-lo em condições para a regata do dia. Eles eram os anjos da guarda do Madrugada.

Lembro-me com especial carinho do translado do Madrugada francês (barco alugado na França para correr, com o nome do velho guerreiro, a Copa do Rei de Espanha), do Golfo de Lion para as Ilhas Baleares, já antes mencionado. Não houve Cristo que fizesse o Norton entender que já não havia mais lugar na tripulação. Eu resolvera ir mais tarde para lá; já estava tudo planejado quando cheguei. O Norton não se conformava: não queria fazer o translado se eu não fosse junto. E não iria mesmo. E lá fomos nós, superlotados, mas com uma tripulação que era uma festa só, mesmo afrontando o velho costume de que, em translado, o máximo são quatro tripulantes. Mas se eu não fosse, aquele outro Ogro tambem não iria. Irmão; irmão do peito.

Certa feita, a bordo do Molecão, voltávamos de Floripa numa endoidecida empopada em asa-de-pombo, com um sulão daqueles que a Lagoa dos Patos tem. Estávamos velados demais. Eu já experimentara, anos antes, com o Joca e o Luciano Ademir, o infortúnio dessas condições quando, na costa catarinense, explodiu o garlindéu do Molecão num jaibe involuntário. Estávamos, naquela ocasião, em asa-de-pombo, com burro de borda e vento em demasia. Com pano em demasia também. Tudo como agora. Por pouco não quebramos o mastro o que, entretanto, viria a ocorrer anos depois.

Pois agora vínhamos o Norton, o Moeller, o Carpeta e eu. Na ocasião, eu timoneava embevecido e, ao mesmo tempo, receoso quando, na altura do farolete de Rio Negro, perdi o leme. O barco perdera a doma, como se diz. Rebentara o cabo de aço do timão que liga o quadrante ao leme. Estávamos à deriva e, perigosamente, em asa-de-pombo. Se o barco fosse para um lado, poderíamos enfiar n’água o pau da genoa; se fosse para o outro, era a retranca que poderia submergir. Em qualquer caso, conseqüências imprevisíveis e extremamente perigosas.

Gritei que perdera o curso. O Norton veio como louco e deu um puxão na roda de leme com tal violência que me atirou na braçola. Queria repor o barco no rumo para evitar o perigoso jaibe. Inútil esforço. Como eu dissera aos berros, não havia leme. O importante era que todos se abaixassem para evitar qualquer tragédia. Até ali, o comandante era eu; ali, automaticamente, deixei de ser.

Quando essas máquinas estão embarcadas, são como um tigre que fica quieto, parecendo indiferente. Mas quando são provocadas, como que despertam do sono letárgico, enrigessem os músculos, retesam o corpo e lançam-se sobre a presa de forma aniquiladora e voraz. Foi o que o Norton fez.

Com uma velocidade e uma calma jamais suspeitadas, manobrou as velas, dizendo a todos que se abaixassem no cockpit, que ficassem imóveis, que não fizessem absolutamente nada, porque o barco em breve iria parar e ficar de lado para a onda. E que, então, não haveria nem retranca nem pau na água; e nós, depois de tudo, simplesmente iríamos embora com a cana-de-fortuna.

Foi o que ocorreu. A segurança da autoridade; a serenidade de quem sabe; a maturidade de quem conhece. O Norton é tudo isso. Ele é uma máquina de velejar...

SEXTA-FEIRA, 08 de dezembro (coordenadas das 22h-GMT de quinta-feira: 17.39 N e 059.03 W).
Meia-noite. No horário GMT, são duas horas da madrugada. Embora eu não seja de guardar datas, lembro que hoje é aniversário de um velho amigo, o Lauro Balle, a quem não vejo há séculos. Este também é o mês da Andrea, da Amanda, do Alexandre, do Felipe (todos eles Amorim) e do irmão que adotei Mauro Pinto Marques. É o meu também.

Vamos aqui no rumo 290, com ventaço de leste e voando baixo, faltando, precisamente, 201 milhas para St. Martin. Com todo o zigue-zague que nos obrigamos a fazer nas últimas 24 horas, nossa singradura, em linha reta, foi de 163 milhas.

Aqui estou, no turno do início do dia, mais uma vez, talvez a penúltima, já sentindo um aperto no peito pela irremediável e próxima despedida. Está chovendo. Chove lá fora e já chove aqui dentro a chuva da saudade.

Oh, o Mar. Só é possível entendê-lo, estando nele; só se pode absorvê-lo, ao singrá-lo; só se pode ouvi-lo, nele adentrando. Quem foi ao Mar e voltou, nunca mais será o mesmo. Nem mesmo aquele que se era quando do retorno da vez anterior. Nem mesmo aquele que a gente pensava ser depois de nele haver estado pela vez primeira; ou pela derradeira.

Como é belo o cancioneiro quando diz que mesmo que mandem em garrafas mensagens por todo o Mar, meu coração tropical partirá esse gelo e irá. Como as garrafas de náufrago… Vou procurar o Mar, me arrastar até o Mar, vou buscar o Mar.
Oh, sedução! O que há de tão hipnótico nesse ser raro que a todos enfeitiça? O que faz de todos seus vassalos?

Muito tenho aprendido nessas coisas de velejar. Tenho vivido para isso. Aqui será minha última morada: o porto do abrigo final, no barco e no Mar.

Certa vez, levei a Magra para conhecer o Madrugada, de que tanto ela ouvia falar. Vi que ela ficou embaraçada no momento de entrar naquele templo. Entramos em silêncio, como se entra nos lugares sagrados. A Magra desceu as escadas, entrou na cabine, sentou a um canto e contemplou longamente aquele vazio que, além de velas pelo chão e despojadas macas penduradas nas paredes, só tinha mesmo a pia e o pequeno fogão onde matávamos a fome do corpo.

Foi um longo e respeitoso silêncio. Quebrou-o a Magra quando disse: isso aqui é um útero. A partir dali, nunca mais fui a uma só reunião da turma do Madrugada sem levá-la comigo. E passamos a comer churrasco com as mãos. Do fundo de sua sensibilidade de artista, ela sentiu tudo e com maestria resumiu o que o velho Madruga era para todos nós: o útero. O útero do qual mais adiante seríamos todos abortados porque o tempo heróico acabou; tudo acaba. Menos a memória e a fé. E a saudade. E ao Madruga dissemos todos adeus, sem comparecer, embora, à sua despedida. Nem sei quando foi. Ninguém me avisou que havia sido mandado adiante.

Às vezes me dizem que devo mandar o Molecão embora; que ele não tem calado para o Rio Guaíba; que eu aproveitaria melhor esse jeito maluco de andar por aí, de fazer as travessuras marinheiras que faço, se tivesse um barco com menos calado.

Ora, o Molecão tinha dois metros de calado, eu lhe cortei as pernas e ele ficou com pouco mais de metro e meio. Dei-lhe, porém, um par de pantufas - os bulbos de chumbo para compensarem o peso retirado com a tosa. E aí está ele. Como, simplesmente, mandá-lo embora? Como? Não sabem que barco tem alma? Não sabem que barco sente? Sente a falta, a indiferença, o descuido, o desprezo da gente. Então, querem que eu me desfaça deste raro caso de amor, como se o Molecão fosse uma coisa?

Não quero repetir a história do velho Madruga cansado de guerra. Será o bastante o fato de que uma alma bendita - o louco do Biriba, certamente -, como última homenagem ao velho guerreiro, mandou colocar lá no Clube um quadro de azulejos com a foto do grande barco? Será que basta estarem lá os nomes dos quinze afortunados que tripularam aquela máquina de velocidade ao longo de sua senda de vitórias? E bastará o fato de que estamos todos nós arrolados como integrantes daquele inigualável grupo? Isso basta? A mim, não basta. Aquilo mais parece uma tumba, representando restos mortais. Recuso-me a viver, com o Molecão, outra tragédia igual a essa. Não estou aí para arrumar o quarto do filho que já morreu.

Não é que o Molecão seja meu
Eu é que sou do Molecão
Ele vai comigo até o fim
Jamais sentirei falta dele
Ele sentirá falta de mim...

………………………………

Agora, são sete horas da manhã. O barco está voando para o porto final. Estamos a 154 milhas do destino. O Mar bravio urra furioso lá fora e o vento, uivando um lamento de despedida, nos empurra resoluto para a frente. O grande vai rizado e a genoa semi-aberta. A velocidade alcança 11 nós e o vento aparente vai a 25. São os indesejados 35 nós verdadeiros. As rajadas são muito mais que isso. Venta para valer.

Antes, no meu primeiro quarto da madrugada, quando vim para cima, senti o barco meio solto, velado demais. Barcos velados demais lembram-me o garlindéu do Molecão. Não gosto disso. Reduzi pano, enrolando toda a genoa. O barco seguiu voando. Quando subi para o segundo quarto do dia, o grande estava rizado e vamos outra vez com a genoa meio aberta. O Tatu rizara o grande; eu recolhera a genoa. O Tatu fez o que era certo; eu fiz o que me foi possível.

Cada um dá o que tem, porque conhece os limites de sua capacidade. O marinheiro tem que conhecer a si mesmo. Do contrário, ele não navega.

Cai outra vez uma chuva miúda, prenúncio de despedida. Nos últimos dias, o Haaviti parece com pressa; tem andado mais veloz, mais esperto. O vento sopra forte. O Mar ruge feroz e aumenta seus já enormes vagalhões. O barco surfa neles ligeiro. Há uma cumplicidade geral para abreviar a irremediável chegada, para que termine logo a tortura da despedida.

………………………………..

Agora são 14 horas no barco, o mesmo horário do Brasil. Estamos a 106 milhas do ponto programado. Nosso rumo magnético (RM) é 286, os ventos sobram leste-sudeste (ESE). O dia é lindo, o céu está aberto e a velha e querida locomotiva vai soltando lá no céu seus rolos brancos de vapor. Avisa-nos que os ventos fortes vão continuar. Vai que é um tanque... Não lembro mais há quantos dias não ligamos o motor. Ironicamente, temos combustível de sobra.

Acho que nossa distância para entrarmos em Simpsom Bay Lagoon, St. Martin, é mais ou menos a mesma do Bojuru ou da Barra Falsa até Porto Alegre, um pouco mais, um pouco menos. Saudades…

………………………………….

O sétimo grande velejador com quem estive no Mar em grandes navegadas chama-se Carlos Altmayer Gonçalves, o Manotaço. Nossa relação ficou mais estreita a partir de um episódio ocorrido quando ambos integrávamos o Conselho Deliberativo do Veleiros do Sul. Em todas as eleições para Presidente do Conselho, este era escolhido por unanimidade, embora a votação fosse secreta. Para Secretário, no entanto, sempre havia um único voto discordante, fosse quem fosse e por melhor que fosse o candidato da chapa única. Era para o Manota. Minha teimosa e isolada posição tinha um motivo superior. O voto era de protesto, voto de desagravo.

O Manota não pertence aos ungidos membros do grupo dos cruzeiristas, ao qual eu pertenço. E ele é um dos maiores cruzeiristas que conheço. Talvez, no Clube, o Henrique Ilha, o Geraldo Knipling e o Joel Rosa conheçam a Lagoa dos Patos como o Manota. Mais ninguém. Então, por que não considerá-lo também cruzeirista? Meu desejo era, pois, fazer justiça indiretamente, bem como, aliás, não se deve fazer justiça. Mas era uma forma de reparar o absurdo de se discriminar alguém porque é franco demais ou porque não é simpático.

Faz pouco tempo que nos aproximamos ainda mais um do outro. Foi a partir, exatamente, do Maravida, tão velejado pelo Manota que ele até construiu o novo mastro para aquele “navio”. Guardo dele a imensa habilidade marinheira, o notável conhecimento de manobras, a indiscutível autoridade com que fala das coisas náuticas.

Alguns anos atrás, o Barba Negra, o Rumo III e o Molecão retornavam de um feriadão na Barra Falsa do Bojuru, lá para os confins meridionais da Lagoa dos Patos. Paramos no Cristóvão Pereira para um refrescante banho de Lagoa e uma rápida visita ao belo farol, que está ruindo em virtude do deterioramento de suas fundações. Era um dia de Lagoa espelhada.

Quando retomamos a navegada, entrou um sudeste esperto e muito forte. Passei o timão para a Magra e fui recolher um cabo a sotavento, que se arrastava na água. Ouviu-se um estrondo. Mecanicamente, olhei para a popa para ver passar o tronco em que teríamos batido. Nada. Retornei imediatamente para próximo do leme e o mundo desabou. Com um segundo e sinistro estrondo, o mastro veio abaixo, carregando consigo o enorme velame, o radar, a antena de rádio, a estação de vento e todo o resto. No primeiro estrondo, partira-se o tirante interno que prende os estais laterais no cavername e a base dos estais ficou presa no convés. No segundo estrondo, não resistindo sozinho àquela tremenda pressão, o convés explodiu, liberando os brandais.

O mastro caíra, precisamente, no mesmo local em que, segundos antes, eu fora recolher o cabo que se arrastava n’água. Senti um calafrio. Mas o instinto de preservação da vida é algo para ser explicado: imediatamente, lembrei a grande lição aprendida com o Norton na mesma Lagoa. E, com a maior calma do mundo, friamente, calculadamente, disse à Magra que largasse o timão, sentasse e não fizesse nada. Vamos aguardar; o Molecão sabe o que faz. O mastro, do tipo passante, partira-se cerca de um metro acima da enora, mas não se dividira em dois pedaços. A parte superior, com todo o rig e o velame, ficara parcialmente caída dentro d’água. O pedaço do mastro que restara na cabine, apoiado na quilha, poderia bater no fundo do barco e furar o casco. Afundaríamos. Jogava muito, o forte vento já formara ondas.

Foi um suceder de cronométricos fenômenos que jamais esquecerei. O Molecão virou um compasso: girou sozinho 180 graus em torno do mastro e deslocou-se até posicionar-se a sotavento do mesmo. Em outras palavras, barco e mastro trocaram de posição eis que, quando quebrara, o mastro obviamente caira por sotavento. A partir daí o Molecão começou a rebocar toda aquela traquitanda, como se nada houvesse ocorrido. Natural e lentamente, o barco foi-se deslocando no abatimento que atende a ventos e correntes. Nada poderia ser mais estável, seguro. Não mais havia possibilidade do mastro submerso perfurar o casco, simplesmente porque o barco não atropelaria a mastreação afundada: ele a puxava por sotavento.

Eu fora operado do nariz dias antes e nem poderia estar velejando. Por isso, simplesmente não fiz mais nada. O Manota e o Eduardo Soeiro, que é um animal de tão forte, retiraram todo o equipamento d’água e salvaram tudo na bem executada e difícil manobra. Antes deles chegarem, pensei em cortar os brandais e tudo mais, amarrar um colete salva-vidas no estaiamento para marcar no GPS o local do ocorrido e jogar tudo fora. Operado, eu não poderia fazer muito mais do que isso.

Era fantástico; era incrível, tanto quanto incrível era a tranqüilidade da Magra. Ainda que sem a dupla causa para tal, ela tinha confiança no Molecão, nosso velho guerreiro vermelho, e no seu comandante. Mal sabia ela que eu, simplesmente, lembrara do Norton naquela ocorrência, não muito longe dali, próxima ao farolete do Rio Negro, há alguns anos.

E lá se foi o Molecão, tristemente sem mastro, mas com velas e rig amarrados no convés. Do jeito que dava. E quando ancoramos no porto do Barquinho, o Beto Frischman teve que mergulhar para retirar um cabo da âncora de popa que se enroscara no hélice. Depois disso, o próprio Manota renovou o mastro e o tirante rebentado, trocou um único brandal que precisou ser cortado e nunca mais o Molecão terá problemas de mastro. O Manota entende um monte de socorro naval. É como o Joel Rosa, também velho marujo de tantos e tantos salvamentos na Lagoa que até já não se sabe quanta gente o “das rosas” buscou por esses confins.

………………………………..

Fiquei hoje pensando: mas, e esses caras como o Manfredinho e o José Paulo? Eles são tidos como dos melhores proeiros do Brasil. Para quem não sabe, proeiro não é um velejador qualquer; é como centroavante, profissão diferente de jogador de futebol. Proeiro é proeiro. E só. Há, também, os grandes timoneiros como o Cavalli, o Dodão, o Nelson Piccolo, o Xandi, o Bochecha e alguns outros. Mas eu não tinha que falar neles?

Não tinha, não. Por incrível que pareça, eu nunca velejei com o Zé Paulo, ou com o Bochecha, ou com o Xandi. Nem com o Piccolo e o Dodão. Com o Cavalli, jamais fiz translados. Com o Manfredinho, já perdi a conta de translados e regatas em que estivemos juntos, mas - e isso também é incrível - o comandante nessas ocasiões nunca foi ele. Parece mentira.

Ora, esses e outros grandes velejadores não se enquadram no tríplice critério por mim escolhido para homenagear as máquinas de velejar: que comandassem barcos em que eu estivesse, no Mar, em regatas e em translados. Então, eles ficam para o próximo livro...

SÁBADO, 09 de dezembro (coordenadas das 22h-GMT de sexta-feira: 17.55 N e 061.55 W).
Eis, provavelmente, o último dia sem ver terra. Desde Gran Canaria é só céu e água. Dia e noite, céu e água. Estamos agora surfando enormes ondas a 12 nós, num Mar infernal, com a forra no primeiro rizo, ventos outra vez fortíssimos de sudeste. Ontem, vi no log o maior número que jamais vira em tempo algum: 15.1 nós de velocidade. Tremia tudo, trepidava todo o barco, vibrava até a alma do grande Haaviti. É impressionante como ele suporta as terríveis forças que sobre ele se abatem. Os estrondos na ponte são aterradores, o barulho é ensurdecedor. O barco sacode nas ondas e não há como ficar de pé. Este é um barco marinheiro; de verdade.

Estamos a 46 milhas de St. Martin. Mas dentro de mais duas horas vamos dar o jaibe e arribar para St. Barthelemy, cerca de 10 milhas antes. Deveremos aguardar, ali, até o fim da tarde, a abertura da ponte que nos propiciará entrar no destino final, Simpsom Bay Lagoon, Ilha de St. Martin. Sint Maarten, para os holandeses.

Glossário

Índice