Abelhas a bordo
Saiba o que fazer
Danilo Chagas Ribeiro

A primavera deixa as abelhas propícias a embarcar. O assunto foi discutido pelo grupo popacombr em setembro de 2004.
Na primeira semana de outubro um veleiro com crianças foi visitado por um enxame em Tapes, na Lagoa dos Patos.
Saiba o que fazer quando visitado por abelhas a bordo. Seguem os relatos, as sugestões de um apicultor, e as recomendações de um médico, ambos velejadores associados ao grupo popacombr.

Relatos

Geraldo Knippling (Magana/VDS)
O primeiro relato sobre abelhas documentado no meio náutico gaúcho é do grande esquadrinhador do Rio Guaíba e da Lagoa dos Patos, o Comandante Geraldo Knippling. Na página 154 de sua obra "O Guaíba e a Lagoa dos Patos", nosso mestre narra com muito realismo a atracação de um enxame de abelhas em seu veleiro:

"Para não dizer que a navegação na costa leste é monótona, devido às grandes distâncias, cito aqui uma surpresa que tivemos ao navegar de Bojuru para Cristóvão Pereira, na rota direta. Estávamos um pouco além do través de Capão da Marca, a umas 6 MN da costa, o vento era S/SE fraco e tudo parecia perfeito. Vimos então, uma pequena nuvem, ou áurea, no topo do mastro, envolvendo a antena do VHF. Esta pequena "nuvem" foi se alastrando e em poucos momentos todo o barco estava tomado por um enxame de abelhas. Foi aquele susto! Que fazer? Nunca tínhamos passado por situação semelhante. As abelhas, pelo que dizem, são pacíficas quando não agredidas. Mas, lembrando-me do meu tempo de colégio, quando várias vezes tive o desprazer de sentir uma ferroada, fiquei seriamente na dúvida. Também há aquela história da rainha que toma as decisões pelos seus "súditos". Qual seria o estado de espírito da Rainha depois de um longo vôo sobre a água? Para nós, parecia uma situação como a que foi criada por Hitchcock no filme "Os Pássaros"; a calmaria antes da revoada fatal! Ninguém querendo fazer o primeiro movimento. Minha mulher foi logo fechando o barco, cuja cabine seria o nosso refúgio. Lentamente me desloquei até ao pé do mastro para baixar a vela, que certamente foi o ponto de atração dos bichinhos.. Foi quando uma das abelhas pousou no meu braço; instintivamente procurei enxotá-la; mas veio outra e mais outra. Acabei pegando uma toalha e a situação complicou-se. As abelhas não devem gostar de toalhas! A esta altura chegava a parecer um esforço pela sobrevivência, com todos os recursos disponíveis (toalhas). Depois de algum tempo, (muito tempo para nós), elas desistiram do abrigo que estavam buscando no barco e saíram, espontaneamente, em grande revoada. Incrivelmente foram para a direção onde não se avistava terra no horizonte. O saldo foi uma dolorosa picada no braço esquerdo. Minha mulher conseguiu escapar, enrolada num cobertor, na cabine.

Nunca tinha ouvido falar de abelhas migratórias sobre extensas superfícies de água. Também seria de indagar se elas tem autonomia e capacidade para voar tão longe, sobre a água. E o senso de direção? Ou será que se tratava de uma revoada suicida?

Com o vento SE mais fresco que levantou à tarde, nossa viagem continuou sem maiores incidentes e sem visitantes indesejados."

Cylon Fernandes Rosa Neto (Raio de Luar/VDS)
Sexta dia 01/10 fomos levar o Feitiço para Tapes, dormimos uma noite linda no Sítio, acordamos às 5:00 hs com o show dos inhambus e aracuãs e demos início a nossa segunda parte do passeio. A navegada foi espetacular, deu noroeste com balão até o pontal e depois que entramos no saco de Tapes virou para sul e continuamos com balão até o Clube.

No entanto, entre o Biru e o farolete do Hugo, o barco foi invadido por abelhas. Levamos a coisa com jeito, mas poderia ter sido complicado, pois alguns enxames são bem agressivos. Algumas ficaram lá enroladas nas velas como troféus para o Feitiço.

Nos meus tempos de granjeiro em Montenegro, a primavera era a estação de marcação do gado, rosetas na sola do pé e cuidado com abelhas, que usualmente estão em fase de mudança do local dos enxames, e tivemos muitos acidentes com gado e cavalos em função deste fato. Eu mesmo fui para o hospital uma vez por um acidente deste tipo: deu choque anafilático, com edema de glote.

Roberto Gruner (Pretexto/CDJ)
Já tinha conhecimento de dois casos, velejadores do Jangadeiros, que tiveram sua navegada interrompida por enxame de abelhas.
Hoje quando deslocava-me para a Usina do Gasômetro, para assistir a largada da Seival e demais regatas, fomos abordados por abelhas que, na sua organização mais do que conhecida, são precedidas de alguns batedores e em pouco tempo chega o enxame.

Primeira providência, afastei o Pretexto do canal de navegação e ancorei (estávamos no través do antigo estaleiro Só). Entramos no barco e fechamos todas as vigias e gaiuta e ficamos pensando no que fazer. Passado algum tempo, tomamos a iniciativa de sair e para a surpresa de todos a cachopa já estava se formando junto ao garlindéu da retranca. Com panos e toalhas para cada tripulante (estávamos em três), começamos a guerra. Felizmente, sem ninguém ferido, conseguimos eliminar o problema e seguir adiante.
Alguém já passou por esta experiência? Existe alguma solução que não coloque em risco a tripulação? Sei que tem pessoas com sensibilidade ao "veneno" de abelhas e maribondos, podendo sofrer um choque anafilático.

Fumaça, a solução

Dieter Brack (Hobie Adventure/ICG) - apicultor quando não está velejando
Nunca passei por uma situação dessas velejando.
Mas como sou metido a apicultor, me atrevo a dar alguns palpites.
A primavera é a estação preferida pelas abelhas e apicultores. É a época da enxameação.
Os enxames estão com uma grande oferta de polém e nectar, por isto se fortalecem e há um grande aumento da população dos enxames. O aumento populacional é tão grande que os enxames acabam dividindo-se. Uma parte continua no seu ninho original, e a outra parte se rebela, elege uma outra rainha, e sai em busca de uma nova casa.
Para abandonarem o ninho, armazenam o máximo possível de alimento, mel, pois não sabem quanto tempo vão voar, em procura de um novo ninho.
Nesta situação normalmente elas não atacam, pois tem que minimizar as perdas para a sobrevivência do novo enxame.
Enquanto elas procuram novo ninho, elas costumam pousar em certos lugares para descansar. Ficam ali um tempo e depois saem, e vão pousar em outro lugar, até achar um ninho.
Acho que o que aconteceu contigo foi isto, algum enxame que se dividiu e no meio do Guaíba o único Pit Stop que encontraram foi o Pretexto.

Nesta situação o que poderia espantá-las seria fumaça. Poderia ser usada uma folha de jornal mesmo. Só jogue água em último caso, pois nesta situação elas ficam com as asas molhadas e não conseguem voar, e aí fatalmente todas elas iriam acabar no rio e mortas, mas se for o caso, antes elas do que vocês. Mas antes de jogar água, limpe bem a área, tire cabos e demais objetos que possam obstruir o deslocamento da água com abelhas.
Tenha muito cuidado pois muitas vão parar no chão, então tem que ter muito cuidado para não pisar em alguma abelha perdida pelo chão.

Uma outra maneira é, com um balde, chegar por baixo delas, e ir subindo o balde o máximo possível, cuidando para não esmagar nenhuma abelha. Quando a grande parte estiver dentro do balde, faça com caiam dentro dele, fazendo um balanço brusco no local onde elas estão penduradas. Se não for possível, com a grande parte das abelhas dentro do balde, arraste o balde raspando onde elas estão apoiadas, assim todas cairão dentro do balde, e ai pode jogá-las no rio.
Sempre irão ficar algumas abelhas perdidas por ali.

O ideal é a fumaça.

Picadas, o que fazer?

Pedro Chiesa (Auguri II/CDJ)
Já soube de casos de choque anafilático por picadas de abelhas. Isto é uma situação de altíssimo risco num barco, pois muitas vezes podemos estar longe do auxílio médico necessário.
Para isto levo antialérgico no barco. Consultei com um médico amigo meu e me disse que não é a melhor solução mas pode se usar como alternativa. Algum médico de plantão do grupo poderia ampliar a questão?

João Luiz de Mello (Fiapo/VDS) - médico
Existem diferentes tipos de alergia a picada de abelha. A mais dramática é a anafilaxia (ou choque anafilático, conforme referido). Felizmente ela é rara, pois de nada adianta ter antialérgicos comuns no barco. O tratamento é com adrenalina injetável e outras coisinhas mais, mas o mais importante é a adrenalina, que diminui rapidamente o inchaço das vias respiratórias, melhora a pressão sanguínea, que baixa muito neste tipo de reação (daí o nome CHOQUE anafilático). É uma situação dramática e nos casos de alergia severa já diagnosticados previamente, é comum que os médicos indiquem a estes pacientes o transporte de adrenalina e seringa, com a orientação da dose a ser usada em caso de picada, sem aguardar o desencadeamento da reação. Nos EUA existe pronta para venda uma apresentação de adrenalina para que os pacientes propensos a anafilaxia carreguem com eles.
Tenho uma paciente com este tipo de alergia grave, só que a picadas de formiga, o que se tratando de criança é prá lá de problemático. Quando a família vai para o interior, os pais carregam 2 ampolas de adrenalina, seringa com agulha para uso subcutâneo e toda a orientação de uso.
MUITO IMPORTANTE: se não tiver nada a bordo (ou quase nada), coloque GELO sobre a picada e tente remover o ferrão, sem apertar, fazendo movimentos com uma faca sem fio como se estivesse raspndo, para retirar o ferrão sem injetar uma maior quantidade de veneno. MANTENHA GELO SOBRE O LOCAL ATÉ OBTER SOCORRO MÉDICO.

Abaixo está o texto sobre anafilaxia e adrenalina, também chamada epinefrina, da URL http://health.yahoo.com/health/centers/allergy/507

Epinephrine
Provided by ISL Consulting Co.
What is Anaphylaxis?

Anaphylaxis is a severe and potentially life-threatening allergic reaction that can affect various areas of the body including the skin, respiratory tract, gastrointestinal tract and cardiovascular system.
Hives, total body itching and swelling, difficulty breathing, swelling of the mouth and throat area, vomiting, cramping and diarrhea are some of the symptoms associated with anaphylaxis.
Anaphylactic Shock
In the most severe cases the sufferer can go into shock. Swelling of the bronchial tissues in the lungs can cause a person to choke and lose consciousness. A precipitous drop in blood pressure due to dilated (expanded) blood vessels can also result in a loss of consciousness.
In such cases of anaphylactic shock it is imperative that treatment be administered immediately. Without prompt attention anaphylactic shock can be fatal.
Who is Most Susceptible?
Annually, about 3 out of every 10,000 people experience anaphylactic reactions. People with asthma, eczema or hay fever tend to be at a greater relative risk of incurring anaphylaxis.
The most common allergens that provoke anaphylaxis include:
Food (shellfish, nuts, and dairy products are the more prevalent culprits)
Medication
Insect Stings
Latex
How Do You Treat Anaphylaxis?
Epinephrine is the one effective treatment for an anaphylactic reaction. Epinephrine is a form of adrenaline. It works rapidly, reducing the swelling of the bronchial tubes and other airways to ease breathing. It increases the heart rate and blood pressure and ultimately reverses the symptoms of the anaphylactic reaction. If taken at the onset of an anaphylactic episode, epinephrine can prevent the further progression of the symptoms.
Epinephrine is given by injection into the thigh, usually with an automatic injection device. Once a person who has suffered anaphylactic shock has been stabilized it is important that they get further care at a hospital.
People who are highly susceptible to anaphylactic reactions should always carry an epinephrine injection kit and wear a medical alert bracelet.
Last Reviewed: May 3, 2002


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Adriano Becker (Ibaré, Arambaré)
Certa vez, navegávamos no Lightining "Tupi III", do Seu Germano, em Arambaré, quando resolvemos dar uma parada junto ao farolete que fica a duas milhas da costa. O pessoal que estava a bordo me olhou com estranheza quando disse que não iríamos chegar no farolete, ao que mostrei a eles: um enorme enxame "agarrado" a um dos pés do farol. Imediatamente arribamos e nos afastamos dali. Achei excelente a matéria.
Abraços, parabéns a todos pelo super site, e às ordens por Arambaré.
Adriano Becker, IBARÉ.