Velejada ao Marco de Touros
A primeira atravessada a gente nunca esquece
Nelson Mattos Filho

Já que estamos comemorando 506 anos do Marco de Touros no Rio Grande do Norte, falarei de uma velejada que fizemos à Praia do Marco, uma das mais belas praias do nosso litoral.

Velejando no Carnaval
A Praia do Marco, com sua paisagem paradisíaca e mar de águas tranqüilas, mornas e com varias piscinas naturais, se destaca de outras tantas praias do litoral norte, por seu porto abrigado, devido a arrecifes que protegem a ancoragem, auxiliado por uma boa profundidade e fundo de areia e lama, fazendo que a âncora unhe com muita facilidade e segurança. É uma excelente opção para os que navegam em direção ao norte.

Saímos do Iate Clube, numa manhã de sábado de carnaval, eu, Pedrinho e Freitas. Os ventos sudeste e sul que sopravam na ocasião, proporcionavam uma velejada muito tranqüila.

Velejamos numa distância de 3 milhas da costa, conferindo todos os pontos notáveis da costa. Passamos pelos canais de Maracajaú e Rio do Fogo, que apesar de cercados por parrachos, são muito fáceis de navegar, acrescentando muita beleza à velejada. Escolhemos passar por dentro do canal por causa das excelentes condições de mar e vento, e também por possuirmos a Carta Náutica detalhada da região, que nos dava bastante segurança.

Atravessada
Em frente à praia de Zumbi, tivemos um grande susto. Resolvemos colocar a vela balão, já que o vento estava fraco e o mar bem liso. A vela balão por ser uma vela de tecido bem fino e com uma área muito grande, dá uma velocidade maior ao barco, mas a tripulação tem que estar afinada e acostumada ao seu uso, não era nosso caso. Mesmo assim seguimos em frente, tudo na vida tem a primeira vez.

Subimos a vela com seu colorido muito bonito e o barco teve outro desempenho, seguimos por uns dez minutos velejando muito veloz quando aconteceu o inesperado. O barco atravessou no vento. O barco ao atravessar fica praticamente virado com a borda lateral e a retranca da vela grande na água. Foi justamente o que aconteceu com o Avoante. O susto foi grande, levamos mais de 15 minutos para contornar a situação, já que o balão ficou inflado para cima puxando o barco deitado de lado e os cabos da vela presos sem que conseguíssemos solta-los. A melhor opção era passar uma faca nos cabos para soltar a vela na água e o barco levantar, foi o que fizemos e a situação foi em parte contornada, faltava recolher a vela da água e recuperar do pânico que tinha se estabelecido a bordo.


Marco de Touros, o primeiro marco colocado pelos portugueses no Brasil, localizado na Praia do Marco, litoral do Rio Grande do Norte.

Nesse barco não entra mais vela balão...
Seguimos em frente pelo canal do Rio do Fogo até à praia de Touros (veja carta náutica). No farol da Ponta do Calcanhar a costa dá uma guinada para oeste e o vento que entrava pela nossa popa, passou a entrar pelo traves de bombordo, lado esquerdo da embarcação. Touros fica literalmente na esquina do continente. Nossa velejada continuou muito boa, apesar do susto, já que recebíamos ainda a ajuda da força da corrente marinha que naquela região é muito significativa.

Passamos próximo às praias de Cajueiro, São Miguel do Gostoso, Ponta de Tourinho e Morro dos Paulos todas com muita beleza e harmonia com a natureza.
Chegamos à Praia de Marco, localizada 65 milhas de Natal, após 8 horas de velejada. Na chegada contamos nossa aventura com a vela balão, Lúcia ouviu tudo e no final deu a sentença, “Nesse barco não entra mais vela balão...”. Resultado o Avoante ficou sem sua vela colorida.

Velejar entre Pernambuco e Ceará é teimosia
Passamos o carnaval e uma semana depois resolvemos retornar a Natal. O Freitas não embarcou, tivemos a companhia do Abraão, irmão do Pedrinho.
Nossa volta para Natal, foi mais demorada, gastamos 24 horas de muito trabalho, vento e correnteza contra, mas mesmo assim curtimos muito a velejada.

Acho que essa dificuldade é o que faz muito velejador potiguar desistir de conhecer nosso litoral. Como a Praia do Marco, temos muitos locais de ancoragens a serem explorados. A dificuldade faz parte da vida do velejador.

Não podemos esperar apenas ventos favoráveis. Muitos dizem que não gostam de sofrer. Mais quem falou que velejar é sofrer?

Dizem que velejar entre Pernambuco e Ceará é teimosia. Mas se é isso que gostamos de fazer, vamos seguir com nossa teimosia. A Praia do Marco, com suas belezas e seu estado ainda selvagem, apesar de seus 506 anos, testemunha o quão nossos governantes são mesquinhos com a historia de nosso povo. Eles não têm olhos nem para o passado nem para o futuro, apenas olham o presente tentando enxergar vantagens pessoais e políticas.

O Velejador potiguar, precisa sair da sombra dos palhoções e partir para explorar nosso litoral. Belezas, ventos e locais para se jogar âncora é o que não falta em nosso litoral, basta apenas um pouco de espírito de aventura e disposição.

Tenham bons ventos!

Nelson

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(*) Nelson Mattos Filho é velejador cruzeirista e mora embarcado com a esposa Lucia, em Natal. Este artigo foi originalmente publicado no jornal Tribuna do Norte, de Natal, ontem, 13 Ago 2006.

O veleiro Avoante em Camamu, Bahia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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