A Baliza do Régis
Passagem entre as lagoas Palmital e Malvas
Régis Feldmann

Lá pelo início da década de 80 eu ainda pescava no Tramandaí com um pequeno barco com motor de 8hp. Era comum o retorno à noite (como sabes aprecio demais a navegada noturna e até hoje com o Respingo isto acontece), não havia GPS e ainda não conhecia a carta do Exército. Saía do Tramandaí, entrava nas Malvas e toca procurar a passagem nos juncais, para cruzar para o Palmital. Fiz tantas vezes que até já estava safo (ou achava que estava).

Pois uma bela noite fiquei solito no Tramandaí até tarde. Noite muito calma com leve nevoeiro marítimo. Aquela bruma foi fechando, fechando... e já senti o susto na largada.
Do Tramandaí para a Malvas foi moleza, navega na "direção" do Morro Alto e depois quebra à esquerda. Nesta quebrada à esquerda errei o ângulo em direção à barreira de juncais. Entrei naqueles "sacos" nos fundos da fazenda dos Diehl que não levam a nada e aí o CG, "coeficiente de cagaço" aumentou. Quanto mais me embretava no juncal, mais atrapalhado ficava. Era motor batendo no fundo, depois remo que não alcançava o fundo e dá-lhe junco. De lanterna procurava a passagem. Naquelas "priscas eras" não havia telefone celular e não tinha adotado o VHF.

Quando saí do raio do saco e achei a parede de juncos, vim margeando devagarinho até achar a passagem.
"Plantamos" esta baliza por necessidade. Até hoje serve aos nossos navegantes. Ela possui alguns refletivos. Basta uma lanterna para aqueles "olhinhos" brilharem na escuridão nos levando seguros de uma lagoa a outra.

Montamos a baliza na fábrica do Ruyzinho. Possuía originalmente mais um cano acima do tope, no qual tremulava uma bandeira encarnada. Esta parte foi roubada e substituímos pelo pneu pintado de branco.
Ao pé do cano colocamos uma espécie de fisga. Quando o enterramos, esta peça ficou colada ao cano, depois puxando-o um pouco de volta a peça abriu-se dentro da areia o que impede sua remoção por simples tração.
Já estamos na segunda estiagem continuada e ainda não botamos nossa vontade de pintá-lo em ação. Deverá receber uma pintura encarnada, e no tope o sinal característico do duplo triângulo entrecruzado com refletivos.

É isto aí comandante... Outra baliza com história. Aliás, em navegação tudo possui sua história.

-o-

[popa] A região do encontro das lagoas do Palmital e das Malvas é cheia de juncos. Voltando das navegadas à tardinha e à noite, é ali o ponto crucial. Não existem referências visíveis em terra, como alguma luz. É uma barbada pra gente se perder em meio ao juncal. E inclusive até lobisomen já foi visto neste lugar.
Bússola? Eco? GPS? Mas credo... Isso é considerado bichice ou viadagem naquelas bandas. Os graxains não usam essas coisas na Pinguela. Lá um dos prazeres da navegação é justamente achar os rumos no olho. E que belo prazer!
Neste contexto, enxergar a baliza implantada pelo Régis é sempre um alívio. É a certeza de estar no caminho certo de volta pra casa. Muito obrigado pela obra, Comte Régis.

A Baliza do Régis, conhecida dos navegadores das lagoas do Litoral Norte do RGS

Lidson Cancela

 

Ao fundo, o Morro Alto

Celso Chagas Ribeiro

 

Coordenadas da Baliza do Régis: S29º 48.496' W050º 07.965' (WGS-84)
Vveja na imagem abaixo

 

Comte Régis Feldmann navegando na Lagoa da Pinguela, no Respingo

 

 

 

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