Veleiros para gaudérios
Tentando vender barcos em Uruguaiana
Rudi Schultz*

Na implantação da fábrica da Mariner no Brasil, aí pelos anos 80, havia uma preocupação imediata em divulgar os novos lançamentos, através dos representantes em cada um dos estados, banhados por rios, lagoas, mar etc.
A mim coube levar o O'Day 23 e o Day Sailer a cidades como Rio Grande, Pelotas, São Lourenço, Tapes etc. Feito isto, partimos para visitar outras paragens, como Uruguaiana, na fronteira, represas etc, ou seja, qualquer banhado onde pudesse caber um veleiro navegando.

Evidentemente que, na maioria das cidades, não havia a mínima noção de navegação à vela e algumas já estavam voltadas para os barcos a motor, pequenas lanchas de fibra e barcos de alumínio, vendidos na ocasião pela Hermes Macedo e Mesbla Náutica, em razoável escala.

O caminho era, sem dúvida, promover um curso rápido de vela e tentar colocar nosso produto no mercado gaudério.
Assim foi em diversos lugares. Meu parceiro para estas aventuras era o então gerente da Mariner, José Adolfo Paradeda, o "careca", figura com a qual convivi por um longo período.

No caso de Uruguaiana, especificamente, mandamos um Day Sailer de caminhão e fomos acompanhados das respectivas esposas, de trem, durante uma noite inteira, para apresentar a arte de velejar no Clube Náutico Sanchury, cujos sócios e aficcionados da náutica foram préviamente convocados. Ficamos hospedados na Capitania dos Portos local, muito bem recebidos,em ótimas instalações e logo em seguida fomos ao Clube.

Da margem podia-se ver o outro lado, distante talvez uns 400/500m, e a ponte da amizade logo à nossa direita.
Após uma breve preleção com o grupo, na sede do Clube, ministrávamos uma aula de uma hora, mais ou menos, onde se tentava mostrar o que seria barlavento, sotavento, popa, proa e principalmente, a ciência mágica de andar contra o vento.

Imaginem ensinar a velejar neste espaço de tempo pra quem nunca tinha visto barco a vela na vida, a não ser em calendários ou fotografias. Ato contínuo, o Careca põe o barco n'água e leva os primeiros interessados a navegar. Eu, de costas para o rio Uruguay, continuo vendendo meu peixe aos que ficaram na praia esperando a vez.
Os olhares me transpassavam por sobre o rio, enquanto eu jurava aos futuros velejadores, que navegar à vela era legal, pois proporcionava ir e voltar velejando, usando somente as forças da natureza.

- Não é bem assim!, diz um dos ouvintes.
- Rudi, olha pra trás, que ainda vais ver o Careca descendo a mil por hora.

Na verdade, o Careca quase sumiu na curva do rio, já abanando e pedindo por socorro (reboque), uma vez que a correnteza era forte demais, e o pouco vento tornava quase impossível voltar ao clube sem motor.
Resultado: não vendemos nenhum barco à vela em Uruguaiana. Fomos vencidos pela característica do local.

Hoje em dia, a vela é praticada em represas próximas à fronteira, sem problemas.
Acho que valeu nossa intenção !!

Rudi Schultz - 05/2004

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(*) Rudi Schultz é proprietário da Sul Náutica, loja de artigos náuticos em Porto Alegre

Obs: Uruguaiana é a cidade mais ocidental do Rio Grande do Sul, fronteira com a Argentina, às margens do Rio Uruguai

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