Cachorro ao mar!
História de trapiche
Danilo Chagas Ribeiro

Mar 2007
Há alguns anos um casal de velejadores almoçara no Veleiros do Sul em um belo dia de sol em Porto Alegre. Ficaram por ali conversando até que ele a convidou para um cafezinho a bordo. Embarcaram e resolveram tomar o café navegando. Saíram do clube e içaram as velas.

Em frente à Praia de Ipanema, poucas milhas ao sul, o quadro era muito bonito, contou o comandante. Ele tocava violão e cantavam descontraidamente no cockpit onde o tímido cachorrinho de bem poucos meses circulava. A água para o café estava sendo aquecida no fogão, lá embaixo na cabine.

De repente tudo mudou, disse ele.
A gente tava na boa, curtindo... Eu tava tocando...
Tava um ventinho muito legal e fazia tempo que a gente não saía...
Aquele sol gostoso do inverno, sabe?...

Ta, mas o que que aconteceu? Ali não tem pedra. Foi colisão?... Temporal?...
Não, o cachorrinho caiu n'água.
Mas não era bem pequeno?
Era, mas já caminhava um pouco. A gente não imaginava que ele pudesse sair do cockpit e cair n'água.

Ta, e daí?
E daí que a Imediata foi atrás do cachorro. Se jogou na água pra salvar o bicho. Sem colete, sem aviso de Cachorro ao Mar, nem nada. E eu ali, disse o comandante naquela calma que lhe é típica, tocando meu violão.

De repente, eu tinha que pensar rápido em um monte de coisas. Foi um stress. Era soltar o violão e fazer o barco voltar. Virar de bordo. Não, melhor baixar os panos e fazer o motor funcionar logo. Pois é... Fazer um motor (de popa) funcionar logo! Começou a correria, nos pensamentos e nas ações. E a água já estava fervendo lá dentro. Eu tinha que catar a bóia pra jogar. Apagar o fogo. Achar o croque, e olhar pra ver como eles estavam. Ela estava nadando com uma mão só.

E toda essa correria a partir de um "clima de depois-do-almoço", devagar, relaxado. Tocando e cantando.
E tudo por causa do cachorro, não é?...
Não, eu tinha que salvar a Imediata. O cachorro também.

Tem quem faça a brincadeira de jogar a bóia salva-vidas na água e dizer ao comandante "Homem ao Mar. Te vira!", só pra contar o tempo gasto até recuperar o náufrago imaginário. Como um exercício. Não era o caso.

O comandante deu conta da faina e saiu-se muito bem. Embarcou a esposa e o cachorro a tempo. O cafezinho a bordo ficou para outro dia.

 

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