O Canal do Panamá
José Antônio Torelly Campello

Ao visitar uma filha atualmente morando e trabalhando no Panamá aproveitei para conhecer este curioso País e especialmente o famoso canal transístmico. O ístmo que une as Américas do Norte e do Sul foi formado gradualmente por movimentos sísmicos com ação vulcânica oriundos do interior da Terra a 15 milhões de anos.

A posição geográfica do Panamá é singular. O País se estende de leste a oeste paralelamente à linha Equatorial, o que permite algo incomum para nós: ver o sol nascer pelo Pacífico na Capital e se por no Atlântico nos arredores de Colon, cidade banhada pelo mar do caribe e de acesso norte do canal. O canal se desenvolve na direção Norte – Sul.

Breve histórico da região

Desde a descoberta do Caribe por Cristovão Colombo em seu deslumbramento na 4ª viajem com as praias e ilhas de Boca del Toro a Noroeste do litoral caribenho deve ter-se defrontado com interrogações que no mínimo perturbaram o descobridor: seria a Índia, ou um Continente se interpondo no percurso? Neste caso, o que haveria do outro lado, seria possível atravessá-lo por água?

Em 1513, Vasco Nunes de Balboa intentou esta travessia com sucesso por terra atingindo pela 1ª vez o Pacífico na altura da atual capital, ali fundando uma povoação.

Daí em frente, a vocação do País seria sempre a de dar passagem de mercadorias entre os 2 oceanos.

Já foi assim após a descoberta de Ouro e Prata no Peru quando estas riquezas cruzavam o ístmo no lombo de mulas até o Atlântico a caminho da Espanha nos séculos XVI e XVII. Mais recentemente outras mercadorias de interesse globalizado, fins de século XIX e início do XX já o faziam através do canal construído. Certamente não para por aí. Agora em Outubro de 2006 haverá um Plebiscito da população para decidir pela duplicação da capacidade. Este é o Panamá.

Delineação da Bacia Hidrográfica

Depois de muitas tratativas, projetos e até contratos diversos com outros países foi em 1882 que a França deu início às obras. O projeto encabeçado inicialmente pelo famoso e respeitado Eng. Ferdinand de Lesseps cujo Curriculum já ostentava a bem sucedida construção do canal de Suez ao norte da África entre o Mar Mediterrâneo e Vermelho, não sofreu reveses apesar da aguerrida concorrência. Ninguém ousou afrontá-lo em relação à escolha do Panamá. No front outro reforço de peso, o Engenheiro francês Gustavo Eiffel, o mesmo que construiu a torre de Paris encarregou-se da construção das comportas metálicas até hoje em operação.

Após a derrocada francesa devido à febre amarela, dificuldades naturais tais como cortar uma cordilheira, excesso de chuvas, desmoronamentos, logística e técnicas insuficientes, além de corrupção depois de 21 anos de árduos trabalhos de escavações, entregaram o compromisso aos americanos. Estes iniciaram os trabalhos já em 1904 sob coordenação política do Presidente Theodore Roosevelt e finalizaram-no 10 anos após. Mudanças inteligentes foram introduzidas pelos técnicos e engenheiros militares, optando por um desnível do lago artificial de 26m sobre o nível dos oceanos, o que alagou milhares de Ha de terras, mas reduziu enormemente a profundidade necessária das escavações. Valeram-se assim das vantagens de dispor uma lâmina d´água maior a montante das eclusas que permitiu fazê-las operar sem bombas hidráulicas.

Na verdade o complexo é formado por 3 lagos; Gatun, o maior de percurso; o Miraflores bem pequeno mas também de percurso que se estende entre as comportas de mesmo nome e as de Pedro Miguel no Pacífico e finalmente o lago Alajuela, regulador e estratégico, profundo e escondido nas alturas dos cerros que mantém o nível das águas dos demais e abastece de energia elétrica todo o complexo da Bacia e de outras cidades através das hidrelétricas da represa de Madden. A Natureza recompôs formidavelmente as grandes feridas e tem colaborado com o homem, enviando a quantidade de chuva necessária ao longo destes 92 anos de operação, pois cada embarcação gasta 200.000 m³ de água, 100.000 na entrada e 100.000 na saída e nunca faltou água apesar de operar 15 a 25 embarcações/dia.

Com o nível do lago mantido, apenas válvulas (250 ao todo) e comportas (88), são suficientes utilizando o princípio de vasos comunicantes com ação da gravidade. Apenas água doce é utilizada antes de ser despejada nos oceanos, o que isola o contato do sal e preserva consideravelmente vida útil dos equipamentos e acessórios.

Comprimento aproximado do Canal: 80 km, dos quais cerca de 50 Km através de rio Chagres já navegável na época das explorações. Nos outros 30 km o terreno acidentado continha uma mini cordilheira de difícil transposição que foi o principal desafio e ficou conhecido como corte Culebra-Gaillard exigindo milhares de detonações e toneladas de dinamite além de retirada de pedras e terras capaz de cobrir o comprimento de uma locomotiva carregada, estendida por 4 voltas ao redor do planeta.

Ainda como conseqüência do aproveitamento das pedras e terras, os americanos a título de quebra mar em presença de ressacas e assoreamentos da entrada do Canal do Pacífico, uniram quatro pequenas ilhas ao continente através de ístmo artificial, criando um recanto encantador chamado de Amador Causeway. Ali, existia um forte e um presídio antigo nas ilhas que durante a 1ª e 2ª guerra tiveram destacada atuação no sistema de defesa do canal. Hoje este recanto transformou-se em glamoroso aglomerado turístico com calçadão, ciclovias, um departamento do Instituto Smithsonian de Recursos Tropicais, restaurantes lojas, shopping, porto, marina e um pequeno Dutty Free da marina, ideais para o Happy hour dos fins de tarde e de fim de semana da sociedade abastada panamenha.

Navio Panamax

Quanto aos barcos que transitam no canal há limitações dimensionais de largura e comprimento, sem falar da altura limitada pela ponte das Américas na entrada do Pacífico. As comportas limitam as embarcações a 305 x 33,5m (comprimento x largura) o que convencionaram chamar estes navios construídos especificamente para a travessia contumaz do canal, de Panamax. Eles cruzam as eclusas com folga apenas de 60cm de cada lado com a proa e a popa a poucos metros das comportas

Hoje toda a Bacia Hidrográfica, rios e lagos estão protegidos por meia dúzia de Parques Nacionais que permitiram à natureza desenvolver fantásticas e pujantes flora e fauna. Isto é perceptível em passeios de barco realizados na parte central do lago Gatun e em passeio de teleférico embutido na exuberante floresta, ambos programáveis no Gamboa Resort, local da foz do rio Chagres no Lago Gatun. No mirante do topo, a vista é magnífica e domina uma parte da Bacia. A Bacia se estende por 326.000 Ha de extensão.

Outra bela opção é a viagem de trem entre Panamá e Colon que se desloca pelas margens do Canal desnudando toda sua beleza.

Regime de uso e Ampliação

Para os interessados em usar o Canal, todas as embarcações devem ter um prático a bordo, mesmo os veleiros.

O regime atual determina fluxo das eclusas do Pacífico para o Atlântico no turno da manhã e o inverso à tarde. A operação noturno fica reservada a embarcações menores, inclusive a veleiros agrupados dentro das eclusas.

Se no Referendo do mês de Outubro vencer o “sim”, ou a duplicação do Canal, isto exigirá um jogo novo de eclusas maiores, tanto no Pacífico como no Atlântico e também o alargamento do Corte Culebra-Gaillard para cruzamento de grandes embarcações. A novidade será a introdução de grandes bombas de alta eficiência para a recirculação da água doce, ao invés de lançá-la nos oceanos. Hoje, a transferência com nivelação de água de uma comporta a outra dura 8 a 10 minutos.

Afinal a Natureza tem sido pródiga com o homem no Panamá, mas entendem que não devem abusar, sob pena de comprometer o atual equilíbrio e todo investimento.

José Antônio Torelly Campello

 

 

 

 

 

 

 


Fotos: José Antonio Torelly Campello

 

Assista ao interessante vídeo mostrando a operação em uma eclusa:

Canal do Panamá: 12h em 1 minuto
(1,6MB zipado)

 

 

 

 

 

 

 

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