Do Chile à Austrália: 160 dias no mar
Travessia de 17.400 quilômetros em um catamarã 'hi-tech'


18 Set 2007

Roberto Pandiani e Igor Bely partiram ontem para uma travessia de 17.400 quilômetros em um catamarã 'hi-tech'
.

- Sob o sol escaldante do Pacífico Sul, velejar dias e noites sem parar a bordo de um catamarã de 8 metros de comprimento - e sem cabine. Dormir amarrado no casco do barco e acordar a cada duas horas para assumir o leme. Cenas de uma missão impossível? Que nada, apenas motivação para a próxima façanha do velejador Roberto Pandiani, que começa hoje: percorrer 17.400 quilômetros entre o Chile e a Austrália em 160 dias, em duas etapas.

O desafio parece fácil para o homem que já atravessou em um catamarã os mares da Antártida à Groenlândia, incluindo a temida Passagem de Drake. Mas essa será a primeira expedição de longa distância em mar aberto - e sem equipe de apoio. Pandiani só terá a companhia do velejador francês Igor Bely, com quem revezará o leme. "Passaremos um longo período no mar, sem escalas."

Tal ousadia só é possível com a tecnologia de nosso tempo. O Bye Bye Brasil - como é chamado o catamarã - tem um sistema com rastreador que informará às bases navais a posição do barco a cada três horas. A dupla terá internet e telefone via satélite. "Poderemos checar a previsão do tempo e enviar dados para nossas bases", explica Pandiani. E pensar que, em 1994, quando viajou de Miami a Ilhabela, ele mandava telegramas - duas frases demoravam sete minutos para serem transmitidas. "Hoje ligo a câmera e passo vídeo ao vivo."

Desde então, os computadores evoluíram - e muito. Têm mais memória e processadores rápidos. Mas a novidade é o notebook à prova d'água e resistente a choques, desenvolvido especialmente para a expedição do velejador.

Para enfrentar o sol durante a viagem, Pandiani e Bely vão usar roupas com tecidos que filtram raios ultravioleta. "São camisetas de mangas longas e fibras sintéticas, por onde só passam 5% de raios solares", explica. Na lateral do casco, haverá sacos de dormir e um tecido para cobri-los." É o procedimento de segurança."

O barco é ecologicamente correto. Além de não ter motor, conta com placas solares, para gerar energia, e dois dessalinizadores, para que a dupla possa usar a água do mar para beber e cozinhar. O cardápio será equilibrado, com 3.500 calorias diárias e comida liofilizada - tipo de refeição desidratada. "Mas levaremos alguns quitutes, como barras de cereais, chocolates e bolo inglês", conta.

A aventura começa antes mesmo de cair n'água. Pandiani e Bely vão percorrer 4 mil quilômetros de carro, rebocando o Bye Bye Brasil, entre São Paulo e Viña del Mar, no Chile, numa viagem de seis dias. A previsão da dupla é deixar o Chile em 4 de outubro e, 15 dias depois, chegar à Ilha de Páscoa - ponto mais isolado do mundo, a mais de 4 mil quilômetros da costa chilena.

O barco ficará na Ilha de Páscoa por 15 dias. "Queremos documentar a ilha", explica o velejador. Em seguida, a dupla seguirá rumo a Mangareva, a terceira escala. Dali, serão mais 20 dias navegando pelas ilhas polinésias até chegar ao Taiti, em 15 de dezembro. Nesse ponto, estará terminada a primeira fase da expedição, depois de 80 dias e 8.300 quilômetros no mar.

Pausa de alguns meses para a temporada de ciclones na região. O catamarã ficará por lá enquanto Pandiani e Bely voltam para o Brasil. A segunda parte da aventura começará em maio de 2008 para mais 80 dias entre Taiti e Austrália.

Uma equipe de fotógrafos e cinegrafistas registrará a aventura. A expectativa é transformar a viagem em livros de fotos e documentários. Quem não quiser esperar até lá, poderá acompanhar todos os dias o diário de bordo da dupla, no endereço: www.yahoo.com.br/travessia. Com fotos, textos e vídeos. "Para se lançar numa viagem como essa é preciso preparação", diz Pandiani. "Mas acho morar em São Paulo mais arriscado do que atravessar o Pacífico."
Fonte: O Estado de S.Paulo