"Seguindo a luz do sol, deixamos o velho mundo"*
Uma visão marinheira da viagem do Descobrimento
Tradução Danilo Chagas Ribeiro

Colombo partiu de Palos, Espanha, com 3 navios em 3 de Agosto de 1492. A caravela Nina, com velas latinas, era capitaneada por Martin Alonzo Pinzon. A caravela de velas redondas Pinta era capitaneada por Vicente Yanez, de 31 anos, irmão de Pinzon. A nau Santa Maria, comandada por Cristóvão Colombo, italiano de 41 anos, era a nau capitânia. A nau era a maior das embarcações e tinha um casco largo, se comparado com as caravelas (abaixo), embarcações mais leves e de casco estreito.

Os navios
Mas a Santa Maria era lenta e difícil de manobrar em longas viagens oceânicas. Calava 6 pés e tinha 5 velas**, sendo uma grande vela redonda, no mastro principal (assim chamadas as velas retangulares), mais uma vela menor no mastro da proa e ainda mais uma vela redonda menor em cada mastro. Possuíam ainda uma vela latina no mastro da mezena (o mastro da popa).

As 4 velas redondas eram armadas em vergas. As duas velas redondas menores eram usadas para trimar as grandes. Estes navios foram construídos em Palos, no Rio Tinto, no sul da Espanha.

Não há informações precisas das dimensões dos navios, mas estima-se que a Nina e a Pinta tinham de 21 a 24m (70 a 80pés) de comprimento, pesando em torno de 54 toneladas. A Santa Maria pesava 80 toneladas. Os 3 navios eram tripulados por um total de 104 homens. Tinham equipamento para consertar as embarcações, e suprimentos.

As embarcações alcançaram as Ilhas Canárias navegando do noroeste da África em vez de navegar a oeste dos Açores. Lá, Colombo converteu a Nina para velas redondas, porque ela estava ficando para trás. As tripulações carregaram água fresca e frutas a bordo. Em 6 de setembro de 1492 rumaram para Oeste, em mares não cartografados. Foi difícil o recrutamento dos marinheiros para a viagem, por causa da crença da existência de monstros e de redemoinhos sem fim nestas águas.

Medindo a velocidade
NinaOs navios navegavam cerca de 150 milhas por dia. A história conta que o instinto marinheiro de Colombo era extraordinário. Suas tripulações usavam a bússola e um log (velocímetro), feito de um cabo com nós eqüidistantes, e com um pedaço de madeira na extremidade. Um marinheiro contava quantos nós iam sendo desenrolados do carretel do cabo em um determinado tempo (ampulheta). Isso dava uma estimativa grosseira da velocidade (chegava a 9 nós). Daí veio a denominação de "nós" para medir a velocidade de uma embarcação.

PintaEntretanto, Colombo fazia uso de seus instintos, intuição, observações e experiência, fazendo algo como uma "navegação estimada" para determinar a posição. Ele aprendeu astronomia em um mosteiro na Espanha, de onde teve origem o nome da nau Santa Maria. O astrolábio foi inventado em 150AC, mas pouco se sabia dele na Europa quando Colombo partiu. A estrela polar contribuía na navegação, ajudando a determinar a latitude, mas sem relógio a bordo, a longitude não podia ser conhecida.

Faina
Os turnos de faina eram de 4 horas, medidos por 8 viradas de ampulhetas de meia hora. A faina incluía bombear os porões, limpar o convés, ajustar os panos, e verificação de cabos e da carga. Quando fora de serviço, dormiam em qualquer lugar nos navios. Somente os capitães tinham alojamentos privativos. Colombo escreveu em seu diário que, às vezes, passava mais de um dia sem dormir. A vida dos mSanta Mariaarinheiros era dura e seguidamente morriam de doenças, fome e sede. A religião era o foco central de suas vidas. Colombo escreveu que pedia a Deus para encontrar ouro para levar à Europa. Cada dia começava com orações e canto de hinos, e terminava com serviços religiosos ao anoitecer. A tripulação recebia uma refeição quente por dia, cozinhada em fogo feito sobre uma caixa de areia no convés. A dieta era constituída de biscoitos, carne em conserva ou salgada, frutas secas, queijo, vinho e peixe fresco.

Crenças
O maior obstáculo de Colombo eram as crenças e superstições da tripulação. Os tripulantes acreditavam que a terra era plana, que o mar era cheio de monstros, que havia lugares em que o mar estava em ponto de ebulição, ou que havia um redemoinho sem fim. Por acreditar que a terra era redonda, Colombo pensava que podia alcançar o Oriente navegando no rumo oeste.

O canhão da Nina fez fogo
A viagem demorou mais do que Colombo imaginara. Depois de muitos dias sem avistar terra, a tripulação começou a ficar inquieta e Colombo teve que usar todos os meios possíveis de disciplina para evitar motins a bordo. E ofereceu alta recompensa para o primeiro homem que avistasse sinais de terra (pássaros, vegetação, árvores flutuando, etc). No dia 12 de outubro um canhão da Nina fez fogo avisando o que todos queriam saber. Era o sinal combinado para avisar as outras embarcações. Colombo desembarcou em uma ilha que achava pertencer à Ásia e a batizou de San Salvador. O explorador não encontrou as riquezas que esperava, e então seguiu viagem procurando pela China. Visitou a ilha de Cuba e depois uma ilha que chamou de Hispaniola (hoje dividida pelo Haiti e pela República Dominicana).

Naufrágio, excesso de tripulação e desembarque
A todo o lugar onde ia, Colombo chamava os nativos de índios (assumia que estava nas Índias). De início, as relações com os nativos eram amigáveis. Em 21 de novembro de 1492, o Comandante Pinzón, da Pinta, fez uma exploração por si mesmo. No dia de Natal a Santa Maria encalhou e naufragou na costa da Hispaniola, fazendo com que a Nina, a única embarcação remanescente, ficasse sobrecarregada. A solução foi desembarcar 40 marinheiros com missão de construir um forte, batizado de Navidad. O que sobrou da Santa Maria foi aproveitado na construção do primeiro assentamento de europeus na América. Em 4 de janeiro de 1493, Colombo suspendeu os ferros e rumou para a Espanha, atracando em Palos a 15 de março onde teve recepção de herói.

Segunda viagem
Em 27 de novembro de 1493, Colombo voltou a Hispaniola para encontrar sua tripulação, com uma frota de 17 navios, trazendo 1.200 homens, entre marinheiros, soldados, padres, colonizadores e cavalos, com o objetivo de estabelecer colônias. Encontrou os 40 homens mortos e o forte demolido. Descobriu que seus homens haviam maltratado os nativos, que retaliaram com violência. Desta vez todos os índios foram mortos.

Nem ouro, nem Oriente
Na terceira viagem, alguns navios tomaram o rumo de Hispaniola, mas outros seguiram Colombo, mais para o sul, para descobrir o tal caminho para a China. Chegaram à Margarita e outras ilhas. Ao voltar à Espanha percebeu que o entusiasmo dos monarcas espanhóis e do rei de Portugal que financiaram "a velejada", não era o esperado: o ouro não tinha ainda aparecido, nem o Oriente havia sido alcançado. O herói acabou sendo preso, acorrentado!

Embarcações infestadas de vermes e fazendo água
Com a descoberta do Brasil pelos portugueses, a rivalidade entre as nações vizinhas ajudou Colombo a ser libertado e com financiamento para uma quarta viagem, em 1502, com 4 navios e 150 tripulantes. Em 29 de junho, ao chegar a Hispaniola, ainda na tentativa de encontrar o caminho para o Oriente, foi proibido de desembarcar. Um furacão destruiu a maioria dos navios que voltavam para a Espanha (a época dos furacões é de 1º Jun a 30 Nov). Em 4 de julho de 1502 Colombo tentou novamente encontrar o caminho para o Oriente, mas descobriu a América Central. Em 6 de janeiro de 1503, fundeou no Panamá onde encontrou algum ouro, mas também a violência dos nativos, e teve que fugir. Colombo adoeceu. A tripulação não tinha alimentos e os barcos estavam infestados de vermes, e fazendo água.

Marinheiros de canoa, em busca de socorro
Restavam dois navios para retornar a Hispaniola, mas com ventos adversos arribaram para a Jamaica em 25 de junho de 1503, com os navios em tão mal estado que não podiam mais retornar à sua colônia. Então, sem alternativa, Colombo despachou alguns de seus homens de canoa a Hispaniola em busca de socorro. O auxílio do governador da ilha só veio um ano depois... Enquanto isso as tripulações de Colombo amotinaram-se e suspenderam por sua conta, mas falharam em todas as tentativas.

Comandante desprestigiado
Colombo voltou à Espanha em 7 de novembro de 1504, encontrando moribunda a rainha Isabel, sua principal apoiadora. Colombo queria ser nomeado governador da "sua" ilha Hispaniola mas o rei Fernando não lhe concedeu. Colombo adoeceu e morreu em 1506, aos 55 anos, desapontado por não ter descoberto o caminho para o Oriente, e certo de que havia chegado à Ásia, e não ao Novo Mundo.

Competência marinheira
Historiadores modernos têm diminuído consideravelmente a reputação de Colombo, embora sua competência marinheira continue a ser celebrada.

Certamente Colombo não foi o primeiro europeu a pisar na América. Os vikings chegaram antes. Mas a grande importância de suas descobertas foi a abertura do caminho do velho para o novo mundo, que mudou para sempre a vida nas duas costas do Atlântico.

 

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(*) Frase de Cristóvão Colombo
(**) Algumas fontes informam que as naus tinham mais duas velas na popa.
Texto original, básico, de autor desconhecido, publicado pelo Museu do Marinheiro (Virginia, EUA). Outras informações foram acrescentadas.
Encontrei mais de uma versão sobre algumas das informações aqui publicadas, que me fizeram lembrar de frase atribuída a Napoleão, que diz que "A história é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo".