Conta todas, vovô
Jorge Vidal

Amigos

Em 24 de novembro de 1978, navegamos no Vagabundo, do Romildo Santos, eu, meu filho Alfredo e o Ronaldo Soares, filho do Sidney Soares, meu querido e velho amigo de infância, grande incentivador de meu gosto pelo iatismo.

Íamos a Porto Alegre, passando por Pelotas, ancorando no Veleiros Saldanha da Gama, clube de vela da cidade de Pelotas constituído por excelentes navegadores, entre eles: Fernando Brauner Vianna, Francisco Caruccio, Pinto Ferreira, Joaquim Fonseca, Genuíno Ferreira, Luis Carlos Pepe, Nelson Rassier, Renato Xavier, João Luis Guedes, Luiz Achiles Bardou, Paulo San Martin, Fernando Wolmer, Gilberto Vianna, Ivon Oliveira, Fernando Carpena Alves, José Freitas (Zezinho), Edê Barbosa, Henrique Yurgel e outros.

O comandante Romildo resolveu, na nossa saída para Porto Alegre, passar pelo arroio Pelotas, um rio cercado de belas residências, algumas com píer para atracação de barcos, bom calado e com curvas que o tornam ainda mais bonito. Recentemente foi catalogado como reserva biológica da natureza.

Chegamos até o Clube Caça e Pesca, que fica numa de suas margens, e atracamos em seu trapiche. Lá confraternizamos com vários amigos dentre os acima enumerados e, para surpresa nossa, encontramos na secretaria do clube uma fotografia em pôster do Arpège, o que muito nos orgulhou. Ocorre que esse meu barco havia vencido importante regata em São Lourenço do Sul, no Encontro da Vela, tendo sido de lá aquela foto, que resultou num lindo quadro, levado para o clube pelo marinheiro José Carlos.

Nessa ocasião, fomos apresentados a um Juiz de Direito, que exercia suas funções em Rio Grande, mas que era de família de Pelotas. Chamava-se Paulo Augusto Monte Lopes, apelidado muito carinhosamente por seus amigos de Merê, derivado de meritíssimo.

Nascia ali uma das minhas maiores e mais sólidas amizades. Daquela data em diante, nos encontramos diversas vezes em velejadas, vindo a tornar-se meu tripulante quando foi transferido para Porto Alegre e passou a freqüentar o Veleiros do Sul. Fizemos muitas viagens juntos, velejando em diversos lugares, no Brasil e no exterior.
Merê teve três barcos, ou melhor, quatro. Inicialmente, no Rio Grande, o Toropi, um anão de oceano, tipo Ardilla. Depois construiu um veleiro desenhado pelo projetista e construtor naval argentino Oscar Raul Nieto, outro grande e fraternal amigo meu. O barco era de madeira, de 27 pés, chamado Milonga. Após comprou do Dr. Adroaldo Rosa o Tango, um modelo Dufour, de 30 pés, e por último adquiriu um lindo Fast 345, de fibra, com 35 pés, chamado Salsa e Merengue, que se encontra atracado no Veleiros do Sul, em frente ao Vida, no mesmo trapiche. Como se percebe, todos os nomes de seus barcos remetiam a ritmos musicais. Além de ser meu amigo e companheiro de velejadas, tomamos chimarrão juntos praticamente todos os dias. Para quem ainda não sabe, o hábito do chimarrão une cada vez mais os gaúchos.

Outro amigo que prezo muito e que participa de todas as coisas do meu cotidiano é Oscar Raul Nieto, como já disse anteriormente, um argentino com coração brasileiro. Projetista e construtor naval, trabalhou muitos anos no Estaleiro Só. No Brasil, construiu para si dois barcos, a saber: Caminito, seu primeiro barco, e Garrufa. Para o comandante Paulo de Léo, construiu o Ressaca, um desenho de Nestor Völker, um 36 pés de madeira laminada, vencedor de uma regata Santos / Rio, e ainda para o Merê construiu o Milonga, um 27 pés de madeira laminada, desenho seu. Possui enorme bagagem náutica, trazida da Argentina e complementada aqui no Brasil. Excelente velejador e hoje, para minha alegria, tripulante também do Vida. Atualmente é proprietário de um equipadíssimo Velamar 33 pés, de nome Folgado. Homem de vida tranqüila, é daqueles que também participa da roda do chimarrão...

Registro também minha especial amizade com o comandante Emanuel Blum, já falecido, extraordinária pessoa, sempre muito alegre e contando piadas. Velejador antigo, teve um classe guanabara chamado Barlavento, construindo depois um 30 pés de madeira laminada chamado Jóia. Velejamos juntos em diversas ocasiões e por muitos e muitos anos. Além de bom marinheiro, era excelente cozinheiro. Foi o pai de todos nós na cozinha. Tudo o que aprendemos, eu e meus amigos, na arte culinária embarcada devemos ao Emanuel Blum, querido Maneca, infelizmente já convocado pelo pessoal lá de cima para outras velejadas e outros banquetes. Que Deus o tenha!

Nos clubes náuticos e nas marinas, você faz e tem muitos companheiros e grandes amigos. Todos confraternizam em torno do esporte que praticam e não falta nunca papo sobre barcos, seja onde for. Existem, como em todos os lugares, alguns chatos, mal-educados, grosseiros, que estão sempre criticando e falando mal de alguém. São mais freqüentadores das varandas dos iates clubes e marinas do que dos barcos. Felizmente, são poucos, pouquíssimos, mas existem...
Quanto a mim, o que posso dizer com muita certeza é que tenho muitos amigos, os quais procuro sempre manter próximos, pois não me sentiria bem sem eles. “O homem, quando está só, geralmente está muito mal acompanhado.”