Conta todas, vovô
Jorge Vidal

Os maiores ouvintes das minhas histórias de velejador são meus netos. Quando pergunto se querem que eu conte mais uma, respondem:
- Conta todas, vovô!

Assim é natural que estas histórias sejam especialmente dedicadas a eles:

Patrícia, Daniel, Anandria, Felipe, João Alberto e Mariana.


Este livro é também uma homenagem ao meu pai,
João Gualberto Silvino Miller Vidal Filho,
amante da leitura, um verdadeiro devorador de livros,
e à minha querida mãe, Marina Fernandes Vidal,
que, até mesmo pelo seu próprio nome,
me ensinou a amar tanto as coisas do mar.

 

É difícil conservar, de uma só vez, um sítio, um barco e uma mulher.
Bernard Montessier

 

Existem três tipos de homens:
Os mortos
Os vivos
E os que andam no mar
Plutão

 

Negócios na compra e venda de barcos nunca são racionais,
pois tudo é movido pela paixão.
Voz corrente entre os velejadores

 

O pessimista se queixa do vento.
O otimista espera que ele mude.
O realista ajusta as velas do baro.
Autor desconhecido

 

Prefácio

Pediu-me o autor uma apresentação para atender seu editor. A princípio tentei persuadi-lo, que pela qualidade de seu conteúdo humano e precisão das reminiscências seria dispensável, redargüindo-me que a antiguidade da amizade impunha-me também tal compromisso.
Em minha versão, conhecemo-nos através de amigo comum – o comandante Romildo dos Santos, do veleiro Vagabundo – RGYC, cujo rol de tripulantes integrei e que a cada regata não vencida no tempo corrigido, pois sempre era o fita azul, mencionava ir buscar com o Vidal, então presidente da Federação de Vela do Estado – FEVERS, modificação do critério de medição e de classificação das embarcações, algumas vezes enviando telegramas de protesto.
Sucede que o destinatário das infrutíferas manifestações é natural da cidade do Rio Grande, onde nasceu e cresceu em chácara no fim da Linha do Parque, hoje Av. Presidente Vargas, após o arco e antes da localidade da Junção, com fundos para o Saco da Mangueira, onde seu genitor dispunha de bote sempre utilizado como meio de transporte e para pesca, com propulsão à vela ou remos, sendo que nos poucos dias de calmaria com cunha pelo baixio, onde despertou sua vocação para a navegação.
Certa manhã de sábado, estando no Clube de Caça e Pesca, no Arroio Pelotas, avistei avançando o que, para aqueles tempos, era um grande veleiro. Mais adiante identifiquei como sendo o Vagabundo, que, sabia, singraria a Lagoa dos Patos em direção a Porto Alegre, mas que, por condições adversas, arribara em Pelotas, presente o sempre referido Vidal, celebrando a ocasião, de mais de três décadas.
Portanto, a intimação não poderia ser recusada, até por inserir-se, ressalvadas as diferenças, entre as melhores descrições da navegação amadora gaúcha, como aquelas realizadas por Geraldo Tolens Linck, Luiz Fernando Velasco, Geraldo Knippling e Décio Vaz Emygio.
Como será possível verificar por sua observação arguta, o prazer de velejar continua intocado, servindo de roteiro o planejamento e a faina que precede a velejada, como as providências posteriores, nunca descuradas e que ensejaram tantas rememorações, precisamente pelas anotações feitas nos livros de bordo do Martha, do Arpège e, por último, do Vida. Aliás, meus filhos Paulo de Tarso e Guilherme, quando leram sua narrativa da primeira passagem do Vida pela Lagoa dos Patos, além da vontade de terem-na integrado, observaram que daria um ótimo livro. É certo que sua elaboração é complexa, todavia eram muitos os pedidos agora atendidos.
Os tempos mudaram, a construção dos veleiros foi aprimorada, o calafeto foi substituído por resinas e pela sikaflex, os mastros, antes de madeira, hoje são de alumínio, evoluindo para composições de carbono, o GPS e Plotter transformaram a navegação, antes apenas estimada, mas a habilidade e as recomendações dos apreciadores do mar são de muita valia por serem observadores primorosos, sendo que seu ofício não constitui ciência, mas arte. Quanto mais intuição e percepção tem o navegador, melhor a condição de negociar com a natureza e guiar seu barco de forma rápida e segura ao destino. Melhor ainda quando em singradura folgada, compensando eventuais momentos desconfortáveis de uma orça forçada. O comandante sempre foi atento e conciliador, contando com o auxílio dos safos marinheiros Jorginho e Carlos Alfredo, seus filhos e grandes companheiros, além das orações de sua filha Martha nas horas precisas.
Pois bem, as leves e interessantes narrativas estão ancoradas menos na esfera semântica da utopia ou do imaginário, mas na vivência, no respeito às pessoas, na fidelidade aos marcantes episódios e na dedicação ao ideal da vela.
Privilegiados foram seus netos – Patrícia, Daniel, Anandria, Felipe, João Alberto e Mariana, que por primeiro puderam ouvir e sorver suas belas histórias.

Bons ventos! Digo, boa leitura!

PAULO AUGUSTO MONTE LOPES (Merê)
Um Desembargador Velejador

 

Nasce uma idéia

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