Conta todas, vovô
Jorge Vidal

Priority: primeira e única

A convite do Dr. Edison Baptista Chaves, então diretor do Estaleiro Só, de Porto Alegre, em 25 de dezembro de 1987, levamos para o Rio de Janeiro uma lancha de fibra de vidro de 65 pés, a primeira fabricada pelo Estaleiro Só.
Chamava-se Priority e fora encomendada pelo norte-americano Daniel C. Prior e sua mulher, Jean Prior, de Chagrin Falls, estado de Ohio, próximo de Chicago.
Após concluída, seria embarcada num navio no Rio de Janeiro, rumo a seu destino final, nos Estados Unidos.
A lancha possuía dois motores MAN de 380 HP cada e desenvolvia uma velocidade média de 30 nós (54 km/h), com autonomia de 370 milhas (666 km). Pesava 20 toneladas, tinha um tanque de combustível para 4.164 litros e outro de 795 litros de água potável. Era equipada com geladeira, frízer, máquina de lavar louças, máquina de lavar pratos, máquina para fazer gelo, ar-condicionado e mobiliário completo, assim como equipamento completo de navegação por satélite. Seu desenhista foi o americano Tom Fexas.
Saímos do Clube dos Jangadeiros na madrugada do dia 25 de dezembro. Às duas horas da tarde já estávamos no Rio Grande, onde pernoitamos. No outro dia, após abastecimento, seguimos viagem para Florianópolis. Depois de alguns contratempos, chegamos na noite do segundo dia em Imbituba, Santa Catarina, onde pernoitamos no cais do porto. No outro dia, às dez horas da manhã estávamos em Florianópolis, onde passamos as festas de fim de ano.
Os proprietários, casal Jean e Daniel Prior, só nos acompanharam em alguns trechos, pois sofriam muito com enjôos. Até veteranos velejadores enjoam. Depois, com o passar dos dias, o mal-estar é superado. O importante é enfrentá-lo. Felizmente, nunca sofri desse mal. O que ajuda muito os tripulantes é uma alimentação adequada, como bolachas ou biscoitos, ou seja, produtos farinhados, e refrigerantes tipo Coca-Cola. Não indico remédios especiais, pois provocam sono, o que leva a deitar, contra-indicado quando se está enjoado. Aí é que a cura não vem nunca.
Depois seguimos por Itajaí, São Francisco, Santos, Angra dos Reis, e chegamos ao Rio de Janeiro. Na Marina da Glória foram feitas diversas demonstrações para possíveis compradores e para as revistas Náutica e Vela e Motor, e finalmente a lancha foi embarcada para os Estados Unidos.
Lamentavelmente, foi a primeira e última a ser construída, pois o Estaleiro Só não recebeu outras encomendas.