Conta todas, vovô
Jorge Vidal
A chegada ao Rio de Janeiro pelo mar
A regata Recife / Fernando de Noronha, ano a ano, cresce em importância. Inúmeros barcos participantes, tanto nacionais como estrangeiros. A participação de veleiros de todas as partes do Brasil, em especial, aumenta anualmente. A Refeno, como é chamada no Norte, é realizada sempre no último semestre do ano. Alguns barcos do Sul começam os preparativos alguns meses antes para essa regata, que já faz parte do calendário mundial de regatas oceânicas. Entre os do Sul que são presença certa neste ano, destaco o Zimbro, do comandante Oswaldo Hoffmann, de Curitiba, com meu filho Carlos Alfredo, participante da tripulação, e o La Niña, do comandante Márcio Silva de Lima, que partirá diretamente do Rio de Janeiro rumo ao Recife. Se não vou participar da regata diretamente, já o fiz de forma indireta. Acontece que o Márcio, muito ocupado em Porto Alegre e querendo iniciar o deslocamento do La Niña, numa primeira etapa, de Paraty ao Rio de Janeiro, convidou-me, junto com Oscar Raul Nieto, Paulo Augusto Monte Lopes (Merê) e Augusto Rolim Sperb, para a empreitada, confiando nestes jovens tripulantes, que já haviam velejado juntos inúmeras vezes, tanto no Arpège, com no Vida, assim como no Caribe, a bordo do Charrua. São velhos companheiros e excelentes amigos que, juntos em velejadas, me dão muita alegria, além de serem muito bons e experimentados velejadores. Passamos momentos muito bons, de intensa confraternização. Quando a tripulação é boa e já se conhece bem, tudo se torna ainda mais agradável e alegre. Partimos de Porto Alegre, de avião, dia 26 de junho de 2003, rumo a São Paulo, pousando no aeroporto de Congonhas pela manhã, bem cedo. Aguardava-nos o Ronaldo, nosso velho amigo de Paraty, com o seu táxi Santana, totalmente equipado, para nos levar àquela cidade, ao encontro do La Niña, na Marina do Engenho, do navegador Amyr Klink. O Ronaldo sempre fez os deslocamentos dos velejadores que demandam a Paraty, conhecendo bem esse pessoal. Existem em Paraty diversas marinas muito bem equipadas com flutuantes, com água, luz e instalações para banhos, abastecimento, etc. para barcos amarrados aos trapiches ou em poitas. A infra-estrutura marinheira é muito eficaz naquela cidade, muito bem abrigada no fundo da baía. Fomos primeiro até Paraty Mirim, para apreciar um dos pedaços mais bonitos da Baía de Ilha Grande. São ilhas e mais ilhas com suas prainhas de areia branca, muito bem abrigadas e de acesso fácil. Destaquem-se também as ilhas da Cotia e do Algodão, especialmente lindas. Após rumamos para Bracuí, atravessando a baía no rumo sul-norte. Muito atraente, Bracuí disponibiliza uma muito bem instalada marina, que nos acolheu magnificamente. Aproveitamos para fazer um passeio no barco ao longo do arroio que banha a localidade, cujas margens ostentam belas residências e muitos barcos atracados nos decks. Após um pernoite tranqüilo, seguindo nosso roteiro, fomos no outro dia à cidade de Angra dos Reis, onde abastecemos no Marina Pirata’s Mall, que tem de tudo: supermercado, shopping, posto de serviço de peças e combustível, além de uma moderna marina para barcos em seco e na água. Nosso rumo depois foi o de Vila de Abraão e Saco do Céu, na Ilha Grande. Lugares verdadeiramente paradisíacos de beleza e profunda calma. No Saco do Céu, almoçamos uma caldeirada de frutos do mar no restaurante Coqueiro Verde, do Damazio, dando uma folga aos cozinheiros Merê e Augusto. Lá no Coqueiro Verde, que naquele dia inaugurava seu novo trapiche com deck para receber os seus clientes, no painel de fotos de notáveis, encontramos fotografias de Adroaldo Rosa, Terezinha, Tandi e do nosso simpático Negro Márcio, do Tuchaua, entre outros... Em nosso último dia na ilha, pernoitamos na enseada de Palmas, para então, pela manhã, ao clarear do dia, rumar para o Rio de Janeiro, fim de nosso passeio. A faina no trajeto era mais de limpeza e arrumação do barco, pois durante esses dias que passamos a bordo do La Niña a falta de vento foi uma constante. Nessa época do ano venta muito pouco por aquelas bandas. O mar permanecia calmo, com algum swell somente nas áreas desabrigadas, onde a onda cresce de volume, num movimento que até se torna gostoso, graças ao seu balanço. E lá íamos nós, prazerosamente, singrando aquela água maravilhosamente azul nas profundidades e verde próximo da costa, mas sempre com total transparência. Nunca duvidei de que o Rio de Janeiro é a cidade mais linda do mundo. Não há na terra lugar mais bonito que a Cidade Maravilhosa. Por qualquer lado e por qualquer meio que se chegar, por terra ou pelo ar, o Rio é lindo, mas chegar pelo mar, num domingo ensolarado, sem qualquer nuvem, com as pessoas todas nas praias a se banharem e tomarem sol, é algo incomparável. Por força do nosso rumo de chegada, percorremos a Restinga da Marambaia, a Ponta da Guaratiba, as praias do Recreio dos Bandeirantes, Barra da Tijuca, São Conrado, Leblon, Ipanema, Ponta do Arpoador, Copacabana, Leme, Praia Vermelha e Urca, todas emolduradas pelas suas montanhas, como a Pedra da Gávea, Dois Irmãos, Cristo Redentor, Pão-de-Açúcar. Não há paisagem mais bonita no mundo. Chegar ao Rio de Janeiro pelo mar é um sonho. Fomos recebidos pelo pessoal do Yate Clube do Rio de Janeiro, um dos mais tradicionais clubes náuticos do Brasil. Gente simpática, acolhedora, que faz de tudo para tornar sua estada a melhor possível. Sua sede, na Urca, é uma das mais bonitas. Sua varanda é uma das mais bem freqüentadas do mundo, tendo passado por lá os mais famosos velejadores do planeta. O La Niña ficou lá ancorado esperando a oportunidade de seguir para Salvador e Recife, a fim de participar da regata Recife / Fernando de Noronha, em setembro. |