Conta todas, vovô
Jorge Vidal

A construção do Vida


Veleiro Vida atracado no Veleiros do Sul, em Porto Alegre, o autor e seus filhos Jorge Alberto e Carlos Alfredo.

Diz uma lenda, mais uma das muitas que rondam o iatismo, que na mesma medida em que vão aumentando os anos de vida do proprietário de veleiro, tem que aumentar o tamanho do seu barco. A idade exige mais conforto e comodidade. Assim, após 28 anos de uso, comecei a pensar em trocar o Arpège por outro veleiro, maior mas do tamanho do meu orçamento. E, mãos à obra! Com a ajuda de meus filhos, fui à sua procura, agora levado em grande parte pela experiência deles. Afinal, cresceram dentro de um barco, acumulando muito mais conhecimentos do que o próprio pai.
Após andar bastante à procura desse barco e não encontrando o exemplar que gostaríamos, optamos por construir um de 36 pés no Estaleiro Delta, do competente construtor naval Ricardo Weber, conforme desenho inédito do argentino Nestor Völker, cujas formas recém tinham sido importadas. Fomos o segundo casco a ser construído. O primeiro fora o Yavox, do comandante Andréas Pblazoudakis. Ricardo Weber já construiu mais de 500 barcos. Trata-se do maior estaleiro do Brasil na construção de veleiros. Seus profissionais têm larga experiência e muita dedicação. Entre eles, destaco a espinha dorsal do estaleiro: Ivone Moreira, Nilson do Santos, Garcia de Lima, Jorge Baum (Cracão), Sady de Souza, Sérgio Prates, Adão Peres e Júlio César Onófrio.
Após 15 meses entre preparativos e finalização das formas e sete meses de efetivo trabalho, o barco foi concluído, e o Vida foi lançado na água em primeiro de agosto de 2001 e batizado em 24 do mesmo mês. A madrinha é minha neta Patrícia, a mais velha dos seis netos.
Por que Vida? Nada a ver com o sobrenome Vidal. É Vida porque na idade em que estou, 71 anos, ainda tenho a pretensão e muito desejo de viver mais e mais, enfim de aproveitar a vida, com saúde e velejando... É minha expectativa.


O Vida ancorado na marina do Veleiros do Sul,
em Porto Alegre.

O barco foi realmente muito bem construído pela Delta e muito bem equipado pelo meu querido amigo Márcio Lima, da Equinautic, de Porto Alegre, que forneceu toda a instrumentação e eletrônicos. Mastro de alumínio com perfil inteiro de 15 metros de altura, confeccionado, assim como todas as ferragens, pelo Niels Raup, da Farol, capotaria do Nelson Piccolo e velas da UK, Argentina. Orgulhamo-nos de ter aqui no Rio Grande do Sul, em Caxias do Sul, a Nautos-Nautec, do Amílcar Rossi, um dos melhores fabricantes de equipamentos náuticos de convés e que hoje já exporta seus produtos para Europa e Estados Unidos. O interior é muito aconchegante, graças também ao perfeito desenho do Nestor Völker. Destaque especial para o amplo cock-pit, o lugar que você mais habita, e para o layout de convés, muito prático, pois toda a disposição das ferragens é de forma a facilitar ao máximo as manobras.
Nossa viagem inaugural, por orientação sentimental, foi à cidade do Rio Grande, conforme consta nos registros do livro de bordo, inserido no site do Vida – www.veleirovida.kit.net.
Assim, em 15 de novembro de 2001, o Vida seguiu viagem para Rio Grande, com escalas previstas para São Lourenço e Pelotas. Compunham a tripulação: Jorge Vidal, Jorge Papaléo Vidal, Carlos Alfredo Papaléo Vidal, Paulo Ricardo Rodrigues da Silva, Ricardo Habiaga, Oscar Nieto e Paulo Augusto Monte Lopes. Saímos do clube Veleiros do Sul às 10 horas da manhã, sob ventos de 15 a 18 nós, predominantes do sul, o que, por força do nosso destino, iam exatamente no rumo da embarcação.
Retornamos ao Veleiros do Sul por volta de 11h30min, em função de um vazamento no tanque de óleo diesel. Providenciado o mecânico, após o almoço no clube, partimos novamente às 14h30min. O vento era o mesmo e na mesma direção, o que nos obrigou a diversas cambadas de contraventos até o farol de Itapuã, onde chegamos às 18h30min. Lá se encontrava ancorado o veleiro Navy Blue, de Pelotas, do iatista Henrique Morelle, com destino também à cidade do Rio Grande.
Após lauto jantar, de fricassê de frango, preparado pelo excelente cozinheiro Merê, partimos em direção à Lagoa dos Patos com ventos sul ainda em torno de 15 a 18 nós, às 22 horas. A noite era negra, pois só se viam os piscos dos faróis...


Interior do Vida: mesa de navegação.

Por volta da meia-noite, o vento se acalmou, o que nos obrigou a navegar somente com o motor. Por volta das 5 da manhã, nos encontrávamos entre os faróis de Cristóvão Pereira e Dona Maria, onde assistimos a um belíssimo amanhecer, de horizonte totalmente pintado de cores avermelhadas, em contraste com o céu maravilhosamente azul.
Próximo às 6 horas, o vento voltou a soprar na direção norte, ensejando-nos a oportunidade de levantar todas as velas do Vida, numa belíssima singradura. De repente, como nem tudo é perfeito, o vento descambou para o sul, a uma intensidade de 25 a 27 nós na rajada, obrigando-nos a uma navegada dura contra os ventos até o Canal da Feitoria, onde chegamos por volta das 15 horas. Adentrando o canal abaixo de um forte contravento, fomos velejando apoiados no motor.
Chegamos ao Canal de São Gonçalo por volta das 18 horas, e, por sugestão do nosso querido companheiro de viagem e experiente skiper Ricardo Habiaga, fizemos uma entrada no belíssimo arroio Pelotas, onde apreciamos as lindas residências e marinas das suas margens.
Chegamos ao Clube Veleiros Saldanha da Gama às 19h30min, onde, após um bom banho seguido de belíssimo jantar, dormimos o sono dos marinheiros cansados.
Após o merecido descanso, cancelamos a escala em São Lourenço, devido às más condições de vento na Lagoa dos Patos, e, pela manhã do dia 17 de novembro de 2001, partimos bem cedo para a cidade do Rio Grande, com escala em São José do Norte, onde chegamos por volta das 10 horas, para pagar uma promessa que fizéramos há mais de 35 anos: a cada barco novo que possuiríamos, faríamos sempre a primeira viagem a São José do Norte para fazer nossas preces em busca da bênção que protegesse para sempre nossa embarcação.
Ancoramos no novo píer de São José do Norte, recentemente construído. Depois dessa escala, seguimos, num belíssimo dia, sem uma nuvem no céu, totalmente ensolarado, e sob uma brisa de vento leste, em direção à barra do Rio Grande, passando pelo seu pitoresco porto.
Saímos ao Oceano Atlântico no rumo nordeste, por aproximadamente 12 milhas, aproveitando a feliz oportunidade de salgar pela primeira vez o Vida. Retornamos à barra com todas as velas içadas, inclusive a vela-balão, quando todos os tripulantes tiveram a oportunidade de conduzir o Vida até o Rio Grande Yate Clube. Na entrada da barra do Rio Grande, fomos saudados pela lancha Andorinha e pelo veterano veleiro Djali.
Atracamos nas novas e excelentes instalações do Rio Grande Yate Clube, onde, como sempre, fomos recebidos pelos queridos, bons e velhos amigos. O Vida ficou lá atracado, esperando uma nova oportunidade para singrar as surpreendentes águas da Lagoa dos Patos.


Interior do Vida: sala central .

Registre-se a excelente companhia do eficiente primeiro imediato Jorginho, a também já experiente ação do Alfredo, a estréia como navegador do inteligente homem de eletrônica Paulo, da colaboração sempre calma e segura do comandante Nieto, das gostosas artes culinárias e também de navegação do velho comandante Merê e, finalmente, o reconhecimento ao nosso querido e veterano velejador Ricardo Habiaga, que, com sua experiência e conhecimento, nos ajudou a conduzir o barco com toda a segurança.
O veleiro Vida retornou da cidade do Rio Grande em 24 de novembro de 2001, no comando de Jorge Alberto Papaléo Vidal e tripulação de Paulo Silva, navegador; Alfredo Vidal, proeiro; e Márcio Lima, timoneiro. A navegada foi toda com vento sul, em torno de 35 a 40 nós, fazendo com que o Vida surface na onda aproximadamente a 15 nós, obtendo uma média de deslocamento total de 12 nós. Apesar do vento forte, a navegada foi muito boa.
Participamos de todas as regatas do calendário da Federação de Vela e dos clubes Guaíba, Jangadeiros e Veleiros. Tivemos a felicidade de vencer cinco regatas das oito disputadas em nossa classe. O barco é realmente muito veloz e navega maravilhosamente bem em qualquer condição de vento.
Registro especial merecem duas participações do Vida: na regata Troféu Farroupilha e na regata Marinha do Brasil.
Em 22 de setembro de 2001, participou da regata Troféu Farroupilha, obtendo o primeiro lugar na sua classe, com a seguinte tripulação: Jorge Vidal, Jorge Papaléo Vidal, Alfredo Vidal, Paulo Augusto Monte Lopes, Oscar Nieto, Paulo Ricardo Rodrigues da Silva, Emerson Matias e Marcelo Reckziegel. A performance do barco foi excelente.
Em 16 de dezembro de 2001, foi a vez do Troféu Marinha do Brasil, obtendo outra vez o primeiro lugar em sua categoria, com desempenho digno de um veleiro muito rápido e seguro. Tripulação: Jorge Vidal, Jorge Papaléo Vidal, Paulo Ricardo Rodrigues da Silva, Paulo Augusto Monte Lopes, Oscar Nieto e Emerson Matias. Durante a entrega de prêmios, foi enaltecida pela Comissão de Regata a beleza das linhas e o conjunto do veleiro Vida.
Além das competições, já efetuamos diversos passeios com nossos familiares e amigos. Até alguns churrascos já fizemos no Vida!

 

 

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