Diário de bordo no Cisne Branco
Um raro privilégio


27 Set 2007
Na largada da regata todas a honras para o navio-escola da Marinha do Brasil Cisne Branco
Como representante da Marinha na prova, o Cisne Branco cumpre sua missão de divulgar o esporte e as atividades da Marinha do Brasil entre a população. Uma hora antes dos veleiros competidores largarem, o maior veleiro da Marinha do Brasil abriu a prova, encantando os presentes no mar e em terra. Os acenos e despedidas oferecidos no porto já não podiam ser vistos quando as primeiras velas foram abertas.

Do barulho da multidão que observou a despedida do navio e das águas verde-escura e turvas do porto do Recife, o Cisne Branco rumou em direção a um único tom de azul marinho do Oceano Atlântico onde o silêncio era rompido apenas pelo tremular da bandeira do Brasil, asteada permanentemente no Mastro da Gata (o primeiro visto da popa à proa, ou, de trás para frente no navio). Na mesma medida que pessoas, veleiros e prédios iam diminuindo de tamanho o balanço do mar ia aumentando.

TRAVESSIA

As primeiras horas de viagem foram tranqüilas para a maioria da tripulação convidada. Entre os ‘‘premiados’’, parlamentares, membros da Sociedade dos Amigos da Marinha (Soamar), velejadores antigos, uma equipe de jornalismo de Pernambuco - executando projeto para produção de um livro e exposição fotográfica sobre o veleiro - e o Diário de Natal. As 300 milhas - 543 km - que separam a ilha do porto de Pernambuco foram vencidas em 43 horas. O que seria demora para muitos, é, para os velejadores, fruto das condições climáticas. Ao longo das primeiras horas da viagem, O Cisne Branco era ladeado por algum participante da regata.

O VELEIRO

Não importa se velejador antigo ou marinheiro de primeira viagem, o Cisne Branco tem o poder de transportar a mente para tempos vividos apenas nos livros de história. À primeira vista, as pessoas são fisgadas pelos 76 metros de comprimento e majestade das 31 velas que ostenta. Por dentro a sobriedade arquitetônica dos antigos veleiros encanta até os mais exigentes. A silhueta e dimensões internas e externas do navio veleiro são as principais heranças deixadas pelo período imperial.

O comandante do Cisne Branco, Capitão-de-Mar-e-Guerra Leonardo Puntel, destaca que além da representatividade, o veleiro é um navio escola. Sendo utilizado pela Marinha para treinar os aspirantes da Escola Naval. ‘‘Todos os aspirantes da Marinha têm que passar pelo Cisne Branco. A Escola Naval é uma espécie de universidade da Marinha, aqui, eles têm a oportunidade de perceber como é a rotina e as tradições da Marinha’’, frisa. Apesar do importante papel de instrução para os aspirantes, o que mais desperta a atenção das pessoas, é a representatividade cultural.

Assumir um posto no veleiro que tem a preservação e divulgação das tradições marítimas como principais objetivos, não é fácil. Com todo esse romantismo que circunda as tradições do mar, e principalmente as embarcações movidas à vela, a fila de espera para compor a tripulação fixa do Cisne Branco não é pequena. Por isso, a renovação no quadro é realizada a cada dois anos. ‘‘A cada dois anos, 50% da população é renovada. Fazemos isso para que os tripulantes que ficam no navio possam passar os nossos costumes para os que estão chegando’’, explica o comandante Puntel.

TRADIÇÃO

Entre as tantas tradições mantidas pela Marinha, uma das mais antigas é o cerimonial da Bandeira. Sempre ao pôr do sol, a tripulação se volta para o poente, reverencia a flâmula brasileira e canta o Hino Nacional. Durante a cerimônia, todo o simbolismo da Bandeira Nacional, cores, estrelas e geometria, são narrados por um oficial, tendo o pôr do sol do Oceano Atlântico como testemunha. Essa tradição tem como objetivo principal promover o patriotismo, amor e respeito à bandeira do Brasil.
Publicado no Diário de Natal, em 25 Set 2007; Fotos Danilo Chagas Ribeiro (arquivo do Popa)