Entalados no Arroio Araçá
Os nossos previsores meteorológicos prevendo o dia seguinte com tempo bom, apenas uma queda acentuada da temperatura!! Mas eu continuava muito desconfiado com aquele vento do setor norte e a pressão de 1002 mb. Resolvemos pernoitar no Arroio Araçá, a meu ver o único hurricane hole do nosso rio. Havia muitos aguapés mas deu para achar a entrada. Éramos o único barco no arroio, salvo alguns ancorados na enseada. Enfiei o barco nos aguapés e amarrei a proa num galho parrudo da margem. Vamos dormir muito bem, disse para minha mulher. Lá pela uma da madrugada acordamos com o uivar do vento, tentando arrancar as telas que colocamos nas escotilhas do Magana. Levantei para dar uma olhada. O vento soprava a uns 100 km/h (conforme confirmou o previsor no dia seguinte) de SW. Pela primeira vez vi ondas no Arroio Araçá, incrível. Fomos empurrados para o sentido longitudinal do curso, mas apoiados pelos aguapés que são as melhores defensas naturais, já que não arranham o casco. Com o monóculo de visão noturna observei, com preocupação, enormes ilhas de aguapés, varridas pelo vento, passando por nós, em direção à foz. Mas isto seria assunto para a manhã. Voltamos a dormir embalados pelo uivar do vento, depois de fechar as escotilhas.
Pela manhã eram só aguapés por todos os lados. O vento ainda soprava de SW, mas muito mais fraco. Numa brecha que abriu na popa, saímos de ré e depois continuamos por pequenas passagens até uma ilha maior, toda fechada, interrompendo qualquer passagem pelo arroio. Desliguei o motor. Fomos então de carona com essa ilha até próximo à foz. Aí não deu mais. Estagnou. Tudo verde. Por sorte os aguapés não eram muito densos e às vezes dava uma mexida provocada pela correnteza, tipo redemoinho, quando aproveitávamos para ligar o motor, empurrar um pouco e ir abrindo caminho. É preciso cuidar para não se envolver com "ilhas" que além dos aguapés têm outro tipo de vegetação, até galhos. Aí não passa e pode danificar a hélice. E assim fomos indo lentamente e chegando à foz, para alegria nossa. Soube posteriormente que vários barcos na enseada de Tapes estiveram em sérias dificuldades, inclusive que rompeu o cabo da âncora do "Boomerang" que obrigou a tripulação a executar difíceis manobras durante a noite. Outro barco foi atirado na praia. Previsões sem vento
Em todo o mundo a previsão do tempo é padronizada: consiste numa análise resumida da carta sinótica, temperatura, umidade, precipitação e ventos. Aqui, pouco disso, sob o pretexto de que a maioria dos ouvintes não se interessa . São dadas somente informações de chove ou não chove e dados estatísticos sobre o tempo que passou. Concordo que os ouvintes das metrópoles nem todos se interessam por ventos, mas no interior, no litoral e no mundo náutico é diferente. Os milhares de cidadãos que vão para as nossas praias, bem como os que lá residem (que não são velejadores), certamente que gostariam de saber se vai haver nordestão ou vento calmo do sul. Suponho que haja dificuldades técnicas para este tipo de previsão. Entretanto, a falha mencionada sugere que seria preciso dar uma "mexida" nesse setor de utilidade pública. para haver padronização e mais eficiência no serviço. Não quero por em dúvida a competência dos nosso previsores que lutam com dificuldades e mesmo assim, muitas vezes até atendem solicitamente pedidos individuais feitos por elefone. Entretanto, com toda a boa vontade demonstrada, é óbvio que alguma coisa está faltando. Geraldo |