Guaíba, Rio e
não Lago
O desabafo do mestre dos navegadores gaúchos
Cmte.
Geraldo Knippling*
É mais que oportuno contestar o mérito dessa troca de designação que burocraticamente transformou o Rio em Lago, como uma descoberta inédita e inovadora. Em qualquer compêndio de geografia está claramente definido o que é rio e o que é lago. No nosso conceituado dicionário Aurélio diz o seguinte: Rio é um curso de água que se desloca de um nível mais elevado para um nível mais baixo, aumentando progressivamente de volume, até desaguar no mar, num lago ou noutro rio. Ora, o Rio Guaíba é tudo isto. Seu nível na altura de Porto Alegre é mais alto que em Itapuã onde alcança a Lagoa dos Patos, fato que lhe dá uma correnteza característica, lenta nas épocas de estiagem e acelerada durante as enchentes. Ele recebe as águas dos rios Jacuí, Caí. dos Sinos e Gravataí, que por ele fluem e vão desaguar na Lagoa dos Patos, logo é rio e ninguém pode negar isso. Seria um lago se fizéssemos uma enorme represa em Itapuã, estagnando as águas. Mas este não é o caso, felizmente. Os argumentos baseados em "índices de sedimentação" e "retenção das águas" são puramente acadêmicos. Quais são estas regras e quem as fez, que estabelece um determinado índice, rígido, para diferenciar um rio de um lago, desconsiderando fatores básicos muito mais importantes? Retenção das águas há em qualquer superfície aquática exposta às ações dos ventos ou das marés. Vemos isto no Rio Amazonas e no próprio Rio Jacuí, mas elas são momentâneas e no caso do Guaíba não impedem que as águas dos rios que nele deságuam venham por sua vez a desaguar na Lagoa dos Patos. Não existe regra alguma que possa modificar esse inabalável fato, determinante para a designação. Até já se ouviu argumentos de que um tão belo pôr-do-sol como o nosso não poderíamos desfrutar da margem de um rio; apenas de um lago! Isto chega a ser ridículo e dispensa maiores comentários. Concordamos que ele possa ter a forma de um lago, embora não o sendo. Seguindo esta linha "inovadora", a Lagoa dos Patos teria que ser o Lago dos Patos e o Guaíba seria a Lagoa Guaíba, já que uma lagoa é sempre menor que um lago. Faz sentido? Infelizmente,
o nosso Rio está sendo agredido e poluído por todos os
lados: esgoto in natura, defensivos agrícolas, dejetos plásticos
e poluição industrial. É agressão mais que
suficiente. E a isto agora soma-se também a agressão ao
seu histórico e centenário nome, consagrado por toda a
sua população há mais de dois séculos. Vale
fazer um esforço para salvar o nosso Rio de todas essas agressões,
começando por reverter esta tendência burocrática
de mudar para ser diferente, sem argumentos convincentes, contradizendo
o que já é um fato estabelecido dentro de normas vigentes
e universalmente aceitas. Lamentável também é que
nas nossas escolas estejam difundindo entre os jovens estudantes esta
modificação de nomenclatura, que não faz qualquer
sentido e não tem nenhum valor prático. Nota
do autor:
Existe uma lamentável polêmica em torno do nome do Rio Guaíba, que por decreto foi intitulado de lago, baseado em discutíveis índices de sedimentação e uma duvidosa "retenção" das águas. O autor não concorda com essa modificação acadêmica defendida por alguns burocratas, pelo simples fato de ser artificioso, contra a realidade, contra a razão e contra a tradição. Nos compêndios de geografia está claramente definido o que é rio e o que é lago. No nosso conceituado dicionário Aurélio, diz o seguinte: Rio, é um curso de água natural que se desloca de um nível mais elevado para um nível mais baixo, aumentando progressivamente de volume, até desaguar no mar, num lago ou noutro rio. Ora, o Rio Guaíba é tudo isto. Seu nível, na altura de Porto Alegre é mais alto que em Itapuã, onde deságua na Lagoa dos Patos, fato que lhe dá uma correnteza característica, lenta nas épocas de estiagem e acelerada durante as enchentes, mas sempre constante. Além do exposto acima, mesmo se houvesse razões acadêmicas para chamar o rio de lago, uma mera questão de tradição seria argumento suficiente para manter um nome reconhecido e consagrado por sua inteira população, há mais de dois séculos. O próprio Rio Amazonas tem áreas de sedimentação e fluxo transversal, devido ao seu tamanho e alguns bolsões na margem. Nem por isso alguém ousa chama-lo de Lago Amazonas. É lamentável
que nas nossas escolas estejam difundindo entre os jovens estudantes
esta modificação de nomenclatura, que não faz qualquer
sentido e não tem qualquer valor prático. (*) Quem é Geraldo Knippling? Comandante Geraldo Knippling. Capitão Am. Escritor. Cartógrafo reconhecido, com belíssimas obras publicadas. Ex-comandante da Varig condecorado com a Ordem do Mérito da Aeronáutica. Velejador. Um veterano do Rio Guaíba com méritos reconhecidos por todos os navegadores gaúchos. Um mestre da navegação. Knippling é uma autoridade sobre o Guaíba. Fez cartas detalhadas do rio, plotando waypoints e determinando rotas de acesso para os mais recônditos recantos do Guaíba. Fotografou o rio como ninguém. Suas obras cartográficas e literárias, de conteúdo sem igual, são uma referência para todos os navegadores do Guaíba. O
mestre
Knippling faz um apelo.
O popa.com.br o apóia. Os
navegadores do Guaíba também: este tema volta e meia surge
nas varandas dos clubes náuticos de Porto Alegre e jamais se
ouviu alguém a favor da designação modernosa do
rio. ___________ Kleber
Borges de Assis, premiado bacharel em Geografia, discorreu bastante
sobre a designação do Guaíba em 1958. Em sua obra
lamenta a qualidade da geografia investigativa no estado e diz que uma
comissão de estudos declarou que "seja usado, até
melhor juízo, simplesmente a designação de Guaíba,
sem prefixo de especificação...". Danilo Chagas Ribeiro |
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