07 Dez 2006
Já naveguei bastante de lancha e gosto de acelerar. Foram milhares de milhas náuticas, desde os anos 60 quando meu tio comprou a Lorelei, uma lancha de madeira, cabinada (VDS). Não é por eu ser um velejador inveterado que vou negar o prazer de navegar em lanchas, como também não é por gostar de picanha que vou deixar de saborear sushi. São sabores bem diferentes, mas o que há de errado em apreciar ambos? Alguns amigos velejadores só comem picanha (ou só sushi).
Questão de potência
Quando escuto velejadores falando mal das lanchas, me pergunto se algum dia tiveram a oportunidade de navegar em uma delas. E quando os ouço falando mal dos lancheiros*, digo-lhes que a maior diferença entre velejadores e lancheiros não está nos navegadores de uma ou de outra modalidade, mas sim na potência das embarcações que utilizam.
"Falta de chance..."
De qualquer modo, generalizando, há diferenças de estilo, sim, entre lancheiros e velejadores, como entre competidores de off road e pilotos de corrida, por exemplo. Ocorre que um velejador mal educado não tem tanta chance de causar danos ao tráfego quanto um lancheiro mal educado. O que muda, basicamente, é a potência disponível a um e a outro navegador. O estrago possível é diretamente proporcional à potência disponível na embarcação.
O que se poderia esperar de um velejador mal educado que tivesse o acelerador de uma lancha em sua mão?
Educação, cultura e aprendizado
"As pessoas são as mesmas, motivadas pelo mesmo interesse básico. A diferença está no equipamento. Uns são velozes e outros são lentos.
Alguns curtem a chegada, a confraria do cozinhar, outros curtem o percurso. O problema é educação, cultura e aprendizado. Vejo com muita clareza nos meus parceiros lancheiros. Somos todos uma confraria", diz o Comandante Luiz Morandi, inveterado lancheiro e assíduo freqüentador da Ilha Chico Manoel. "Nos dois lados (lanchas e veleiros) teremos pessoas educadas e queridas, e o oposto também. Não é o equipamento, mas sim a educação", complementou o Comte Morandi.
Liberté
Neste final de semana eu vinha pelo canal de navegação do Rio Guaíba a 6 nós, motorando no rio espelhado. Nas imediações do estádio Beira-Rio, uma lancha de porte (foto ao lado) foi avistada pela popa, navegando pelo canal a uma velocidade estimada em uns 20 nós.
Ao aproximar-se do Phantasy, um veleiro O'Day23, o lancheiro reduziu a velocidade drasticamente e passou por nós bem devagar para não fazer marola. Somente depois de passar é que a Liberté voltou a ser acelerada por um lancheiro nota 10, que não conheço.
Incômodos e acidentes
Foi uma atitude digna de nota, por ser rara, embora devesse ser usual aos lancheiros. Muitos lancheiros passam por embarcações lentas, na velocidade de cruzeiro (mais de 20 nós, normalmente), e às vezes bem perto, deixando marolas que trazem incômodos e, por vezes, acidentes por queda de tripulantes dentro do veleiro. Imagine uma panela fervendo no fogão do veleiro... Duvido que estes lancheiros (os mal educados) nunca tenham olhado para trás e visto o veleiro balançando muito na marola que fazem. Duvido também que não percebam o mal estar que provocam.
Procurei saber quem é o Lancheiro Nota 10, e descobri.
Parabéns ao Comandante Eduardo Sampaio, da Intermarine38 Liberté /VDS , pela maneira educada de navegar e pelo respeito ao próximo. Se ele age assim no comando da sua lancha, é claro que age assim também no dia a dia.
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(*) Curiosidade: Assim como hoje temos "lancheiros", antigamente haviam "veleiros", hoje velejadores. Daí a razão do nome do tradicional clube náutico Veleiros do Sul, de Porto Alegre. Há quem prefira a expressão "motonauta" que, aliás, Aurélio esqueceu(?) de citar... "Lancheiro: ... Patrão de lancha" (Aurélio)
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