Uma Lua Azul especial
Duas luas cheias no mesmo mês
Danilo Chagas Ribeiro


João Paulo Lucena

06 Jun 2007
N
ão há cruzeirista que não fique curioso com a lua que vai ter nas noites em que for navegar. Ver a lua cheia nascer quando se está a bordo é um espetáculo ainda mais bonito. O Popa publica mensalmente a tabela com as fases e horários do nascer e ocaso da lua justamente pelo grande interesse dos navegadores.

Quando a lua cheia embarca
Quando se está embarcado, especialmente quando ancorado lá no fim do mundo, a presença da lua faz muita diferença. Já tive a oportunidade de presenciar muitas luas cheias a bordo, e lembro de várias delas.

Em algumas namorei, em outras descasquei batatas. Teve lua em que tocamos violão e gaita até amanhecer. Uma vez, na Pinguela, abri uma lata de atum com uma faca, iluminado apenas pela lua cheia no cockpit.

A lua pode ser fonte de inspiração ou apenas fonte de luz. Depende do que cada um consegue enxergar.

Duas luas cheias em um único mês
V. já ouviu falar de um mês com duas luas cheias? Quando isso acontece, a cada 2 ou 3 anos aproximadamente, a segunda lua cheia é chamada Lua Azul. Este conceito é moderno. Antes do século XIX Lua Azul era a 3ª lua cheia de uma mesma estação com 4 luas cheias (normalmente 3).

Como o ciclo da lua é de 29,5 dias, é natural que de vez em quando coincida da lua cheia ocorrer no 1º ou 2º dia do mês e assim reaparecer novamente antes do mês terminar. Caso a Lua Azul ocorra em Janeiro, Fevereiro fica sem lua cheia, e em Março tem de novo.

Lua Azul azulada
A Lua Azul apareceu na cor azul algumas vezes, como em um incêndio florestal na Suécia, em 1950, e na erupção de um vulcão na Indonésia, em 1883. As cinzas em suspensão filtraram a luz refletida pela lua e tornaram-na azul.

Acabamos de ter uma Lua Azul, dia 31 de maio passado, conforme a tabela publicada pelo Popa anunciava. Pois essa foi uma Lua Azul muito especial para quem estava no Rio Guaíba. Como um bônus extra para os apreciadores, apareceu com um raro halo azul, não incluído no kit da Lua Azul.

A Lua (dizem os ingleses)
Fernando Pessoa

A Lua (dizem os ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma idéia se perde.

E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.

Sim, todos os meus reveses
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os ingleses)
É azul de quando em quando.

A performance especial foi fotografada por Carla Aaron (veja acima), a bordo do veleiro Charlie Bravo V, no Rio Guaíba. Como se costuma dizer das boas fotografias, a fotógrafa estava equipada no local e no momento certo, e soube fazer a foto.

Segundo o Comandante Plinio Fasolo, professor de astronomia da PUC/RS, o halo azul da lua ocorreu porque a luz refletida por ela tem maior concentração de freqüências altas, ou seja, o lado azulado do espectro luminoso. Veja mais abaixo a íntegra do artigo do Comandante Bumerang.

"Só caso com ela se for em uma Lua Azul"
A origem da expressão Lua Azul não é bem definida. O primeiro registro consta de 1528, supondo-se designar algo absurdo:

"If they say the moon is blue,
we must believe that it is true".

A tradução da rima é "Se eles dizem que a lua é azul, devemos acreditar que é verdade". A expressão Lua Azul é também uma metáfora para designar algo raro ou impossível, como em "Só caso com ela em uma Lua Azul". A Lua Azul deu origem a rituais célticos e foi motivo de poesia, como essa aí ao lado, do imortal poeta lusitano.

Para quem tem certidão de nascimento amarelada
Associada a datas favoráveis ao romance por alguns e à tristeza por outros, como na canção de Richard Rodgers, o folclore dos países europeus contém várias citações à Lua Azul. Ouça 'Blue Moon' na versão dos Marcels, o sucesso #1 em 1961.

 

Blue Moon
Richard Rodgers, 1934

Blue moon, you saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Blue moon, you know just what I was there for
You heard me saying a prayer for
Someone I really do care for
And then suddenly appeared before me
The only one my arms could ever hold
I heard somebody whisper please adore me
But when I looked that moon had turned to gold
Blue moon, now I'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Blue moon

A Lua Azul de 2007 recém nascida, observada do Charlie Bravo V

Carla Aaron

"Querem ver o quê?"
Isso de noticiar algo raro no céu me faz lembrar do Seu Osvaldo, o simpático operador do trator que rebocava os barcos para a água lá na rampa da Lagoa da Pinguela, em Osório. Era um sessentão muito místico, fascinado por discos voadores e afins. O assunto preferido era esse, embora só falasse veladamente, longe de quem lhe pudesse tocar flauta.

Seu Osvaldo descrevia com muita clareza os rasantes dos ETs que vira nas noites na Pinguela, as cores brilhantes de suas luzes e suas súbitas paradas bem onde ele estava pescando. Uma vez alguém lhe perguntou por que é que só ele via discos voadores por ali. Irritado, respondeu: "Mas é claro!!!... Vocês são que nem porco! Tão sempre olhando pra baixo... Querem ver o quê???"

 

Próximas ocorrências da Lua Azul até 2050

Ano
Datas
Intervalo (anos e meses)
2009
Dez.02 e Dez.31
2a 07m
2012
Ago.02 e Ago.31
2a 08m
2015
Jul.01 e Jul.31
2a 11m
2018
Jan.01 e Jan.31 Mar.01 e Mar.31
2a 06m
2020
Out.01 e Out.31
2a 09m
2023
Ago.01 e Ago.30
2a 10m
2026
Mai.01 e Mai.31
2a 09m
2028
Dez.01 e Dez.31
2a 07m
2031
Set.01 e Set.30
2a 09m
2034
Jul.01 e Jul.31
2a 10m
2037
Jan.01 e Jan.31 Mar.01 e Mar.31
2a 06m
2039
Out.02 e Out.31
2a 09m
2042
Ago.01 e Ago.30
2a 10m
2045
Mai.01 e Mai.30
2a 09m
2048
Jan.01 e Jan.30
2a 08m
2050
Set.01 e Set.30
2a 08m

 

Formação do “Halo da Lua”.
Plínio Fasolo

Quem não conhece o disco de Newton? Sir Isaac pintou sete cores distintas sobre um disco, distribuídas em proporções iguais. Fez o disco girar velozmente e observou que as cores “misturadas pela inércia visual” deixavam o observador enxergando o disco branco. Desta forma ele demonstrou que a luz branca, na verdade, é a mistura de muitas cores. Hoje sabe-se que a luz é um fenômeno ondulatório e que as suas cores são proporcionadas pelas diferentes freqüências dessas ondas. Outra maneira que ele, sir Isaac, demonstrou essa composição da luz branca, foi fazendo a luz branca atravessar um prisma de vidro. Do outro lado apareceu, sobre um anteparo branco, uma faixa com as cores do arco-íris. Esse fenômeno da decomposição da luz nas diferentes cores (diferentes freqüências) é conhecido como “dispersão” e ocorre devido ao fato de que as altas freqüências (o lado do azul do espectro) são mais desviadas pelo prisma do que as baixas (as vermelhas).
A observação de halos em torno de fontes luminosas deve-se a razões físicas e geométricas. O brilho de uma Lua Cheia é proporcionado por um tipo de luz muito semelhante à luz solar da qual ela é apenas um objeto refletor. Sua luz, portanto, possui um espectro de cores quase completo. O “quase” vem de um fato conhecido: a luz do Sol, ao incidir no solo lunar, perde algumas faixas do seu espectro, justamente do lado do vermelho, absorvidas pelo material da Lua, devolvendo (refletindo) uma luz com concentração maior de freqüências altas, ou seja, o lado azulado do espectro luminoso.
A atmosfera da Terra funciona como um prisma de ângulo variado, ou seja, funciona como uma lente de vidro. A luz da Lua, após incidir nas altas camadas da atmosfera, vai tendo o seu conjunto de freqüências selecionado de tal forma que as ondas de mais alta freqüência convergem mais para o ponto de onde a Lua está sendo observada e as outras freqüências menos. Há, portanto, um ângulo de desvio próprio para cada freqüência.

O fluxo da luz chega ao observador sob a forma de um cone invertido, com o vértice no observador e a base circular no céu de fundo. É próprio da geometria do cone que a sua geratriz, desde o observador, chegue ao plano da base sempre com o mesmo ângulo e disso resulta a forma de anel observada no halo da Lua.

 

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